segunda-feira, outubro 29, 2018

IMAGINÁRiO #741

José de Matos-Cruz | 01 Fevereiro 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004
 
PRONTUÁRiO

VITALIDADE
No panorama da banda desenhada franco-belga, Hermann distingue-se entre os artistas mais talentosos, sólidos e versáteis, conjugando as tradições da acção, sob o signo heróico, com o testemunho crítico, sobre a realidade em transe. Basta recordar alguns segmentos determinantes da sua extensa carreira: Jugurtha (com guiões por Laymillie), Bernard Prince e Comanche (por Greg), Nic (por Morphée), Le Secret des Hommes-Chiens (por Yves Huppen). Mas é como autor integral, que o argumentista e ilustrador Hermann atinge, porventura, a expressão da sua plena vitalidade: Abominable, Missié Vandisandi ou Sarajevo-Tango, o épico Les Tours de Bois-Maury - conjugando todas as paisagens intemporais, todos os horizontes da história, em conflitos, dramas, humores, emoções, confrontos. Ainda nesta modalidade, muitos dos fiéis leitores privilegiam o culto de Jeremiah - cuja vigésima aventura se exalta em Mercenaires (1997), sob chancela Dupuis pela vertente Repérages. Tudo começa algures numa região desolada, durante uma tempestade de areia. Jeremiah e Kurdy chegam à aldeia mineira de Sears & Como, com um velhote, Angus Greenspoon, enquanto um estranho grupo paramilitar assola a região…
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CALENDÁRiO

26MAI-22SET2018 - Em Matosinhos, Galeria Municipal apresenta Real Vinícola - Uma Reconversão - exposição de fotografia de Luís Ferreira Alves, sendo curador Guilherme Machado Vaz.

28JUN-15OUT2018 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves expõe E Depois, a História | Besides, History de Go Hasegawa, Kersten Geers e David Van Severen, sendo curadora Giovanna Borasi, e com adaptação curatorial por Carles Muro.

10JUL-14OUT2018 - Em Lisboa, Garagem Sul do Centro Cultural de Belém expõe Histórias Construídas | Building Stories de Vylder Vinck Taillieu, Maio e Ricardo Bak Gordon, sendo curadores Amélia Brandão Costa e Rodrigo da Costa Lima.

1939-15JUL2018 - Altino Martins da Costa, aliás Altino do Tojal: Jornalista e escritor português, autor de Os Putos (1973) - onde se encontram «alguns dos melhores contos contemporâneos da infância e adolescência pobres» (Óscar Lopes).

VISTORiA


Os dez Princípios de um Código de Conduta
1. Não tenhas certeza absoluta de nada.
2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
8. Encontra mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
9. Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares ocultá-la.
10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.
Bertrand Russell
- Autobiografia

VISTORiA

Os Treze Anos - Cantilena

Já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro:
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro,
já bailo ao Domingo
com as mais no terreiro.

Já não sou Anita,
como era primeiro;
sou a Senhora Ana,
que mora no outeiro.

Nos serões já canto,
nas feiras já feiro,
já não me dá beijos
qualquer passageiro.

Quando levo as patas,
e as deito ao ribeiro,
olho tudo à roda,
de cima do outeiro.

E só se não vejo
ninguém pelo arneiro,
me banho co’as patas
Ao pé do salgueiro.

Miro-me nas águas,
rostinho trigueiro,
que mata de amores
a muito vaqueiro.

Miro-me, olhos pretos
e um riso fagueiro,
que diz a cantiga
que são cativeiro.

Em tudo, madrinha,
já por derradeiro
me vejo mui outra
da que era primeiro.

O meu gibão largo
de arminho e cordeiro,
já o dei à neta
do Brás cabaneiro,

dizendo-lhe: «Toma
gibão domingueiro,
de ilhoses de prata,
de arminho e cordeiro.

«A mim já me aperta,
e a ti te é laceiro;
tu brincas co’as outras
e eu danço em terreiro.»

Já sou mulherzinha;
já trago sombreiro,
já tenho treze anos,
que os fiz por Janeiro.

