sexta-feira, agosto 22, 2014

IMAGINÁRiO #519

José de Matos-Cruz | 16 Junho 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

AVENTURAS
No panorama da banda desenhada franco-belga, Hermann Huppen distingue-se entre os artistas mais talentosos, sólidos e versáteis, conjugando as tradições da acção, sob o signo heróico, com o testemunho crítico, sobre a realidade em transe. Basta recordar alguns segmentos determinantes da sua extensa carreira: Jugurtha (com guiões por Laymillie), Bernard Prince e Comanche (por Greg), Nic (por Morphée), Le Secret des Hommes-Chiens (por Yves Huppen). Mas é como autor integral, que o argumentista & ilustrador Hermann atinge, porventura, a expressão da sua plena vitalidade: Abominable, Missié Vandisandi ou Sarajevo-Tango, o épico Les Tours de Bois-Maury - conjugando todas as paisagens intemporais, todos os horizontes da história, em conflitos, dramas, humores, emoções, confrontos. Ainda nesta modalidade, muitos dos fiéis leitores privilegiam o culto de Jeremiah - cuja exaltação aventuresca culmina em Mercenaires. Tudo começa algures numa região desolada, durante uma tempestade de areia. Jeremiah e Kurdy chegam à aldeia mineira de Sears & Como, com um velhote, Angus Greenspoon, enquanto um estranho grupo paramilitar assola a região… IMAG.319



CALENDÁRiO

¨MAI2014 - O poeta, ensaísta e historiador brasileiro Alberto da Costa e Silva é distinguido com o Prémio Camões.

¸05JUN2014 - Alambique estreia A Vida Invisível de Vítor Gonçalves; com Filipe Duarte e Maria João Pinho.

¢05JUN-31AGO2014 - Museu de Évora expõe Subitamente, o Povo de José Miguel Gervásio.

µ20JUN-13JUL2014 - Em Cascais, Casa de Santa Maria apresenta Magie Naturalis, exposição de fotografia de António Lopes.
       
MEMÓRiA

1831-19JUN1875 - Levy Maria Jordão, Visconde e Barão de Paiva Manso: Escritor e jurisconsulto português, adversário da aplicação da pena de morte, político e professor universitário, historiador e advogado da Casa de Bragança, membro da loja maçónica Liberdade e da Comissão Revisora do Código Penal, autor de Portugalliae Inscriptiones Romanae (1859) ou de História do Congo - Documentos (1877) - «A nossa lei penal [Código de 1852] por certo que é melhor do que a antiga Ordenação quanto aos princípios que a dominam, mas na sua parte geral é sem dúvida a mais imperfeita da Europa civilizada» (1853).


¨1800-18JUN1875 - António Feliciano de Castilho: Escritor e pedagogo português - «Passaram os povos antigos, com as suas religiões e usos particulares. Nos escritos que de então sobreviveram, que é o que mais nos encanta? Não são por certo as descrições dos seus usos exclusivos, ainda que para aí se atraia fortemente a curiosidade; são, sim, os toques alusivos ao viver rural, porque enfim, aí é que é o ponto de contacto de todas as idades, e de todas as civilizações. O campo é que é o centro de unidade da espécie humana» (Felicidade Pela Agricultura - 1849). IMAG.32-39-52-59-99-118-161-260-354-406

1928-20JUN2005 - Charles David Keeling: Cientista norte-americano, químico de formação, estabeleceu a Curva de Keeling, para a investigação das alterações climáticas.

¨21JUN1905-1980 - Jean-Paul Sartre: Escritor e filósofo francês - «Para a realidade humana, ser é escolher-se: nada lhe vem de fora, nem tão-pouco de dentro, que possa receber ou aceitar. Está inteiramente abandonada, sem auxílio de nenhuma espécie, à insustentável necessidade de se fazer ser até ao mais ínfimo pormenor. Assim, a liberdade não é um ser: é o ser do homem, quer dizer, o seu nada de ser. O homem não pode ser ora livre, ora escravo; ele é inteiramente e sempre livre, ou não é» (O Ser e o Nada). IMAG.39-183-267-270-468

 04MAI1825-29JUN1895 - Thomas Huxley: Biólogo inglês - «Em temas intelectuais, segue a tua razão tanto quanto possas, sem temer qualquer outro tipo de consideração. E, em sentido negativo: em temas intelectuais, não finjas que é certa alguma conclusão que não tenha sido demonstrada ou seja demonstrável».

