PRONTUÁRiO
HUMORES
Parece
incrível, mas é uma verdade sensacional: Charlie Brown e os seus
compinchas, mais conhecidos por Peanuts,
celebraram meio século em pleno ano 2000. Tudo começou a 2 de
Outubro de 1950, em tira diária publicada no Saturday
Evening Post.
Tinha assinatura de Charles
Monroe Schulz,
um artista simpático mas reservado, nascido em Minneapolis, a 26 de
Novembro de 1922. Aquela que se converteria na mais popular e
estilizada expressão pós-moderna dos quadradinhos americanos, pelo
humor sofisticado ao nível infantil, familiar e social, Peanuts
simboliza, afinal, uma saga histórica e cultural da própria
América. Tudo culminaria a 13 de Fevereiro de 2000, quando se
consumou a morte há meses anunciada dos Peanuts.
Horas antes, Schulz falecera, de cancro no cólon. Assim, do
nascimento à despedida, expande-se a glória dos Peanuts.
Com publicação em mais de dois mil e seiscentos jornais em todo o
mundo, sendo na terra natal a favorita para noventa milhões de
leitores. Mas Charlie Brown, Snoopy, Linus, Lucy ou Woodstock foram
reproduzidos em milhares de artigos - bonecos, vestuário, cartazes -
que rendem anualmente uns cinquenta milhões de dólares.
IMAG.11-29-106-118-263-396-481-489-681-698-742
CALENDÁRiO
23JAN-20MAI2019
- Em Lisboa, Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia / MAAT
apresenta Anátema
- exposição de escultura de Ana Santos, sendo curadora Ana
Anacleto.
08MAR-12MAI2019
- No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Si
Tú Me Olvidas de Tamia
Dellinger e Alejandra Ferrer.
13MAR-14ABR2019
- Centro de Exposições de Odivelas/CEO apresenta Espaço
Interrompido - exposição de
escultura de Pedro Figueiredo. IMAG.626
14MAR2019
- Desforra Apache estreia Chuva
É Cantoria Na Aldeia dos Mortos (2018)
de João Salaviza e Renée Nader Messora; com Henrique Ijhãc Krahô
e Raene Kôtô Krahô. IMAG.269-409-595
14MAR2019
- Pris Audiovisuais estreia Ladrões
de Tuta e Meia (2019) de Hugo
Diogo; com Rui Unas e Leonor Seixas. IMAG.325-778
BREVIÁRiO
Caminho
edita A Revolução de 1383 de
António Borges Coelho. IMAG.131-189-219-614
VISTORiA
que
eu aprenda tudo desde a morte,
mas não me chamem por um nome nem pelo uso das coisas,
colher, roupa, caneta,
roupa intensa com a respiração dentro dela,
e a tua mão sangra na minha,
brilha inteira se um pouco da minha mão sangra e brilha,
no toque entre os olhos,
na boca,
na rescrita de cada coisa já escrita nas entrelinhas das coisas,
fiat cantus! e faça-se o canto esdrúxulo que regula a terra,
o canto comum-de-dois,
o inexaurível,
o quanto se trabalha para que a noite apareça,
e à noite se vê a luz que desaparece na mesa,
chama-me pelo teu nome, troca-me,
toca-me
na boca sem idioma,
já te não chamaste nunca,
já estás pronta,
já és toda
mas não me chamem por um nome nem pelo uso das coisas,
colher, roupa, caneta,
roupa intensa com a respiração dentro dela,
e a tua mão sangra na minha,
brilha inteira se um pouco da minha mão sangra e brilha,
no toque entre os olhos,
na boca,
na rescrita de cada coisa já escrita nas entrelinhas das coisas,
fiat cantus! e faça-se o canto esdrúxulo que regula a terra,
o canto comum-de-dois,
o inexaurível,
o quanto se trabalha para que a noite apareça,
e à noite se vê a luz que desaparece na mesa,
chama-me pelo teu nome, troca-me,
toca-me
na boca sem idioma,
já te não chamaste nunca,
já estás pronta,
já és toda
Herberto
Helder
-
A Faca Não Corta o Fogo
(2008)
MEMÓRiA
1901-16NOV1960
- William Clark Gable, aliás Clark Gable: Actor americano de cinema
- «Francamente, minha cara, eu não estou interessado» (como Rhett
Buttler para Scarlett O’Hara, aliás Vivien Leigh, em E
Tudo o Vento Levou / Gone With the Wind
- 1939). IMAG.46-230-312-334-449-652
17NOV1910-2003
- Rachel de Queiroz: Ficcionista, poeta e dramaturga brasileira - «Na
minha infância, todas as velhas só viviam na igreja… Velha sem
religião, quem inaugurou foi minha geração.» (Rachel
- Vida e Obra - excerto,
1998). IMAG.299-441
18NOV1910-2011
- Gunnar Fischer: Director de fotografia sueco, mestre do preto e
branco, trabalhou com Ingmar Bergman em O
Sétimo Selo e Morangos
Silvestres (1957) - «Desde
início, fizemos o pacto de que nunca seríamos escravos ou
bajuladores um do outro». IMAG.362
19NOV1920-29AGO1980
- António
Martinho do Rosário, aliás
Bernardo Santareno: Escritor português, ficcionista e poeta,
dramaturgo - «Tenho
45 anos e estou farto, cansado, já não acredito em nada. Esta será
a minha última peça. Estou desesperado e a vida dói-me
horrivelmente. Sim, esta representação é, gostaria que fosse, uma
despedida. Uma despedida sem amor. Perdi tudo.»
