terça-feira, setembro 27, 2016

IMAGINÁRiO #629

José de Matos-Cruz | 01 Outubro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

TECNOLOGIA
A consolidação do DVD em Portugal constituiu o fenómeno cinematográfico mais significativo, pelo ano 2000. Para tal contribuiu um expressivo incremento editorial - sobre filmes clássicos e modernos, susceptíveis de agradarem a todos os públicos - além das mais-valias a curto e longo prazo: melhores som e imagem, conteúdos adicionais, qualidade de conservação… e menor ocupação na prateleira.
Quanto ao panorama de estreias, acentuou-se o prodígio tecnológico em grandes espectáculos, revitalizando embora a componente artística. Se tais aspectos caracterizam a estratégia de produção, sob o signo de Hollywood, reflectem também uma adequação a mecanismos uniformes quanto ao audiovisual - com um sugestivo vínculo entre a tradição e a vanguarda, o estilo e a sofisticação, o desempenho e a temática. Ao envolvimento imaginário e animatográfico correspondeu ainda, em termos criativos ou lúdicos, uma expressiva conversão sonora e melódica. Numa realidade cada vez mais virtual, transfigurada, é também curioso - por cá - o triunfo da palavra: em radical exposição narrativa, com o ecrã a negro (Branca de Neve - João César Monteiro), ou celebrando quem a tornou soberana (Palavra e Utopia - Manoel de Oliveira).

CALENDÁRiO

26MAI-29SET2016 - Em Lisboa, Museu Bordalo Pinheiro apresenta Diálogos Imaginados - Rafael Bordalo Pinheiro [1846-1905] e Paula Rego, sendo comissário Pedro Bebiano Braga. IMAG.11-13-22-31-32-43-59-77-98-115-197-199-205-208-236-242-246-258-269-304-325-342-351-357-364-365-370-381-399-416--464-486-489-499-515-517-518-545-555-571-596-597-615-621

1940-04JUL2016 - Abbas Kiarostami: Poeta, fotógrafo e cineasta iraniano, argumentista, produtor e realizador de Através das Oliveiras (1994) - «Existe violência na vida real, mas eu nunca imporia a violência num filme, apenas para atrair público… Em minha opinião, a violência nunca pode justificar-se». IMAG.287

04JUL-28SET2016 - Em Lisboa, Centro Comercial Colombo apresenta Faces of the Stars - exposição de fotografia de Terry O’Neill (GB), sobre de ícones lendários do Século XX, incluindo músicos, actores e outras figuras ilustres.

1925-08JUL2016 - João Ribeiro: Fotojornalista português, detentor da carteira profissional n.º 1 e sócio mais antigo do Sindicato dos Jornalistas - «Revolucionou o Portugal sentado, humanizou a fotografia» (Inácio Ludgero).

09JUL-09OUT2016 - Em Cascais, Fundação D. Luís I expõe, na Casa de Santa Maria, Agatha Ruiz de la Prada em Portugal.

09JUL-31OUT2016 - Em Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian - Colecção Moderna apresenta Eu Não Evoluo, Viajo - exposição de desenhos, recortes e ilustrações de José Escada (1934-1980), sendo curadora Rita Fabiana. IMAG.392-486-537-569

15JUL-18SET2016 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta A Gota e o Ponto - exposição de fotografia de Luiza Menescal (Brasil). 

GALERiA
Agatha Ruiz de la Prada
É um mundo jovem, alegre, livre, transgressor e imensamente criativo que, nascido em Espanha, tem conquistado prestígio em muitos pontos do globo.
Mário Vargas Llosa
VISTORiA

Nas praças da cidade, na sombra de um campanário,
No intervalo do escritório, eu vi o meu povo.
Tinha fome, e eu estava lá a perguntar,
Esta terra é feita para ti e para mim?
Quando andava, eu vi uma placa,
E na placa, tinha escrito Propriedade Privada.
Mas, no reverso, não dizia nada!
Esse lado foi feito para ti e para mim.
Woody Guthrie

