José
de Matos-Cruz | 08 Março 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
PRECONCEITOS
A
solitária Carrie, com dezasseis anos, é vítima de escárnio das
companheiras de liceu, pelas suas inabilidade e ignorância, face às
questões essenciais
da vida. Tais problemas resultam, em grande parte, da educação
repressiva e traumatizante da mãe, uma fanática religiosa cuja
obsessão do pecado, a par de horror pelo comportamento sexual, se
devem ao abandono do marido com outra mulher. Durante a festa de
finalistas, Carrie - com poderes especiais, para movimentar pessoas e
objectos - é ridicularizada pelas colegas. Desesperada, inicia então
uma vingança terrível e sanguinária - que se estende à
progenitora, para quem está possuída pelo demónio…Carrie
(1976) é um dos filmes marcantes de Brian DePalma, em homenagem ao
seu mestre Alfred Hitchcock - sob o signo do terror-fantástico, com
argumento de Lawrence D. Cohen, sobre uma novela de Stephen King (de
novo transposta em 2013, por Kimberly Peirce). Eis a família
americana em causa, quanto aos preconceitos morais e aos fantasmas da
sensualidade. Um perturbante desempenho por Sissy Spacek, candidata
ao Oscar, ao lado de John Travolta em ascensão. IMAG.101-134-152-710
CALENDÁRiO
05JUL-23SET2018
- Em Lisboa, Galeria Avenida da Índia apresenta La
Neblina - instalações de
escultura, colagem, desenho, performance e vídeo de Runo Lagomarsino
(Suécia), sendo curadora Filipa Oliveira.
26JUL-09SET2018
- Em Lisboa, Capela do Rato apresenta Junto
ao Chão
- instalação de Carlos Nogueira,
com textos de Manuel de Freitas. IMAG.279-300/732
10AGO1950-16AGO2018
- Pedro Leitão de Campos Rosado, aliás Pedro de Campos Rosado:
Artista plástico português, escultor e professor, cofundador da
Escola Superior de Arte e Design/ESAD das Caldas da Rainha.
1942-18AGO2018
- Maria Isabel Laginhas Vaz, aliás Isabel Laginhas: Artista plástica
portuguesa, ilustradora e figurinista, professora de tapeçaria e
desenho - «Para além da obra artística, deixa também uma
experiência de vida única nos seus antigos alunos» (António
Costa).
23AGO2018
- Leopardo Filmes produziu, e estreia Sol
Cortante / Soleil Battant
(2017) de Clara
Laperrousaz e Laura Laperrousaz; com Ana Girardot e Teresa Madruga.
25AGO-14OUT2018
- Torre do Castelo de Evoramonte apresenta Marcado
Pelo Tempo
- exposição de cerâmica de Yvonne Halfens (Holanda).
VISTORiA
Foi-se-me
pouco a pouco amortecendo
a luz que nesta vida me guiava,
olhos fitos na qual até contava
ir os degraus do túmulo descendo.
Em se ela anuviando, em a não vendo,
já se me a luz de tudo anuviava;
despontava ela apenas, despontava
logo em minha alma a luz que ia perdendo.
Alma gémea da minha, e ingénua e pura
como os anjos do céu (se o não sonharam…)
quis mostrar-me que o bem bem pouco dura!
Não sei se me voou, se ma levaram;
nem saiba eu nunca a minha desventura
contar aos que inda em vida não choraram…
a luz que nesta vida me guiava,
olhos fitos na qual até contava
ir os degraus do túmulo descendo.
Em se ela anuviando, em a não vendo,
já se me a luz de tudo anuviava;
despontava ela apenas, despontava
logo em minha alma a luz que ia perdendo.
Alma gémea da minha, e ingénua e pura
como os anjos do céu (se o não sonharam…)
quis mostrar-me que o bem bem pouco dura!
Não sei se me voou, se ma levaram;
nem saiba eu nunca a minha desventura
contar aos que inda em vida não choraram…
João
de Deus
-
Campo de Flores
Tudo
passa. Sofrimentos, dores, sangue, fome e peste. A espada vai
desaparecer, mas as estrelas vão permanecer no céu, quando nem uma
sombra dos nossos corpos e das nossas obras restar no mundo.
Milkhail
Bulgákov
-
A Guarda Branca (excerto)
MEMÓRiA
08MAR1830-1896
- João de Deus de Nogueira Ramos, aliás João de Deus: Poeta e
pedagogo português, autor de Campo
de Flores e criador do método
de leitura Cartilha Maternal -
«A vida é o dia de hoje, / a vida é ai que mal soa, / a vida é
sombra que foge, / a vida é nuvem que voa; / a vida é sonho tão
leve / que se desfaz como a neve / e como o fumo se esvai: / A vida
dura um momento, / mais leve que o pensamento, / a vida leva-a o
vento, / a vida é folha que cai!» (A
Vida - excerto).
