quinta-feira, fevereiro 15, 2018

IMAGINÁRiO #702

José de Matos-Cruz | 08 Abril 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ANIMAÇÕES
Alice No País das Maravilhas (2010) de Tim Burton
Hoje em dia, ao referir-se animação, há que abstrair de todas as noções que, convencionalmente, caracterizaram este género com fecundas tradições, na indústria cinematográfica. Em especial, quanto à feição clássica que, a partir dos anos ’30, no século passado, sagraria o estilo e a marca de Walt Disney. De facto, por meados da década de ’90, triunfariam as virtualidades da sofisticação em CGI (computer-generated imagery), e respectivas vanguardas estéticas - com uma fusão visionária entre a pesquisa tridimensional, e os efeitos qualitativos de textura, detalhe, luz e cor. Assim também - e paralelamente à guerra entre as grandes Companhias, pela dinâmica própria de Hollywood - o sucesso da animação primordialmente gerada por computador suscitou, desde então, um renovado interesse quanto aos processos alternativos de expressão e fabrico, expandindo-se mesmo para a transparência realista. Explorando temáticas que tinham feito história; revertendo símbolos sempre latentes, ou reactivando métodos artesanais. Por vezes, em tais motivações recorrentes confluem outros contributos efectivos, ou distintas experiências já implantadas IMAG.10-21-37-80-200

CALENDÁRiO

18OUT2017-28JAN2018 - Em Lisboa, Museu Colecção Berardo apresenta, com DocLisboa, Meus Pequenos Amores - exposição de fotografia / filme de Sharon Lockhart (EUA), sendo comissário Pedro Lapa.

26OUT2017-11FEV2018 - Em Lisboa, Museu Colecção Berardo apresenta Modernismo Brasileiro Na Colecção da Fundação Edson Queiroz - exposição colectiva de pintura e escultura, sendo curadora Regina Teixeira de Barros.

11NOV2017 - Em Lisboa, Mona - Loja de Ideias apresenta Oh Lisboa, a Tua Luz, a Minha Sombra - exposição de fotografia de Luís Mileu, sendo curador João Botelho.

13NOV-16DEZ2017 - Em Cascais, Bedeteca José de Matos-Cruz / Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana apresenta Traços & Tons - exposição de ilustração e banda desenhada por Daniel Maia.
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14NOV2017-11FEV2018 - Em Lisboa, Garagem Sul do Centro Cultural de Belém expõe Neighbourhood: Where Álvaro Meets Aldo - sobre Álvaro Siza Vieira e Aldo Rossi (1931-1997), sendo curadores Nuno Grande e Roberto Cremascoli.
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17NOV2017-31MAI2018 - Palácio Nacional de Mafra expõe Do Tratado à Obra: Génese da Arte e da Arquitectura No Palácio de Mafra, sendo comissário Paulo Pereira. IMAG.34-78-155-305-437-638-684

18NOV-12DEZ2017 - Em Lisboa, Galeria S. Mamede apresenta Retrato - exposição de desenho / pintura de Armanda Passos.

24NOV2017-27MAI2018 - Em Lisboa, Museu de Arte Popular apresenta Escher - exposição do artista holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972), com curadoria da produtora Arthemisia.

VISTORiA

O Fragmento

«Veio a luz do oriente», cantava ele,
«radiosa garantia de Deus, e as ondas aquietaram-se.
Eu podia ver línguas de terra e rochedos acossados.
Muitas vezes, pela coragem mostrada, o fado poupa o homem
se não o marcou já.»

E quando a objecção deles lhe foi dita –
em especial que a sua obra se fizera em fragmentos,
que já não podiam dizer onde estavam com ele,
que já não distinguiam primeira linha ou última linha –
respondeu com uma questão.
«Desde quando», perguntou,
«a primeira e a última linha de qualquer poema
são onde o poema principia e termina?»
Seamus Heaney
(Tradução de Vasco Graça Moura)