VISTORiA

Confia numa testemunha, só quando ela fala de questões em que não se acham envolvidos nem o seu interesse próprio, nem as suas paixões, nem os seus preconceitos, nem o amor pelo maravilhoso. No caso de haver algum de tais envolvimentos, deves requerer uma evidência corroborativa, em proporção exacta à violação da probabilidade evocada pelo seu testemunho.
Thomas Huxley
- Essays Upon Some
Controverted Questions

¨Tem a solidão isto de comum com o silêncio e a escuridade: espanta; e aturde quem nela cai; mas, logo que o ouvido, desadormentado dos sons fortes, aprende a conversar com a mudez; tanto que os olhos, desofuscados dos luzeiros intensos, se exercitam em caçar espectros de raios; fosforescências indecisas, que são como que os infusórios das trevas; descerrou-se o negrume em brilhantismo, a calada aviventou-se de diálogos, a solidão, que parecia o nada, é o teatro com o seu drama, é um mundo novo com um sistema completo de existências imprevistas e apropriadas.
Que admira? A solidão medita, e a meditação cria. Os sentidos pastam só no que lhes oferecem a natureza, a fortuna, o acaso; a divindade interior, a alma, têm comércios inefáveis com o íntimo e ignorado. S. João, entre os nevoeiros de Patmos, divisa uma Jerusalém celeste; nas cogitações de Sócrates, aparece o Omnipotente; nos êxtases de Platão, reflexos da Trindade; nos cálculos taciturnos de Galileu, firma-se o céu, volteiam as plantas; Colombo faz surgir do fundo dos mares a América; Leverrier, mais globos no espaço; Fulton, o hipógrafo, o pégaso do vapor, magia, poesia, potência escrava do homem, e dominadora, primeiro dos oceanos, depois dos continentes e amanhã, talvez, dos ares; a solidão cismadora dá a Eneida a Virgílio, mostra a Lineu os amores e o sono das plantas, a Dante o Inferno, a Fourier o paraíso terrestre, a Newton e a Laplace o código dos astros, a Daguerre os talentos artísticos do Sol, ao Gama o caminho do Oriente, ao soldado Camões o da imortalidade, põe na mão de Gutembergue a chave do cofre das ciências, na de Vicente de Paulo a da caridade, na de Say a da riqueza pública, na de Pestalozzi e Froebel a da escola séria e fecunda.
António Feliciano de Castilho
 - A Chave do Enigma
(1836 - excerto)

Antes de Vivermos, a Vida É Coisa Nenhuma

¨O homem começa por existir, isto é, o homem é de início o que se lança para um futuro e o que é consciente de se projectar no futuro. O homem é primeiro um projecto que se vive subjectivamente, em vez de ser musgo, podridão ou couve-flor; nada existe previamente a esse projecto; nada existe no céu ininteligível, e o homem será em primeiro lugar o que tiver projectado ser. Não o que tiver querido ser. Porque o que nós entendemos ordinariamente por querer é uma decisão consciente, e para a generalidade das pessoas posterior ao que se elaborou nelas. Posso querer aderir a um partido, escrever um livro, casar-me: tudo isto é manifestação de uma escolha mais original, mais espontânea do que se denomina por vontade.
Escreveu Dostoievsky: «Se Deus não existisse, tudo seria permitido.» É esse o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, e, por conseguinte, o homem encontra-se abandonado, porque não encontra em si, nem fora de si, a que agarrar-se. Ao começo não tem desculpa. Se, na verdade, a existência precede a essência, não é possível explicação por referência a uma natureza humana dada e hirta; dito de outro modo, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos em face de nós valores ou ordens que legitimem a nossa conduta. Assim, não temos nem por detrás de nós nem à nossa frente, no domínio luminoso dos valores, justificação ou desculpas. Estamos sozinhos, sem desculpa. É o que exprimirei dizendo que o homem está condenado a ser livre.
Se suprimi Deus Pai, cumpre que alguém invente os valores. Temos de tomar as coisas como elas são. Aliás, dizer que inventamos os valores não significa senão isto: a vida não tem sentido a priori. Antes de vivermos, a vida é coisa nenhuma, mas é a nós que compete dar-lhe um sentido, e o valor não é outra coisa senão o sentido que tivermos escolhido.
Jean-Paul Sartre
- O Existencialismo É Um Humanismo
(excertos)
          
ANTIQUÁRiO

01JUL1864-30JUN1865 - Neste período, no concelho de Lisboa…
…o valor de sardinha consumida é de 61:662$400 réis.
…são importados, de vários países, 28.590.423 quilogramas de diversos cereais.
…o valor de frutos produzidos é de 25:041$700 réis.
…são gastas 150.362 caixas de carvão.
…o valor de pescado é de 15:870$070 réis.
…são consumidos 682.200 melões, 521.376 melancias, 8.700.900 laranjas, e 850.016 decilitros de vinho comum que pagaram direitos de alfândega.
        
