domingo, maio 19, 2019

IMAGINÁRiO #772

José de Matos-Cruz | 24 Setembro 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

IMPUNIDADE
O Desconhecido do Norte Expresso (1951) é a adaptação livre e acidentada dum romance de Patricia Highsmith. Alfred Hitchcock (1899-1980) interessou-se pela narrativa «geométrica», inerente ao fulcro de uma conspiração sentimental, cujas variáveis eram a falta de escrúpulos e o engenho criminal. Insatisfeito com as sugestões de Raymond Chandler, Hitchcock acabou por se ocupar da composição ambígua das personagens, incumbindo da textura e dos diálogos o seu habitual colaborador Ben Hecht. Durante uma viagem de comboio entre Washington e Long Island, um famoso mas infeliz tenista trava conhecimento, por aparente casualidade, com um playboy ocioso e cínico. Este conhece todos os pormenores da sua vida pessoal e profissional, propondo-lhe eliminar a mulher, para casar-se com a filha de um senador; em troca, ele deverá assassinar o seu pai, por quem nutre um ódio profundo. Assim, sem móbil nem ligação plausíveis, os dois crimes ficarão impunes… A interpretação enfática de Robert Walker e Farley Granger estigmatiza uma estranha cumplicidade, entre o desprezo e a obsessão.
IMAG.3-4-14-19-26-29-44-48-49-51-71-85-111-112-142-146-163-168-179-188-191-238-271-280-283-288-307-312-327-351-354-377-381-384-386-428-429-440-449-495-500-501-521-528-550-562-573-588-591-613-617-644-652-654-718-730-738-746-751-760

CALENDÁRiO

12JAN-23FEV2019 - Em Lisboa, Galeria Pedro Cera expõe Choque - instalação / pintura de Dora Longo Bahia (Brasil).

18JAN-09MAR2019 - Em Lisboa, Galeria 3 + 1 apresenta Manglar - exposição de pintura de Juan Tessi (Peru).

23JAN-16MAR2019 - Em Lisboa, Fundação Carmona e Costa apresenta Where I Am Free - exposição de obras em papel de Carlos Bunga, sendo curadora Inês Grosso. IMAG.771

1937-24JAN2019 - José Lopes e Silva: Compositor português, músico e professor, membro fundador de Quadrifonia - «Um dos pioneiros da música contemporânea em Portugal. Fez sobretudo obras para viola a solo, mas também é autor de peças de câmara, obras vocais e eletroacústicas» (José Cutileiro).

25JAN-29MAR2019 - Em Lisboa, Carpintarias de São Lázaro apresenta Jeu de 54 Cartes - exposição de fotografia de Jorge Molder.  
IMAG.165-237-252-475-491-505-570-612-631-706

18ABR1930-26JAN2019 - Jean Victor Arthur Guillou, aliás Jean Guillou: Músico francês, compositor, organista e professor - «Ficou famoso como improvisador, procurando timbres invulgares e conseguindo efeitos muito especiais» (João Vaz).

1932-26JAN2019 - Michel Jean Legrand, aliás Michel Legrand: Músico e compositor francês, orquestrador e maestro, pianista, autor de bandas sonoras para filmes, distinguido com três Oscars, colaborador habitual de Jacques Demy - «…Reinventaram o musical como espectáculo popular, [pelo] entendimento de cinema e música como um mesmo tronco» (Luís Miguel Oliveira).

29JAN-05MAI2019 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresenta filmes, desenhos e fotogravuras da artista inglesa Tacita Dean, sobre conceito desenvolvido com Marta Moreira de Almeida. IMAG.475

VISTORiA

Na Índia teve lugar, há mais de três mil anos, no plano religioso, a mesma operação de recuperação cultural que, no plano científico, foi posta em vigor nos nossos dias pela psicanálise… A Índia não foi sublimada e humanizada pelo cristianismo.
Alberto Moravia
- Uma Ideia da Índia (1961 – excerto)

MEMÓRiA

1898-25SET1970 - Erich Paul Remark, aliás Erich Maria Remarque: Escritor alemão - «No desespero e no perigo, as pessoas aprendem a acreditar no milagre. De outra forma, não sobreviveriam». IMAG.663

1907-26SET1990 - Alberto Pincherle, aliás Alberto Moravia: Escritor e jornalista italiano - «É mais fácil ter ciúmes de um amigo feliz, do que ser generoso para um amigo que esteja na desgraça… A amizade é mais difícil e mais rara do que o amor. Há que preservá-la a todo o custo». IMAG.229-292-636