Já não sou Anita,
sou a Ana do outeiro;
madrinha, casai-me
com Pedro Gaiteiro.

Não quero o sargento,
que é muito guerreiro,
de barbas mui feras
e olhar sobranceiro.

O mineiro é velho;
não quero o mineiro:
Mais valem treze anos
que todo o dinheiro.

Tão-pouco me agrado
do pobre moleiro,
que vive na azenha
como um prisioneiro.

Marido pretendo
de humor galhofeiro,
que viva por festas,
que brilhe em terreiro;

Que em ele assomando
co’o tamborileiro,
logo se alvorote
o lugar inteiro.

Que todos acorram
por vê-lo primeiro,
e todas perguntem
se ainda é solteiro.

E eu sempre com ele,
romeira e romeiro,
vivendo de bodas,
bailando ao pandeiro.

Ai, vida de gostos!
ai, céu verdadeiro!
ai, Páscoa florida,
que dura ano inteiro!

Da parte, madrinha,
de Deus vos requeiro:
Casai-me hoje mesmo
com Pedro Gaiteiro.
António Feliciano de Castilho

MEMÓRiA

28JAN1800-1875 - António Feliciano de Castilho: Escritor e pedagogo português - «Eu! Respondia o triste, eu pôr machado / Na boa da minha árvore?  primeiro / Me falte lume alheio o inverno todo, / Que eu mate a que a meu pai já dava sestas; / A que de meu avô me foi mandada, / Que a mão pôs para si; e a que nos braços / Me embalou tanta vez sendo menino.» (Quem Poupa as Árvores Encontra Tesouros - excerto).
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1872-02FEV1970 - Bertrand Arthur William Russell, aliás Bertrand Russell: Escritor, matemático e filósofo inglês, Prémio Nobel da Literatura (1950) - «O truque da filosofia é começar por algo tão simples que ninguém ache digno de nota, e terminar por algo tão complexo que ninguém entenda».
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1932-02FEV2010 - Rosa Maria de Bettencourt Rodrigues Lobato de Faria, aliás Rosa Lobato de Faria: Actriz e escritora portuguesa - «A imaginação é magia e é arte / que nos faz inventar, sonhar e viajar. / Com imaginação podemos ir a Marte / ou ao centro da Terra, ou ao fundo do mar.» (Imaginação - excerto).
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04FEV1900-1977 - Jacques André Marie Prévert, aliás Jacques Prévert: Poeta francês, autor de Paroles - «Pelas barras do bloco penitenciário / uma laranja / passa como um raio / e cai como uma pedra / dentro do sanitário / E o prisioneiro / todo lambuzado de merda / resplandece / todo iluminado de alegria / Ela não me esqueceu / Ela ainda pensa sempre em mim» (O Meteoro).
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05FEV1940-2014 - Hans Rudolf Giger, aliás H.R. Giger: Artista plástico suíço, pintor, escultor e designer, ligado ao surrealismo e ao fantástico, colaborador em Alien, o 8º Passageiro (1978 - Oscar aos Efeitos Visuais) - «Os pesadelos e terrores nocturnos, de que sofro cronicamente, são também fontes regulares de inspiração».
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06FEV1950-2015 - Stephanie Natalie Maria Cole, aliás Natalie Cole: Cantora e compositora americana, filha de Nat King Cole - «Nunca consegui fazer a transição de rapariguinha para jovem mulher… E isso afecta-me». IMAG.599

07FEV1910-1999 - Joaquim Martins Correia: Artista plástico português, escultor e pintor - «Deixou uma obra altamente personalizada, rompendo com o academismo dominante da escultura naturalista e realista» (Lagoa Henriques).
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BREVIÁRiO

PIM edita O Mistério da Rua Saraiva de Carvalho de Reinaldo Ferreira (1897-1935).
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sábado, outubro 27, 2018

IMAGINÁRiO-Extra: JOSÉ RUY – Dois Novos Álbuns em Quadradinhos [ÂNCORA EDITORA]

A vertente histórica, com características pedagógicas de reflexão ou testemunho, continua a revelar-se, em banda desenhada, uma das alternativas mais aliciantes e populares, conjugando a expectativa de editores e criadores, ao interesse das instituições e dos leitores de todas as idades. 
Tendo-se especializado, pelos últimos anos, na revisão de ocorrências do passado, recente ou remoto, através do perfil dos seus eventuais protagonistas, ou das ocorrências mais relevantes, José Ruy concretiza outras duas propostas de revitalização - em incidências exemplares e implicações primordiais - com lançamento sob chancela Âncora. 

