quarta-feira, setembro 07, 2016

IMAGINÁRiO #626

José de Matos-Cruz | 08 Setembro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ALTERNATIVAS
Um lendário criador dos quadradinhos americanos, Stan Lee - pai de Spiderman, Hulk ou X-Men - foi, em 2001, homenageado pelos DC Comics, com a fascinante vertente Just Imagine. Tendo como base o conceito e o carácter de heróis primordiais, o celebrado artista é colocado em virtual aliança, com alguns maiores autores da actualidade, numa perspectiva editorial. Assim, Just Imagine Stan Lee With Jim Lee Creating Wonder Woman considera o fenomenal fundador da WildStorm, para apresentar uma bela e brava justiceira, em acção na selva do Perú. Quando a sua terra natal é espoliada dos tesouros ancestrais, a idealista Maria Mendonza serve-se dum artefacto mágico para adquirir os extraordinários poderes de Wonder Woman, combatendo o cruel e odiado Señor Gómez - também responsável pela morte de seu pai, um prestigiado juíz… Imaginada pela dupla Lee - a propósito, não há parentesco entre Stan e Jim - esta aventura exótica, empolgante, culmina com Gómez transformado pelo sinistro Reverendo Darrke numa criatura ainda mais pérfida e fatídica!
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VISTORiA
A Graça

¨Que harmonia suave
É esta, que na mente
Eu sinto murmurar,
Ora profunda e grave,
Ora meiga e cadente,
Ora que faz chorar?
Porque da morte a sombra,
Que para mim em tudo
Negra se reproduz,
Se aclara, e desassombra
Seu gesto carrancudo,
Banhada em branda luz?
Porque no coração
Não sinto pesar tanto
O férreo pé da dor,
E o hino da oração,
Em vez de irado canto,
Me pede íntimo ardor?
És tu, meu anjo, cuja voz divina
Vem consolar a solidão do enfermo,
E a contemplar com placidez o ensina
De curta vida o derradeiro termo?
Oh, sim!, és tu, que na infantil idade,
Da aurora à frouxa luz,
Me dizias: «Acorda, inocentinho,
Faz o sinal da Cruz.»
És tu, que eu via em sonhos, nesses anos
De inda puro sonhar,
Em nuvem d’ouro e púrpura descendo
Coas roupas a alvejar.
És tu, és tu!, que ao pôr do Sol, na veiga,
Junto ao bosque fremente,
Me contavas mistérios, harmonias
Dos Céus, do mar dormente.
És tu, és tu!, que, lá, nesta alma absorta
Modulavas o canto,
Que de noite, ao luar, sozinho erguia
Ao Deus três vezes santo.
És tu, que eu esqueci na idade ardente
Das paixões juvenis,
E que voltas a mim, sincero amigo,
Quando sou infeliz.
Sinta a tua voz de novo,
Que me revoca a Deus:
Inspira-me a esperança,
Que te seguiu dos Céus!…
Alexandre Herculano

Os Cavaleiros de Almacave 

De capa e volta, de calção e vara,
hei-de ir, Procurador do meu Concelho,
falar ao Senhor-Rey com fala clara,
dizer-lhe uma oratória que aparelho!

Cortes-Gerais. O Reyno se prepara
p'ra ouvir a voz dos Povos em conselho,
Monforte ao Banco-Doze me mandara.
Real! Real! e incline-se o joelho.

Ó Deus de Ourique, cumpre o prometido!
Leva-nos contra os novos muçulmanos,
nós somos livres, livre é o nosso Rey!

Eu reconheço-lhe o morrião florido.
Onde eu me achava há setecentos anos
com ele, já erguido, me encontrei!
António Sardinha
- Epopeia da Planície
MEMÓRiA

09SET1887-1925 - António Maria de Sousa Sardinha, aliás António Sardinha: Poeta e ensaísta português, membro do Integralismo Lusitano - «Meu coração de lusitano antigo / bateu às portas de Toledo, a estranha. / Mais roto e ensanguentado que um mendigo, / só a saudade os passos lhe acompanha. // Pois a saudade ali me deu abrigo, / ao pé do Tejo que a Toledo banha. / Levava os dias a falar comigo, / como um pastor com outro na montanha. // Em todo o mundo há terra portuguesa, / desde que a alma a tenha na lembrança / e a sirva sempre com fervor igual. // Talvez por isso, em horas de tristeza, / eu pude à sua amada semelhança /criar p’ra mim um novo Portugal!» (Memória - Na Corte da Saudade).IMAG.55-498