MEMÓRiA


02OUT1917-2013 - Óscar Luís de Freitas Lopes, aliás Óscar Lopes: Intelectual e professor português, investigador de literatura e linguística, autor de A Busca de Sentido: Questões de Literatura Portuguesa (1994) - «Aqui em Portugal, sozinho e sem condições de investigação absolutamente nenhumas, consegue produzir a gramática e transformar-se num linguista absolutamente único» (Isabel Pires de Lima). IMAG.241-456

1912-03OUT1967 - Woodrow Wilson Guthrie, aliás Woody Guthrie: Compositor e cantor americano de folk music - «Odeio uma música que nos faz pensar que não valemos nada. Odeio uma música que nos faz pensar que nascemos para perder. Que estamos obrigados a perder. Tais músicas não servem a ninguém. Não servem para nada… Tudo o que podemos testemunhar, é aquilo que nós somos ou que vemos». IMAG.472-491

1850-04OUT1907 - Alfredo Cristiano Keil, aliás Alfredo Keil: Compositor português, artista plástico, poeta, arqueólogo, coleccionador de arte, autor do canto patriótico A Portuguesa, convertido em Hino Nacional, após a instauração da República em Portugal - «Era fina e requintada a sua natureza artística, excepcionalmente vibrante e entusiasta, notamos também que a sua obra creadora se ressentia da dispersão do seu talento e do seu instinto predominante de diletantismo. Poderia ter sido um grande músico ou um paisagista, se se tivesse clausurado em uma d’essas duas artes, para as quais tinha igualmente uma incontestável e espontanea vocação. Mas isso não se coadunava com o feitio caprichoso do seu talento artístico, e não estava na sua mão resistir ás seducções que alternadamente exerciam no seu espírito todas as manifestações do bello. Assim depois de ter feito D. Branca, a Irene e a Serrana, depois de ter assignado os numerosos quadros que pintava tão prodigamente, Keil quis também ser poeta e para isso rimou as páginas de Tojos e Rosmaninhos» (Illustração Portuguesa - 22JUN1908). IMAG.87-161-281

06OUT1887-1965 - Charles-Édouard Jeanneret-Gris, aliás Le Corbusier: Arquitecto, urbanista, pintor e escultor nascido na Suiça, e naturalizado francês (1930) - «A arquitectura deve ser a expressão do nosso tempo, e não um plágio das culturas do passado, tornando-se um ponto de partida para quem queira proporcionar à humanidade um futuro melhor». IMAG.55-149

PARLATÓRiO

Há músicas que nos consideram muito velho ou muito novo, muito gordo ou muito magro, muito feio ou muito isto, muito aquilo. Músicas que nos rebaixam ou nos ridicularizam, pela nossa má sorte ou pelas nossas dificuldades…
Eu cantarei músicas que nos façam sentir orgulhosos de nós e do que fazemos!
- Woody Guthrie

As palavras são armas… Se não me compreenderem, sou eu que não me sei fazer entender.
- —Óscar Lopes

EPISTOLÁRiO

Uma imprensa venal e deformada pela Censura, calunia, não apenas doutrinas, mas também homens. A cada dia que passa vemos democratas honestos e até inteligentes praticar erros que ajudam a essa calúnia, até porque só estando quietinho, sem fazer nada, é que, aparentemente, se não erra. Todavia o nosso povo não perde a confiança em certos democratas que tanto têm errado. Como poderia perdê-la num intelectual a que o Estado já nada pode tirar, excepto a liberdade - e precisamente na ocasião em que, digamos, dois milhares de pessoas lhe prestam a maior e mais espontânea homenagem que um escritor teve no Porto e talvez até no País?
Óscar Lopes
- Carta a Ferreira de Castro (1959)
BREVIÁRiO

Imprensa Nacional edita O Modernismo Português e o Modernismo Brasileiro de Arnaldo Saraiva. IMAG.165

Guilhotina edita O Homem da Guitarra Azul & Outros Poemas de Wallace Stevens (1879-1955); tradução de Luís Quintais. IMAG.103-211-245

Sémele edita em CD, sob chancela Aeon, Tristan Murail: Le Partage des Eaux - Contes Cruels - Sillages por BBC Symphony Orchestra e Netherlands Radio Philharmonic, sob a direcção de Pierre-André Valade.