Nascida das Águas e o 16 de Março de 1974 é uma nova versão do álbum publicado em 1999, pela Asa, sobre a história da cidade das Caldas da Rainha, agora complementada com uma minuciosa ilustração do golpe militar, precursor e impulsionador do 25 de Abril, tentado a partir do antigo Regimento de Infantaria 5, e tendo como objectivo restituir a liberdade aos portugueses.

Para A Ilha do Corvo Que Venceu os Piratas, e com base em documento do Século XVII, José Ruy imaginou um enredo que integrou contribuições da comunidade localizada na extremidade ocidental do arquipélago dos Açores, durante muito tempo na mira dos piratas e corsários que navegavam aquelas águas, originando episódios de conflito, e curiosamente, algumas relações de proximidade.

Testemunhando, solidário, os desafios singulares e os ideais colectivos, como artista talentoso, versátil, em afecto também pelo homem afável, generoso, José Ruy é - sobretudo - um autor português que, através das histórias em quadradinhos, delineou o carácter com que nos posicionamos, na realidade. Inspirando o melhor da fantasia e dos anseios, em que perspectivamos uma sociedade mais justa.

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quinta-feira, outubro 25, 2018

IMAGINÁRiO #740

José de Matos-Cruz | 24 Janeiro 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

DOMÍNIOS
Aliando o fascínio da intriga criminal à denúncia da corrupção política, Chinatown (1974) é um clássico do cinema negro, com assinatura de Roman Polanski. Em 1990, o protagonista Jack Nicholson dirigiu O Caso da Mulher Infiel, cuja acção decorre dez anos depois. Os dois filmes foram concebidos pelo mesmo argumentista, Robert Towne. Em causa, o detective Jake Gittes, especializado em investigações conjugais. E a cidade de Los Angeles, nas margens de Hollywood - como cenário volúvel, de precários ciúmes ou suspeitas de traição. Afinal, os pretextos de adultério cedo evoluem para outros aspectos: jogos de poder, dúbios compromissos, ganância. Perversão política, interesses económicos, contaminação social. Towne expande uma trama romântica e dramática, com o espírito de Raymond Chandler… Tudo começa em 1937: invocando ser casada com Hollis Mulwray, uma bela mulher contrata Gittes, para recolher provas de que o patrão da água a trai com outra mais nova. Mais tarde, o cadáver de Mulwray é pescado num reservatório, após o escândalo se tornar público. Erosão da lucidez, rotina profissional, íntimo cinismo, instabilidade emocional, estigmatizam o retrato (anti)heróico de Nicholson, como Guittes - subjugado numa voragem fatal de sentimentos e ressentimentos, de vivências e sobrevivências, de roturas e penosas reconciliações. IMAG.24-80-264-284

CALENDÁRiO

04JUN-14SET2018 - Em Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal / BNP expõe, em organização com Clube Português de Banda Desenhada/CPBD, A Três Vinténs - 100 Anos de Fascículos de Aventuras Em Portugal.

29JUN-07OUT2018 - Em Guimarães, Centro Internacional das Artes José de Guimarães apresenta Mundo Flutuante | Trabalhos: 1996-2018 - exposição de desenho, vídeo e som de Pedro A.H. Paixão. IMAG.588

1944-07JUL2018 - Pedro Morais: Artista plástico português, pintor e professor: «Sentia uma responsabilidade extrema de acrescentar algo ao que ele conhecia do mundo e fazia-o construindo discursos maravilhosos sobre as coisas» (João Fernandes). IMAG.399-413

1931-08JUL2018 - Arthur Andrew Kelm Gelien, aliás Tab Hunter: Actor americano - «Os seus papéis de atleta, soldado, cowboy, bom rapaz integravam-se numa idealização das virtudes masculinas e solidárias do jovem americano central à imagem da América do pós-guerra projectada por Hollywood» (Jorge Mourinha).