BREVÁRiO

¨Assírio & Alvim re-edita Os Passos Em Volta de Herberto Helder. IMAG.221-440-487-504

¨A Esfera dos Livros edita Espiões Em Portugal Durante a II Guerra Mundial de Irene Flunser Pimentel.

¯Harmonia Mundi edita em CD, Bela Bartók [1881-1945]: Violin Concertos Nºs 1 & 2 por Isabelle Faust, com Swedish Radio Symphony Orchestra, sob a direcção de Daniel Harding. IMAG.128-213-236-316-335-435

¨A Esfera dos Livros edita Gungunhana - O Último Rei de Moçambique de Manuel Ricardo Miranda.

¨
Guimarães edita Exaltação da Filosofia Derrotada de Orlando Vitorino (1922-2003). 

sábado, agosto 16, 2014

IMAGINÁRiO #518

José de Matos-Cruz | 08 Junho 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

SORTILÉGIOS
Após uma primeira geração de notáveis artistas pioneiros, a banda desenhada de expressão franco-belga explora distintos horizontes e protagonistas, sob a estratégia das principais editoras, e visando um mais amplo público de adolescentes e adultos. Aos aliciantes da aventura correspondem os temas virtuais, estilizando-se versáteis grafismos pela pulsão estética e narrativa. Por tais parâmetros sobressai Laurent Vicomte, cuja notoriedade de firmou durante a década de 1980, com Balada ao Fim do Mundo.

Escritor e ilustrador de fértil engenho e minuciosa ilustração, Vicomte concebeu a saga de Sasmira em 1997, reivindicando o «fascínio por tudo o que respeita às coisas velhas, ao conteúdo dos sótãos, a todos esses objectos obsoletos que perderam a razão de existir e que, contudo, preservam ainda todos os odores daqueles que os amaram». Tudo começa com O Apelo - na Paris actual, surpreendendo o mancebo Stanislas ao sortilégio de outros tempos, pelo testemunho de uma anciã, um anel, uma fotografia e um poema. Assim, com a amiga Bertille, Stan é atraído ao passado, até Auvergne, em que se reaviva o mistério de Sasmira…

MEMÓRiA

¯09JUN1865-1931 - Carl Nielsen: Compositor dinamarquês, autor de Sinfonia Nº 5 - «Dificilmente se encontrará compositor mais subestimado e injustiçado na história da música… Vale a pena conhecer por inteiro esta obra curiosíssima e ultraclara em sua determinação de mostrar o ambiente político que se criava» (Milton Ribeiro). IMAG.404

®10JUN1905-1967 - José Galhardo: Escritor teatral, letrista para teatro e cinema, sócio fundador da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, advogado, especialista em Direito de Autor, filho de Luís Galhardo e primo de Vasco Santana - «Comediógrafo de prodigiosa fecundidade, tem dado ao nosso teatro ligeiro algumas dezenas de peças que constituíram outros tantos êxitos» (A Canção de Lisboa - Divulgação, 1933). IMAG.95-145-307

¨ 10JUN1915-05ABR2005 - Saul Bellow: Escritor canadense, naturalizado americano, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura (1976) - «Às vezes, desperdiçamo-nos… O meu verdadeiro desejo é que deixemos de viver exclusivamente para nós próprios». IMAG.36-87-360-421

¢1935-10JUN2005 - René Bertholo: Pintor português - «As coisas são interessantes na medida em que possam ajudar a sonhar de olhos abertos». IMAG.45-392

¨13JUN1865-1939 - William Butler Yeats: Dramaturgo, poeta e místico irlandês - «Fossem meus os tecidos bordados dos céus, / Ornamentados com luz dourada e prateada, / Os azuis e negros e pálidos tecidos / Da noite, da luz e da meia-luz, / Estendê-los-ia sob os teus pés. / Mas eu, sendo pobre, tenho apenas os meus sonhos. / Eu lancei os meus sonhos sob os teus pés / Caminha suavemente, pois caminhas sobre os meus sonhos.» (Aedh Deseja os Tecidos dos Céus).

