terça-feira, outubro 03, 2017

IMAGINÁRiO #683

José de Matos-Cruz | 16 Novembro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO

MARAVILHAS
«Naufragar, só por si, já é terrível, mas naufragar em algo que não existe, é ainda mais terrível…» - assim introduz Fred o desafio heróico de Philémon, ao precipitar-se num «mundo maravilhoso». Definição esta atribuída por René Goscinny, em 1965, responsável pela revista Pilote quando O Náufrago do “A” / Le Naufragé du “A” lhe foi proposto, reclamando Fred o argumento e a ilustração. Em boa hora, pois garantiam-se as plenas características de uma obra-prima incomparável - graças à imaginação prodigiosa de Fred, aliás Frédéric Othon Théodore Aristidès (1931-2013), um dos mais talentosos / virtuais artistas dos quadradinhos franceses para adultos. Onírico, absurdo, surreal, satírico, Fred concebe / ilustra O Náufrago do “A”, espraiado entre umas misteriosas ilhas do Atlântico… Narração fascinante, expressão estilizada - uma fábula clássica, e cuja actualidade testemunha, com sugestão cultural / nostálgica, as contradições e os paroxismos da nossa sociedade, através da volúvel identidade humana. IMAG.459-495

INVENTÁRiO

Guilherme Centazzi
Em 1840 foi publicado em Lisboa, pela Tipografia de António José da Rocha, o primeiro tomo do romance O Estudante de Coimbra, do médico português Guilherme Centazzi, com o subtítulo Relâmpago da História Portuguesa Desde 1826 até 1838. No ano seguinte seriam publicados mais dois tomos.
Sendo a segunda obra de ficção em prosa de Centazzi - que havia publicado, em 1838, Carlos e Julieta -, O Estudante de Coimbra constitui um marco fundamental, pela sua estrutura e estilos narrativos, na Literatura Portuguesa, devendo considerar-se o pioneiro romance moderno escrito por autores portugueses.
Com efeito, embora ainda em finais dos anos 30 do século XIX tenham começado a surgir diversos contos em revistas literárias, nomeadamente n’O Panorama e no Mosaico, considerava-se, até agora, que fora Alexandre Herculano e Almeida Garrett que tinham introduzido em Portugal o romantismo, quer através de Eurico, o Presbítero quer com O Arco de Santana e Viagens na Minha Terra. Porém, na verdade, o romance O Estudante de Coimbra é, do ponto de vista cronológico, anterior a todas estas obras de ficção.
Contudo, por razões desconhecidas, nunca até agora este romance de Guilherme Centazzi foi referenciado como a pioneira obra de ficção moderna portuguesa, sendo omitida na generalidade dos ensaios literários e académicos desde o Século XIX até aos nossos dias.

CALENDÁRiO

5MAI-08OUT2017 - Em Lisboa, Pavilhão Branco da Galeria Municipal apresenta O Oco e a Emenda - exposição de escultura de Paloma Bosquê (Brasil).

19MAI-17SET2017 - Em Lisboa, Museu Colecção Berardo expõe Aprender a Viver Com o Inimigo de Pedro Neves Marques, sendo curador Pedro Lapa.

20MAI-03SET2017 - Em Lisboa, Carpintarias de São Lázaro apresenta, no âmbito da Capital Ibero-Americana de Cultura, Shadows - exposição sobre fotografia de Alfredo Jaar (Chile).

13JUL-07OUT2017 - Em Lisboa, Museu do Dinheiro apresenta Marca de Água - exposição de escultura de Carla Rebelo.

20JUN1928-15JUL2017- Martin Landau: Actor americano de cinema e televisão - «Ninguém me conhecia… Apenas sabiam - produtores, realizadores, directores dos estúdios - que eu era o sujeito de Missão Impossível [1966]». IMAG.134-446

