terça-feira, agosto 30, 2016

IMAGINÁRiO #624

José de Matos-Cruz | 24 Agosto 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ILUSTRAÇÕES
Em 2000, um dos mais prestigiados criadores portugueses de quadradinhos, também distinto artista plástico, Carlos Alberto Santos regressou ao convívio do grande público com Guerra Peninsular 1, ilustrando a Infantaria 1806-1815. Os seus admiradores de sempre puderam apreciar esta expressão peculiar em Guerra e Paz - Colecção «alicerçada em detalhada e aprofundada informação sobre uniformes, equipamentos, armamentos e organização».
Uma iniciativa das Edições Destarte, dirigida por Jorge Linhares e com apresentação bilingue, sendo autor do texto Manuel A. Ribeiro Rodrigues. Em Prefácio, faz-se luz sobre a história: «A organização do Exército de 19 de Maio de 1806, ampliada pelo Decreto de fins de Outubro de 1807, não chegou a ter execução prática senão em 1808, em virtude de, a 30 de Novembro de 1807, Junot - à testa de quarenta e cinco mil homens de tropas francesas e espanholas - ter invadido Portugal sem declaração de guerra, com a desculpa de nos quererem livrar da “influência maligna” da Inglaterra». Aos leitores atraídos para além da banda desenhada, sugerem-se ainda As Campanhas Ultramarinas 1961/1974 - Guiné, Angola e Moçambique - Exército (2000). IMAG.149-256-487

COMENTÁRiO

Na sua lírica fluidez, Meteorologias envolve-nos numa experimentação silenciosa com o tempo, a duração e o ritmo. A sua forma – o estilo mutável dos desenhos, a sequenciação das vinhetas e a composição das páginas – suscita uma reflexão sobre temporalidades múltiplas que se entrelaçam: a duração e as cadências variáveis da leitura, a velocidade e as intensidades do desenho, bem como a relação entre o tempo histórico, de escala humana, e o profundo e anti-humano tempo geológico.
Aarnoud Rommens
- Prefácio a Meteorologias de Diniz Conefrey

CALENDÁRiO

¯1928-28MAI2016 - Vicente Maria do Carmo de Noronha da Câmara, aliás D. Vicente da Câmara: Fadista português, intérprete e autor, distinguido com o Prémio Amália Rodrigues/Carreira (2013) - «O que é a aristocracia? A aristocracia tanto pode estar no povo, como noutra coisa qualquer… O aristocrata é aquele que sobressaiu».

¢02JUN-04SET2016 - Museu de Évora apresenta as exposições de pintura Ilha dos Imortais de Tereza Trigalhos e Global Make - Up Program de Zoran (Sérvia).

03JUN-03JUL2016 - Em Setúbal, Galeria da Casa da Cultura apresenta Fónix - exposição de ilustração de Nuno Saraiva.IMAG.4-311-424-538

06JUN2016 - Em Ourique, Centro de Arqueologia Caetano de Mello Beirão expõe Depósito Votivo de Garvão - II Idade do Ferro.

VISTORiA

Carta a Ninguém

Não tornes a queixar-te! Se morreu
aquele grande amor e malfadado,
porque o mataste, filha? Ai! o culpado
bem vês que não fui eu…

Julguei-te abandonada, solitária:
quis fazer da tu’alma a ideal
e doce irmã da minha... e afinal
ela era como as outras? ordinária…

Não tornes a queixar-te mais de mim!
Eu não te posso amar: amar assim,
como os outros, não sei... era um engano…

Foi bem maior que a tua a minha dor:
tu sofreste o desamor,
mas eu, filha, sofri? o desengano…
Manuel Laranjeira
- Comigo. Versos Dum Solitário

VISTORiA

Durante algumas semanas, levei uma vida miserável no bosque, procurando curar a ferida aberta. A bala tinha entrado no ombro e não sabia se lá havia ficado alojada; fosse como fosse, não dispunha do necessário para a extrair. O meu padecimento era ainda acrescentado pela injustiça e ingratidão com que fora tratado. Diariamente jurava vingar-me, jurava uma profunda e mortífera vingança, a única que poderia compensar-me dos ultrajes e das agonias que suportara.
Ilustração de Bernie Wrightson
Passadas várias semanas, a minha ferida curou e prossegui viagem. Já nem o sol brilhante nem as benfeitoras brisas primaveris conseguiram aliviar-me nos meus esforços; todo o júbilo era apenas um engano que insultava o meu estado de desolação, e fazia-me sentir mais dolorosamente que não fora criado para desfrutar nada na vida.
Mary Shelley
- Frankenstein (excerto)
A Serpente Que Dança

Em teu corpo, lânguida amante,
Me apraz contemplar,
Como um tecido vacilante,
A pele a faiscar.
Em tua fluida cabeleira
De ácidos perfumes,
Onde olorosa e aventureira
De azulados gumes,
Como um navio que amanhece
Mal desponta o vento,
Minha alma em sonho se oferece
Rumo ao firmamento
Teus olhos que jamais traduzem
Rancor ou doçura,
São jóias frias onde luzem
O ouro e a gema impura.


