José
de Matos-Cruz | 08 Abril 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
CUMPLICIDADES
À
partida, parece um lugar-comum: a história repete-se. Mas é neste
território cíclico, volúvel, que se funda O
Clube das Divorciadas
(1996). Um filme de Hugh Wilson, baseado em romance de Olivia
Goldsmith. Uma primeira-obra, transformada em sucesso imediato -
fenómeno a que Hollywood não costuma ficar indiferente. A adaptação
foi confiada a Robert Harling - o prestigiado argumentista de Flores
de Aço (1989 - Herbert
Ross). Uma fita com as mesmas características: a cumplicidade
feminina contrastada pelas emoções, pelos temperamentos, evoluindo
entre os caprichos de humor e drama. O espectáculo privilegia,
assim, a intimidade e o relacionamento das suas precárias heroínas.
Num registo confessional marcado pela simpatia
das actrizes que as personificam - sendo, aliás, decisivo o efeito
estabelecido através do envolvimento entre elas. Daí, a importância
de que se revestiu a escolha das protagonistas - isoladamente e em
conjunto. Considerando o leque de potenciais candidatas, à volta dos
quarenta e cinco anos, a selecção para O
Clube das Divorciadas foi
surpreendente: Bette Midler, Goldie Hawn e Diane Keaton - que, na
altura, tinham já superado a
ternura dos cinquenta.
Afinal, as três vedetas demonstram que a força do talento e o elã
das suas personalidades não são expressões vãs. Voluntariosas mas
coniventes quando juntas, sempre logram insinuar o estilo próprio
que as popularizou…
CALENDÁRiO
1929-07SET2018
- Maria José Mauperrin: Jornalista portuguesa, locutora e
realizadora de rádio, tradutora e publicitária - «Devo-lhe a
descoberta de Louis-Ferdinand Céline e da Viagem
ao Fim da Noite»
(http://luisdesenha.blogspot.com).
12SET-01DEZ2018
- Museu de Aveiro / Santa Joana expõe Corpo,
Abstracção e Linguagem Na Arte Portuguesa: Obras da Secretaria de
Estado da Cultura Em Depósito Na Colecção de Serralves e No
Município de Aveiro.
13SET2018
- Nitrato Filmes estreia O
Espectador Espantado (2016)
de Edgar Pêra; com Laura Mulvey e Eduardo Lourenço.
IMAG.23-53-91-142-284-381-541-604-662-663-703-734
13SET2018
- Midas Filmes estreia Mariphasa
(2017) de Sandro Aguilar; com
Isabel Abreu e António Júlio Duarte. IMAG.249-379-462
14SET-18NOV2018
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta A
Vida Em Nós - exposição de
pintura de Luís Vieira-Baptista.
VISTORiA
De
«V Internacional»
Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
«A»
este «a»
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
«B»
é uma nova bomba na batalha do homem.
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
«A»
este «a»
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
«B»
é uma nova bomba na batalha do homem.
Vladimir
Maiakovski
(Tradução
de Augusto de Campos)
MEMÓRiA
08ABR1920-2001
- José Egito de Oliveira Gonçalves, aliás Egito Gonçalves: Poeta
português - «Há poetas que constroem o mundo nos cafés, / outros
que o fazem no claro-escuro / entre as prisões e os intervalos. //
Há poetas que aguardam cartas de apresentação / nem eles sabem
para onde: / para a vida que falhou?, para a manteiga / que lhes foi
negada? // Mas todos têm um sonho, todos / se esforçam por valer o
pão que amassam / – lançam seu delicado peso na balança. // Eles
sabem, esses poetas, / que nada é eterno e imutável.» (Sobre
os Poemas). IMAG.224
09ABR1880-1943
- Maria Gustaava Tarkiainen, aliás Maria Jotuni: Dramaturga e
novelista finlandesa - «Uma boa acção, invisível, nada pode
render». IMAG.436
1945-12ABR2010
- Werner Schroeter: «Um dos grandes criadores do cinema alemão. Um
dos maiores vultos do cinema europeu e mundial» (Paulo Branco).
IMAG.298-509
1925-13ABR2010
- Jaime Salazar Sampaio: Dramaturgo e poeta português - «Quando
escrevo, vivo dentro do universo das minhas personagens. Se não, não
conseguiria. Tenho um cemitério de peças por causa disso. Aliás,
tenho mais peças começadas do que acabadas». IMAG.
235-298-299-307-427-513
14ABR1920-2012:
Sheldon Moldoff, aliás Shelly
Moldoff: Ilustrador americano de banda desenhada, colaborador de Bob
Kane no universo de Batman
(1953-1967),
tendo co-criado as personagens de Bat-Girl, Poison Ivy, Batwoman, Mr.
