terça-feira, fevereiro 20, 2018

IMAGINÁRiO #703

José de Matos-Cruz | 16 Abril 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

IMPLICAÇÕES
Popular herói da escola europeia, Ric Hochet participa numa emissão televisiva em directo, quando é contactado ao telefone por uma vidente. Convicta de que ele cometeu um erro durante a sua última investigação, vinda a público em Bd Meurtres, a amável jovem tenta convencê-lo a procurá-la nas Ardenas, onde reside. Seria uma questão de vida ou de morte - pois, segundo lhe revela, já em privado, o presumível culpado ainda fará correr muita tinta! Ora, de facto, alguns dias mais tarde, o estranho indivíduo evade-se da prisão, onde estava detido. No mundo restrito dos fanáticos de quadradinhos, o pânico alastra. E com razão - pois, enquanto na região se celebra o sabbat des macrales, uma tradição folclórica que serviria para ressuscitar os feiticeiros de outrora, um deles é brutalmente agredido. E Ric Hochet vê-se, sem querer, envolvido nessa aparente confusão sobrenatural: será que o suposto assassino, ávido de vingança, voltou às suas nefandas proezas, disfarçado de macrale? Ou tudo não passará de um golpe de publicidade, forjado pela insinuante interlocutora de Ric Hochet, aproveitando uma tal mascarada ritual?
Com argumento de André-Paul Duchâteau, para ilustração de Tibet/Gilbert Gascard (1931-2010), eis La Sorcière… Mal Aimée (2000), sob chancela Le Lombard. Celebrando os cinquenta anos de fidelidade constante de Ric Hochet à editora primordial de bande dessinée - cuja vocação se instalaria entre várias gerações de leitores, dos 7 aos 77 anos! IMAG.284-344

CALENDÁRiO

16NOV2017-18MAR2018 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga / MNAA expõe As Ilhas do Ouro Branco - Encomenda Artística Na Madeira (Séculos XV-XVI), sendo curadores Fernando António Baptista Pereira e Francisco Clode de Sousa.

17NOV2017-13JAN2018 - Em Lisboa, Fundação Carmona e Costa expõe Território Anagramático de Ana Hatherly (1929-2015), sendo curador João Silvério. IMAG.63-208-233-435-461-580-641-689

1954-21NOV2017 - Fernando Relvas: Artista português de banda desenhada, autor de Cevadilha Speed (1982) - Um «percurso nervoso por entre géneros e humores, métodos e técnicas, veículos de publicação e modos de produção e circulação [que] servirá de retrato de uma incessante e intranquila busca pela expressividade própria da banda desenhada» (Pedro Moura). IMAG.4-284-516-521-658

23NOV2017 - Nitrato Filmes estreia Centro Histórico (2012) de Manoel de Oliveira, Pedro Costa, Aki Kaurismaki e Victor Erice; e 3X3D - Visões de Guimarães (2012) de Edgar Pêra, Peter Greenaway e Jean-Luc Godard.

25NOV2017-26JAN2018 - Em Setúbal, Galeria 11 expõe Pinturas de Lauro Corado (1908-1977).

PARLATÓRiO

Pensamos demasiado.
Sentimos muito pouco.
Precisamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida tornar-se-á violenta
E tudo se perderá.
Charles Chaplin

Chavela Vargas

Não acredito que haja neste mundo um palco suficientemente grande para ela…
Fez do abandono e da desolação uma catedral na qual cabíamos todos e de que saíamos reconciliados com os nossos próprios erros, e dispostos a continuar a cometê-los.
Pedro Almodóvar

VISTORiA

Deu-se conta então de que, se não quisesse passar a vida num estado de permanente tortura, tinha que apagar da memória a imagem da família e abandonar-se por inteiro à paixão intensa, quase mórbida, que lhe inspirava a alegria descontraída de Margot.
Vladimir Vladimirovich Nabokov - Riso Na Escuridão