COMENTÁRiO

Para se ser cristão, é preciso acreditar que, durante noventa e oito mil anos, a nossa espécie sofreu e morreu, a maioria das crianças morrendo no parto, a maioria das pessoas com uma expectativa de vida de vinte e cinco anos, com fome, batalhando, guerreando, sofrendo, tudo isto durante noventa e oito mil anos, enquanto os céus observavam com completa indiferença. Então, há dois mil anos, os céus decidiram «já basta, é hora de fazermos alguma coisa», e a melhor maneira de o lograr, seria condenar alguém a um sacrifício humano, nalgum lugar da região menos instruída do Médio Oriente. Não vamos aparecer aos chineses, por exemplo, onde as pessoas sabem ler e estudar evidências, e são civilizadas. Vamos para o deserto, e façamos lá uma revelação…
Isso não faz sentido. Não é algo que possa ser credível para alguém capaz de reflectir.
Sendo assim, porque me congratulo? Porque me permite chegar ao ponto do que há de errado no outro lado do cristianismo. Porque eu acredito que os ensinamentos do cristianismo são imorais.
O ensinamento central é o mais imoral de todos, o da redenção vicária. Poderíamos, então, lançar os nossos pecados sobre outra pessoa, o que é vulgarmente conhecido como ter um bode expiatório.
Eu posso pagar a dívida de alguém, se a amar. Eu posso ir para a prisão em vez de outra pessoa, se gostar muito dela. É possível voluntariar-me a tomar uma dessas decisões. Mas não serei capaz de redimir os pecados de outrem, porque não sou capaz de abolir a sua responsabilidade e, portanto, não deveria oferecer-me para uma tal assunção. A responsabilidade de cada um, nele deve permanecer… Não existe redenção vicária.
Muito provavelmente, não existe sequer redenção. Trata-se, apenas, de uma expectativa, e não me parece que viver de expectativas seja bom para as pessoas. Tal pode, até, contaminar a questão central – a palavra que eu acabei de usar, a palavra mais importante de todas: a palavra amor. Ao tornar o amor compulsório, ao dizer que devemos amar. Amar o nosso vizinho como a nós mesmos, algo que, na verdade, não conseguimos fazer. Acabamos sempre por falhar e, por isso, sempre nos consideraremos culpados.
Ao preconizar-se que devemos amar alguém, a quem também temos de temer… Um ser supremo, um pai eterno. Alguém de quem devemos ter medo, mas que também deveremos amar… E, se falharmos nessa tarefa, tornamo-nos outra vez um desprezível pecador… Isso não é mentalmente, moralmente ou intelectualmente sadio.
E, portanto, conduz-me à objecção final, que é: trata-se de um sistema totalitário. Se houvesse um deus que pudesse fazer tais coisas, e exigir tais coisas, e que fosse eterno e imutável, nós estaríamos a viver sob uma ditadura sem direito de apelação. Uma que jamais poderia mudar. Uma que sabe o que pensamos, e nos pode condenar por crimes de pensamento. Condenar-nos a uma punição eterna, por acções que, desde o início, estamos fadados a tomar.
Por tudo isto – e resumindo, pois poderia referir muito mais – limitar-me-ei a acrescentar que é, sobretudo, importante não existir absolutamente nenhum motivo para acreditar que algo do que tratámos seja verdadeiro.
Christopher Hitchens

MEMÓRiA

08ABR1929-1978 - Jacques Romain Georges Brel, aliás Jacques Brel: Cantor, poeta e compositor belga - «A sanduíche que comi na carruagem de 3ª classe que me levou a Paris tinha um sabor único: estava perfumada pela aventura, a esperança, a felicidade». IMAG.179-198-222-678

1925-12ABR2009 - John Royden Maddox, aliás John Maddox: Físico e professor, escritor e jornalista especializado em temas científicos, director da revista Nature - «É necessário introduzir a magia na explicação do fenómeno físico e biológico». IMAG.246-540

13ABR1909-2001 - Eudora Alice Welty, aliás Eudora Welty: Escritora americana, autora de A Filha do Optimista (1972) - «Ao escrever, tento entrar na mente, no coração, na pele de um ser humano, que não eu. Seja ele homem ou mulher, jovem ou velho, preto ou branco, o primeiro desafio consiste em lograr tal transferência. Ao dar curso à imaginação, tenho a sensação de que estou a pairar». IMAG.240-331-427

13ABR1949-2011 - Christopher Eric Hitchens, aliás Christopher Hitchens: Escritor e ensaísta inglês, radicado nos EUA - «O que pode ser afirmado sem provas, também sem provas pode ser rejeitado». IMAG.476

13ABR1939-2013 - Seamus Justin Heaney, aliás Seamus Heaney: Poeta e ficcionista irlandês, autor de Luz Eléctrica, distinguido com o Prémio Nobel em 1995 - «Os [seus] poemas raramente questionam. Usam uma índole afirmativa, mas que se não confunde com altivez; são por vezes alívios de uma identidade, como se esse falar pudesse fazer esquecer parcialmente, pudesse perdoar, fazer com que o tempo actual seja uma espécie de tempo-zero a partir do qual tudo pode, mais uma vez, começar» (Sylvia Beirute). IMAG.481

14ABR1629-1695 - Christiaan Huygens: Matemático, físico e astrónomo holandês - «A matemática é o som». IMAG.46

1685-14ABR1759 - Georg Friedrich Händel: Compositor alemão nascido em Halle, autor de Il Caro Sassone - «É tão grande e tão simples que apenas um profissional poderá compreendê-lo» (Samuel Butler). IMAG.196-222-243-253-296-376-411-426-439-503

14ABR1889-1975 - Arnold Joseph Toynbee, aliás Arnold Toynbee: Historiador britânico, escritor e professor universitário, pensador da história e da economia - «Estou convencido de que nem a ciência nem a tecnologia poderão satisfazer as necessidades espirituais a que todas as possíveis religiões procuram atender».

14ABR1929-2012 - Gerald Alexander Abrahams, aliás Gerry Anderson: Autor e produtor britânico, criador das séries televisivas Thunderbirds (1965-1966) com marionetas, e Espaço 1999 / Space: 1999 (1975-1977) protagonizada por Martin Landau. IMAG.8-49-446

15ABR1949-2005 - Laurence Harlé: Argumentista francesa, criadora de Jonathan Catland (1973) - «Uma voz feminina, sensível e apaixonada, mas também uma exigência de verdade e uma raiva contra a injustiça, o racismo, a exclusão» (Radio France). IMAG.45

BREVIÁRiO

Quetzal edita A Seta do Tempo de Martin Amis; tradução de Jorge Pereirinha Pires. IMAG.157-313-630

Tinta da China edita Tenho Cinco Minutos Para Contar Uma História de Fernando Assis Pacheco (1937-1995). IMAG. 117-190-317-416-539-549-597-637

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