Guerra & Paz edita A Cidade e as Serras de Eça de Queiroz (1845-1900). IMAG.14-19-52-60-90-101-148-165-178-199-203-205-214-275-287-313-342-394-434-470-483-532-540-554-593-609-618-621

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS - Folhetim Aperiódico

QUANDO ME ENTERNEÇO EM VÃO, DESAPAREÇO – 11
Inconfortável, o marido ia aparando os golpes. Sentia-se descoroçoado porém, qual pequeno burguês constrito à âncora sentimental, engrandecia o matrimónio como seguro valor do património.

Continua

sexta-feira, setembro 23, 2016

IMAGINÁRiO EXTRA - Histórias e Quadradinhos

A manifestação em quadradinhos, sobre ocorrências e personalidades determinantes da História de Portugal, fica assinalada com a recente publicação, por Âncora Editora, do álbum Histórias de Valdevez de José Ruy (argumento e ilustração), no qual se aborda o «bafordo acontecido entre Afonso Henriques e Afonso Raimundes no século XII», pelas origens do reino de Portugal, como envolvência à comemoração dos 500 anos do Foral outorgado por D. Manuel I em 1515, já na época dos Descobrimentos.
Apresentada com o patrocínio do Município de Arcos de Valdevez, esta obra exemplar – testemunhando a mestria artística e a expressiva dinâmica de José Ruy – detém-se sobre aspectos e pormenores cuja evocação suscita, afinal, as circunstâncias e as correlações entre o poder e o povo.


Entretanto, sob chancela do Grupo de Intervenção e Criatividade Artística de Viseu/GICAV, regista-se o oportuno lançamento – em edição conjunta – de Infante Don Henrique de José Ruy e Infante D. Henrique de Baptista Mendes. Divulgadas, originalmente, em 1960, por iniciativa do autor e no Cavaleiro Andante, eis duas visões complementares / alternativas, sobre o primeiro Duque de Viseu e génio dos Descobrimentos, propostas por notáveis criadores, ambos distinguidos com o Troféu Anim’arte, atribuído pelo GICAV.

IMAG.4-16-19-36-61-78-96-117-129-141-149-170-197-223-224-252-256-263-267-271-279-305-392-416-430-504-514-531-553-607

terça-feira, setembro 20, 2016

IMAGINÁRiO #628

José de Matos-Cruz | 24 Setembro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

AVENTURAS
Suriá era bem pequenininha quando nasceu. O pai e a mãe são malabaristas, e ela é uma miúda cheia de ideias trepidantes. E malabarista… Eis a apresentação de Suriá - A Garota do Circo! (2000), revelando mais uma vertente do prolífico talento de Laerte Coutinho, em sua peculiar expressão sensível e divertida. Confessando que tem um pé em Portugal, pois «meu bisavô Miguel veio de Ponte do Lima», o popular artista brasileiro dedicou à filha Laila este livro, que resulta de uma aliança editorial entre a Jacarandá e a Devir. Em rodapé às aventuras de Suriá com os amigos (Marion, Luca, Sílvio, Robledo) e bichos (o leão Daniel, a elefanta Úrsula, o urso Kurtz, o camelo Gaspar, o macaco Fred), Laerte apresenta a história e as estórias sobre O Mundo do Circo. Suriá foi criada para a Folhinha, suplemento infantil do jornal Folha de São Paulo, tendo original publicação em 1997-98. Aí prosseguiu Laerte - com site na internet: www.laerte.com.br - a sua actividade regular e irresistível. Formando com Angeli uma cumplicidade de nomes maiores dos quadrinhos, em sátira aos costumes e vivências sociopolíticas, através de uma leitura irreverente e corrosiva, para adultos. IMAG.560

CALENDÁRiO

¨1928-27JUN2016 - Alvin Toffler: Escritor e futurista americano, autor de Choque do Futuro (1970) - «Os analfabetos do próximo século, não serão aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender».