Freeze ou Matt Hagen / Clayface - «Era um pacto pessoal, uma
colaboração anónima… Ele não me pagava grande coisa, mas eu
tinha trabalho garantido e seguro». IMAG.241-399-571
1905-15ABR1980
- Jean-Paul Charles Aymard Sartre, aliás Jean-Paul Sartre: Escritor
e filósofo francês - «A vida apenas tem sentido no momento em que
perdemos a ilusão de sermos eternos… Ser-se livre, não é
fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode».
IMAG.39-183-267-270-468-519-676-677
1893-14ABR1930
- Vladimir Vladimirovitch Maiakovski, aliás Vladimir Maiakovski:
Dramaturgo e poeta russo - «Não sei se é porque o céu é azul
celeste / e a terra, amante, me estende as mãos ardentes / que eu
faço versos alegres como marionetes / e afiados e precisos como
palitar os dentes!» (Blusa
Fátua - excerto).
IMAG.213-270-425-435
1905-15ABR1990
- Greta Lovisa Gustafson, aliás Greta Garbo: Actriz sueca,
naturalizada americana - «A vida seria maravilhosa, se nós
soubéssemos o que fazer com ela… Eu nunca disse “Quero ficar
sozinha”. Eu disse “Quero que me deixem sozinha”. É nisto que
reside toda a diferença».
IMAG.35-51-181-230-270-473-531-630
VISTORiA
Nunca
Se Escreve Para Si Mesmo
O
escritor não prevê nem conjectura: projecta.
Acontece por vezes que espera por si mesmo, que espera pela
inspiração, como se diz. Mas não se espera por si mesmo como se
espera pelos outros; se hesita, sabe que o futuro não está feito,
que é ele próprio que o vai fazer, e, se não sabe ainda o que
acontecerá ao herói, isto quer simplesmente dizer que não pensou
nisso, que não decidiu nada; então, o futuro é uma página branca,
ao passo que o futuro do leitor são as duzentas páginas
sobrecarregadas de palavras que o separam do fim.
Assim,
o escritor só encontra por toda a parte o seu
saber, a sua
vontade, os seus
projectos, em resumo, ele mesmo; atinge apenas a sua própria
subjectividade; o objecto que cria está fora de alcance; não o cria
para
ele. Se relê o que escreveu, já é demasiado tarde; a sua frase
nunca será a seus olhos exactamente uma coisa. Vai até aos limites
do subjectivo, mas sem o transpor; aprecia o efeito dum traço, duma
máxima, dum adjectivo bem colocado; mas é o efeito que produzirão
nos outros; pode avaliá-lo, mas não senti-lo.
Proust
nunca descobriu a homossexualidade de Charlus, uma vez que a decidiu
antes de ter começado o livro. E se a obra adquire um dia para o
autor o aspecto de objectividade, é porque os anos passaram, porque
a esqueceu, porque já não entra nela, e seria, sem dúvida, incapaz
de a escrever. Aconteceu isto com Rousseau ao reler o Contrato
Social no fim da vida.
Não
é portanto verdade que se escreva para si mesmo: seria o pior
fracasso; ao projectar as emoções no papel, a custo se conseguiria
dar-lhes um prolongamento langoroso. O acto criador é apenas um
momento incompleto e abstracto da produção duma obra; se o autor
existisse sozinho, poderia escrever tanto quanto quisesse; nem a obra
nem o objecto
veriam o dia, e seria preciso que pousasse a caneta ou que
desesperasse.
Mas
a operação de escrever implica a de ler como seu correlativo
dialéctico, e estes dois actos conexos precisam de dois agentes
distintos. É o esforço conjugado do autor e do leitor que fará
surgir o objecto concreto e imaginário que é a obra do espírito.
Só há arte para os outros e pelos outros.
Jean-Paul
Sartre
-
Situações II (excerto)
BREVIÁRiO
Teatro
Nacional de D. Maria II edita, na colecção Biografias do Teatro
Português, António Pedro
(1909-1966) de Rui Pina Coelho. IMAG.75-150-734
Warner
edita em CD, sob chancela Erato, Johannes Brahms
[1833-1897]: Cello Sonatas
por Alexandre Tharaud (piano) e Jean-Guihen Queyras (violoncelo).
IMAG.82-171-193-199-256-286-303-324-393-417-482-531-554-597-605-608-664-749
EXTRAORDINÁRiO
OS
SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico
A
MELANCOLIA FIXA DO CONTROLADOR DE ONDAS -
12
-
Raça ruim? Por que fatalidade lhe escorreriam lágrimas pelo
coração, ferindo-se afinal numa revolução sem sangue derramado?
– Continua
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