Ao ver-te a cadência indolente,
Bela de exaustão,
Dir-se-á que dança uma serpente
No alto de um bastão.
Ébria de preguiça infinita,
A fronte de infanta
Se inclina vagarosa e imita
A de uma elefanta.
E teu corpo pende e se aguça
Como escuna esguia,
Que às praias toca e se debruça
Sobre a espuma fria.
Qual uma inflada vaga oriunda
Dos gelos frementes,
Quando a água em tua boca inunda
A arcada dos dentes
Bebo de um vinho que me infunde
Amargura e calma,
Um líquido céu que se difunde
Astros em minha alma!
Charles Baudelaire
(tradução de Ivan Junqueira)

PARLATÓRiO

¢Só os maus artistas pensam que têm uma boa ideia. Um bom artista não precisa de nada…
Quando aparece algum jovem e pergunta onde deveria estudar pintura, a nossa vontade é recomendar algum lugar, mas a verdade é que nenhum lugar existe. Eu não saberia sugerir onde aprender…
—Ad Reinhardt
MEMÓRiA

17AGO1877-1912 - Manuel Laranjeira: Escritor e médico português - «Ânsia de amar! oh ânsia de viver! / Uma hora só que seja, mas vivida / e satisfeita… e pode-se morrer / – porque se morre abençoando a vida!» (A Tristeza de Viver). IMAG.143-359

¯24AGO1837-1924 - François Clément Théodore Dubois, aliás Théodore Dubois: Compositor, pedagogo e organista francês, maître de chapelle das Igrejas de Santa Clotilde e da Madalena (1869-1877), professor de harmonia e composição do Conservatório de Paris (1871), membro da Academia de Belas-Artes (1894).

25AGO1867-1905 - Mayer André Marcel Schwob, aliás Marcel Schwob: Escritor francês, autor de Vidas Imaginárias - «Pensa no momento… Todo o pensamento que perdura, é uma contradição!» (O Livro de Monelle). IMAG.369-502

25AGO1767-1794 - Louis Antoine Léon de Saint-Just: Ideólogo e revolucionário francês - «Todas as artes só criaram maravilhas; a arte de governar apenas produziu monstros».IMAG.476

¨ 1928-27AGO2007 - Alberto Correia de Lacerda, aliás Alberto de Lacerda: Poeta português, cofundador da revista Távola Redonda, autor de Átrio (1997) - «Os poemas / envelhecem // Alguns / (muito poucos) / vão deitando raízes / desconhecidas // No ramo mais alto / o bafo dos deuses». IMAG.163

¸ 1906-28AGO1987 - John Marcellus Huston, aliás John Huston: Cineasta americano, realizador, argumentista e actor - «Os críticos nunca conseguiram encontrar, nos meus filmes, um tema unificador… Para dizer a verdade, eu também não».IMAG.68-83-120-306-449-477-581

29AGO1817-1864 - John Leech: Ilustrador e caricaturista inglês, artista litográfico, recriou o imaginário da primeira edição de Cântico de Natal / A Christmas Carol (1943) de Charles Dickens, ou The Comic History of Rome (1852) de Gilbert Abbott A Beckett. IMAG.447-488

30AGO1797-1851 - Mary Wollstonecraft Godwin, aliás Mary Shelley: Escritora inglesa, ficcionista e ensaísta - «A mesma energia de carácter que transforma um homem num vilão perigoso, poderia reverter a bem da sociedade, caso esta estivesse bem organizada». IMAG.26-79-94-309-365-530-617

¢1913-30AGO1967 - Adolph Frederick Reinhardt, aliás Ad Reinhardt: Pintor norte-americano, abstracto e conceptual, entre a vanguarda e o modernismo - «Arte é Arte. Todo o resto é todo o resto… Pela minha parte, tentei opor o académico ao mercado».IMAG.448

1821-31AGO1867 - Charles-Pierre Baudelaire, aliás Charles Baudelaire: Poeta francês - «Odeio do oceano as iras e os tumultos, / Que retratam minh’alma! O riso singular / E o amargo do infeliz, misto de pranto e insultos, / É um riso semelhante ao do soturno mar.» (Obsessão - excerto). IMAG.44-69-144-318-524

BREVIÁRiO

Quarto de Jade edita Meteorologias de Diniz Conefrey.IMAG.289-301-325-332-377-395-430-448-504-534-596

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