O passado é um fantasma que não se deve convocar com médiuns ou invocar com abra essa obra. É na realidade da recor­dação um revenant irreal. Não é preciso pôr as mãos na mesa, palma para baixo, ou responder aos três toques rituais ou pergun­tar «Quem está aí?». O espírito do passado sempre está aí. Um copo d’água e uma flor amarela bastam. Não é preciso repetir frases encantatórias ou cast a spell: todos os mortos estão aí, vi­vos, exibidos detrás de uma vidraça negra, uma câmara escura, uma obra de artifício. Os entes passados vivem porque não mor­reram para nós. Vivemos porque eles não morrem. Nós somos os mortos vivos.
É no passado que vemos o tempo como se fosse o espaço. Tudo fica longe, na distância em que o passado é uma imensa campina vertiginosa, como se caíssemos de uma grande altura e o tempo da queda, a distância, nos tornasse imóveis, como aconte­ce com os mergulhadores dos penhascos, que vão caindo numa enorme velocidade e no entanto para eles não se cai nunca. Assim caímos na recordação. Nada parece ter-se movido, nada mudou porque estamos caindo a uma velocidade constante e só os que nos veem de fora, vocês leitores, se dão conta de quan­to descemos e a que velocidade. O passado é essa terra imóvel da qual nos aproximamos com um movimento uniformemente acelerado, mas o trajeto – tempo no espaço – nos impede de nos afastar para ter uma visão que não esteja afetada pela queda – espaço no tempo – voluntária ou involuntária. O tempo, mesmo detido, dá vertigem, que é uma sensação que só o espaço pode dar.
O passado só se faz visível através de um presente fictício – e no entanto toda ficção perecerá. Não restará então do passado mais que a memória pessoal, intransferível.
Guillermo Cabrera Infante
- A Ninfa Inconstante (Tradução de Eduardo Brandão)

BREVIÁRiO

Harmonia Mundi edita em CD, Wolfgang Amadeus Mozart [1756-1791]: Violin Concertos por Isabelle Faust, com Il Giardino Armonico sob a direcção de Giovanni Antonini.
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Bertrand edita Caderno Diário da Memória de Mário Augusto. IMAG.33-139-598-Extra

Asa edita 4321 de Paul Auster; tradução de Luís Rodrigues dos Santos. IMAG.119-124-205-296-508





MEMÓRiA

1805-16ABR1859 - Alexis-Charles-Henri Clérel, Visconde de Tocqueville, aliás Alexis de Tocqueville: Escritor francês, historiador e pensador político - «Existem hoje, na terra, dois grandes povos que, a partir de pontos diferentes, parecem avançar para o mesmo objetivo: são os russos e os anglo-americanos. Ambos cresceram no escuro e, quando a atenção da humanidade estava dirigida para outros lugares, colocaram-se subitamente na linha da frente das nações e, com o tempo, o mundo descobriu a sua existência e a sua grandeza. Todas as outras nações quase parecem ter atingido o extremo perante a natureza, e limitam-se a permanecer, mas aqueles povos continuam a crescer; todos os outros estão tolhidos ou prosseguem com extrema dificuldade; eles, porém, avançam sozinhos com facilidade e rapidez, ao longo de um caminho cujo culminar ainda não é conhecido». IMAG.50-152-524

16ABR1889-1977 - Charles Spencer Chaplin, aliás Charles Chaplin: Cineasta inglês, realizador e produtor, actor de teatro e cinema, vulgo Charlot - «Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades… Lembrai-vos de que as grandes obras do homem foram logradas através do que parecia impossível».
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17ABR1919-2012 - Isabel Vargas Lizano, aliás Chavela Vargas: Cantora de tradição ranchera mexicana, la Llorona, natural da Costa Rica - «A música não tem fronteiras, mas sim um final comum: o amor e a rebeldia». IMAG.420

22ABR1899-1977 - Vladimir Vladimirovich Nabokov: Escritor americano de origem russa, autor de Lolita (1955) - «Lolita, luz da minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo.Li.Ta.».
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22ABR1929-2005 - Guillermo Cabrera Infante: Escritor de origem cubana, radicado em Inglaterra - «Não me interessa a impostura literária mas a verdade que se diz com palavras que necessariamente vão umas atrás das outras, embora expressem ideias simultâneas. Sei que uma frase é sem­pre uma questão moral. Há uma memória ética? Ou é estética, isto é, selectiva?» (A Ninfa Inconstante). IMAG.28-303-407-422-503

1914-22ABR2009 - Jack Cardiff: Realizador britânico - «Uma lenda do cinema, era também um director de fotografia de craveira mundial, pioneiro nas técnicas de rodagem em Technicolor, e prestou uma contribuição única a alguns dos melhores filmes de todos os tempos» (Amanda Nevill) - distinguido pela Academia de Hollywood com um Óscar Honorário ao «mestre da luz e da cor» (2001). IMAG.247-483
 

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