sexta-feira, abril 18, 2014

IMAGINÁRiO #501

José de Matos-Cruz | 01 Fev. 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
Transfigurações
Autor versátil e fulgurante, ao estilizar as potencialidades gráficas ou narrativas da banda desenhada, em que evoluem - pelo signo erótico - a aliciante insurreição ficcional ou uma perversa sofisticação estética, Milo Manara concebeu Kama Sutra em 1997, tendo em livre inspiração a obra homónima do filósofo hindu Mallanaga Vatsyayana. Argumentista e ilustrador, Manara leva às últimas consequências uma subversão primordial sobre o milenar tratado amoroso de Vatsyayana, sem que a transfiguração corresponda fielmente ao celebrado clássico. Ironia, exibicionismo - através de peripécias/experiências excitantes, sob uma vertigem obsessiva/exuberante - pontuam ou transgridem, além dos preconceitos e das convenções, este universo luxuriante, cuja heroína pretenderia consumar todas as ambições transgressivas, todos os impulsos fantasistas. Entre visões exóticas de uma saga interminável, eis reincidências libidinosas ou dissolutas - que se transferem, perturbantes, ao próprio olhar do leitor. Assim em causa e reexposto - pelo desafio libertino, libertário do imaginário…
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MEMÓRiA
02FEV1875-1962 - Fritz Kreisler: Compositor e violinista austríaco da escola franco-belga - «A vida tem apenas algumas horas de entusiasmo e euforia… Subitamente, empalidece e entra em decadência». >IMAG.355

1919-03FEV1995 - Maria da Graça Neves Saramago, aliás Maria da Graça: Cantora e actriz portuguesa, intérprete de O Pátio das Cantigas (1941 - António Lopes Ribeiro).

05FEV1885-24DEZ1935 - Alban Maria Johannes Berg, aliás Alban Berg: Compositor austríaco, discípulo de Arnold Schoenberg, considerado o romântico do dodecafonismo - «Música é, ao mesmo tempo, o produto do conhecimento e da sensibilidade, pelo que requer dos seus discípulos, compositores e executantes, não apenas talento e entusiasmo, mas também sabedoria e percepção, as quais são resultado inevitável de estudo e reflexão». >IMAG.452

06FEV1945-1981 - Bob Marley: Cantor, guitarrista e compositor jamaicano - «A minha música é contra o sistema, e a favor da justiça. É contra as regras que dizem que a cor de um homem lhe decide o destino. Deus não fez regras sobre a cor». >IMAG.322

07FEV1935-2009 - João Bénard da Costa: Escritor e crítico, actor como Duarte de Almeida, Director da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema - «A criação humana é uma forma de nos defendermos contra a morte e uma forma de compensação diante do terror que a vida inspira». >IMAG.27-190-208-222-252-287-359

1929-07FEV1985 - Nuno Bragança: Escritor português, autor de Square Tolstoi (1981) - «A minha dificuldade portuguesa em encontrar a prosa certa não a desligo eu dessoutra que é a maneira certa de ser em Portugal. Nem vejo bem como uma possa ser resolvida sem a outra… Sinto que pertenço a um País que em parte me não quer». >IMAG.212-445-473

CALENDÁRiO
1930-01FEV2014 - Maximilian Schell: Actor austríaco de teatro e cinema, pianista e maestro, distinguido com o Oscar por Julgamento Em Nuremberga (1960), irmão de Maria Schell (1926-2005) - «A morte pode ter sido a salvação para ela. Não para mim». >IMAG.39

14FEV-27ABR2014 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe O Regresso das Histórias Pintadas de Pedro Zamith.

ANTIQUÁRiO
04FEV1985 - Em Lisboa, é inaugurado o Museu Nacional do Teatro, ficando instalado num edifício do Século XVIII, o antigo Palácio do Monteiro Mor, para esse fim rigorosamente recuperado e adaptado. >IMAG.10-17-150-170-205-208-317-332-471

05FEV1525 - Na vila de Alvito, El-Rei D. João III contrai matrimónio com a Infanta D. Catarina, filha de Joana a Louca, rainha de Espanha, e de D. Filipe I, Arquiduque de Áustria e Duque da Borgonha.