1933-12JUL2018 - Maria Laura do Soveral Rodrigues, aliás Laura Soveral: Actriz portuguesa de rádio, teatro, televisão e cinema, destacando-se após Uma Abelha Na Chuva (1971 - Fernando Lopes) - «Já aí ela era enorme: a sua representação criava uma angústia nas pessoas, nos espectadores» (João Botelho). 
 
EPISTOLÁRiO

Filho de um servo, servente de loja, cantor na igreja, estudante do liceu e da Universidade, educado para a reverência de superiores e para beijos de mão, para se curvar perante os pensamentos alheios, para a gratidão por qualquer pequeno pedaço de pão, muitas vezes sovado, indo à escola sem galochas…
Anton Tchékhov
- Carta a Aleksandr Tchékhov (1889)

PARLATÓRiO

Retratar uma mulher é o mesmo que possuí-la.
Amadeo Modigliani

Quando uma frase nasce, não é nem tão boa nem tão fraca. O segredo do seu sucesso está num ponto crucial que mal se pode discernir. Devemos segurar a chave desse enigma gentilmente com os dedos, aquecendo-a. E depois a chave deve dar uma volta, e não duas.
Isaac Babel

MEMÓRiA

1884-24JAN1920 - Amadeo Clemente Modigliani: Artista plástico italiano, pintor e escultor, em Paris após 1906, ritualista da cor, celebrado pelos nus cuja estética sensual estiliza a inquietação latente ou o intenso despojamento, precursor do modernismo - «Aquilo que eu procuro na pintura, não é o real ou o irreal, mas antes o inconsciente, o mistério do instinto na alma humana». IMAG.154-260-474-680

1577-25JAN1640 - Robert Burton: Académico inglês e clérigo da Oxford University, autor de A Anatomia da Melancolia (1631) - «no meio de doutas exposições anatómicas e fisiológicas, irrompem mitologias cristãs e pagãs, manifestações sobrenaturais, superstições: castigos divinos, espíritos maléficos, possessões demoníacas» (Pedro Mexia) - «Cada religião é tão verdadeira como qualquer outra». IMAG.502-598

1922-25JAN1990 - Ava Lavinia Gardner, aliás Ava Gardner: Actriz americana, intérprete de A Condessa Descalça / The Barefoot Contessa (1954 - Joseph L. Mankiewicz) - «Tenho, apenas, uma regra de acção - confiar no realizador, e entregar-me de alma e coração à personagem que estou a representar». IMAG.27-178-230

1934-26JAN2010 - Jorge Fontes: Guitarrista português - «Foi um dos campeões de gravações de discos… É importantíssimo para a história da discografia fadista. Praticamente, todos os grandes nomes do fado foram acompanhados por ele, tendo incentivado muitos fadistas a gravar discos» (José Manuel Osório). IMAG.287-494

1894-27JAN1940 - Isaac Emmanuilovich Babel, aliás Isaac Babel: - Escritor e jornalista soviético - «O meu coração contraiu-se, pois o presságio de alguma verdade essencial tocara-me de leve com os dedos.» (A Cavalaria Vermelha - 1926). IMAG.419-474-573

1894-27JAN1990 - Francine Germaine Van Gool Benoït, aliás Francine Benoit: Compositora e musicóloga, nascida em França e naturalizada portuguesa (1929) - «Desenvolveu uma notável actividade multifacetada no domínio da música» (Ana Sofia Vieira). IMAG.478-505

1919-27JAN2010 - Jerome David Salinger, aliás J.D. Salinger: Escritor americano - «O homem imaturo é aquele que quer morrer gloriosamente por uma causa. O homem maduro contenta-se em viver humildemente por ela». IMAG.288-534-636-689

29JAN1860-1904 - Anton Pavlovitch Tchékhov, aliás Anton Tchékhov: Ficcionista e dramaturgo russo - «Qualquer idiota consegue enfrentar uma situação de crise… É a vida do dia a dia que nos desgasta». IMAG. 139-260-364-454-457-474