¨1923-13JUN2005 - Eugénio de Andrade: Poeta português - «Os poetas são, como toda a gente sabe, seres da utopia, essa utopia sem a qual não há progresso» IMAG.33-45-150-248-303-326-389-423-432-460-485

¸14JUN1945-2012 - Carlos Reichenbach: Cineasta brasileiro, realizador de O Paraíso Proibido (1981) - «Os seus filmes somam, de forma insólita, entretenimento com cultura cinematográfica, filosofia e literatura» (Walter Sebastião). IMAG.88-414
       

CALENDÁRiO

¸1940-27MAI2014 - Helma Sanders-Brahms: Realizadora alemã, argumentista, actriz e produtora, membro destacado do novo cinema alemão, e da Akademie der Kűnste de Berlim.

¸1928-29MAI2014 - Karlheinz Bőhm: Actor austríaco, protagonista da trilogia Sissi (anos ’50) com Romy Schneider, fundador da associação humanitária Menschen fűr Menschen (1981), Grande Cavaleiro da Ordem de Mérito alemã (2002).

¢06JUN-31AGO2014 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Factotum de Diogo Muñoz. IMAG.291
 

ANTIQUÁRiO

12JUN1875 - Criada por Raphael Bordallo Pinheiro, a figura do Zé Povinho aparece pela primeira vez na revista Lanterna Mágica. 
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13JUN1865 - Em Roma, é queimado o livro por que se ensina o Direito Eclesiástico Português na Universidade de Coimbra. 116JUL1865 - Diário de Notícias
       

VISTORiA

¨Todos os grandes acontecimentos se realizaram neste mundo. Um espírito, uma divindade ou um demónio que primeiro penetram na alma de um homem como um vago suspiro, alteram depois o curso dos seus pensamentos e dos seus actos, até que escureça a cabeleira outrora loira, até que aloire a cabeleira outrora negra, e que as fronteiras dos impérios se movam como folhas batidas pelo vento.

William Butler Yeats
- Rosa Alquímica
(excerto)



Entre os Teus Lábios

¨Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade
         
GALERiA

Factotum
de Diogo Muñoz

¢Nascido em Lisboa, em 1973, Diogo Muñoz frequentou o curso de pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa, e, entre 1990 e 1993, trabalhou em colaboração artística com a Oficina 59, sob orientação de vários pintores.
Na sua obra, o artista tem vindo a desenvolver um estilo figurativo de inspiração Pop, e apresentou até hoje trabalhos em Macau, Xangai, São Salvador da Bahia, Madrid, Londres, Milão e Florença.
Nesta exposição, Muñoz apresenta uma série de quadros desenvolvidos num período em que o pintor focou a sua atenção e discurso na dialéctica ver/fazer pintura.
A reflexão de Diogo Muñoz foi centrada «nos seus sujeitos passivos e actuantes, e no diálogo resultante da inversão de papéis criada pela observação de dentro para fora das pinturas, como paralelo ao voyeurismo do quotidiano».
As soluções a que foi recorrendo abriram as portas a uma variedade gramatical que está na génese do título da exposição, Factotum, que significa literalmente um indivíduo que se dedica a múltiplos afazeres, mas que neste caso tem o sentido de pesquisa na demanda de soluções.
        