VISTORiA
Os ministros serão denunciados frequentemente, acusados às vezes, condenados raramente e punidos quase nunca.
Benjamin Constant
- Da Responsabilidade dos Ministros (1815, excerto)

Estou sentado num dancing e tenho a mão. Ainda em volta de uma bebida de pressão de ar.
Às vezes, acontece num sítio destes e em hora assim que o pecado original se derreteu num shaker, acabando-se a mortalidade infantil e a Polícia. Sinto essa harmonia. Por cima dos ombros cansados, como um xaile da leveza dum suspiro de gato. Pelas luzes das mesas e fumo nos olhos trotam as mais certeiras notas de piano.
Nuno Bragança
- A Noite e o Riso
(1969, excerto)

PARLATÓRiO
Os ventos que, às vezes, nos tiram algo que amamos, são os mesmos que trazem algo que viremos a amar… Por isso, não devemos lamentar o que nos foi retirado e, sim, aprender a amar o que nos é oferecido. Pois, tudo aquilo que realmente nos pertence, nunca deixa de o ser para sempre…
Bob Marley

TRAJECTÓRiA
João Bénard da Costa
João Bénard da Costa, falecido a dia 21 de Maio de 2009, aos 74 anos de idade, foi o mais importante divulgador e defensor do cinema em Portugal, papel que é bem reconhecido pelo trabalho que levou a cabo na Cinemateca Portuguesa, desde 1980, primeiro como sub-director até 1991, e depois como director até à data da sua morte, tomando o lugar de Luís de Pina também falecido.
Com a sua morte pode dizer-se que a cinefilia em Portugal fica órfã.
Os cinéfilos recordam bem o trabalho desenvolvido naquele organismo, onde foi responsável por uma série de ciclos memoráveis que deram a descobrir pela primeira vez entre nós a obra existente de autores como Alfred Hitchcock, Fritz Lang, John Ford, Carl Dreyer, Luís Buñuel e muitos outros.
Mas no campo do cinema o seu trabalho como divulgador vem de mais longe, da altura em que, exercendo funções na Fundação Calouste Gulbenkian, organizou, nas suas salas, uma série de ciclos que se tornaram lendários entre os cinéfilos, desde a retrospectiva dedicada a Roberto Rossellini, com a presença do realizador, ainda antes do 25 de Abril, e, mais tarde, os grandes ciclos dedicados ao cinema americano dos anos 30 (1977), 40 (1979) e 50 (1981), que abriram as portas da cinefilia para tantos curiosos. E mais tarde, já em funções na Cinemateca, os grandes ciclos sobre o cinema de Ficção Científica e o Musical, todos acompanhados por catálogos que se tornaram elementos de consulta obrigatória.
O seu trabalho como divulgador passa também pela crítica (as populares folhas da Cinemateca a que deu um cunho inconfundível e um estilo que deixou marcas), pela história (Histórias do Cinema Português) e pela crónica cinematográfica ou não (os seus textos sobre música e pintura são particularmente apaixonantes) que publicou nos jornais Independente e Público: Muito Lá de Casa, Os Filmes da Minha Vida (reunidos em volumes), A Casa Encantada, que foi a sua última colaboração para a imprensa.
Esta actividade militante levou-o também à defesa e ilustração do cinema português, em especial o novo, impondo (ou revelando) muitos nomes das mais recentes gerações. A ele se deve grande parte da revisão que foi feita à obra de Manoel de Oliveira, contribuindo para o seu conhecimento nacional e internacional, sendo também presença frequente nos filmes do mestre com o nome de Duarte de Almeida desde O Passado e o Presente até ao pequeno segmento de Cada Um o Seu Cinema, que se encontra em exibição. E também o reconhecimento de autores como João César Monteiro.
O trabalho João Bénard da Costa não se limitou ao cinema. Licenciado em Ciências  Histórico-Filosóficas, mas com a carreira universitária impedida pela PIDE, ele foi um dos fundadores da revista O Tempo e o Modo, uma das mais influentes do seu tempo (década de 60) sobre os intelectuais.
A João Bénard da Costa foi concedido o prestigiado Prémio Pessoa em 2001, e possuía as comendas de Officier des Arts et des Lettres de França e a Ordem do Infante D. Henrique. Em Setembro do ano passado o ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro condecorou-o com a medalha de Mérito Cultural.
Manuel Cintra Ferreira
23MAI2009 - Expresso