¸1929-27JUN2016 - Carlo Pedersoli, aliás Bud Spencer: Nadador e actor italiano, intérprete de Trinitá - Cowboy Insolente (1970) com Mario Girotti / Terence Hill - «Era daqueles actores populares cujo carisma poucos conseguiam explicar» (Rui Pedro Tendinha).

®1924-02JUL2016 - Camilo Venâncio de Oliveira, aliás Camilo de Oliveira: Actor e argumentista português - «Foi tanta gente nos palcos e na televisão, nunca deixando de ser um exigente trabalhador para que o povo se risse de si próprio e sobretudo desta condição de sermos portugueses» (Júlio Isidro).

¸1939-02JUL2016 - Michael Cimino: Cineasta americano, produtor e argumentista, realizador de O Caçador / The Deer Hunter (1978) - «A indústria de Hollywood não mudou absolutamente nada. Continua exactamente igual ao que sempre foi. A única coisa que se alterou foi o rosto dos jogadores. As pessoas morrem, desaparecem, reformam-se, mas o sistema permanece de pé» (a Vincent Maraval - Sofilm#03 - registo de Brieux Férot). IMAG.72-287-331-443

BREVIÁR
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Dom Quixote edita Açores - O Segredo das Ilhas de João de Melo. IMAG.94-157-191-297-298-627

NOTICIÁR
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O Primeiro Telégrafo
O Governo americano deseja comprar o aparelho telegráfico, como curiosidade histórica. Esse aparelho foi construído por Alfred Vail, e deve custar nove contos de réis.
21JUL1888 - Diário de Notícias

COMENTÁRiO

O amor não é senão o desejo; e assim, o desejo é o princípio original de que todas as nossas paixões decorrem, como os riachos da sua origem; por isso, sempre que o desejo de um objecto se acende nos nossos corações, pomo-nos a persegui-lo e a procurá-lo, e somos levados a mil desordens.
Miguel de Cervantes
PARLATÓRiO

É indubitável que entre a minha obra, a minha maneira de pintar e a publicidade, há uma relação muito directa. Às vezes, censuram-me por, com o meu estilo, contribuir para tornar mais aceitável essa publicidade e incrementar o consumismo. Porém, existe uma enorme ironia no meu trabalho. Pelo menos, procuro assumir uma postura crítica face aos temas que represento, de sarcasmo perante a nossa cultura industrial e de desprendimento visual quanto à sociedade industrializada. Aquilo que, a princípio, parecia tipicamente americano, converteu-se, actualmente, num fenómeno internacional. Daí que a minha pintura já possa ser compreendida em todo o mundo.
Roy Lichtenstein (1983)


VISTORiA

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Os longos duzentos quilómetros não a deixavam mais triste nem a faziam sentir-se mais isolada do que a consciência de que eles eram eles, e estavam juntos, e ela era apenas ela, longe deles, sozinha. E, sentindo um enjoo, causado por essa sensação, ocorreu-lhe, de repente, um pensamento e uma explicação, e quase disse em voz alta: «Eles são o ‘nós’ de mim!». Na véspera, e em todos os doze anos de sua vida, fora apenas Frankie. Era uma pessoa «eu», que tinha de se virar e fazer as coisas sozinha. Todas as outras pessoas tinham um «nós» a reivindicar, todas, menos ela. Quando Berenice dizia «nós», referia-se a Honey, a sua mãe, ao seu barracão ou à sua igreja. O «nós» do pai dela era a loja. Todos os sócios de clubes têm um «nós» a que pertencem, e a respeito do qual falam. Os soldados no exército podem dizer «nós», e até mesmo os criminosos, acorrentados uns aos outros. Mas a velha Frankie não tinha nenhum «nós» a reivindicar, a menos que fosse o terrível «nós» do seu verão com John Henry e Berenice – e aquele era o último «nós» que desejava.
Carson McCullers
- A Sócia do Casamento (excerto)
MEMÓRiA