TRAJECTÓRiA

Saul Bellow
¨Escritor norte-americano de etnia judaica, Saul Bellow nasceu a 10 de Junho de 1915 em Lachine, nas cercanias de Montreal, no Canadá. Filho de judeus russos que haviam imigrado dois anos antes do seu nascimento, viveu num bairro desfavorecido de Montreal até 1924, altura em que a família se decidiu mudar para Chicago.
A sua mãe faleceu em 1932 mas, apesar do desgosto profundo que sofreu, Saul Bellow conseguiu ser admitido no curso de Literatura Inglesa da Universidade de Chicago. Acabou no entanto por pedir transferência para a Northwestern University, de onde obteve um diploma em Antropologia e Sociologia em 1937.
Matriculou-se depois num curso de pós-graduação na Universidade de Wisconsin, que logo abandonou, casando-se e decidindo tornar-se escritor a tempo inteiro. Na obrigação de sustentar a sua nova família, começou a leccionar na Escola Normal Pestalozzi-Froebel de Chicago em 1938, e aí permaneceu até 1942, iniciando então uma colaboração com o departamento editorial da Enciclopédia Britânica.
No ano de 1944, e no âmbito da entrada dos Estados Unidos da América na Segunda Guerra Mundial, foi destacado para a Marinha Mercante. Não foi destacado para a Marinha de Guerra devido à sua ascendência russa e às simpatias que nutria na época pelos ideais de esquerda.
A vida a bordo proporcionou-lhe o tempo e a disposição necessárias ao retomar da escrita e, assim, publicou nesse mesmo ano de 1944 o seu primeiro romance, The Dangling Man. A obra, em parte autobiográfica, conta a história de um jovem que atravessa uma crise ao saber que vai ser recrutado. Em 1947 foi a vez da segunda, The Victim.
Em 1948 recebeu uma bolsa da Fundação Guggenheim, e partiu para a Europa, passando cerca de dois anos em Paris. Aí compôs The Adventures Of Augie March (1953), que lhe valeu o National Book Award no ano seguinte ao da sua publicação.
O seu sucesso como romancista foi continuado com obras como Seize The Day (1956) e Herzog (1964), relato das desventuras de Moses Herzog, um intelectual judeu que enlouquece e que, para sobreviver às suas tendências suicidas, escreve cartas a Deus e a filósofos desaparecidos. No ano de 1976 recebeu o Prémio Pulitzer na categoria de Ficção pela publicação de Humboldt's Gift (1975), romance em que descreve o percurso de um escritor de sucesso, Charlie Citrine, a quem falta talento. Nesse ano de 1976 foi também galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.
Faleceu a 5 de Abril de 2005, na sua residência em Massachussetts, aos 89 anos.

Infopédia - Porto Editora, 2003-2011.

sexta-feira, agosto 15, 2014

IMAGINÁRiO #517

José de Matos-Cruz | 01 Junho 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

CREPÚSCULOS
No imaginário americano, radical e crepuscular, o fim da civilização emerge pelos sinais de uma vivência quotidiana banal, cuja actualidade é devastada por um universo virtual, violento e paranóico. Assim desvenda Hard Boiled (1990) - um testemunho em quadradinhos perturbante, devastador, concebido pelo lendário Frank Miller, a que Geof Darrow correspondeu, com uma impressionante ilustração, colorida ao delírio por Claude Legris. Carl Seltz é um cidadão comum, inspector de seguros e pai de família numa tranquila periferia. Mas, quando dorme, terríveis pesadelos avassalam, transformando-o num andróide exterminador, Unidade 4, que põe em risco a sobrevivência da sociedade. Até ser regenerado, mas… Mundos paralelos? Realidades antagónicas? Ou projecções apocalípticas de uma mentalidade em transe, alucinatória, pervertida sob os desígnios do bem e do mal? A verdade pode ser uma revelação fatal…  IMAG.27-40-98-149-193-209-240

CALENDÁRiO

MAI2014 - Em Espanha, o artista argentino Joaquín Salvador Lavado, aliás Quino, criador de Mafalda (1964), é distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades. IMAG.11-58-267-289-481

¨1928-28MAI2014 - Marguerite Ann Johnson, aliás Maya Angelou: Escritora americana, poetisa, ficcionista e actriz, militante dos direitos cívicos dos negros, autora de I Know Why the Caged Bird Sings, distinguida com a Medalha Presidencial da Liberdade.

¸29MAI2014 - Cineclube do Porto apresenta Cativeiro de André Gil Mata. IMAG.284


¸29MAI2014 - Agência da Curta Metragem apresenta A Mãe e o Mar de Gonçalo Tocha. IMAG.404


MEMÓRiA

¨01JUN1265-1321 - Durante degli Alighieri, aliás Dante Alighieri: Escritor e político italiano - «A fama que se adquire no mundo não passa de um sopro de vento, que ora vem de uma parte, ora de outra, e assume um nome diferente segundo a direcção de onde sopra». IMAG.39-142-225-277-338

1757-01JUN1815 - James Gillray: Ilustrador e caricaturista britânico, celebrado pela crítica política e social que estilizou entre 1792 e 1810.

