domingo, dezembro 09, 2018

IMAGINÁRiO #747

José de Matos-Cruz | 16 Março 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

AUDÁCIAS
O acontecimento mais importante da banda desenhada europeia, desde que Tintin e o Capitão Haddock desceram na Lua, consumou-se enfim com o lançamento d’As Aventuras de Tintin, Repórter do “Petit Vingtième”, No País dos Sovietes. Setenta anos depois, assim voltámos ao princípio - pois foi em 10 de Janeiro de 1929, nas páginas daquele suplemento juvenil do jornal Le Vingtième Siècle, que tudo começou, semanalmente, para o audaz mancebo e herói. O respectivo álbum saiu logo no ano seguinte e, tornando-se politicamente incorrecto, nunca foi redesenhado ou colorido. Então e aí apareceu, também, o fiel Milu, juntando-se depois o tremendo Haddock, o lunático professor Girassol, os inconfundíveis Dupont e Dupond, a diva Bianca Castafiore. Entretanto, Tintin esteve na América, no Congo (ex-Belga), na China e Oriente, na Escócia, na Sildávia (algures nos Balcãs), no Golfo, no Tibete ou na América do Sul…
Primitivo ou moderno, Tintin fascina os velhos fanáticos e envolve as novas gerações. Para além da narrativa exuberante, de uma escrita rigorosa, sugestivamente enquadrada pelo estilo de Hergé - aliás, Georges Prosper Remi (1907-1983) - expõe-se uma saga universalista, entre drama e euforia, tragédia e resgate, em que a camaradagem sobrevive, paralelamente aos valores do bem e do mal.
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CALENDÁRiO

1953-10JUN2018 - Joana Pimentel: Investigadora da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, responsável pelas aquisições patrimoniais - «Os estudos sobre a imagem em movimento de âmbito colonial, num sentido muito lato, devem-lhe e dever-lhe-ão sempre muito» (José Manuel Costa).

1923-24AGO2018 - Luís Amaro: Escritor português, poeta e investigador, editor e bibliófilo, cofundador da revista Árvore (1951), autor de Diário Íntimo (1975) - «Fiel a esse espaço interior a que se chama alma, a sua poesia é a tentativa permanente de se integrar nela ou de a habitar, mau grado todas as agressões do mundo exterior» (António Ramos Rosa).

01SET-14OUT2018 - No Barreiro, Auditório Municipal Augusto Cabrita expõe Barreiro Ilustra BD - com a participação de Ana Pais, Artur Filipe, Carlos Rocha, Catarina Teixeira, Daniel da Silva Lopes, Daniel Maia, Derradé, Diana Marques, Dina Barbosa, Diogo Carvalho, Diogo Mané, Eliseu Gouveia, Filipe Duarte, Henrique e Duarte Gandum, Inocência Dias, João Amaral, João Gordinho, João Raz, Luís Belerique, Mariana Flores, Miguel Falcato, Miguel Mendonça, Nuno Saraiva, Osvaldo Medina, Patrik Caetano, Paulo Monteiro, Paulo Montes, Pedro Brito, Pedro Potier, Phermad, Quico Nogueira, Rui Ramos, Samuel Santos, Sérgio Santos, Sofia Neto, Susana Resende e Tânia Cardoso.

VISTORiA

Não Repararam Nunca?

Não repararam nunca? Pela aldeia,
Nos fios telegráficos da estrada,
Cantam as aves, desde que o Sol nada,
E, à noite, se faz sol a Lua cheia.

No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vai, numa ânsia aiada!
O Ministro que joga uma cartada,
Alma que, às vezes, d’Além-Mar anseia:

– Revolução! – Inútil. – Cem feridos,
Setenta mortos. – Beijo-te! – Perdidos!
– Enfim, feliz! – ? – ! – Desesperado. – Vem.

E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, António! deves ser também.
António Nobre - Colónia, 1891

VISTORiA

Metade da Vida

Peras amarelas
E rosas silvestres
Da paisagem sobre a
Lagoa.

Ó cisnes graciosos,
Bêbedos de beijos,
Enfiando a cabeça
Na água santa e sóbria!

Ai de mim, aonde, se
É inverno agora, achar as
Flores? e aonde
O calor do sol
E a sombra da terra?
Os muros avultam
Mudos e frios; à fria nortada
Rangem os cata-ventos.
Friedrich Hölderlin

11. O Despertador
Um despertador exposto sobre um tapete cheio de pó era tudo quanto possuía, para vender, o pobre comerciante árabe. Durante dias, reparou que uma velha se interessava pelo relógio. Era uma bebuína, pertencente a uma daquelas tribos que voam com o vento.
«Desejas comprá-lo?», perguntou-lhe um dia.
«Quanto custa?»
«Pouco. Mas não sei se o vendo. Se este desaparecer, deixarei de ter trabalho.»
«Então, porque o tens exposto?»
«Porque me dá a sensação de viver. E tu porque o queres, não vês que lhe faltam os ponteiros?»
«Faz tiquetaque?», quis saber a velha.
O comerciante deu corda ao despertador, fazendo soar um sonoro e metálico tiquetaque. A velha fechou os olhos e percebeu que, na escuridão da noite, podia assemelhar-se a um coração que bate ao lado do seu.
Tonino Guerra
- Histórias Para Uma Noite de Calmaria
(Tradução de Mário Rui de Oliveira)

