José
de Matos-Cruz | 16 Março 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
AUDÁCIAS
O
acontecimento mais importante da banda desenhada europeia, desde que
Tintin e o Capitão Haddock desceram na Lua, consumou-se enfim com o
lançamento d’As
Aventuras de Tintin, Repórter do “Petit Vingtième”, No País
dos Sovietes. Setenta
anos depois, assim voltámos ao princípio - pois foi em 10 de
Janeiro de 1929, nas páginas daquele suplemento juvenil do jornal Le
Vingtième Siècle, que tudo
começou, semanalmente, para o audaz mancebo e herói. O respectivo
álbum saiu logo no ano seguinte e, tornando-se politicamente
incorrecto, nunca foi redesenhado ou colorido. Então e aí apareceu,
também, o fiel Milu, juntando-se depois o tremendo Haddock, o
lunático professor Girassol, os inconfundíveis Dupont e Dupond, a
diva Bianca Castafiore. Entretanto, Tintin esteve na América, no
Congo (ex-Belga), na China e Oriente, na Escócia, na Sildávia
(algures nos Balcãs), no Golfo, no Tibete ou na América do Sul…
Primitivo
ou moderno, Tintin fascina os velhos fanáticos e envolve as novas
gerações. Para além da narrativa exuberante, de uma escrita
rigorosa, sugestivamente enquadrada pelo estilo de Hergé - aliás,
Georges Prosper Remi (1907-1983) - expõe-se uma saga universalista,
entre drama e euforia, tragédia e resgate, em que a camaradagem
sobrevive, paralelamente aos valores do bem e do mal.
IMAG.
26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376-382-384-385-395-399-403-411-460-552-599-611-642-676-729
CALENDÁRiO
1953-10JUN2018
- Joana Pimentel: Investigadora da Cinemateca Portuguesa - Museu do
Cinema, responsável pelas aquisições patrimoniais - «Os estudos
sobre a imagem em movimento de âmbito colonial, num sentido muito
lato, devem-lhe e dever-lhe-ão sempre muito» (José Manuel Costa).
1923-24AGO2018
- Luís Amaro: Escritor português, poeta e investigador, editor e
bibliófilo, cofundador da revista Árvore
(1951), autor de Diário
Íntimo (1975) - «Fiel a
esse espaço interior a que se chama alma, a sua poesia é a
tentativa permanente de se integrar nela ou de a habitar, mau grado
todas as agressões do mundo exterior» (António Ramos Rosa).
01SET-14OUT2018
- No Barreiro, Auditório Municipal Augusto Cabrita expõe Barreiro
Ilustra BD - com a
participação de Ana Pais, Artur Filipe, Carlos Rocha, Catarina
Teixeira, Daniel da Silva Lopes, Daniel Maia, Derradé, Diana
Marques, Dina Barbosa, Diogo Carvalho, Diogo Mané, Eliseu Gouveia,
Filipe Duarte, Henrique e Duarte Gandum, Inocência Dias, João
Amaral, João Gordinho, João Raz, Luís Belerique, Mariana Flores,
Miguel Falcato, Miguel Mendonça, Nuno Saraiva, Osvaldo Medina,
Patrik Caetano, Paulo Monteiro, Paulo Montes, Pedro Brito, Pedro
Potier, Phermad, Quico Nogueira, Rui Ramos, Samuel Santos, Sérgio
Santos, Sofia Neto, Susana Resende e Tânia Cardoso.
VISTORiA
Não
repararam nunca? Pela aldeia,
Nos fios telegráficos da estrada,
Cantam as aves, desde que o Sol nada,
E, à noite, se faz sol a Lua cheia.
No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vai, numa ânsia aiada!
O Ministro que joga uma cartada,
Alma que, às vezes, d’Além-Mar anseia:
– Revolução! – Inútil. – Cem feridos,
Setenta mortos. – Beijo-te! – Perdidos!
– Enfim, feliz! – ? – ! – Desesperado. – Vem.
E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, António! deves ser também.
Nos fios telegráficos da estrada,
Cantam as aves, desde que o Sol nada,
E, à noite, se faz sol a Lua cheia.
No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vai, numa ânsia aiada!
O Ministro que joga uma cartada,
Alma que, às vezes, d’Além-Mar anseia:
– Revolução! – Inútil. – Cem feridos,
Setenta mortos. – Beijo-te! – Perdidos!
– Enfim, feliz! – ? – ! – Desesperado. – Vem.
E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, António! deves ser também.
António
Nobre - Colónia, 1891
VISTORiA
Peras
amarelas
E rosas silvestres
Da paisagem sobre a
Lagoa.
Ó cisnes graciosos,
Bêbedos de beijos,
Enfiando a cabeça
Na água santa e sóbria!
Ai de mim, aonde, se
É inverno agora, achar as
Flores? e aonde
O calor do sol
E a sombra da terra?
Os muros avultam
Mudos e frios; à fria nortada
Rangem os cata-ventos.
E rosas silvestres
Da paisagem sobre a
Lagoa.
Ó cisnes graciosos,
Bêbedos de beijos,
Enfiando a cabeça
Na água santa e sóbria!
Ai de mim, aonde, se
É inverno agora, achar as
Flores? e aonde
O calor do sol
E a sombra da terra?
Os muros avultam
Mudos e frios; à fria nortada
Rangem os cata-ventos.
Friedrich
Hölderlin
11.
O Despertador
Um
despertador exposto sobre um tapete cheio de pó era tudo quanto
possuía, para vender, o pobre comerciante árabe. Durante dias,
reparou que uma velha se interessava pelo relógio. Era uma bebuína,
pertencente a uma daquelas tribos que voam com o vento.
