sábado, setembro 19, 2015

IMAGINÁRIO #575

José de Matos-Cruz | 16 Agosto 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004



PRONTUÁRiO
 
BIZARRIAS
O que acontece quando alguns dos artistas mais inovadores dos quadradinhos actuais deitam a mão aos mais populares super-heróis do DC Universe? A resposta é Bizarro Comics - uma colectânea surpreendente, divertida, subversiva, irresistível, distinguida com os prémios Eisner e Harvey em 2002, para Melhor Antologia. A começar pela capa de Matt Groening, o irreverente criador de The Simpsons, e continuando com Letitia Lerner, Superman’s Babysitter de Kyle Baker & Liz Glass. Páginas antes, a imaginação do editor Chris Duffy ressalta na ilustração por Stephen DiStefano (Mazing Man, Hero Hotline) - com o extravagante Mr. Mzyzptlk revivendo da 5ª Dimensão, ameaçada por dois alienígenas irresponsáveis, que pretendem enfrentar o próprio Superman! Felizmente, o Homem-de-Aço está indisponível, entretido com outras proezas sensacionais - de Jessica Abel (Artbabe), Bill Wray (The Ren & Stimpy Show), Eddie Campbell (From Hell), Dave Cooper (Weasel), Bob Fingerman (Minimum Wage), Dylan Horrock (The Names of Magic), Tony Millionaire (Sock Monkey) ou Jay Stephens (Land of Nod)

                          
CALENDÁRiO

¢29MAI-17JUL2015 - Em Lisboa, Espaço Chiado 8 expõe João Onofre Na Colecção António Cachola, sendo comissário Delfim Sardo.

¢18JUN-26OUT2015 - No Centro de Arte Moderna/CAM, em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian expõe X de [António] Charrua (1925-2008), sendo curadoras Ana Ruivo e Leonor Nazaré. IMAG.212

¢20JUN-20SET2015 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves expõe Sob as Nuvens: Da Paranoia ao Sublime Digital, sendo curador João Ribas.

24JUN-31JUL2015 - Em Lisboa, Palácio de São Bento expõe Portugal - Eusébio; a propósito da Concessão de Honras / Panteão Nacional a Eusébio da Silva Ferreira (1942-2013) em 03JUL. IMAG.496

¨26JUN-12JUL2015 - Em Cascais, Fundação D. Luís I apresenta, na Casa de Santa Maria, CIBA - Cascais International Book Art 2015.

¨26JUN-12JUL2015 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação Luís I expõe Papéis Marmoreados de Antonio Vélez Celemín.

26JUN-25OUT2015 - