PRONTUÁRiO
(DES)ENCONTROS
Vida
Interrompida
(1999) parte de uma ocorrência verdadeira, e expressa numa obra
literária; em abordagem, está um período determinante na evolução
da realidade americana, que remonta aos finais da década de ‘60.
Outro elemento decisivo é a reunião de Winona
Ryder
- assumindo-se produtora executiva e protagonista, em rigor extremo;
com Angelina
Jolie
- que irrompe pela trama dramática como um furacão perturbante e
selvático, justamente galardoada com o Óscar para Melhor Actriz
Secundária. Ainda em mérito, sobressai a direcção
de James
Mangold.
O testemunho de Susanna Keyson, Girl,
Interrupted
foi publicado já em 1993, vinte e cinco anos depois das peripécias
em causa, tendo fascinado Winona Ryder. O que está em causa é a
natureza
dos valores comuns - perante o indivíduo e para a sociedade. Esta
defende-se
- eliminando a rebeldia, controlando a insegurança. Susanna é uma
jovem talentosa, mas equívoca e intranquila. Uma tentativa não
assumida de suicídio, com overdose
de aspirinas, leva-a de livre
vontade
ao Claymoore Hospital, uma instituição psiquiátrica para raparigas
afectadas. O que ali encontra não augura, porém, uma recuperação.
Sobretudo, a nefasta influência de Lisa - indomável mas dominada,
prostrada mas perigosa. Os seus desafios e provocações são apelos
à solidariedade, a uma desesperada cumplicidade - numa vivência
violenta, que resvala entre a lucidez e a insanidade… IMAG.84-475
CALENDÁRiO
03MAR-20MAI2018
- Em Gondomar, Lugar do Desenho apresenta Uns
Dyas Entre Nós - exposição
de desenho (1979-2000) de Júlio Resende (1917-2011).
IMAG.132-168-376-393-548-553-604-632
23MAR-30JUN2018
- No Porto, Faculdade de Belas Artes apresenta Anotações
Sonoras: Espaço, Pausa, Repetição
- instalação de Pedro Tudela e Miguel Carvalhais.
10-30ABR2018
- Em Lisboa, Casa-Museu Medeiros e Almeida apresenta Ditados
e Situações - exposição
de pintura de Luís Artur Cardoso Pereira.
03MAI2018
- NOS Audiovisuais estreia Ruth
(2018) de António Pinhão Botelho; com Igor Regalla e Miguel Nunes.
03MAI2018
- O Som e a Fúria coproduziu, e estreia Zama
(2017) de Lucrecia Martel; com Daniel Giménez Cacho e Lola Dueñas.
03MAI-15JUL2018
- Em Lisboa, Instituto Cultural Romeno apresenta, na Galeria, Delírio
Controlado -
exposição de desenhos
originais, litografias e ilustrações de Tudor Banus.
VISTORiA
Soneto
Vai
a fresca manhã alvorecendo,
vão os bosques as aves acordando,
vai-se o Sol mansamente levantando
e o mundo à vista dele renascendo.
Veio a noite os objectos desfazendo
e nas sombras foi todos sepultando;
eu, desperta, o meu fado lamentando
fui co’a ausência da luz esmorecendo.
Neste espaço, em que dorme a Natureza
porque vigio assim tão cruelmente?
Porque me abafa o peso da tristeza?
Ah, que as mágoas que sofre o descontente,
as mais delas são faltas de firmeza.
Torna a alentar-te, ó Sol resplandecente!
vão os bosques as aves acordando,
vai-se o Sol mansamente levantando
e o mundo à vista dele renascendo.
Veio a noite os objectos desfazendo
e nas sombras foi todos sepultando;
eu, desperta, o meu fado lamentando
fui co’a ausência da luz esmorecendo.
Neste espaço, em que dorme a Natureza
porque vigio assim tão cruelmente?
Porque me abafa o peso da tristeza?
Ah, que as mágoas que sofre o descontente,
as mais delas são faltas de firmeza.
Torna a alentar-te, ó Sol resplandecente!
Alcipe
(D.
Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre)
VISTORiA
Por
trás do que lembro,
ouvi de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que seca, calcinada.
De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.
Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava.
ouvi de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que seca, calcinada.
De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.
Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava.
João
Cabral de Melo Neto
-
Morte e Vida Severina
(excerto)
GALERiA
No
centenário do nascimento de Júlio
Resende (1917-2011), o Lugar
do Desenho – em Gondomar, onde faleceu – celebra uma faceta
peculiar do artista, através de uma exposição que apresenta
desenhos de circunstância, de natureza humorística, datados de 1979
a 2000.
Realizados,
na sua maioria, a esferográfica, estes desenhos de pequena dimensão
evocam o registo directo de instantes que o artista viveu,
descontraidamente, como um viajante em férias que apura a sua
observação e aguça a sua predisposição para olhar os episódios
em volta com um sentido de humor contagiante.
Consciente
da dimensão particular que ocupam na sua obra, o autor assinou
muitos destes desenhos como Dyas, apelido que também consta do seu
nome, aqui alterado pela letra «y». Para lá de instituir uma
espécie de heterónimo, esta assinatura tem a vantagem de remeter
para um quotidiano em que todos os dias são dignos de registo.
Umas
vezes subtil e complacente, outras vezes crítico, sempre arguto,
Resende dá-nos um retrato perspicaz da espécie humana nas situações
ora caricatas, ora ridículas e anedóticas em que todos nos
descobrimos num ou noutro momento da nossa existência. Apanhar esse
momento, arquivá-lo mediante o desenho e deixar umas quantas
anotações e comentários manuscritos para orientar a nossa
observação foi o que fez Júlio Resende.
Esta
terá sido uma forma de dar continuidade ao espírito juvenil que o
fez partir para o desenho humorístico na imprensa e para as tiras de
banda desenhada a que se dedicou nos tempos iniciais da sua vocação
artística.
MEMÓRiA
08OUT1929-2013
- Manuel García Ferré: Artista gráfico, autor de cinema de
animação e de banda desenhada, nascido em Espanha e radicado na
Argentina, criador de Hijitus
e do pinguim Petete -
«As crianças têm as mesmas motivações de sempre: a ambição, o
desejo, a vontade de possuir, de coleccionar… A aventura, a
imaginação, as personagens boas e más, a superação, são
estímulos que perduram e se mantêm actuais» (2012). IMAG.458
1920-09OUT1999
- João Cabral de Melo Neto: Poeta, ficcionista e diplomata
brasileiro - «O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu
endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu
todos os papéis onde eu escrevera meu nome.» (Os
Três Mal-Amados - excerto).
IMAG.583
10OUT1599-
1676 - Étienne Moulinié: Compositor francês - «Dá-se com o seu
nome de forma casual em representações do alvor do barroco francês…
Dir-se-ia até possuir a vagueza própria dos períodos de
transição…» (João Santos). IMAG.591
1750-11OUT1839
- D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre: Condessa de
Oeynhausen-Gravenburg, Condessa de Assumar e Marquesa de Alorna,
poetisa de nome literário Alcipe - «Eu cantarei um dia da tristeza
/ por uns termos tão ternos e saudosos, / que deixem aos alegres
invejosos / de chorarem o mal que lhes não pesa.». IMAG.246-296
BREVIÁRiO
Livros
do Brasil edita Sinais de Fogo
de Jorge de Sena (1919-1978).
IMAG.60-67-87-112-181-202-249-264-268-305-313-329-332-358-392-486-489-495-502-588-599-661-669-671-682-699-707
Sextante
edita Vozes Dentro de Mim de
Carmen Dolores.
IMAG.158-162-287-458
Guerra
& Paz edita Lisboa Em
Camisa de Gervásio Lobato
(1850-1895).
IMAG.133-276
Universal
edita em CD, sob chancela Decca, Ludwig van Beethoven
[1770-1827]: Symphony 1;
Piano Concerto 1
por Martha Argerich, com Mito Chamber Orchestra, sob a direcção de
Seiji Ozawa.
IMAG.134-163-202-204-210-228-229-236-237-239-255-268-285-298-303-323-360-375-384-409-430-431-432-436-442-445-452-458-481-502-529-581-604-605-635-647-666-667-681-707-724
EXTRAORDINÁRiO
OS
ALTERNATIVOS - Folhetim Aperiódico
IRONIA
E RECONSTITUIÇÃO DA CAVEIRA HIPOCONDRÍACA
- 9
Bem
no fundo, Lopes de Barros já não tinha ilusões – sobre Ulisses
Galhardo. Era um homem sem filiação, possidónio, podendo embora
arrebatar-se em dignidade e coragem – às luzes da ribalta.
- Sidónio…
Sim, foi isso… – decifrou enfim Lopes de Barros, entre dentes,
mas sem abrir a boca. Ele, que sabia ler o movimento dos lábios,
ficara a matutar no que Galhardo teria dito a Kramensky. Não
obstante, continuava a não perceber o alcance do que se passava à
sua volta.
– Continua
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