25SET1807-1859 - Alfred Lewis Vail, aliás Alfred Vail: Mecânico e inventor americano, autor do panfleto The American Electro Magnetic - Dots, Lines and Spaces Created on Board the Packet Sully, By Prof. Samuel F.B. Morse (1945); fez parceria com Morse, após a sua demonstração pública do aparelho telegráfico (1837), contribuindo ainda para melhorar os instrumentos, em especial o relé. IMAG.24

25SET1897-1962 - William Cuthbert Faulkner, aliás William Faulkner: Escritor americano, Prémio Nobel da Literatura em 1949 - «Olhando de perto, um sonho não é algo que esteja isento de perigos. É como uma pistola com dois gatilhos… Se existe durante muito tempo, acaba por ferir alguém». IMAG.86-153-231-232-305-340-356-377-438-578

1894-26SET1937 - Bessie Smith: Cantora americana de blues - «It’s all about a man, who always kicks and dogs me aroun’ / And when I try to kill him, that’s when my love for him come down.». IMAG.148

1834-27SET1917 - Edgar Hilaire Germain Degas, aliás Edgar Degas: Pintor francês - «Eu gostava de ser famoso, mas desconhecido». IMAG.81-148-416-459-488

27SET1627-1704 - Jacques Bossuet: Teólogo francês - «A ambição é, entre todas as paixões humanas, a mais ferina nas suas aspirações e a mais desenfreada nas suas cobiças e, todavia, a mais astuta no intento e a mais ardilosa ao planear». IMAG.462

1905-2SET1957 - Leopoldo Longanesi, aliás Leo Longanesi: Pintor, gráfico, humorista, escritor, jornalista e editor italiano - «O paradoxo é o luxo das pessoas de espírito… A verdade é o lugar-comum dos medíocres». IMAG.528

29SET1547-1616 - Miguel de Cervantes Saavedra: Ficcionista, poeta e dramaturgo castelhano, autor de Dom Quixote (1605) - «A liberdade é um dos dons mais preciosos que o céu deu aos homens. Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela liberdade, tanto quanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida». IMAG.25-38-79-92-103-349-503-559-609-616

¨ 16FEV1917-29SET1967 - Lula Carson Smith, aliás Carson McCullers: Escritora americana - «Muitas vezes, o amado desencadeia a força lentamente acumulada no coração daquele que ama. O amor é uma coisa solitária. É esta descoberta que faz sofrer». IMAG.317-392

1923-29SET1997 - Roy Fox Lichtenstein, aliás Roy Lichtenstein: Pintor americano, ligado à Pop Art e inspirado pela banda desenhada - «Agrada-me presumir que a minha arte não tem nada a ver comigo». IMAG.70-440-463