INVENTÁRiO
O PÁTIO DAS CANTIGAS
O Pátio das Cantigas, cuja realização confiou ao irmão Francisco Ribeiro/Ribeirinho, permitiu a António Lopes Ribeiro prosseguir o seu projecto de produção contínua. Além das vantagens de trabalho para técnicos e actores, sobressaía uma divulgação paralela - na revista Animatógrafo, que dirigia - e a eficaz distribuição - pela sua modelar Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográficas / SPAC. A sede da empresa, que tinha um serviço de Selecção de Intérpretes, ficava na Alameda das Linhas de Torres, defronte à Tobis Portuguesa e à Lisboa Filme - cujos estúdios/laboratórios estavam alugados sem interrupção.
Após um período de euforia, o processo entrou em erosão. Se O Pai Tirano logrou muito sucesso, O Pátio das Cantigas - estreado em Janeiro de 1942 - obteve êxito mais modesto. Insistiu-se em argumento/diálogos originais, sempre pelo grupo Ribeiro, Vasco Santana, Ribeirinho, e numa equipe uniforme - César de Sá como director de fotografia, Roberto Araújo na decoração, a montagem de Vieira de Sousa, e João Martins em fotógrafo de cena. Várias zonas da capital reivindicaram o lendário Pátio; ora, não passava dum cenário de Araújo - síntese arquitectónica de Lisboa, e espaço funcional construído nos terrenos da Tobis, a partir do qual se desmultiplica a acção, paralela ou envolvente.
Nessa essencial fusão, característica e artificial, reside outro dos atributos - a componente visual, em simultâneo ao regime musical, explorado por Frederico de Freitas. Ao tom de opereta - ou não se tratasse de Cantigas! - corresponde um cúmulo histórico de vedetas: familiarmente Santana e Ribeirinho, o portentoso António Silva, um nóvel António Vilar, a simpática Maria das Neves, o irresistível Carlos Alves, Carlos Otero e Laura Alves, Barroso Lopes, a segura Maria Paula, a loira Graça Maria, e a canora Maria da Graça, aparentemente chegada do Brasil. Ao Rio de Janeiro, O Pátio das Cantigas só chegou em 1947, sobretudo para a colónia lusitana, tendo a imprensa considerado «um filme bem antigo»…

BREVÁRiO
A Esfera dos Livros edita Guerreiros Medievais Portugueses de Miguel Gomes Martins. 

segunda-feira, abril 14, 2014

IMAGINÁRiO #500

José de Matos-Cruz | 24 Jan. 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
Nunca o cinema foi silencioso, mesmo durante o período mudo. E, no entanto, em nenhum espectáculo se tornaria o silêncio tão sugestivo e apelativo, em presenças ou ausências. Na primeira década do Século XX, a música funcionou como um complemento mecânico, ou um aleatório acompanhamento, manifesto durante as sessões públicas. Para os actores, através de uma mera colagem ao ecrã das imagens animadas, literalmente ilustrativa, a representação implicava, sobretudo, uma improvisação. Considerando, no entanto, códigos e significados primários, a transmitir ao público - como o êxtase, o riso, o medo, uma ameaça - a que os acordes melódicos conferiam expressão alusiva. Quando o cinema adquiriu consistência como entretenimento, era através dos seus arquétipos, formalismos ou convenções que se acentuava a acção ou emocionavam as pessoas. The Lodger (1926) de Alfred Hitchcock é considerado o filme mais ruidoso de todo o mudo. A imagem torna-se tão impressionante que, de certo modo, faz estalar a tela silenciosa. Hitchcok recorreria, com talento e frequência, ao que definiu como «o som da agonia», sendo Os Pássaros/The Birds (1963) um exemplo primordial. Por fim, quando as aves predominam, até onde a vista alcança, o silêncio reina - não «um silêncio qualquer, mas um silêncio de uma tal monotonia, que pudesse evocar o ruído do mar, sempre que se ouve muito ao longe».

CALENDÁRiO
1921-31JAN2014 - Miklos Jancsó: Cineasta húngaro, realizador de Os Oprimidos (1965) - «É o representante de um conjunto de ideias e teorias de uma época em que se acreditava plenamente na possibilidade de uma revolução cultural, sendo a arte o lugar onde a utopia deveria concretizar-se» (Paulo Henrique Ferreira).

