José
de Matos-Cruz | 08 Junho 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
DILEMAS
Pola
X (1999) perturbou a
crítica e o público, no Festival de Cannes. Em causa está um
criador que gosta de contaminar o vício de um olhar mitificador, com
o vírus da cegueira nas relações. Leos Carax foi muito apreciado
com Má Raça
(1986), pelo fascínio entre a ilusão e a erosão. Aspecto
fundamental, atendendo aos pretexto ficcionais que emanam de Pola
X, e em que se dissipam os
jovens protagonistas… Um escritor embrionário que partilha com a
mãe um tranquilo castelo na Normandia, Pierre prepara-se para
formalizar com a noiva a data do casamento. Porém, no mesmo dia
encontra
a estranha Isabelle, sua suposta irmã e cuja insinuante
pronúncia (do Leste?) subverterá a sedução pelos estímulos da
culpa ancestral. O dilema excepcional da verdade que fractura Pola
X, sob um auge de catástrofe
dilacerante, precipita-se decisivo e ambíguo: a angústia para
Pierre não é uma questão de vínculo, origem ou talento, mas a sua
consciência assombrada.
E arrostá-la-á até Paris por uma provação limite, existencial,
qual estigma de incesto ou refúgio da paixão, talvez buscando uma
autenticidade perdida, ou nunca assumida - entre a vertigem e o
naufrágio, eis a carisma de Guillaume Depardieu. A atmosfera
romanesca (avassalada pela música de Scott Walker) jamais é
explícita ou realista
- reflectindo um universo, pois, tão radical como peculiar.
CALENDÁRiO
09OUT-10NOV2018
- Em Coimbra, Casa Municipal da Cultura apresenta Trabalho
| Colecção Encontros de Fotografia -
com obras de António Júlio Duarte, Augusto Brázio, Filipa César,
Inês Gonçalves, Paulo Catrica e Pedro Letria, sendo curador Albano
Silva Pereira.
18OUT2018-13JAN2019
- Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar apresenta O
Material Não Aguenta -
diálogo artístico entre Júlio Pomar (1926-2018) e Luísa Cunha,
sendo curadora Sara Antónia Matos.
IMAG.19-312-449-495-505-534-552-553-562-582-596-604-610-620-631-635-646-652-676-710-715-731-734
20OUT2018-06JAN2018
- Em Lisboa, Culturgest apresenta El
Jardín de los Senderos Que Se Bifurcan -
exposição de pintura de Juan Araujo (Venezuela), sendo curador
Delfim Sardo.
25OUT2018-11JAN2019
- Em Évora, Galeria da Casa de Burgos apresenta Caligrafias
- exposição de fotografia de Santiago Macias.
08NOV2018-21ABR2019
- Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Três
Embaixadas Europeias à China,
sendo comissário Jorge dos Santos Alves.
22NOV2018-14JAN2019
- Em Lisboa, Museu do Oriente apresenta Purity,
Purification - exposição de
Arte Contemporânea Chinesa,
sendo curadora Liu Chunfeng.
VISTORiA
A
imensa praia. O sol rubro, preciso.
E o mar de sempre, impetuoso e vário.
Meu corpo nu, aberto no solário,
Sorve o final do dia, lento e liso.
E o mar de sempre, impetuoso e vário.
Meu corpo nu, aberto no solário,
Sorve o final do dia, lento e liso.
Estio
é estar assim, sem pensamento;
Sentir apenas, sobre a pele doirada,
A saliva do mar, fria e salgada,
E o arrepio cálido do vento.
Sentir apenas, sobre a pele doirada,
A saliva do mar, fria e salgada,
E o arrepio cálido do vento.
Nada
mais. Quando muito, um vago olhar,
Um vulto jovem, ágil, que se afasta,
Diluído na luz crepuscular.
Um vulto jovem, ágil, que se afasta,
Diluído na luz crepuscular.
E
só porque o seu ritmo contrasta
Com a serena vibração do ar
E a paz da minha carne gorda e gasta.
Com a serena vibração do ar
E a paz da minha carne gorda e gasta.
António
Manuel Couto Viana
-
Voo Doméstico
VISTORiA
Verdes
São os Campos
Verdes
são os campos,
De
cor de limão:
Assim
são os olhos
Do
meu coração.
Campo,
que te estendes
Com
verdura bela;
Ovelhas,
que nela
Vosso
pasto tendes,
De
ervas vos mantendes
Que
traz o Verão,
E
eu das lembranças
Do
meu coração.
Gados
que pasceis
Com
contentamento,
Vosso
mantimento
Não
no entendereis;
Isso
que comeis
Não
são ervas, não:
São
graças dos olhos
Do
meu coração.
Luiz
de Camões
O
céu estava sombrio – céu de Dezembro – e o pavimento das ruas
desaparecia sob a neve, neve de Londres, meio derretida e lamacenta.
Nunca se me varrera da memória a recordação dessa neve, apesar de
terem passado quinze anos desde a última vez que vira a sua triste
cor.
