sexta-feira, maio 31, 2019

IMAGINÁRiO #774

José de Matos-Cruz | 08 Outubro 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

PROTAGONISMOS
Ao longo de decénios, a supremacia da indústria artística, sob o signo de Hollywood, permitiu ao cinema americano não só impor a sua perspectiva sobre as culturas e as civilizações de todos os tempos, mas também rever a História à sua imagem e semelhança, num artifício glorioso inclusive sobre os eventos ainda recentes. Pelo termo da II Guerra Mundial, e a propósito de Objectivo: Burma (1945 - Raoul Walsh), registou-se mesmo um incidente diplomático entre os Aliados, pois, numa missão nevrálgica contra as forças nipónicas na Birmânia, em plena frente do Pacífico, os ianques protagonizaram um sucesso que, efectivamente, coube aos ingleses. Idêntica estratégia predadora envolveu Submarino U-571 (2000) de Jonathan Mostow, também argumentista com David Ayer e Sam Montgomery. O reactivar da controvérsia suscitou um esclarecimento no final desta saga fictícia, cujo objectivo seria enaltecer a coragem dos que, realmente, executaram a operação em causa. Uma vez mais, os britânicos - a quem se ficou a dever a captura da máquina de descodificação Enigma, utilizada nas intercomunicações com segredo militar pela Marinha germânica. Tudo se passa em Abril de 1942, quando os Estados Unidos já entraram oficialmente no conflito, e a batalha do Atlântico atravessa duros reveses.

CALENDÁRiO

19JAN-24FEV2019 Em Portimão, Museu Municipal expõe O Desporto Na Filatelia Portuguesa. IMAG.482-697

1940-28JAN2019 - Susan Hiller: Artista americana radicada em Inglaterra, tendo-se dedicado à pesquisa / criação paraconceptual, através de pintura, escultura, escrita, fotografia, vídeo, performance e instalação.

01FEV-28ABR2019 - Em Lisboa, Palácio Pimenta - Museu da Cidade apresenta Vicente. O Mito Em Lisboa - exposição sobre a actualidade do mito de S. Vicente, sendo curador Mário Caeiro. IMAG.132-265-546-760

21FEV-26MAI2019 - Em Lisboa, Museu do Oriente apresenta Futuro Doméstico Primitivo - exposição sobre o arquitecto Sou Fujimoto (Japão), sendo comissário João Almeida e Silva.

PARLATÓRiO
Música Portuguesa Contemporânea
A inconsistência da música, a inconsistência do criador musical, são ideias que levam naturalmente a considerar que a música é apenas a arte de combinar os sons de uma maneira agradável ao ouvido. Umas certas sensações, umas certas impressões, traduzidas por meio dos sons causam prazer. Eis para quem assim pensa, o fim social da música. No aspecto estético nada de análise, nada de aplicação prática; um professor que não saiba uma nota de música pode ensinar estética musical por este processo, puramente verbalístico. Sempre as sensações, as impressões, palavras, muitas palavras, palavras que, desligadas das forças físicas que fazem a música, prejudicam em vez de facilitar, a compreensão.
Tecnicamente o que se ensina, e aqui tenho de novo que dizer: o que se ensina em geral e não o que ensinam os raros entre nós, é o sistema do baixo cifrado, o maior-menor a imperar, não só na harmonia como até no contraponto, o princípio da tonalidade e da modulação regidos pelo número de acidentes à clave, e outras induções igualmente funestas ao bom gosto e à boa composição musicais.
Chego agora a uma questão candente, a uma questão de interesse muito mais geral do que os problemas ligados à substância sonora, de que tenho estado a tratar: refiro-me à interpretação. Pensa-se entre nós sobre o assunto o mesmo que Berlioz pensava quando disse: Wagner dirige «librement, comme Klindworth joue du piano». Isto está longe de ser um elogio para quem pense como Berlioz, pois que, apesar de grande compositor ele, neste aspecto, não tinha razão. A frase não pode ser compreendida senão como uma censura a Wagner e Klindworth, frase vinda de um músico educado, como todos os músicos em geral, na cega submissão à tirania do tempo e do compasso, esses dois inimigos natos do ritmo, e na atitude fria perante a música dos chamados clássicos.
Luís de Freitas Branco
- Conferência na Academia de Amadores de Música (excerto – 11ABR1946)

MEMÓRiA

08OUT1920-1986 - Franklin Patrick Herbert Jr, aliás Frank Herbert: Escritor americano de ficção científica, autor de Dune / Duna (1963-1965) - «Em minha opinião, a ficção científica é inspiradora, e aponta em direcções muito interessantes. Isto é, orienta-nos para dimensões eventuais. Graças à nossa imaginação, podemos tentar outras oportunidades, tomar opções distintas. Por tendência, ficamos presos a escolhas limitadas…». IMAG.111-462-550