1892-27SET1940 - Walter Benedix Schönflies  Benjamin, aliás Walter Benjamin: Ensaísta e filósofo alemão - «O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os grandes e os pequenos, leva em conta a verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história. Sem dúvida, somente a humanidade redimida poderá apropriar-se totalmente do seu passado. Isso quer dizer: somente para a humanidade redimida o passado é citável, em cada um dos seus momentos». IMAG.37-153-292-378-488-506

1896-28SET1970 - John Roderigo Dos Passos, aliás John Dos Passos: Escritor americano de origem portuguesa, autor de Manhattan Transfer (1925) e da trilogia USA - 42nd Paralell (1930), Nineteen Nineteen (1932), The Big Money (1936) - «Sim. Tenho muitos primos [na Madeira]. A nossa família é muito grande. O meu avô emigrou para os Estados Unidos, um irmão dele foi para o Brasil e outros ficaram cá. Assim, tenho agora parentes aqui, em Lisboa, nos Estados Unidos e no Brasil» (1960). IMAG.292-546

1922-28SET2010 - Arthur Hiller Penn, aliás Arthur Penn: Cineasta americano, realizador e produtor - «Em Hollywood, os melhores acabam por arrepender-se… Já não existe mercado para os filmes que eu poderia dirigir. Os épicos de ficção científica e as fitas ao gosto juvenil estão fora dos meus parâmetros». IMAG. 44-212-231-257-327-387-433-704

1925-29SET2010 - Bernard Schwartz, aliás Tony Curtis: Actor americano - «Por um lado, fui tremendamente abençoado… Por outro, imensamente amaldiçoado». IMAG.327-447-517-748

VISTORiA

O materialista histórico não pode renunciar ao conceito de um presente que não é transição, antes se suspende no tempo e imobiliza-se. Porque esse conceito define exactamente aquele presente em que ele próprio escreve a história. O historicista apresenta a imagem eterna do passado, o materialista histórico faz desse passado uma experiência única. Ele deixa a outros a tarefa de esgotar-se no bordel do historicismo, com a prostituta era uma vez. Ele fica senhor das suas forças, suficientemente viril para fazer saltar pelos ares o continuum da história.
O historicismo culmina legitimamente na história universal. Em seu método, a historiografia materialista distancia-se dela talvez mais radicalmente que de qualquer outra. A história universal não tem qualquer armação teórica. O seu procedimento é aditivo. Ela utiliza a massa dos factos, para com eles preencher o tempo homogéneo e vazio. Pelo contrário, a historiografia marxista tem em sua base um princípio construtivo. Pensar não inclui apenas o movimento das ideias, mas também sua imobilização. Quando o pensamento pára, bruscamente, numa configuração saturada de tensões, ele comunica-lhes um choque, através do qual essa configuração se cristaliza enquanto nómada. O materialista histórico só se aproxima de um objecto histórico quando o confronta enquanto nómada. Nessa estrutura, ele reconhece o sinal de uma imobilização messiânica dos acontecimentos, ou, dito de outro modo, de uma oportunidade revolucionária de lutar por um passado oprimido. Ele aproveita essa oportunidade para extrair uma época determinada do curso homogéneo da história; do mesmo modo, ele extrai da época uma vida determinada e, da obra composta durante essa vida, uma obra determinada. O seu método resulta em que, na obra, o conjunto da obra; no conjunto da obra, a época; e, na época, a totalidade do processo histórico, são preservados e transcendidos. O fruto nutritivo do que é compreendido historicamente contém no seu interior o tempo, como sementes preciosas, mas insípidas.
Walter Benjamin
- Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios Sobre Literatura e História da Cultura
 (1939 - excerto)
COMENTÁRiO

Arthur Penn

Trouxe a sensibilidade dos filmes de arte e ensaio europeus dos anos ’60 para o cinema americano. Abriu caminho a uma nova geração de realizadores vindos das escolas de cinema.
Paul Schrader
BREVIÁRiO

Porto Editora lança Nó Cego de Carlos Vale Ferraz / Carlos Matos Gomes. IMAG.3-197-616-660-755

Universal edita em CD, sob chancela Verve, Ella at Zardi’s de Ella Fitzgerald (1917-1996). IMAG.460-566-608-657

Objectiva edita O Homem Mais Rico do Mundo - As Muitas Vidas de Calouste Gulbenkian (1869-1955) de Jonathan Conlin; tradução de Manuel Santos Marques. IMAG.43-523-697-742

Porto Editora lança Em Minúsculas de Herberto Helder (1930-2015); prefácio de Daniel Oliveira.  
IMAG.221-245-325-440-487-504-519-562-597-614-648

Flâneur edita Antologia Poética de Carl Sandburg (1878-1967); tradução de Alexandre O’Neill e Vasco Gato. IMAG. 139-255
 

Sem comentários:

Enviar um comentário