Ali
a tinha, diante de mim, com os mesmos sulcos e ocultando os mesmos
perigos para os transeuntes. Havia apenas uma hora que eu tinha
chegado da América do Sul a bordo do vapor-correio de Southampton, e
ora estava encostado à janela do meu quarto no Hotel Morley, Charing
Cross, contemplando com ar sombrio os jogos de água da Praça de
Trafalgar, ora passeava agitadamente de um extremo ao outro do
aposento, fazendo esforços para me distrair e pensando que não era
um vagabundo desterrado, mas um homem que regressava ao seu país.
Aproximei
a cadeira da chaminé e, enquanto atiçava o lume, evoquei através
da chama o quadro da minha vida passada. Recordei-me da infância que
tornou extremamente desgraçada a dependência de um tio velho e rico
que me olhava como a um obstáculo, porque não acreditava que eu
viesse um dia a honrar o seu nome e os seus benefícios. Esta
excelente pessoa tinha quase tanto de avaro como de vaidoso.
Charles
Dickens
-
A Órfã
Se
por ora não aparecem em maior número escritoras dignas da pública
atenção, deve isso atribuir-se a uma educação acanhada, que no
Brasil reduzia uma Senhora à curta esfera do manejo doméstico, como
se as belas-letras fossem vedadas ao seu sexo.
Mas
a civilização vai já fazendo desaparecer esses prejuízos.
Januário
da Cunha Barbosa
-
Parnazo Brasileiro
ANTIQUÁRiO
08JUN1940
- Iniciativa do professor Bissaya Barreto (1886-1974), é inaugurado
em Coimbra o Portugal dos Pequenitos; projecto do arquitecto Cassiano
Branco (1897-1970), reproduz - em escala reduzida - o património
cultural e edificado português, tanto no país como no mundo.
IMAG.142-272-299-447-622-634-752
MEMÓRiA
08JUN1810-1856
- Robert Alexander Schumann: Compositor e pianista alemão - «Sendo
uma arte, a música é a linguagem que me permite comunicar com o
além».
IMAG.105-194-203-233-268-278-301-341-344-365-375-418-458-509-572-605-686-708-737
1923-08JUN2010
- António Manuel Couto Viana: Ficcionista, poeta, ensaísta, actor,
dramaturgo, encenador e figurinista, autor de contos infantis e
argumentista de histórias em quadradinhos - «E, agora, o que
faremos? / A quem legar o que resta / Do simulacro de festa / Que
tivemos? // Quem aproveita os detritos / De uma alegria forçada? /
Quem confunde aflitos gritos / Com imposta gargalhada? // Iremos por
onde alguém / Descubra os nossos farrapos. / Vês flores no jardim
de além? / – Vejo sapos.» (Despojo).
IMAG.107-308-332-403-431
1812-09JUN1870
- Charles John Huffam Dickens, aliás Charles Dickens: Escritor
inglês, crítico social - «Cada fracasso ensina aos homens algo que
necessitavam aprender… Aquele que alivia o fardo do mundo em
relação aos outros, não é inútil quanto à sua existência sobre
a Terra».
IMAG.117-278-357-447-488-552-624-635-646
1524-10JUN1580
- Luiz Vaz de Camões, aliás Luiz de Camões: Ficcionista e poeta
português - «Enquanto quis Fortuna que tivesse / Esperança de
algum contentamento, / O gosto de um suave pensamento / Me fez que
seus efeitos escrevesse. // Porém, temendo Amor que aviso desse /
Minha escritura a algum juízo isento, / Escureceu-me o engenho co’o
tormento, / Para que seus enganos não dissesse. // Ó vós que Amor
obriga a ser sujeitos / A diversas vontades! Quando lerdes / Num
breve livro casos tão diversos, // Verdades puras são e não
defeitos; / E sabei que, segundo o amor tiverdes, / Tereis o
entendimento de meus versos.».
IMAG.20-31-38-64-66-76-103-125-164-175-187-231-242-244-252-263-278-279-295-307-348-355-359-468-479-481-491-498-512-516-519-543-544-547-554-583-591-616-639-640-641-692-712-723
10JUN1780-1846
- Januário da Cunha Barbosa: Poeta, historiador e biógrafo
brasileiro - «N(o contexto d)a boa sociedade imperial, composta por
uma elite imperial definida pela intersecção entre poder económico,
político e intelectual, desempenharia um papel fundamental na
formação da nacionalidade brasileira» (Lia Ramos Jordão).
IMAG.551
1893-15JUN1970
- José Sobral de Almada Negreiros: Escritor e artista plástico
português, ligado ao modernismo - «O Povo completo será aquele que
tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos.
Coragem portugueses, só vos faltam as qualidades!» (Textos
de Intervenção).
IMAG.84-135-154-173-224-278-292-305-371-413-498-547-561-579-612-630-633-660-680-704-711-715-744
BREVIÁRiO
Cavalo
de Ferro edita A Língua
Resgatada de Elias Canetti
(1905-1994); tradução de Maria Hermínia Brandão.
IMAG.388-478-524-736
Warner
edita em CD, Camané Canta
[Alfredo] Marceneiro
(1891-1982) por Camané.
IMAG.166-175-261-314-317-334-371-376-390-537
Dom
Quixote edita Até Que as
Pedras Se Tornem Mais Leves Que a Água de
António Lobo Antunes. IMAG.136-438-460-609-633-690
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