INVENTÁR
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Miguel de Cervantes
Miguel de Cervantes Saavedra foi um génio, e pode-se dizer mesmo o génio do bom senso. Na sua obra, cujo herói é um dementado, vibram-se profundos gilvazes a todas as demências humanas: e ela não fere tão vivamente o espírito de todos só porque é cáustica: mas sim porque é causticamente, crudelissimamente, sensata. Daí todo o seu sucesso. Daí toda a perdurabilidade desta obra que não teria um carácter tão imutável se fosse unicamente alegre, ou se fosse simplesmente imaginosa. A imaginação é um grande dom, que tem uma larga influência nos povos infantis; mas o bom senso é uma faculdade rara, quando aliada à imaginação, que se esculpe imperecivelmente nos povos lógicos, nos povos racionalistas, nos povos reflectidos das civilizações adiantadas. Quando, porém, à imaginação e ao bom senso se acrescenta a irresistível, a demolidora ironia, essa obra toma um carácter mais imutável do que o bronze de Corinto, ou a estátua grega de um mestre, feita com mármore pentélico.
Assim se explica a acolhida que ela tem ainda hoje, como no tempo de Filipe III, e que continuará a alcançar dos nossos pósteros, quando já não restar na memória do homem um hexâmetro grego de Homero, nem um versículo hebraico do Pentateuco de Moisés. Acrescente-se a isto que o seu herói tem o carácter profundamente objectivo, na sua subjectividade, e ter-se-á explicado as causas que fizeram deste livro um monumento verdadeiramente cosmopolita e humano. Neste género, com tais requisitos, só uma obra conhecemos que rivalize com D. Quixote, e que talvez para os espíritos delicados e subtis, se avantaja ainda: é As Viagens de Gulliver, de Swift.
Nesta obra tudo tem um carácter de mais originalidade e de mais subtileza. Sendo eminentemente humana, isto é, sendo uma sátira dum carácter verdadeiramente universal, tem talvez como vantagem para nós, empregar um humour muito mais ático, – se é possível fazer ático sinónimo de delicado, – em vez do grosso sal de cozinha de que em largas doses se serve Cervantes, como condimento. A sua imaginação é decerto muito mais rica: e em bom senso cáustico não lhe fica também, em nada, inferior. Falta porém ao seu herói aquele entusiasmo simpático do D. Quixote, que tanto nos prende a ele, mau grado todas as suas demências, e todas as suas insânias cavaleirosas e andantes. Falta-lhe também aquele já hoje lendário escudeiro Sancho Pança, cavalgando no seu lendário sendeiro, através dos montes e dos vales de Espanha, atrás do seu cavaleiro, que vai em demanda de gigantes e do elmo de Mambrino: tipo patusco e bon vivant, folião e pantagruélico, tão dementado como positivo, tão burlesco como escudeiro leal, símbolo de burguês de todas as eras, e do materialismo ventrúdo de todos os tempos. A firmeza de traços com que estão pintadas, à Velásquez, estas duas figuras típicas, no meio dos episódios e dos vários acidentes, sem nunca se desmentirem, nem nunca se desmancharem, é decerto dum relevo cómico, que os não torna inferiores, antes os sobreleva aos personagens do teatro de Lope de Vega, ou de Calderón de la Barca.
- Gomes Leal (excerto)

terça-feira, setembro 13, 2016

IMAGINÁRiO #627

José de Matos-Cruz | 16 Setembro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

INOCÊNCIA
Genuíno testemunho, em que convergiriam as expectativas do Novo Cinema português, Os Verdes Anos (1963) revelou gente jovem, aliás publicitada «sem responsabilidades na produção nacional, e que tem uma visão universal, que lhe advém do longo contacto com os estúdios parisienses». O realizador Paulo Rocha (1935-2012) diplomara-se pelo IDHEC, em França, tal como o produtor António da Cunha Telles, que fez um investimento de 900 contos. Nuno Bragança adaptou o argumento de Rocha, elaborando os diálogos. A psicologia das personagens insinua-se no elo realista dos seus conflitos e tensões, reflectindo a crise social através da singularidade poética. Isabel Ruth e Rui Gomes são os nóveis protagonistas duma época virtual, em suas referências testemunhadoras. Inquietação, sensibilidade, pairam neste retrato de geração - entre a alienação e a rebeldia. É a idade duma inocência perdida, pervertida nos paradoxos do tempo e do envolvimento. Aos dilemas convencionais, como o desenraizamento ou a inadaptação, corresponde uma obsessão funesta, precipitando a catástrofe. Amor, ciúme, virilidade, frustração. Uma síntese radical - ética e estética. A música de Carlos Paredes constitui um sugestivo elemento dramático. As filmagens decorreram em interiores e em locais autênticos. A fotografia de Luc Mirot desvenda uma outra Lisboa - segundo Rocha, fixando «bocados da Avenida dos Estados Unidos, as colinas cobertas de oliveiras que dominam a zona nova e o rio, os descampados à volta da cidade universitária»…
De resto, tudo está patente: gente humilde, destino fatal. IMAG.4-31-87-180-445-521-543-567

CALENDÁRiO

¢14MAI-02JUL2016 - Em Lisboa, Galeria Salgadeiras apresenta De Um Lugar Onde Não Há Sapos - exposição de pintura de Guilherme Parente.