®03JUN1925-2010 - Tony Curtis: Actor americano - «A fama é uma forma de conseguir bons lugares em restaurantes e carros bonitos, e de amar muitas pessoas». IMAG.327-447

¯1838-03JUN1875 - Georges Alexandre César Léopold Bizet, aliás Georges Bizet: Compositor francês, autor de Carmen - «A riqueza da obra, no capítulo da orquestração, da construção melódica e da textura harmónica, aliadas a uma mistura entre a corrente do Realismo, em voga na época, e o exotismo do próximo, conferiram-lhe um lugar de destaque na história da música ocidental» (Pedro Russo Moreira). IMAG.200-439-464

¯05JUN1935-2013 - António Manuel Dias Pequerrucho, aliás António Mourão: Fadista português, intérprete de Ó Tempo, Volta Para Trás - «O profissionalismo e entrega nos palcos contrastavam com a sua personalidade tímida e reservada» (António Chainho). IMAG.488

¨06JUN1875-12AGO1955 - Thomas Mann: Escritor alemão, Prémio Nobel da Literatura em 1929 - «A felicidade do escritor é o pensamento que consegue transformar-se completamente em sentimento, é o sentimento que consegue transformar-se completamente em pensamento» (Morte em Veneza). IMAG.173-233-261
       
VISTORiA

¨Em leito de penas
não se alcança a fama, nem sobre as cobertas;
Quem a vida consome sem a fama,
não deixa de si nenhum vestígio sobre a terra,
qual fumo no ar e espuma na água.

Dante Alighieri


COMENTÁRi

James Gillray
- Génio Britânico da Sátira Política
A sociedade portuguesa na dobra dos séculos XIX para XX está todas nas caricaturas e ilustrações de Rafael Bordalo Pinheiro. Mundo fora, cada país tem os seus próprios Bordalos, com maior ou menor talento que o nosso autor do Zé Povinho e da Grande Porca da Política. Um dos mais famosos caricaturistas de sempre foi, sem dúvida, o britânico James Gillray (1757-1815). Prolífero na sua obra gráfica, com mais de mil desenhos satíricos que lhe são atribuídos. Os episódios políticos domésticos, a geoestratégia da época, os costumes da altura, os ridículos de cada classe ou de certos acontecimentos - o traço cáustico de Gillray é, simultaneamente, motivo de deleite para os apreciadores do desenho e uma fonte documental para os historiadores. Repare-se, apenas, em Contrastes da moda ou A capitulação do pequeno calçado da duquesa diante do tamanho dos pés do duque. Imenso génio. - F.M.
20JUN2009 - Diário de Notícias

Georges Bizet
- Autor de Carmen Triunfa Após Críticas

¯Foi um escândalo. Na noite de 3 de março de 1875, a platéia presente à Opéra-Comique de Paris saiu chocada com a estréia de Carmen, de Georges Bizet. Acostumado com histórias ditas «edificantes», o público ficou incomodado com aquele espectáculo singular, no qual uma cigana desprovida de qualquer moral, sem a menor sombra de remorso ou piedade, enfeitiçava e levava os homens à perdição. Em vez de final feliz, um assassinato em cena. Carmem é morta pelo amante, a punhaladas.
A música, tão perturbadora quanto o enredo, foi motivo de igual controvérsia. A crítica, na imprensa da época, mostrar-se-ia dividida. A maioria, é certo, tratou a ópera de Bizet como um espectáculo repugnante e obsceno. «Se fosse possível imaginar Sua Majestade Satânica escrevendo uma ópera, Carmen seria o tipo de obra que se esperaria», diria o Music Trade Review, de Londres.
Houve, porém, quem pensasse o contrário. «Bizet quer pintar homens e mulheres de verdade, alucinados, atormentados pelas paixões, pela loucura. Assim, a orquestra conta suas angústias, seus ciúmes, suas cóleras e a insensatez geral», foi a avaliação publicada no Le National, de Paris.
A originalidade de Carmen acabaria triunfando sobre os preconceitos e valores da época. Mas Bizet não viveria a tempo de assistir a seu próprio triunfo. Exactamente três meses após a polémica estreia, recolhido a Bougival, uma pequena cidade do interior da França, ele morreria de um ataque do coração.
http://musicaclassica.folha.com.br/cds/22/biografia-2.html (excerto)
 
VISTORiA

¨ – As estrelas, meu Deus! Olha só para estas estrelas… – disse repentinamente, com entoação pesada e cantante, uma voz que parecia vir de dentro de um tonel. Já a conhecia. Pertencia a um homem ruivo, vestido com simplicidade, de pálpebras vermelhas e um aspecto húmido e frio, como se acabasse de tomar banho. Fora o vizinho de Tonio Kroeger, durante o jantar na cabina, e havia consumido com hesitação e movimentos modestos, porções espantosas de omeleta de lagosta. Agora encostava-se ao lado dele na amurada e olhava para o céu segurando o queixo com o polegar e o indicador. Sem dúvida, encontrava-se numa dessas disposições extraordinárias e festivas, nas quais as barreiras entre os homens caem, nas quais o coração também se abre para estranhos e a boca diz coisas que em outra circunstância, envergonhada, guardaria para si…