MEMÓRiA

16MAR1920-2012 - Antonio Guerra, aliás Tonino Guerra: Ficcionista, poeta e argumentista italiano, colaborador de cineastas como Federico Fellini, Vittorio De Sica, Francesco Rosi e Michelangelo Antonioni - «A lua é o único astro que nasce atrás das montanhas e se põe no íntimo de cada um de nós». IMAG.403

1613-17MAR1680 - François, Duque de La Rochefoucauld: Pensador e memorialista francês - «Deploramos com facilidade os defeitos alheios, mas raramente nos servimos deles para corrigirmos os nossos… / Não se deve avaliar o mérito de um homem apenas pelas suas grandes qualidades, mas também pelo uso que delas faz». IMAG.42-267-377-434

1867-18MAR1900 - António Pereira Nobre, aliás António Nobre: Poeta português, autor de Despedidas - «Ai os meus nervos, quando a lua é cheia! / Da arte novas concepções descubro / Todo me aflijo, lá fazem ideia… / Ai a ascensão da Lua em Outubro!» (Da Influência da Lua - excerto). IMAG.143-267-307-623-639

1924-18MAR2010 - Fess Elisha Parker Jr, aliás Fess Parker: Artista norte-americano de cinema e televisão, protagonista de Davy Crockett (1954) e Daniel Boone (1964-1970) - «Foi um modelo como actor e um ídolo para mim, desde que eu o vi pela primeira vez no grande ecrã. Ele era uma verdadeira lenda de Hollywood» (Arnold Schwarzenegger). IMAG.85-295-479

1875-19MAR1950 - Edgar Rice Burroughs: Escritor norte-americano, autor de Tarzan (1912) - «Surgiu-me a ideia de alguém que não tinha actividade, e decidi romanceá-la». IMAG.37-149-204-224-267-297-384-529-684

1623-20MAR1680 - Johann Heinrich Schmelzer: Violinista austríaco e compositor do barroco - as suas virtuosas sonatas «influenciaram o desenvolvimento futuro da música instrumental alemã» (Joseph Stevenson). IMAG.411

20MAR1770-1843 - Johann Christian Friedrich Hölderlin, aliás Friedrich Hölderlin: Ficcionista alemão, poeta lírico - «Meu dia outrora principiava alegre; / No entanto, à noite eu chorava. Hoje, mais velho, / / Nascem-me em dúvida os dias, mas / Findam sagrada, serenamente.» (Outrora e Hoje). IMAG.32-307-421-677

20MAR1940-2015 - Mary Ellen Mark: Fotógrafa americana - «Através das suas fotografias, deparamos com cenas menos óbvias de universos que julgamos conhecer, ao mesmo tempo que percebemos que tais registos nos remetem para temas e considerações muito para além do carácter efémero de um instantâneo» (João Lopes). IMAG.571

21MAR1930-2008 - Dinis Ramos Machado, aliás Dinis Machado: Escritor e jornalista português - «A novidade, para mim, desapareceu. Tenho pena de não me surpreender, quando escrevo».  
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21MAR1960-1994 - Ayrton Senna da Silva, aliás Ayrton Senna: Piloto brasileiro de Fórmula 1 - «Ele estava sereno. Levantei-lhe pálpebras e tornou-se claro para mim, pelas suas pupilas, que sofrera um ferimento maciço no cérebro. Tirámo-lo do cockpit e colocámos o corpo no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico, senti a sua alma partir nesse momento» (Sidney Watkins, neurocirurgião - 1994). IMAG.267-465

23MAR1910-1998 - Akira Kurosawa: Cineasta nipónico, realizador de Os Sete Samurais (1954) - «No Japão, não se percebe claramente que uma das suas mais notáveis realizações culturais é a cinematografia nacional».  
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PARLATÓRiO

Considero-me uma pessoa discreta, nunca me interessou a exposição. A única coisa que eu sempre desejei, verdadeiramente, foi ser um bom actor.
Fess Parker

A última sessão de qualificação. Eu já estava com a pole, por meio segundo à frente do segundo colocado, e depois um segundo. De repente, eu estava próximo de abrir dois segundos à frente dos outros, incluindo meu companheiro de equipe com o mesmo carro. Então, eu percebi que eu não estava mais pilotando com consciência. Eu pilotava por instinto, me sentia numa outra dimensão. Era como se eu fosse entrar num túnel. Não apenas o túnel sob o hotel, mas todo o circuito parecia um túnel. Eu estava apenas indo e indo, mais e mais e mais…
Ayrton Senna
(GP do Mónaco - 1988)

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