José
de Matos-Cruz | 1 Março 2018 | Edição Kafre | Ano XV –
Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
(DES)CONSTRUÇÕES
Configurando
distintas propostas e alternativas, para o nosso panorama
em quadradinhos de expressão independente, a editora Nova
Comix lançou
A Canção do Viajante
(2000) - a história de um homem que busca um caminho para a vida, em
rotura com as referências da realidade e das outras pessoas. Um
estranho projecto criativo e testemunhador, narrado em várias
línguas - francês, inglês, espanhol, alemão - sendo autor Jacques
Creswell (heterónimo de Horácio
Gomes), um artista natural de
Paris e com um curso de pintura tirado em Bruxelas. Vivendo em
Portugal desde 1998, reparte-se entre o pai em Coimbra e a mãe em
Manchester; ainda em 2000, participou no Zalão de Danda Besenhada,
da Galeria Zé dos Bois em Lisboa. Creswell atribui uma eficaz
correspondência, entre o traço rude e a trama cáustica,
estigmatizando uma vivência de conflitos e tormentos de que o futuro
será, afinal, o mais perturbador enigma. Assim ressalta na rubrica
Universo de Autor com que a
Nova Comix - sendo responsável Horácio Gomes - desvenda os seus
artistas, em abordagem e entrevista de parceria com Edgar Jorge
Queimadas. A propósito, Creswell repara que «todas as culturas
estão a ser desconstruídas
e anuladas,
e por conseguinte, também a identificação do indivíduo está
sujeita à pressão das reformulações necessárias daí
consequentes, para se atingir uma nova identidade pessoal».
VISTORiA
Eu,
Antonin Artaud, sou o meu filho,
o
meu pai,
a
minha mãe,
e
eu mesmo.
Eu
represento Antonin Artaud!
Estou
sempre morto.
Mas
um vivo morto,
um
morto vivo.
Sou
um morto
sempre
vivo.
A
tragédia em cena já não me basta.
Quero
transportá-la para minha vida.
Eu
represento totalmente a minha vida.
Onde
as pessoas procuram criar
obras
de arte, eu pretendo
mostrar
o meu espírito.
Não
concebo uma obra de arte
dissociada
da vida.
Eu,
o senhor Antonin Artaud,
nascido
em Marselha
no
dia 4 de Setembro de 1896,
eu
sou Satã e eu sou Deus,
e
pouco me importa a Virgem Maria.
Antonin
Artaud
-
Para Acabar Com o Julgamento
de Deus (excerto)
Um
sonhar-me distante, um longe incrível
É agora o meu estado: Eu sonho o Espaço
Que se fixa no mundo ao invisível
Como se o mundo andasse por meu braço,
Existo além: Sou o animal temível
De Jesus com o mundo-Deus na mão.
Sou para além do mundo concebível
Onde morre e começa a criação.
Eu, homem, sondo e meço o Infinito;
Sou corpo e espírito, esse corpo oculto,
E é só na mão de Deus que ressuscito.
E chamam a isto humana condição…
Um nada, e tudo: – Vivo e me sepulto
Dentro e fora do próprio coração.
É agora o meu estado: Eu sonho o Espaço
Que se fixa no mundo ao invisível
Como se o mundo andasse por meu braço,
Existo além: Sou o animal temível
De Jesus com o mundo-Deus na mão.
Sou para além do mundo concebível
Onde morre e começa a criação.
Eu, homem, sondo e meço o Infinito;
Sou corpo e espírito, esse corpo oculto,
E é só na mão de Deus que ressuscito.
E chamam a isto humana condição…
Um nada, e tudo: – Vivo e me sepulto
Dentro e fora do próprio coração.
Afonso
Duarte
-
Ossadas (1947)
MEMÓRiA


04MAR1678-1741
- Antonio Lucio Vivaldi, aliás Antonio Vivaldi: Compositor e músico
italiano, ligado ao barroco tardio, autor de As
Quatro Estações - «Foi um
autor de uma genial obra musical muito vasta, tendo composto centenas
de concertos e dezenas de óperas, sinfonias, serenatas, cantatas,
sonatas… Assim, conseguiu criar em grande quantidade e em
qualidade» (Nuno Sotto Mayor Ferrão).
IMAG.169-205-209-254-265-284-294-332-408-426-520
1896-04MAR1948
- Antoine Marie Joseph Artaud, aliás Antonin Artaud: Poeta,
dramaturgo, encenador e actor francês - «Exprimir
objectivamente verdades secretas… Uma linguagem mais concreta que a
utilizada para falar da esfera psicológica: mudar a finalidade da
palavra no teatro, é servir-se dela num sentido concreto e espacial,
combinando-a com tudo o que o teatro contém de espacial e de
significação concreta; é manipulá-la como objecto sólido, capaz
de abalar as coisas inicialmente no ar, e em seguida num domínio
mais misterioso e mais secreto» (O
Teatro e O Seu Duplo). IMA
G.32-97-173-179-212-577
1884-05MAR1958
- Joaquim Afonso Fernandes Duarte, aliás Afonso Duarte: Poeta
português - «Erros meus a que chamarei virtude, / Por bem vos
quero, e morro despedido / Sem amor, sem saúde, o chão perdido, /
Erros meus a que chamarei virtude. // A terra cultivei, amargo e
rude, / No sonho de melhor a ter servido; / Para ilusão de um palmo
de comprido, / A terra cultivei, amargo e rude. // E o amor? A saúde?
Eis os dois Lagos / Onde os olhos me ficam debruçados / – Azul e
roxo, rasos de água os Lagos. // Mas direis, erros meus, ainda
amores? / – São bonitos os dias acabados / Quando ao poente o Sol
desfolha flores.» (Sibila -
1950). IMAG.188-251-449

CALENDÁRiO
24SET-11DEZ2016
- Em Lisboa, Pavilhão Branco da Galeria Municipal apresenta Os
Pirómanos - exposição de
pintura de Rui Moreira, sendo curadores João Mourão e Nuno Faria.
14OUT2016-15JAN2017
- Em Santo Tirso, Museu Internacional de Escultura Contemporânea
expõe Escultura Íntima
de Miquel Navarro (Espanha). IMAG.261
30OUT2016-23JAN2017
- Arquivo Municipal de Lisboa expõe Visão
de Um Fotógrafo Contemporâneo
de José Luís Neto. IMAG.360-393-458

IMAG.12-64-123-253-292-338-350-395
10NOV2016
- NOS Audiovisuais estreia Saca
- O Filme de Tiago Pires de
Julio Adler; com Kelly Slater e Mick Fanning.
11NOV2016-05FEV2017
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe
Rosáceas de
Manuela Castro Martins.
BREVIÁRiO
Sony
edita em CD, sob chancela Columbia, You
Want It Darker de Leonard
Cohen.
Harmonia
Mundi edita em CD, Henri Dutilleux [1916-2013]: Tout Un Monde
Lointain por Emmanuelle Bertrand, com Luzerner Sinfonieorchester sob
a direcção de James Gaffigan. IMAG.349-421-466-547
Sem comentários:
Enviar um comentário