¸16JUN2016 - Cine-Clube de Avanca produziu, e estreia Grandes Esperanças (2007) de Miguel Marques; em complemento, O Acidente (2008) de André Marques e Carlos Silva.

¸16JUN2016 - NOS Audiovisuais estreia E Agora Invadimos o Quê? / Where To Invade Next (2015) de Michael Moore; rodagem parcial em Portugal.

16JUN-18SET2016 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves expõe Matéria-Prima: Um Olhar Sobre o Arquivo de Álvaro Siza, sendo curador André Tavares. IMAG.41-56-298-424-432-447-495-510-579-611-620

¢17JUN2016-17JUN2017 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado expõe Vanguardas e Neovanguardas Na Arte Portuguesa | Séculos XX e XXI, sendo curador Rui Afonso Santos.

21JUN-18SET2016 - Em Lisboa, Centro Cultural de Belém/CCB apresenta, na Garagem Sul, Eduardo Souto de Moura: Continuidade - exposição de arquitectura, sendo curadores António Sérgio Koch e André de França Campos. IMAG.249-349-529-611

¢24JUN-16AGO2016 - Em Lisboa, Instituto Cultural Romeno apresenta Tatuagens No Cérebro | Um Mapa das Obsessões - exposição de artes plásticas por Calin Dan, Teodor Graur, Iosif Király, Petru Lucaci, Carmen e Gheorghe Rasovszky (anos ‘80), e Aurora Király (anos ‘90).

25JUN-30OUT2016 - Em Lisboa, Padrão dos Descobrimentos apresenta Fora do Padrão: Lembranças da Exposição de 1940 - sobre a Exposição do Mundo Português, sendo comissária Maria Cardeira da Silva. IMAG.76-154-205-227-244-251-436-452-545

¢01JUL-25SET2016 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe terEstado - Auto-retratos e Paisagens de Miguel Navas e João Jacinto.

¢21JUL-11SET2016 - Em Lisboa, Museu do Oriente apresenta Do Ocidente Para o Oriente - exposição de pintura de Natália Gromicho.

06AGO-28AGO2016 - Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Parallel Nippon - Arquitectura Japonesa Contemporânea 1996-2006.

PARLATÓRiO

®O verdadeiro silêncio não existe… Quando estou no palco, fala a minha alma – e esse respeito pelo silêncio é susceptível de tocar as pessoas, de um modo mais profundo do que qualquer palavra.
O silêncio é infinito como o movimento, não tem limites. Para mim, os limites resultam da palavra… Eu sou uma testemunha da minha observação sobre a vida.
Marcel Marceau

MEMÓRiA

16SET1927-2011 - Peter Michael Falk, aliás Peter Falk: Actor americano de cinema e televisão, protagonista do Tenente Columbo (1971) - «Trabalhei em vários filmes com John Cassavetes, mas nunca percebi nada do que me dizia… Creio que ele fazia de propósito». IMAG.364

1923-16SET1977 - Maria Cecilia Sofia Anna Kalogeropoulou, aliás Maria Callas: Cantora lírica americana, de ascendência grega - «Quem me quiser compreender realmente, irá encontrar-me inteira no meu trabalho… Eu gostaria de ser Maria, mas La Callas exige que eu me comporte com a sua dignidade». IMAG.31-147-188-207-406-495

18SET1887-1966 - Hans Peter Wilhelm Arp, aliás Hans Arp / Jean Arp: Poeta, escultor e pintor germânico, naturalizado francês (1926) e ligado aos movimentos surrealista e dadaísta - «Em breve, o silêncio será uma lenda do passado. O homem inventa, dia após dia, máquinas e dispositivos que aumentam o ruído e distraem a humanidade quanto à essência da vida, da contemplação, da meditação». IMAG.565-567