COMENTÁRiO

A MÁSCARA DE ZORRO
Forjado por uma insinuante mescla entre sucesso e sortilégio, o culto dos heróis corresponde aos valores em causa numa época mitificada, e às virtualidades de uma reciclagem em cada período de crise ou nostalgia. Estes vectores, que se afirmaram da memória popular aos clássicos da literatura, lograram uma correspondência alusiva no imaginário cinematográfico, sob o signo de Hollywood.
Assim, raras personagens tiveram tal notoriedade e desempenho como Zorro, ao longo de décadas. Recriado na sua autenticidade, alvo de versões subvertoras, ou suscitando inúmeras interpretações apócrifas. Afinal, esta figura irradiante, sombria, sugere todas as potencialidades para exaltação: como um conceito, entre os desígnios do bem e do mal; como um símbolo, nos desafios da justiça contra a exploração.
Mas Zorro possui, também, os sinais peculiares mais representativos: quanto à sua história, sobre a realidade envolta, através do aspecto e no estigma ritual… Trata-se de um aventureiro romântico, ou de um misterioso vingador? Quanto ao romanesco original, resultou dos talentos do escritor Johnston McCulley - em episódios publicados na revista All Story, desde 1919 - inspirado em The Scarlet Pimpernel.
No ano seguinte, as proezas de Zorro agitavam o ecrã - com Douglas Fairbanks, dirigido por Fred Niblo. Noutras cerca de quarenta transposições, sobressaem John Carroll (1937) em serial de William Witney & John English, Tyrone Power (1940) por Rouben Mamoulian, Frank Langella (1974) por Don McDougall, Alain Delon (1974) por Duccio Tessari, ou George Hamilton (1981) numa paródia de Peter Medak…
No entanto, o filão estava latente há cerca de meio século - quanto ao estímulo genuíno de garbo e bravura, ou às características espectaculares. Até que, por 1992, Steven Spielberg adquiriu os direitos à Família Gertz, que obtivera o exclusivo de McCulley em 1950. Aliando a Amblin à TriStar, Spielberg - apenas produtor - via Andy Garcia como Zorro, privilegiando Mikael Salomon entre os realizadores.
Ora, o preciosista Salomon abdicou e, em 1994, emergiu um fenomenal Robert Rodriguez. Porém, Spielberg optou por um director mais seguro e convencional - Martin Campbell, e como protagonista impôs-se Antonio Banderas - sex-symbol latino na América. Este seria o primeiro hispânico a perfilar-se na saga - e logo, caprichosamente, com A Máscara de Zorro (1998), numa assunção sucedânea.


MEMÓRiA

17NOV1928-2005 - Armand Pierre Fernandez, aliás Arman: Pintor e escultor franco-americano - «O ser humano retrata-se a si mesmo, revela o seu tempo, a sua ansiedade, os seus gritos, as suas lágrimas e as suas gargalhadas». IMAG.65

1934-17NOV2008 - Guy Peellaert: Artista belga, pintor, ilustrador, fotógrafo e autor de banda desenhada, criador de Les Aventures de Jodelle (1966) e Pravda, la Survireuse (1968) - «Um olhar crítico que jamais perde a sua frescura mesmo quando é feroz, mesmo se agita o espantalho da violência e se preconiza que, um dia, a dinamite fará tudo ir pelos ares… Reconhece-se um eco profundamente universal no seu humor corrosivo, na sua sátira do mundo mecanizado, da sociedade de consumo e dos falsos sentimentos que ela engendra» (Henry Chapier). IMAG.225-461

1797-19NOV1828 - Franz Peter Schubert, aliás Franz Schubert: Compositor austríaco: «Sinto-me o homem mais infeliz e desventurado deste mundo… Creio que nunca voltarei a estar bem, e tudo o que faço para tentar melhorar a minha situação, na realidade, torna-a pior» (1824).  
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20NOV1808-1875 - Guilherme Centazzi: Escritor português, autor de O Estudante de Coimbra (1840) - «Sem dúvida, o melhor espécime da actual escola das belles lettres portuguesas com que até à data nos deparámos» (Thomas Carlyle - Fraser's Magazine, 1848). IMAG.426-520

21NOV1898-1962 - Bernardo Loureiro Marques, aliás Bernardo Marques: Artista português, pintor, gráfico, ilustrador - «Os gestos do início, inseguros, sem peso, aqui e ali postos como armadilhas de imagens que em breve se precisam com outros, muitos, sobrepostos, cruzados, ora sustidos como uma respiração súbita, ora desencadeados com uma certeza imediata. Por eles passam a luz e a sombra, e o corpo das coisas é deles feito» (Fernando de Azevedo). IMAG.203-309

1924-22NOV1978 - Vasco Manuel Veiga Morgado, aliás Vasco Morgado: Empresário teatral e actor do cinema português - «…Era um homem charmoso, um galã… Uma pessoa adorável, criou-se entre nós uma amizade que durou até ao fim da vida. A morte do Vasco pode ser a primeira que me marcou» (Ana Zanatti). IMAG.151-203-363-467

1883-23NOV1958 - Johnston McCulley: Escritor canadense, autor de Zorro, aparecido na revista All Story em 1919 - «Todos usam máscaras, em sociedade… Tem a ver com o modo como as pessoas se manifestam, como se comportam… É algo a que todos nós recorremos». IMAG.71-87-204-209-405

BREVIÁRiO

Dom Quixote edita A Vegetariana de Han Kang; tradução de Maria do Carmo Figueira.

Guerra & Paz edita Madame Bovary de Gustave Flaubert (1821-1880); tradução de Helder Guégués. IMAG.68-154-170-275-287-350-412-680

Livros do Brasil edita O Mito de Sísifo de Albert Camus (1913-1960): tradução de Urbano Tavares Rodrigues. IMAG.258-441-508-537-577-615

Sony Music Portugal edita em CD, sob chancela Columbia Records, Lazarus Cast Album por Original New York Cast, David Bowie (1947-2016).  
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