IMAG.66-244-266-307-355-442-504-514-546-656
09MAR1910-1981
- Samuel Osborne Barber, aliás Samuel Barber: Compositor americano -
«A minha obra nasce daquilo que eu sinto. Não sou um criador por
consciência própria». IMAG.443-612
09MAR1930-2015
- Randolph Denard Ornette Coleman, aliás Ornette Coleman: Compositor
e saxofonista americano - «…A quem se devem algumas das mais
importantes inovações na história do jazz»
(João Moço). IMAG.574-618
1926-09MAR2010
- Alda Neves da Graça do Espírito Santo, aliás Alda Graça, aliás
Alda do Espírito Santo: Escritora natural de São Tomé e Príncipe,
militante da luta pela independência, autora do Hino Nacional,
ministra e deputada - «Perde a literatura de língua portuguesa uma
grande figura, e perdemos todos no campo dos afectos» (Pepetela). IMAG.293-560
10MAR1920-1959
- Boris Paul Vian, aliás Boris Vian: Ficcionista, poeta, actor e
cantor francês - «Se nos queremos lembrar apenas dos bons momentos,
então para que servem os maus?».
IMAG.231-286-289-310-342-408-524-711-739
1882-10MAR1930
- Artur Alves Cardoso: Pintor português, discípulo de Carlos Reis,
membro do Grupo Silva Porto - «Descansarei trabalhando, habituando
de novo a minha visão ao ambiente da nossa terra» (1929). IMAG.639
1891-10MAR940
- Milkhail Afanásievitch Bulgákov, aliás Milkhail Bulgákov:
Ficcionista e dramaturgo russo - «Todo o poder é uma violência
exercida contra as pessoas». IMAG.378-588
ITINERÁRiO
Compositor
clássico norte-americano, nasceu a 9 de março de 1910, em West
Chester, Pensilvânia, e faleceu a 23 de janeiro de 1981, em Nova
Iorque. O seu talento musical revelou-se bastante cedo: aos sete anos
de idade escrevia a sua primeira peça, aos 10 anos tentava a sua
primeira ópera e, aos 12, conseguia um emprego como organista.
Com
14 anos entrou para o Curtis Institut of Music, em Filadélfia, onde
estudou voz com Emílio de Gogorza, composição com Rosário Scalero
e piano com Isabelle Vengerova.
Neste
instituto conheceu Gian Carlo Menotti, com quem iria manter uma longa
relação profissional e de amizade. Depois de cumprir o serviço
militar, durante o qual compôs a Segunda
Sinfonia, voltou para os
Estados Unidos, partilhando uma casa com Menotti. Aqui, em Mt. Kisco,
compôs a maioria das suas obras pós-guerra. Menotti forneceu os
libretos para as óperas Vanessa
(com a qual Barber venceu o Pulitzer) e A
Hand of Bridge. Em 1963,
voltou a vencer um Prémio Pulitzer com Concerto
for Piano and Orchestra. A
estreia mundial da ópera Antony
and Cleópatra deu-se em
1966, na abertura do novo auditório da Metropolitan Opera do Lincoln
Centre for the Perfoming Arts.
A
composição orquestral tornou-se predominante na sua criação,
sendo Adagio for Strings
a sua mais famosa obra. Barber atingiu o reconhecimento mundial como
o primeiro americano a ser interpretado por Toscanini e pela NBC
Symphony, quando apresentaram Adagio
juntamente com Essay nº 1 for
Orchestra.
Apesar
de a sua popularidade provir de Adagio
for Strings, as suas
composições para voz representavam uma significante parte da sua
obra. Barber era sobrinho da famosa contra-alto Louise Homer, daí
ter acesso à música desde muito cedo, levando-o mesmo a estudar
voz, mais tarde.
Foi
galardoado com inúmeros prémios e distinções, entre os quais o
American Prix de Rome, dois Pulitzer Awards e a eleição para a
Academia Americana de Artes e Letras.
A
sua obra intensamente lírica Adagio
for Strings tornou-se numa
das mais amadas composições, estando presente em inúmeros
concertos e bandas sonoras (Platoon,
The Elephant Man,
El Norte,
Lorenzo’s Oil).
LAUDATÓRiO
João
de Deus
João
de Deus é uma das personificações mais belas do nosso carácter
peninsular; vivo e indolente, devaneador e apaixonado, crente e
sentimental. É uma flor do meio-dia, cheia de seiva e colorido, dos
poetas e nunca ninguém sentiu entre nós mais ardente a sua
imortalidade do que Bocage. Com que entusiasmo ele exclamava ao ver
os seus versos elogiados na boca de Filinto: «Zoilos tremei;
posteridade, és minha!» Sob este ponto de vista, João de Deus é a
antítese completa de Bocage. Este tinha a inspiração orgulhosa,
cheia de fogo, rebentando quase num caudal de ironia e de sarcasmo.
João de Deus tem a inspiração serena, espontânea, quase
inconsciente. João de Deus é como a flor do campo, que rebenta
formosa sem cultivo, velada apenas pela graça de Deus, o jardineiro
supremo. As suas poesias são verdadeiras flores do campo, mas das
mimosas, das encantadoras na sua singeleza, das que, guardadas num
álbum, conservam perfeitamente a delicadeza da forma, o colorido
transparente da corola, o aveludado do cálice, a disposição
encantadora das pétalas.
08MAR1895
- Diário de Notícias
BREVIÁRiO
Ítaca
edita O Castelo de
Franz Kafka (1883-1924); tradução de Isabel Castro Silva.
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