1865-20SET1957 - Johan Julius Christian Sibelius, aliás Jean Sibelius: Compositor finlandês, autor de Tapiola - «Ele estava a recuperar do seu acostumado passeio matinal. Maravilhado, contou à esposa Aino que tinha visto um bando de curleus a aproximar-se. “Aí vêm eles, os pássaros da minha juventude!”, exclamou então. Repentinamente, um dos pássaros saiu da formação e, esvoaçando, fez um círculo em torno de Aino. Depois, voltou ao grupo e continuaram a voar, seguindo o seu destino. Dois dias depois, Sibelius morria de uma hemorragia cerebral» (Erik Tawaststjerna). IMAG. 213-402-404-542-551-602-621

¾21SET1947-2014 - Emídio Arnaldo Freitas Rangel, aliás Emídio Rangel: Jornalista português, com actividade e funções directivas na rádio e na televisão, cofundador da TSF Rádio Jornal e da SIC Notícias - «No pós-25 de Abril, é o nome maior do jornalismo português… Mudou a forma de fazer rádio e televisão em Portugal… O jornalismo no geral não seria o mesmo que é hoje» (Paulo Baldaia). IMAG.529

¨ 1883-22SET1947 - Pierre Lecomte du Nouy: Biofísico e filósofo francês - «O drama mais frequente ao homem comum é o de ele não saber o que quer. Quando um homem consegue saber exactamente o que pretende, a sua vontade de execução torna-se irresistível. São a hesitação, o cálculo mental do interesse, a negociação em si mesmo, a comparação raciocinada do pró e do contra, que enfraquecem a vontade, até ao ponto de a aniquilarem». IMAG.448

1923-22SET2007 - Marcel Mangel, aliás Marcel Marceau: Actor e mímico francês - «Expressar-me com o corpo é, pessoalmente, mais que uma técnica ou uma corrente interpretativa, uma autêntica necessidade… Se há algo que não se representa com a mímica, é a mentira, pois, para mentir, é necessário usar a palavra». IMAG.165-411

VISTORiA

¨ Todo o ser capaz de apenas considerar um acto, ao mesmo tempo, é forte: o homem primário, sem instrução, sem imaginação, é forte.
No outro extremo, o homem culto, imaginativo, sensível, é, muitas vezes, fraco, por ser paralisado pela representação de todas as consequências, próximas e remotas, de cada um dos seus actos.
O seu bom senso recomenda-lhe, inevitavelmente, as soluções descoloridas, os compromissos, as abdicações. Importa que a necessidade de um acto lance para a sombra todas as outras possibilidades, para que esse acto se imponha.
Enquanto tergiversa consigo, o homem é dominado por vago mas lancinante desejo de escolher uma solução neutra, fácil, que não exija esforço e nada altere.
Acredita decidir, quando apenas obedece.
Pierre Lecomte du Nouy
- A Dignidade Humana (excertos)
PARLATÓRiO

Durante anos, esforcei-me para criar essa qualidade doentia na voz de Violetta; afinal, ela é uma mulher doente. Na verdade, tudo se resume a uma questão de respiração, e é preciso ter uma garganta muito limpa para sustentar esse cansaço na maneira de falar ou de cantar. E o que foi que eles disseram? «Callas está cansada, a voz está cansada!». Mas essa era, justamente, a impressão que eu queria criar. No estado em que se encontrava, como poderia Violetta cantar em tons grandiosos, altos, sonoros?
Maria Callas
BREVIÁRiO

Europress edita Santo António Em Banda Desenhada de José Garcês. IMAG.24-70-78-117-129-149-226-251-256-258-265-321-361-374-416-430-598-Extra

¨Dom Quixote edita Os Navios da Noite de João de Melo. IMAG.94-157-191-297-298

Tinta da China edita Os Vampiros de Filipe Melo (argumento) e Juan Cavia (ilustração). IMAG.308-335-337-523

¨Assírio & Alvim edita País Possível de Ruy Belo (1933-1978); prefácio de Nuno Júdice. IMAG.190-332-408-490

¯Harmonia Mundi edita em CD, sob chancela Vision Fugitive, Juneteenth de Stanley Cowell.