(Português,
Escritor, 45 Anos de Idade
- excerto, 1974).
IMAG.155-169-288-635-648-696
20NOV1900-1985
- Chester Gould: Autor americano de banda desenhada, criador de Dick
Tracy (1931) - «Convenci-me
de que, se a polícia não conseguia capturar os bandidos, tinha eu
de criar um herói capaz de lhes dar caça».
IMAG.24-151-277-341-514
1828-20NOV1910
- Lev/Leon Nikolaievitch Tolstoi, aliás Lev/Leon Tolstoi: Escritor
russo - «Os ricos fazem tudo pelos pobres, menos descerem dos seus
ombros».
IMAG.56-194-299-305-358-363-444-506-515-527-593-602-616-674-679
20NOV1940-2014
- Helma Sanders-Brahms: Realizadora alemã, argumentista, actriz e
produtora, membro destacado do novo
cinema alemão, Oficial da
Ordem das Artes e das Letras de França. IMAG.518
23NOV1930-2015
- Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira, aliás Herberto
Helder: Poeta e ficcionista português, autor de Retrato
Em Movimento (1967) - «O
melhor que disseram de mim foi quando estiveram calados» (1965).
IMAG.221-245-325-440-487-504-519-562-597-614-648-772
VISTORiA
Uma
mulher foi visitar a sua irmã mais nova que vivia no campo; a
primeira estava casada com um mercador da cidade, a outra com um
camponês da aldeia; quando estavam a tomar o chá, a mais velha
começou a gabar a vida da cidade, dizendo que se vivia por lá com
todo o conforto, que toda a gente andava bem arranjada, que as filhas
tinham vestidos lindíssimos, que se bebiam e comiam coisas
magníficas e que se ia ao teatro, a passeios e a festas. A irmã
mais nova, um pouco despeitada, mostrou todos os inconvenientes da
vida do comércio e exaltou as vantagens da existência dos
camponeses.
Não
trocaria a minha vida pela vossa; é certo que vivemos com alguma
rudeza, mas, pelo menos, não estamos sempre ansiosos; vocês vivem
com mais conforto e mais elegância, mas ganham muitas vezes mais do
que precisam e estão sempre em riscos de perder tudo; lá diz o
ditado: «Estão juntos na merca o ganho e a perca»; quem está rico
num dia pode, no dia seguinte, andar a pedir pão pelas portas; a
nossa vida é mais segura; se não é farta é, pelo menos, comprida;
nunca seremos ricos, mas sempre teremos bastante que comer.
A
irmã mais velha replicou com zombaria:
Bastante?
Sim, bastante, se vocês se contentarem com a vida dos porcos e das
vitelas. Que sabem vocês de elegância e de boas maneiras? Por mais
que o teu marido trabalhe como um escravo, vocês hão-de morrer como
têm vivido
num monte de estrume; e os vossos filhos na mesma.
Bem,
e depois?
retorquiu-lhe a outra.
Não nego que o nosso trabalho seja rude e grosseiro; mas em
compensação é seguro e não precisamos de nos curvar diante de
ninguém; vocês, na cidade, vivem rodeados de tentações; hoje tudo
corre bem, mas amanhã o Diabo pode tentar o teu marido com a bebida,
o jogo ou as mulheres
e lá se vai tudo. Bem sabes que é o que sucede muitas vezes.
Pahóm, o dono da casa, estava deitado à lareira e escutava a conversa das mulheres.
Pahóm, o dono da casa, estava deitado à lareira e escutava a conversa das mulheres.
«É
realmente assim»
pensava ele. «Os lavradores ocupados desde meninos no amanho da
terra não têm tempo para pensar em tolices; o que nos consome é,
só, não termos terra bastante; se eu tivesse toda a terra que
quero, nem o Diabo seria capaz de me meter medo.»
Leon
Tolstoi
-
De Quanta Terra
Precisa o Homem
(excerto, 1886)
O
homem feliz é o que não tem passado. O maior dos castigos, para o
qual só há pior no inferno, é a gente recordar. Lembrança que vem
de repente e ataca como uma pontada debaixo das costelas, ali onde se
diz que fica o coração. Alguém pode ter tudo, mocidade, dinheiro
no bolso, um bom cavalo debaixo das pernas, o mundo todo ao seu
dispor. Mas não pode usufruir nada disso por quê? Porque tem as
lembranças perturbando. O passado te persegue, como um cão perverso
nos teus calcanhares. Não há dia claro, nem céu azul, nem
esperança de futuro, que resista ao assalto das lembranças.
Rachel
de Queiroz
-
Memorial de Maria Moura
(excerto, 1992)
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