José
de Matos-Cruz | 01 Junho 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
DESAFIOS
É
um espectáculo? É um desporto? É o futebol! Só um tal fenómeno
poderia atrair milhares de fanáticos ao estádio, deixando muitos
outros milhões em casa, a sofrer diante da televisão. Afinal, foi
penalti, ou não? Bolas, o árbitro prejudicou-nos - mas, mesmo
assim, a nossa equipa está a ganhar… Muitas destas emoções e
experiências ressaltam na série Os
Campeões
(2000)
por Gurcan
Gürsel.
Não será tão impressionante como um jogo ao vivo, mas surge em
álbuns rectangulares, como um campo relvado - e, além do verde, que
também é esperança, aparecem muitas outras cores como o azul do
sonho e o vermelho da raiva. A sério, nada disto são insinuações
ao Sporting, ao Porto ou ao Benfica! Mas, a brincar, muitas das
peripécias que têm envolvido estas equipas, e tantas outras que
enchem as parangonas dos jornais especializados, ou são o motivo de
conversa às segundas-feiras, ressaltam aqui ilustradas, estilizadas,
quase sem palavras e com muitos esgares, entre as façanhas
individuais e a caricatura colectiva. Se a melhor defesa é o ataque,
e preferível o apito ficar no bolso, evitando ser engolido, não há
nada mais bonito do que um golo - mesmo que seja apenas em banda
desenhada, e sem culpa para o guarda-redes…
CALENDÁRiO
21SET-16NOV2018
- Em Lisboa, Galeria Cristina Guerra apresenta What
Do They Feel? - exposição
de artes plásticas de Matt Mullican (EUA).
11OUT2018-13JAN2019
- Em Lisboa, Galeria Quadrum apresenta Vaivém
- exposição de pintura de Bruno Pacheco, sendo curador Bruno
Marchand. IMAG.611
1937-14OUT2018
- Eduardo Arroyo Rodríguez, aliás Eduardo Arroyo: Artista plástico
/ gráfico espanhol, pintor, escultor, ilustrador, cenógrafo e
cronista - «Realizou uma interpretação muito pessoal dos preceitos
definidos na União Soviética para a arte realista, reflexão que
partilhava com os seus colegas do movimento da Figuração Narrativa»
(Luísa Soares de Oliveira).
18OUT2018
- NOS Audiovisuais estreia Pedro
e Inês (2018) de António
Ferreira; sobre A Trança de
Inês de Rosa Lobato de Faria
(1932-2010), com Joana de Verona e Diogo Amaral. IMAG.273-326
20OUT2018-06JAN2019
- Em Lisboa, Culturgest expõe As
Raízes Também Se Criam No Betão
- múltiplo olhar sobre a arquitectura moderna africana por Kader
Attia (França / Argélia), com organização original de Mac Val.
26OUT2018-04FEV2019
- Em Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian expõe Pose
e Variações - Escultura Em Paris No Tempo de Rodin,
sendo curadores Luísa Sampaio e Rune Frederiksen.
VISTORiA
Tenho
saudades do teu corpo: ouviste
correr-te
toda a carne e toda a alma
o
meu desejo – como um anjo triste
que
enlaça nuvens pela noite calma?…
Anda
a saudade do teu corpo (sentes?…)
Sempre
comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo
e redizendo que não mentes
quando
me escreves: «vem, meu todo amado…»
É
o teu corpo em sombra esta saudade...
Beijo-lhe
as mãos, os pés, os seios-sombra:
a
luz do seu olhar é escuridade…
Fecho
os olhos ao sol para estar contigo.
É
de noite este corpo que me assombra…
Vês?!
A saudade é um escultor antigo!
António
Patrício
MEMÓRiA
1825-01JUN1890
- Camilo Castelo Branco: Ficcionista e poeta português - «O amor,
que vem procurado como sensação necessária à felicidade da vida,
perde dois terços da sua embriagante doçura; porém, o amor
inesperado, impetuoso e fulminante, esse é um abrir-se o céu a
verter no peito do homem todas as delícias puras que não correm
perigos de empestarem-se em contacto com as da terra».
IMAG.27-31-41-87-111-113-145-146-161-171-179-180-185-209-227-236-237-244-256-277-293-328-370-389-390-414-421-432-453-497-507-520-529-534-544-603-606-617-640-641-652-658-697
1933-01JUN2010
- Andrei Andreyevich Voznesensky, aliás Andrei Voznesensky: Poeta
russo, contestatário - «O destino está acima de mim. Por que
deveria arrastar-me? / Dormindo em abrigos, um pária, eu vago. / A
dor é um sótão, aberto em cada casa velha. / Por baixo de mim, há
uma vala, sobre mim paira o destino.» (Destino).