1932-09OUT2010 - Paulo-Guilherme Tomáz Dúlio Ribeiro  d’Eça Leal, aliás Paulo-Guilherme d’Eça Leal: Arquitecto, cenógrafo, fotógrafo, cineasta, poeta, filho de Olavo d’Eça Leal - «Gastei as quatro folhas do meu trevo / e outro não consigo encontrar. / Foi-se-me a sorte, resta-me o destino. / Em todo o caso, lê o que eu escrevo, / lê tudo o que puderes decifrar, / na minha letra tosca de menino.» (Depressa Que o Verso Foge… - excerto, 1999). IMAG.327-397

09OUT1940-08DEZ1980 - John Winston Lennon, aliás John Lennon: Músico, compositor, guitarrista e cantor britânico, membro de The Beatles - «A mulher é o negro do mundo. A mulher é a escrava dos escravos. Se ela tenta ser livre, tu dizes que ela não te ama. Se ela pensa, tu dizes que ela quer ser homem».  
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10OUT1910-2005 - Ramón Gaya Pomés, aliás Ramón Gaya: Pintor e escritor espanhol - «Ser criador é isso: obedecer. Ser artista, pelo contrário, é desobedecer, e daí essa quase travessura que tem quase toda a arte moderna, pois trata-se de uma arte especialmente artística, artificial.» (El Sentimiento de la Pintura - excerto, 1959). IMAG.244-294-534

1926-10OUT2010 - Joan Alston Sutherland, aliás Joan Sutherland, aliás La Stupenda: Soprano australiana - «Uma das gigantes do canto operático no Século XX, uma daquelas cantoras que definem uma era e que, de algum modo, mudaram o curso da história da performance operática» (Bernardo Mariano). IMAG.328-585

12OUT1890-1955 - Luís Maria da Costa de Freitas Branco, aliás Luís de Freitas Branco: Compositor português - «Ao significado da sua obra notabilíssima, da sua personalidade fecunda e dominadora, há a juntar a verdadeira paixão que possuía pela Juventude, o entusiasmo com que via os novos triunfar, a sua luta diária, durante cinquenta anos, pelo renovamento, pela europeização da cultura portuguesa, e ainda a generosidade do seu grande coração, sempre disposto a ajudar os que começavam e vivendo com o mesmo entusiasmo as obras dos próprios discípulos, que pretendia sempre colocar à frente das suas» (Joly Braga Santos).  
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1918-14OUT1990 - Louis Bernstein, aliás Leonard Bernstein: Compositor, maestro e pianista americano - «Não me interessa uma orquestra que tenha o seu próprio som… O que eu quero é que, ao tocar, ela nos transmita o som do compositor». IMAG.266-297-395-497-602-672

COMENTÁRiO

O belo não é mais do que tudo o que pode ser resgatado, arrebatado ao eterno, resgatado do eterno e levado para a formosura e a vulnerabilidade do presente.
Ramón Gaya
- Belleza, Modernidad, Realidad (excerto - 1960)
PARLATÓRiO

O homem é um idiota em não dar tudo de si, sempre, no acto de criação. Alguém escreve algo num papel. Não está a destruir, está a plantar uma semente. Então, não tem que se preocupar com inspiração, ou qualquer coisa no género. É apenas uma questão de se sentar e de pôr-se a trabalhar. Eu nunca tive problemas por escrever, apenas, um parágrafo. Fala-se muito nisso. Pela minha parte, havia dias em que me sentia relutante em escrever, ou às vezes durante semanas inteiras, outras até mais tempo. Então, preferiria muito mais pescar, por exemplo, ou pôr-me a afiar lápis, ou ia nadar, ou… Por que não? Mas, depois, voltando à leitura do que havia produzido, era incapaz de distinguir entre o que me ocorreu facilmente e o que elaborei, sentando-me e decidindo: «Bem, chegou a hora de escrever, e é isso que agora vou fazer». Não havia diferença entre uma coisa e outra que registei no papel…
Frank Herbert

04MAR1966 - O Cristianismo vai desaparecer. Vai diminuir e encolher. Nós, The Beatles, somos mais populares do que Jesus, neste momento. Não sei qual vai desaparecer primeiro - o rock and roll ou o Cristianismo. Cristo não era mau, mas os seus discípulos eram obtusos e vulgares. É a distorção deles que, em minha opinião, estraga o Cristianismo.

11AGO1966 - Se tivesse dito que a televisão era mais popular do que Jesus, ninguém teria ligado… Eu não sou anti-Deus, anti-Cristo ou anti-religião. Não estou a dizer que sejamos melhores ou maiores, ou a comparar-nos a Jesus Cristo como pessoa ou Deus ou seja o que for. Disse o que disse e estava errado - ou fui interpretado erroneamente.
John Lennon
BREVIÁRiO

Opera Omnia edita Os Pescadores de Raul Brandão (1867-1930).
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Abysmo edita Poesia II - Sonetos Completos de Antero de Quental (1842-1891); edição crítica de Luiz Fagundes Duarte.
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