Thomas Mann
- A Montanha Mágica
(excerto)
    
ANUÁRiO

¨4aC-65 - Lucius Annaeus Seneca, aliás Séneca: «A vida, se bem empregue, é suficientemente longa e foi-nos oferecida com plena capacidade para a realização de importantes tarefas. Pelo contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é materializada, por fim, se não se respeita qualquer valor, então não realizamos aquilo que deveríamos concretizar, e sentimos que ela efectivamente se esvai». IMAG.115-321-482
        
BREVÁRiO

¨Assírio & Alvim edita Novela de Xadrez de Stefan Zweig (1881-1942); tradução de Álvaro Gonçalves. IMAG.32-48-176-348-359

¯Sony Classical edita em CD, SergueiSergueievitch Prokofiev [1891-1953] 3 - [Bela] Bartók [1881-1945] 2 pelo pianista Lang Lang, com Berliner Philharmoniker, sob a direcção de Simon Rattle. IMAG.117-128-213-236-284-316-319-335-375-389-409-435-446

terça-feira, agosto 05, 2014

IMAGINÁRiO ExTRA - X #11 (Dark Horse)

IMAGINÁRiO EXTRA - X #11 (Dark Horse)
José de Matos-Cruz | 25 Maio 2015 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
CELEBRAÇÃO
A intervenção de ilustradores portugueses no panorama editorial americano das histórias em quadradinhos, com significativas referências nos anos recentes, atinge um momento culminante em X #11, sob chancela Dark Horse Comics, cujos desenhos têm assinatura de Daniel Maia. Ao estilo vigoroso, perfeccionista, Daniel Maia alia a elegância do traço e a dinâmica da expressão. Trata-se de um artista completo, fascinante, capaz de transitar harmoniosamente entre as dimensões realista e fantástica. Definindo personagens, adensando atmosferas. Combinando uma rara sensibilidade criativa, o rigor estético, com uma profunda e meticulosa experimentação. Envolvendo o domínio manual através das potencialidades virtuais. Reflectindo o fulgor clássico sobre as valências da modernidade. Daniel Maia participou na trilogia d’O Infante Portugal, sendo autor – com Susana Resende – das ilustrações capitulares do terceiro tomo, As Sombras Mutantes (2012). Tendo, assim, consolidado uma primordial textura gráfica do herói titular, transfigura ainda o respectivo imaginário para uma expansão em quadradinhos. Entretanto, concebeu um dos universos essenciais de Aurora Boreal, a saga que actualmente estou a desenvolver… Eis marcos de um percurso de partilha e generosidade, mas também, para mim, de uma vivência única, de afectividade e admiração. O talento natural e o esbelto cunho artístico de Daniel Maia geram visões deslumbrantes e inspiradoras – que assinalo em testemunho pessoal de apreço e pública congratulação!