1946-29JAN2000 - João António da Silva Palolo, aliás António Palolo: Artista plástico português - «Estes corpos desmaterializados, sem rosto nem espessura, são os elementos pictóricos de um trabalho sem sentido descritivo, e que se organiza para além do visível, em torno de um espaço cósmico feito de enigmas e decifrações» (Maria Helena de Freitas). IMAG.417-573

BREVIÁRiO

Turbina/Mundo Fantasma edita O Espião Acácio de Fernando Relvas (1954-2017).  
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Renato Abreu edita e coordena o fanzine Orion número 1, em que também colabora com Bernardino Costantino, José de Matos-Cruz, Maria João Worm e Sofia Guilherme Lobo.IMAG.721-Extra

INVENTÁRiO

Anton Tchékov
Um dos mais famosos novelistas e dramaturgos russos, Anton Tchékhov, nasceu em Taganrog em 1860, e faleceu em 1906 [1904].
Médico de profissão, Tchékhov começou sua carreira como escritor em 1880, com a publicação de alguns ensaios literários. A partir daí não demorou muito para que o então desconhecido escritor alcançasse uma extraordinária popularidade, não só por suas novelas mas também por suas peças, das quais as mais conhecidas são: As Três Irmãs, Ivanov, O Tio Vania e A Cerejeira.
Estas peças formaram o ambiente para a fundação do Teatro de Arte de Moscovo, que foi criado sob o signo do Impressionismo.
Melancolicamente pessimista e aproveitando o máximo todas as experiências humanas e sociais, Tchékhov seria o criador de uma escola literária que encontraria mais tarde, mesmo nos países ocidentais, enorme repercussão.
Os seus contos, tanto quanto as suas peças, são, em geral, obras-primas que harmonizam perfeitamente a forma e a precisão vocabulares a uma sedutora e correctíssima fluência verbal, sem deixar de conter também um conteúdo lírico dos mais densos.
Renato Roschel

SUMÁRiO

Isaac Babel
Nascido na cidade de Odessa, localizada na Ucrânia, no ano de 1894, Isaac Babel era de família judia e por causa desse fato sofreu com o extremo preconceito em uma época em que o judaísmo era um estigma. A Rússia, assim como boa parte dos países da Europa, mantinha uma forte antipatia pelos judeus, que eram perseguidos sumariamente tanto no período czarista como no pós-Revolução Russa. «Em 40 meninos, apenas dois judeus podiam ingressar na classe preparatória», escreveu Babel para seu amigo e mentor Maximo Gorki sobre a política de quotas das escolas daquele período. Gorki, aliás, foi quem publicou os primeiros textos de Babel nas revistas A Crónica e Vida Nova.

sábado, outubro 20, 2018

IMAGINÁRiO-Extra: GATOS BARALHADOS de SUSANA RESENDE

Paralelamente às actividades como formadora, Susana Resende concluiu recentemente um projecto com base em felinos, para ilustrar um baralho de cartas autoral.
Produzido para Apenas Livros, intitula-se Gatos Baralhados, estando inserido na colecção Autor.
Os desenhos, coloridos, foram concretizados em cartolina de aguarela, em formato A4.

O baralho foi lançado no passado dia 22 de Setembro (Sábado), no Barreiro Ilustra BD, durante o Encontro com Autores, e pode ser adquirido através da editora ou em contacto directo para a autora, que tem ainda à venda as artes originais.

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quinta-feira, outubro 18, 2018

IMAGINÁRiO #379

José de Matos-Cruz | 16 Janeiro 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

PESADELOS
No imaginário americano, radical e crepuscular, o fim da civilização emerge pelos sinais de uma vivência quotidiana banal, cuja actualidade é devastada por um universo virtual, violento e paranóico. Assim desvenda Hard Boiled (1990) - um testemunho em quadradinhos perturbante, devastador, especialmente destinado aos leitores adultos, concebido pelo lendário Frank Miller, a que Geof Darrow correspondeu, com uma impressionante ilustração, colorida ao delírio por Claude Legris. Carl Seltz é um cidadão comum, inspector de seguros e pai de família numa tranquila periferia. Mas, quando dorme, terríveis pesadelos avassalam, transformando-o num andróide exterminador, Unidade 4, que põe em risco a sobrevivência da sociedade. Até ser regenerado, mas… Mundos paralelos? Realidades antagónicas? Ou projecções apocalípticas de uma mentalidade em transe, alucinatória, pervertida sob os desígnios do bem e do mal? A verdade pode ser uma revelação fatal…
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CALENDÁRiO

25MAI-24JUL2018 - Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta New Works - exposição / instalação de Adam Pendleton (EUA).