1924-01FEV2014 - Orlanda Amarílis Rodrigues Fernandes Ferreira, aliás Orlanda Amarílis: Escritora cabo-verdiana, autora de Cais de Sodré Té Salamansa (1974) - «Considerada a renovadora do conto da ficção cabo-verdiana, onde a figura feminina ganhou um papel de destaque, mostrando as vivências, os sentimentos e a visão do mundo das mulheres de Cabo Verde na diáspora» (Diário de Notícias).

12FEV-18MAI2014 - No Centro de Arte Moderna/CAM, em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian apresenta O Peso do Paraíso, exposição de escultura de Rui Chafes. >IMAG.65-299-364-427-461

MEMÓRiA
19AGO1915-29JAN1975 - Manuel Guimarães: Pintor, decorador, cartazista, ilustrador e cineasta português, director de Nazaré (1952) - «Verificada que foi a impossibilidade de fazer um filme de tese, o realizador menosprezou qualquer ideia fundamentalmente temática, e enveredou pela hipótese de planificar um documentário sem cunho de divulgador e ao mesmo tempo de obra artística de facetas distintas» (Mário Alves). >IMAG.47-74-86-131-137-150-223-334-347

ANUÁRiO
1555-1632 - Manuel de Sousa Coutinho, aliás Frei Luís de Sousa: Fidalgo português, tornado frade dominicano e autor de História de São Domingos - «Ofereceu-se-lhe à vista, não longe do caminho, posto sobre um penedo alto e descoberto ao vento e à chuva, um menino pobre e bem mal reparado de roupa, que vigiava umas ovelhinhas que ao longe andavam pastando. Notou o Arcebispo a estância, o tempo, a idade, o vestido, a paciência do pobrezinho: e viu juntamente que ao pé do penedo se abria uma lapa, que podia ser bastante abrigo para o tempo. Movido de piedade, parou, chamou-o, e disse-lhe que se descesse abaixo pera a lapa e fugisse da chuva, pois não tinha roupa bastante pera a esperar» (A Vida do Arcebispo de Braga Dom Frei Bartolomeu dos Mártires). >MAG.48-175-189-307-327-368
1772-1865 - Durante este período, doutoraram-se na Universidade de Coimbra: Faculdade de Filosofia - 66 alunos; Faculdade de Matemática - 53; Faculdade de Medicina - 84; Faculdade de Direito - 212; em Cânones (até 1837) - 194; em Teologia - 203 estudantes.

COMENTÁRiO
Explorando uma intensidade neo-realista, Manuel Guimarães realizou Nazaré em 1952, numa produção da Pró-Filmes dirigida por Carlos de Arbués. Alves Redol escreveu o argumento e os diálogos, além da sequência com Guimarães. Uma comunidade piscatória sagrada por Leitão de Barros no crepúsculo do mudo, voltava assim irradiante e trágica, perante o mar - como matriz das existências, genesíaco ou vitimador. Coragem, covardia, transes individuais, conflitos do dia a dia (rivalidade, miséria, dignidade, sobrevivência), contrastam-se no drama colectivo e sempiterno. Virgílio Teixeira e Artur Semedo personificaram irmãos adversos, pelo complemento feminino de Helga Liné. Numa vasta galeria de secundários ou característicos, distinguem-se ainda Manuel Lereno, Maria Olguim e Luís de Campos. João Moreira assinou uma fotografia nebulosa ou translúcida, segundo os caprichos da natureza humana ou atmosférica. Os interiores foram registados nos estúdios da Tobis Portuguesa, em cenários de Frederico George, correspondendo Jaime Silva Filho com um fundo musical impressionista. Colaborou o arrais Manuel Vagos, participando ainda o Rancho Folclórico Tá-Mar.