COMENTÁRiO
_ A experiência de fazer este comic-book, X #11, marcou a minha estreia efectiva na banda desenhada norte-americana, após uma edição inicial na Previews (2001) e uma primeira instância profissional, para a Platinum Studios (2003). Mas sendo a revista um fill-in (i.e. um número isolado, de substituição), que espero seja em breve suplantado por novos trabalhos, não sinto que haja justificação suficiente para este Imaginário-Extra, daí que opte por preenchê-lo com descrição das circunstâncias que levaram à oportunidade.
Após algumas tentativas goradas e um hiato ausente dos meandros editoriais, voltei a apostar nos comics em 2013, na sequência da participação nos livros d’O Infante Portugal, que me devolveram o gosto criativo, e de assistências artísticas para o mercado estrangeiro, que promoveram uma disciplina de trabalho. Posteriormente, voltando ao contacto com o agente artístico & arte-finalista Joe Prado, fui convidado a integrar a nova agência que este iria criar, com o sócio Ivan Freitas da Costa, a Chiaroscuro Studios. A apresentação deu-se alguns meses à frente, e a minha primeira ocasião de trabalho surgiu no fim do ano – precisamente dez anos após o ensaio inicial –, quando a editora Dark Horse Comics precisou de um artista convidado na série mensal X (vol.2).
Apesar de trabalhos feitos em contra-relógio durante aquele ano, e uma amostra esmerada, para portfólio, fiquei agitado ao assumir um desafio tão definitivo, pois era uma oportunidade rara de realizar algo palpável e me incitar a nível profissional. Outro factor entusiasmante deveu-se ao título ter sido celebrizado pelo escritor veterano Steven Grant, na década de ’90, sendo uma afinidade que me agradava, dado o meu primeiro trabalho pago na indústria americana ter sido a desenvolver um projecto original escrito por ele. No processo, fui acompanhado pelo arte-finalista Mark Pennington (…apelido talhado à medida de um ‘inker, diga-se), que embora se tenha licenciado na Joe Kubert School no mesmo ano em que entrei na Escola Primária, colaborou ao longo dos anos com muitos dos meus ídolos do sector.
O que guardei do processo criativo foi, acima de tudo, a revelação dos meus pontos fortes e fracos, que nem sempre foram os que esperava, quando levados aos extremos pela exigência dos prazos; mas simultaneamente, também percebi que, limadas as arestas, se trata de uma ocupação que consigo desenvolver. Ficou ainda marcada a noção do desgaste que trabalhar a este nível impõe, e a minha satisfação por ter superado esta prova de fogo.
Resta sublinhar o gozo que o guião de Duane Swierczynski propiciou, o qual, neste capítulo da história, comparo ao confronto similar, no final de Assalto ao Arranha-Céus/Die Hard, mas entre super-heróis e vilões! Não só o tom é impecável, aproveitando cada momento e cada acção para definir as personagens e preparar o desfecho inesperado, como equilibra magistralmente a rotatividade do violento climax entre X e o mercenário Gamble, num edifício em chamas, com a tensão subtil entre Leigh e Ellie, respectivamente a colega de X e a assistente do gangster Carmine Tango.
?Daniel Maia
RELATÓRiO
_ X (vol.2) #11 – Deep Pockets of Pain (Março 2014) | Editora: Dark Horse Comics | Formato: 32 páginas, Super-herói/Crime | PVP: 2,99$ | Autores: Duane Swierczynski (Texto), Daniel Maia (Desenho), Mark Pennington (Arte-final), Michelle Madsen (Cores) e Garry Brown (Ilustração de Capa)

_ Editado em Agosto 2014, o álbum X vol.3: Siege, por Duane Swierczynski, Eric Nguyen e Daniel Maia, et al, reúne os comic-books X #9-12, com 104 páginas e PVP 14,99$. 

ELUCIDÁRiO
X #11: Deep Pockets of Pain – Sinopse:
_ As mãos de X já estavam ocupadas com Carmine Tango… Depois, Gamble reapareceu! X pensava ter morto este suave hitman há anos atrás, mas o assassino obcecado por sorte ainda está no jogo, apostando as suas chances numa vingança! Bem-vindo a Arcadia, onde as previsões são más… e os maus são imprevisíveis!

_ A cidade Arcádia cai no caos, à medida que velhos vilões regressam e novos inimigos nascem! Enquanto X enfrenta psicopatas suicidas, mafiosos supersticiosos e assassinos viciados em adrenalina, a sua colega Leigh descobre os segredos do seu passado… antes deste fechar a sua máscara a cadeado e se transformar em X!


Quem é X?
_ Relançado em 2012, na nova linha de super-heróis da Dark Horse Comics, onde se reabilitam personagens clássicas e outras nascidas nos anos ‘90, nomeadamente aquelas criadas para a divisão Comics' Greatest World da mesma editora, e que interligava num universo comum anti-heróis/heroínas como Barb Wire e Ghost, X é escrito por Duane Swierczynski, que sucede a Steven Grant, na série original.
Herdeiro da verve anti-heróica sentida na altura, X combatia em Arcadia, uma de quatro cidades abordadas na divisão editorial, antro de corrupção e violência, onde o vigilante era a única força pelo Bem. Caracterizado por uma máscara-capuz com “X” vermelho no centro, amovível devido ao grilhão e cadeado presos ao pescoço, X não desfruta de identidade secreta como a maioria dos heróis e é-lhe desconhecido um passado. Apenas o seu método o demarca: quando um criminoso é avisado, recebe um corte diagonal na face; o próximo corte diagonal – a fechar o “X” – precede a sua morte!