1927-27JUN2018 - Stephen J. Ditko, aliás Steve Ditko: Argumentista e ilustrador americano de banda desenhada, autor - com Stan Lee - de Spider-Man (1962) e Doctor Strange (1963) - «Sempre me senti fascinado pela sua maneira de ver as coisas, que era muito mais mundana, muito mais real e muito mais preocupada com escolhas morais do que a de qualquer outro autor de quadradinhos» (Neil Gaiman). IMAG.3-86-448-653

29JUN-07OUT2018 - Em Guimarães, Centro Internacional das Artes José de Guimarães apresenta Leopard In a Cage | Projectos Inéditos (1969-2018) de Julião Sarmento. IMAG.33-341-427-437-524-554-625-631-646-712-723

26JUL-28OUT2018 - Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Olhares Sobre a Livraria do Convento da Arrábida
 
VISTORiA

O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, no puro poder…
Somos diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que estamos a fazer. Todas as outras, até mesmo as que se assemelhavam a nós, eram covardes e hipócritas. Os nazis alemães e os comunistas russos aproximaram-se muito de nós nos métodos, mas nunca tiveram a coragem de reconhecer os motivos próprios. Fingiam, talvez até acreditassem, ter tomado o poder sem o querer, e por tempo limitado, e que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso onde os seres humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que ninguém toma jamais o poder com a intenção de o largar. O poder não é um meio, é um fim em si mesmo. Não se estabelece uma ditadura com o desígnio de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. O objectivo da perseguição é a perseguição. O objectivo da tortura é a tortura. O objectivo do poder é o poder.
George Orwell
- 1984 (1949 - excerto)

PARLATÓRiO

O público tem perdido o hábito de ir ao cinema, porque ir ao cinema já não possui o encanto, a carisma hipnótica, a autoridade que já teve. A imagem na posse de todos nós - a de um sonho que sonhou com os olhos abertos - desapareceu. Será ainda possível que mil pessoas possam agrupar-se no escuro e experimentar o sonho de um único indivíduo?
Federico Fellini

VISTORiA
A Melhor Colheita

Por tarde amena de estio
Vendo do campo o lidar,
Sentindo a brisa do rio,
Ouvindo o melro cantar,
Assentei-me em verde alfombra,
Dum freixo copado à sombra,
Com um amigo a conversar.

Qual era a melhor seara,
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará;
Era o assunto da conversa,
Mas de opinião diversa,
Ambos teimávamos já.

Eis que perto ali passava
Um camponês ancião,
Ao ombro a enxada levava,
Levava um cesto na mão
E no rosto lhe luzia,
Por entre doce alegria,
Doce paz no coração.

Façamos do velho, digo,
Entre nós ambos juiz;
Que dizes tu meu amigo?
– Venha o teu velho, me diz.
Chamei-o logo, ele veio
E de nós ambos no meio
Assentar o velho fiz.

Qual era a melhor seara,
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará,
Lhe disse eu que era a conversa,
Mas de opinião diversa
Que ambos teimávamos já.

Dize, pois, honrado velho,
É trigo, é milho, é arroz?
Decide com o teu conselho,
Dá o teu voto entre nós;
Que na falta de ciência
A sabedora experiência
Falará na tua voz.

Olhou-nos então sorrindo,
E disse – Se Deus o quer,
Tudo é bom à terra indo,
Quando e como o tempo der,
Quando e como nos ensina
Da própria terra a doutrina
Aos que nela sabem ler.