François Truffaut: …Volto um pouco atrás na conversa, porque o senhor ia dizer qualquer coisa sobre o realismo do enquadramento, e o estado de espírito no plateau... Eu interrompi-o...
Alfred Hitchcock: Ah, sim! Estou de acordo consigo: muitos cineastas preocupam-se com o plateau no seu conjunto, e a atmosfera de rodagem; no entanto, só deveriam ter uma ideia em consideração: o que aparecerá na tela. Como você sabe, eu nunca olho pelo visor, mas o operador de imagem sabe muito bem que não quero espaço em redor das personagens, e que lhe compete reproduzir fielmente os desenhos que levamos preparados. Nunca nos devemos impressionar com o espaço que a câmara é capaz de captar, pois o principal é sabermos que, para obter a imagem final, podemos pegar numa tesoura e cortar o que está a mais, o espaço inútil. Outro aspecto ligado a esta questão, é que convém não malbaratar esse espaço, pois poderemos, sempre, servir-nos dele em termos dramáticos. Por exemplo, em Os Pássaros / The Birds (1963), quando os pássaros atacam a casa protegida, e Melanie se lança para trás de um sofá, eu mantive a câmara bastante longe dela e servi-me do espaço para sugerir o vazio, o nada perante o qual ela assim recua. Depois, introduzi uma variante, quando virei a câmara para ela, mas colocando-a bastante alta, para dar a sensação de angústia em crescendo. E, por último, há um terceiro movimento, que consta do seguinte: para cima, e em redor. Mas, o importante era o grande espaço do princípio. Se tivesse filmado, logo de início, junto da rapariga, dar-se-ia a impressão de que ela estava a retroceder ante um perigo que estaria a ver, mas oculto ao público. Porém, eu pretendia mostrar que recuava por força de um perigo que não existia, e, daí, o recurso a todo esse espaço diante dela. Pois bem, os realizadores cujo trabalho consiste, simplesmente, em posicionar os actores diante do cenário, e que colocam a câmara a uma distância maior ou menor, consoante as personagens estão sentadas, de pé ou deitadas, o que eles fazem é confundir as ideias, e o seu trabalho nunca é explícito, pois não significa nada.
François Truffaut
- O Cinema de Alfred Hitchcock

VISTORiA
A Fome de 1522
Foi a origem deste mal não acudir o Céu com água em todo o ano de 21. Estavam os campos tão secos, que, como em outro tempo se despovoou Espanha por lhe faltarem as chuvas ordinárias, parecia que tornava semelhante desaventura. As terras, delgadas, se desfaziam em cinza; as grossas se apertavam e abriam em fendas até o centro. Assi, em geral, nem no Alentejo, nem no Algarve, nem na Estremadura chegaram as searas a formar espiga: em erva secaram e se perderam todas. E em Lisboa se padecia já tanto no Outubro de 21, que aconteceu passarem muitos homens oito dias sem tocar pão, comendo só carnes e fruitas. E por Janeiro e Fevereiro do ano de 22, em que vamos, se averiguou morrerem muitos pobres à pura fome, polas ruas e alpendres de Lisboa.
Abalavam estas misérias as entranhas de El-rei. Mandou fazer com tempo grandes diligências pera que decesse de Antre Douro e Minho e da Beira tudo o que se achasse de centeio e milho; e, não contente com isto, que todavia foi de muita importância, despachou navios, à custa de sua fazenda, com letras e dinheiro, que fossem carregar de trigo à França e Frandes.
Manuel de Sousa Coutinho,
Frei Luís de Sousa
- Os Anais de D. João III (excerto)

BREVÁRiO
Universal edita em Blu-ray, Os Pássaros/The Birds (1963) de Alfred Hitchcock; com Rod Taylor e Tippi Hedren. >IMAG.3-4-14-19-26-29-44-48-49-51-71-85-111-112-142-146-163-168-179-188-191-238-271-280-283-288-307-312-327-351-354-377-381-384-386-428-429-440-449-495
Deutsche Grammophon edita em CD, Plácido Domingo: [Giuseppe] Verdi (1813-1901). >IMAG.72-89-156-188-203-308-314-318-328-420-438-440-464-483-496-497
INCM/Imprensa Nacional - Casa da Moeda edita, com Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva, Escrita Íntima - Maria Helena Vieira da Silva [1908-1992] e Arpad Szènes [1897-1985] - Correspondência 1932-1961. >IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227-382-386-392-434-461-486-490-499
Deutsche Grammophon edita em CD, The Gulda [Wolfgang Amadeus] Mozart [1756-1791]: Ten Sonatas and a Fantasy pelo pianista Friedrich Gulda (1930-2000). >IMAG.36-55-68-90-102-106-118-172-186-205-216-217-220-227-277-284-285-290-317-321-342-349-375-406-431-449-475
A Esfera dos Livros edita O Assassino do Aqueduto de Anabela Natário; sobre Diogo Alves (1810-1841). >IMAG.28-108-145-209-257
Decca edita em CD, Igor Stravinsky [1882-1971] - Le Sacre du Printemps - 100th Anniversary Collector’s Edition. >IMAG.186-302-317-324-375-498
Relógio D’Água edita O Falecido Mattia Pascal de Luigi Pirandello (1867-1936); tradução de José Marinho. >IMAG.110-112-165-223-470-484