1782-10SET1857 - Sophia Petrovna Soïmonov, aliás Anne Sophie Swetchine: Mística e escritora russa, radicada em França - «A cada passo, os homens invocam a justiça, quando a justiça deveria fazê-los tremer». IMAG.395

¨ 10SET1897-1962 - Georges Albert Maurice Victor Bataille, aliás Georges Bataille: Escritor e intelectual francês, nas áreas da antropologia, filosofia, sociologia e história da arte - «Um homem que ignora o erotismo, é tão estranho como um homem sem experiência interior». IMAG.13

11SET1917-2012 - Herbert Charles Angelo Kuchacevich von Schluderbacheru, aliás Herbert Lom: Actor inglês de origem austro-húngara, personificou o Comissário Charles Dreyfus na série A Pantera Cor-de-Rosa (a partir de 1964), sendo protagonista Peter Sellers - «Ele era uma pessoa magnífica, mas muito cruel com as crianças. Comigo, acontece o contrário. São os meus filhos que me tratam mal» (2004). IMAG.429

¨ 1810-13SET1877 - Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, aliás Alexandre Herculano: Ficcionista, poeta, dramaturgo, historiador e jornalista português - «Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender». IMAG.38-95-146-220-268-309-312-321-338-384-412-416-430-489-541-544-552-618

¯27MAI1877-14SET1927 - Angela Isadora Duncan, aliás Isadora Duncan: Bailarina americana - «Quem era eu, o menino que vivia das sopas de Cerqueira César, para afrontar de perto, sozinho e a horas mortas, o gênio andejo da mulher despida que levara o escândalo de seu espírito e o fascínio de sua carne às cinco partes do mundo?» (Oswald de Andrade - Um Homem Sem Profissão).

15SET1907-2004 - Vina Fay Wray, aliás Fay Wray: Actriz do cinema americano, nascida no Canadá, protagonista feminina de King Kong (1933 - Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack) - «King Kong foi o meu namorado mais impressionante». IMAG.7-94


VISTORiA

O Erotismo Na Experiência Interior

¨ O erotismo, aspecto imediato da experiência interior, opondo-se à sexualidade animal
O erotismo é um dos aspectos da vida interior do homem. Nisso nos enganamos, porque ele procura constantemente fora um objecto de desejo. Mas este objecto responde à interioridade do desejo. A escolha de um objecto depende sempre dos gostos pessoais do indivíduo: mesmo se ela recai sobre a mulher que a maioria teria escolhido, o que entra em jogo é frequentemente um aspecto indizível, não uma qualidade objectiva dessa mulher, que talvez não tivesse, se ela não nos tocasse o ser interior, nada que nos forçasse a escolhê-la. Em resumo, mesmo estando de acordo com a maioria, a escolha humana difere da do animal: ela apela para essa mobilidade interior, infinitamente complexa, que é típica do homem. O animal tem ele próprio uma vida subjectiva, mas essa vida, parece, é-lhe dada, como acontece com os objectos sem vida, de uma vez por todas. O erotismo do homem difere da sexualidade animal justamente no ponto em que ele põe a vida interior em questão. O erotismo é na consciência do homem aquilo que põe nele o ser em questão. A própria sexualidade animal introduz um desequilíbrio e este desequilíbrio ameaça a vida, mas o animal não o sabe. Nele nada se abre que se assemelhe com uma questão.
Seja como for, se o erotismo é a actividade sexual do homem, é-o na medida em que ela difere da dos animais. A actividade sexual dos homens não é necessariamente erótica. Ela o é sempre que não for rudimentar, que não for simplesmente animal.
Georges Bataille
- O Erotismo (1957, excerto
- Tradução de Antonio Carlos Viana)
CALENDÁRiO

¢14MAI-04SET2016 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresenta Quasi Tutto - exposição de pintura e desenho de Giorgio Griffa, sendo curador Andrea Bellini.

¢17JUN-28AGO2016 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta No Limite da Forma - exposição de escultura de Pedro Figueiredo.

23JUN-26AGO2016 - Na Bedeteca da Amadora, Clube Português de Banda Desenhada / CPBD apresenta Augusto Trigo e Jorge Magalhães - exposição da obra conjunta do ilustrador e do argumentista. IMAG.126-129-132-149-160-234-256-385-414-416-430-453-550

BREVÁRiO

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Sistema Solar edita O Nascimento da Arte de Georges Bataille (1897-1962); tradução de Aníbal Fernandes.

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