«Desejas
comprá-lo?», perguntou-lhe um dia.
«Quanto
custa?»
«Pouco.
Mas não sei se o vendo. Se este desaparecer, deixarei de ter
trabalho.»
«Então,
porque o tens exposto?»
«Porque
me dá a sensação de viver. E tu porque o queres, não vês que lhe
faltam os ponteiros?»
«Faz
tiquetaque?», quis saber a velha.
O
comerciante deu corda ao despertador, fazendo soar um sonoro e
metálico tiquetaque. A velha fechou os olhos e percebeu que, na
escuridão da noite, podia assemelhar-se a um coração que bate ao
lado do seu.
Tonino
Guerra
-
Histórias Para Uma Noite de
Calmaria
(Tradução
de Mário Rui de Oliveira)
MEMÓRiA
16MAR1920-2012
- Antonio Guerra, aliás Tonino Guerra: Ficcionista, poeta e
argumentista italiano, colaborador de cineastas como Federico
Fellini, Vittorio De Sica, Francesco Rosi e Michelangelo Antonioni -
«A lua é o único astro que nasce atrás das montanhas e se põe no
íntimo de cada um de nós». IMAG.403
1613-17MAR1680
- François, Duque de La Rochefoucauld: Pensador e memorialista
francês - «Deploramos com
facilidade os defeitos alheios, mas raramente nos servimos deles para
corrigirmos os nossos… / Não
se deve avaliar o mérito de um homem apenas pelas suas grandes
qualidades, mas também pelo uso que delas faz».
IMAG.42-267-377-434
1867-18MAR1900
- António Pereira Nobre, aliás António Nobre: Poeta português,
autor de Despedidas
- «Ai os meus nervos, quando a lua é cheia! / Da arte novas
concepções descubro / Todo me aflijo, lá fazem ideia… / Ai a
ascensão da Lua em Outubro!» (Da
Influência da Lua -
excerto). IMAG.143-267-307-623-639
1924-18MAR2010
- Fess Elisha Parker Jr, aliás Fess Parker: Artista norte-americano
de cinema e televisão, protagonista de Davy
Crockett (1954) e Daniel
Boone (1964-1970) - «Foi um
modelo como actor e um ídolo para mim, desde que eu o vi pela
primeira vez no grande ecrã. Ele era uma verdadeira lenda de
Hollywood» (Arnold Schwarzenegger). IMAG.85-295-479
1875-19MAR1950
- Edgar Rice Burroughs: Escritor norte-americano, autor de Tarzan
(1912)
- «Surgiu-me a ideia de
alguém que não tinha actividade, e decidi romanceá-la».
IMAG.37-149-204-224-267-297-384-529-684
1623-20MAR1680
- Johann Heinrich Schmelzer: Violinista austríaco e compositor do
barroco - as suas virtuosas sonatas «influenciaram o desenvolvimento
futuro da música instrumental alemã» (Joseph Stevenson). IMAG.411
20MAR1770-1843
- Johann Christian Friedrich Hölderlin, aliás Friedrich Hölderlin:
Ficcionista alemão, poeta lírico - «Meu dia outrora principiava
alegre; / No entanto, à noite eu chorava. Hoje, mais velho, / /
Nascem-me em dúvida os dias, mas / Findam sagrada, serenamente.»
(Outrora e Hoje).
IMAG.32-307-421-677
20MAR1940-2015
- Mary Ellen Mark: Fotógrafa americana - «Através das suas
fotografias, deparamos com cenas menos óbvias de universos que
julgamos conhecer, ao mesmo tempo que percebemos que tais registos
nos remetem para temas e considerações muito para além do carácter
efémero de um instantâneo»
(João Lopes). IMAG.571
21MAR1930-2008
- Dinis Ramos Machado, aliás Dinis Machado: Escritor e jornalista
português - «A novidade, para mim, desapareceu. Tenho pena de não
me surpreender, quando escrevo».
IMAG.218-232-261-267-296-332-387-612-620-622-677
21MAR1960-1994
- Ayrton Senna da Silva, aliás Ayrton Senna: Piloto brasileiro de
Fórmula 1 - «Ele estava sereno. Levantei-lhe pálpebras e tornou-se
claro para mim, pelas suas pupilas, que sofrera um ferimento maciço
no cérebro. Tirámo-lo do cockpit
e colocámos o corpo no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico,
senti a sua alma partir nesse momento» (Sidney Watkins,
neurocirurgião - 1994). IMAG.267-465
23MAR1910-1998
- Akira Kurosawa: Cineasta nipónico, realizador de
Os Sete Samurais (1954) - «No
Japão, não se percebe claramente que uma das suas mais notáveis
realizações culturais é a cinematografia nacional».
IMAG.193-267-531-673-743
PARLATÓRiO
Considero-me
uma pessoa discreta, nunca me interessou a exposição. A única
coisa que eu sempre desejei, verdadeiramente, foi ser um bom actor.
Fess
Parker
…A
última sessão de qualificação. Eu já estava com a pole,
por meio segundo à frente do segundo colocado, e depois um segundo.
De repente, eu estava próximo de abrir dois segundos à frente dos
outros, incluindo meu companheiro de equipe com o mesmo carro. Então,
eu percebi que eu não estava mais pilotando com consciência. Eu
pilotava por instinto, me sentia numa outra dimensão. Era como se eu
fosse entrar num túnel. Não apenas o túnel sob o hotel, mas todo o
circuito parecia um túnel. Eu estava apenas indo e indo, mais e mais
e mais…
Ayrton
Senna
(GP
do Mónaco - 1988)
Sem comentários:
Enviar um comentário