10 anos de Imaginário


A newsletter Imaginário, originalmente disponibilizada on-line em secção própria no website Truca.pt (ainda acessível), mas entretanto distribuída via e-mailing em formato PDF, celebra este ano uma década de existência, passando doravante a figurar neste blog, ao qual empresta nome e onde poderá ser consultada no seu formato integrar (ver cronologia de Arquivo), embora subdividida nas secções que a compõem; como: Prontuário, Calendário, Memória, Vistoria, Trajectória, Inventário, Antiquário, Brevário, Pariatório, Comentário, Coroiário, Anuário e Galeria, entre outras.
Paralelamente, à medida que o blog estabilizar a sua estrutura, serão disponibilizadas as anteriores newsletters Imaginário, a agrupar numa secção autónoma.

quinta-feira, abril 03, 2014

José de Matos-Cruz - Breve biografia

JOSÉ DE MATOS-CRUZ (Mortágua, 1947) licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra (1973) e foi um dos pioneiros na divulgação da banda desenhada em Portugal, começando por publicar um dos três primeiros fanzines nacionais, Copra (1972) e co-fundar em Coimbra o grupo Boomovimento, que organizou uma das iniciais manifestações de B.D. do país, o designado “I Encontro de Banda Desenhada Nacional” (1973), na Figueira da Foz, além de promover outros eventos que sedimentaram a arte sequencial entre nós. Em Lisboa, esteve na fundação do Clube Português de Banda Desenhada (1976) e colaborou em publicações estrangeiras (como El Globo, ¡Bang!, Comics Camp/Comics In, Sunday – Espanha, Il Fumetto – Itália, Falatoff – França).

É também editor de livros de poesia e prosa pela sua chancela, Kafre, tendo feito crítica de cinema e de banda desenhada em jornais e revistas desde os anos '60; mais tarde, especializou-se no sector com a coluna Quadradinhos no jornal A Capital (1983-2004) e em textos de investigação n'O Mosquito e álbuns das editoras Futura (Portugal) e Eseuve (Espanha), além de fundar e dirigir as revistas Ploc! e Aleph, bem como colaborou regularmente no célebre Mundo de Aventuras. Posteriormente, participou nos livros Vasco Granja: Uma Vida ..1000 Imagens (Asa) e Fadas Láureas (Prime Books). Com uma extensa bibliografia, em edições individuais e colectivas, trabalhou na Cinemateca Portuguesa, onde foi o responsável pela Filmografia Portuguesa e, ainda no campo do audiovisual, foi precursor da áudio-descrição e assessor de produção e consultor de programação na RTP, além de professor convidado na Escola Superior de Teatro e Cinema e docente na Licenciatura de Cinema da Universidade Moderna.



De volta à banda desenhada, reviveu a sua personagem O Infante Portugal (vulgo Rui Ruivo) – criada originalmente num conto de Os SobreNaturais, sequela ao livro Os EntreTantos (2003) – em auto-edição pela chancela Kafre (2007), expandida e culminante em trilogia pela Apenas Livros, que, mais recentemente, publica também a subsequente série Aurora Boreal (2017-2020), ilustradas por quarenta célebres ilustradores portugueses.
Ambas personagens foram adaptadas à banda desenhada em duas edições que culminam as respectivas sagas, nomeadamente O Infante Portugal em Universos Reunidos (2017) e Aurora Boreal em Reflexos Partilhados (2021), coeditada por Kafre e Arga Warga.

Pelo contributo para a B.D. portuguesa, cinema de animação e percurso de carreira, recebeu Prémio Simão (1993) pela Associação Velho Pelicano, a Menção Honrosa Especial (1997) pelo Salão Sobreda, o Troféu do Júri do VIII Troféus Central Comics (2011), e os Troféu CinemAnimação e Troféu de Honra pelo 23º AmadoraBD (2012), algumas das várias distinções que tem granjeado pela dedicação às artes e às letras. Em banda desenhada, foi também laureado com o XVI Troféu Central Comics por Melhor Obra Curta (2018), com o Prémio Especial Anim'Arte - BD (2022)
, pelo GICAV e revista Anim'Arte, e com o II TCC:HD/Troféu Central Comics: Heróis da Década por Melhor Obra Curta da Década, com Daniel Maia e Susana Resende (2024).