Mas de todas as colheitas
E, mancebos, a melhor
A das acções por nós feitas,
Sem que suba ao rosto a cor;
Porque é dessa que é medida,
No dia da despedida,
Nossa pensão ao Senhor!
João de Lemos

MEMÓRiA

1819-16JAN1890 - João de Lemos Seixas de Castelo Branco, aliás João de Lemos: Poeta, dramaturgo e jornalista português - «Quem sou… quem fui? Toda a terra / Que o diga, que o aprendeu; / Diga-o na paz e na guerra, / Diga-o ela, que não eu! / Quem fui, que o digam cem povos, / Que o digam os climas novos / Por onde primeiro andei; / Que o digam cristãos e mouros, / Que o digam troféus e louros, / Que eu nem dizê-lo já sei!» (Portugal). IMAG.226-244-259-706

16JAN1920-2018 - Maria Germana Dias da Silva Moreira Tânger Corrêa, aliás Maria Germana Tânger: Declamadora portuguesa, poetisa, actriz, encenadora e professora - «Tudo certo, certo / Relógios certos / Nas cabeças certas. / Tudo certo, certo /…E eu tão errada / Tão longe nas certezas certas.» (Escritório - 1999). IMAG.712

1925-18JAN2010 - Ursula Kübler, aliás Ursula Vian-Kübler: Bailarina da Ópera de Zurique (com Maurice Béjart) e dos Ballets de Paris (com Roland Petit), actriz de cinema (dirigida por Louis Malle, Agnès Varda ou Roger Vadim), casada com Boris Vian e fundadora da Association (1963) e da Fond’action Boris Vian (1992), organizou os Festivais anuais de música na cidade de Eus. IMAG.286-524

20JAN1920-1993 - Federico Fellini: Cineasta italiano - «Falar sobre sonhos é como falar de filmes, uma vez que o cinema utiliza a linguagem dos sonhos; anos podem passar em um segundo, e nós podemos ir de um local para outro. É uma linguagem feita de imagens. E, no verdadeiro cinema, cada objecto e cada luz significam alguma coisa, como em um sonho». IMAG.72-213-247-259-331-367-383-385-440-471-551-694

20JAN1940-1995 - Jorge Manuel Rosado Marques Peixinho, aliás Jorge Peixinho: Compositor, maestro e pianista português - «O objectivo da minha música é a construção e organização de um novo e pessoal mundo sonoro. Explorei profundamente e intensivamente todas as relações entre a harmonia e o timbre para construir uma espécie de rede muito densa de sons transformados. A característica principal da minha música é uma espécie de atmosfera sonora onírica, na qual surgem pequenas transformações através de artifícios contrapontísticos, filtragens harmónicas e tímbricas… Dou também muita importância à ambiguidade entre a continuidade e a descontinuidade».  
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1903-21JAN1950 - Eric Arthur Blair, aliás George Orwell: Escritor e jornalista inglês - «Não é uma questão de saber se a guerra é real ou não é. A vitória não é possível. A guerra não é destinada a ser ganha. É destinada a ser contínua. Uma grande sociedade arcaica só é possível à custa da pobreza e da ignorância».  
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22JAN1940-2017 - John Vincent Hurt, aliás John Hurt: Actor inglês de teatro, televisão e cinema, intérprete de O Homem-Elefante / The Elephant Man (1980 - David Lynch) - «Distinguia-se, antes do mais, pela inconfundível densidade dramática da voz» (João Lopes). IMAG.74-662

23JAN1950-2018 - Maria Margarida Gouveia Vaquinhas, aliás Guida Maria: Actriz portuguesa de cinema, teatro e televisão - «Uma honestidade desassombrada, sem espaço para hipocrisia» (Ana Sousa Dias). IMAG.696-709

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

A MELANCOLIA FIXA DO CONTROLADOR DE ONDAS - 7
Por conseguinte, deveria confinar-se. Encerrado numa caixa tumular estanques cada um dos lados cardeais, o quinto infinito e o sexto, por onde entrara, tornado inexistente como a sua condição essencial não haveria mais pontos de orientação que o relacionassem, convertendo-se apenas numa efeméride onírica, referenciada com a identidade pátria e a demanda da liberdade.
Continua