IMAG.255-307-418
02JUN1740-1814
- Donatien Alphonse François de Sade, aliás Marquês de Sade:
Aristocrata e escritor francês - «E venham dizer-nos, agora, que
não é necessário instruir as moças quanto às obrigações que,
um dia, terão para com seus maridos!». IMAG.150-208-279-493
1943-03JUN2010
- João Casimiro de Aguiar, aliás João Aguiar: Escritor português
- «Quem tem um trabalho criativo, tanto o autor como o actor, tem de
entrar na personagem e ficar ligeiramente de fora, o que implica uma
certa dose de esquizofrenia». IMAG.235-307-440
1878-04JUN1930
- António Pires Patrício, aliás António Patrício: Escritor e
diplomata português - «Viver é só sentir como a Morte caminha / E
como a Vida a quer e como a vida a chama… / Viver, minha princesa
pobrezinha, / É esta morte triste de quem ama…».
IMAG.172-277-488-592-650
1862-05JUN1910
- William Sydney Porter, aliás O. Henry: Ficcionista americano - «O
senhor João Cão Grande, empoleirado no carvão, perdeu e vasa pelo
processo involuntário de imitar perfeitamente um alvo. O guarda
caçou-o. Com uma bala exactamente entre as espáduas, o cavalheiro
de cor e indústria caiu para o chão, aumentando assim
automaticamente em um sexto o quinhão de cada um dos camaradas.» (A
Teoria e o Cão - Os Caminhos Que Tomamos).
IMAG.15
06JUN1950-2015
- Chantal Anne Akerman, aliás Chantal
Akerman: Cineasta belga, realizadora, actriz e produtora - «Era
impossível tomá-la como modelo, porque ela era única; era
tudo, excepto alguém que se pudesse prender, ou definir» (Claire
Denis). IMAG.588
1891-07JUN1980
- Henry Valentine Miller, aliás Henry Miller: Escritor americano -
«A melhor maneira de matar um artista é dar-lhe tudo o que ele
precisa».
IMAG.248-277-279-352-355-414-487-692
VISTORiA
Não
há mais livros a escrever, graças a Deus. E isto, então? Isto não
é um livro. Isto é injúria, calúnia, difamação de carácter.
Isto não é um livro, no sentido comum da palavra. Não, isto é um
prolongado insulto, uma cuspidela na cara da Arte, um pontapé no
traseiro de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza…
e do que mais quiserem. Vou cantar para ti, um pouco desafinado
talvez, mas vou cantar. Cantarei enquanto tu coaxas, dançarei sobre
o teu cadáver sujo… Para cantar, é preciso primeiro abrir a boca.
É preciso ter um par de pulmões e um pouco de conhecimento de
música.
Henry
Miller
-
Trópico de Câncer
Não
é de ânimo leve que um homem, mesmo corajoso, se acerca de uma
necrópole durante a noite, pois nunca se sabe que espíritos ou
entidades errantes poderão andar em tais lugares. No entanto, decidi
arriscar um encontro com os mortos porque os vivos, naquela altura,
podiam ser mais perigosos; a praia que fica próxima da velha
necrópole cartaginesa de Gadir era um lugar abrigado e solitário
onde seria possível aguardar o embarque em segurança.
Bem
abafados contra o ar nocturno, esperámos sentados na areia fria. O
mar ali é sempre sereno e o barulho das ondas reduzia-se a um
chapinhar surdo, mas o ar estava cheio de murmúrios. Mantivemo-nos
calados para não atrair a atenção dos defuntos.
Finalmente,
ouvimos o ruído de remos ferindo a água e uma pequena embarcação
tornou-se visível e aproximou-se até encalhar quase
silenciosamente. Fui ao encontro do seu único tripulante, que me
olhou com atenção, como para ter a certeza de que eu era um ser de
carne e osso, e pronunciou a senha combinada: «Eunois».
João
Aguiar
- A
Voz dos Deuses
COROLÁRiO
Ninguém
sente em si o peso do amor que se inspira e não comparte. Nas
máximas aflições, nas derradeiras do coração e da vida, é grato
sentir-se amado quem já não pode achar no amor diversão das penas,
nem soldar o último fio que se está partindo. Orgulho ou
insaciabilidade do coração humano, seja o que for, no amor que nos
dão é que nós graduamos o que valemos em nossa consciência.
Camilo
Castelo Branco
COMENTÁRiO
António
Patrício
Foi
António Patrício o que, estando mais longe da realidade, nos pôde
legar a possibilidade de uma rápida visão de conjunto da sua obra,
virtude também, da sua unidade intrínseca. E eu creio que não foi
indiferente a este facto a circunstância puramente fortuita de ter
passado a maior parte da sua vida de escritor no estrangeiro,
inacessível portanto às familiaridades que diminuem ou à
facilidade nos contactos sociais que não são, em Portugal, como se
sabe, elemento de convívio e de interconhecimento fecundo.
Luiz
Forjaz Trigueiros
BREVIÁRiO
Âncora
Editora lança Nascida das
Águas e o 16 de Março de 1974
e A Ilha do Corvo Que Venceu
os Piratas, álbuns em
quadradinhos de José Ruy.
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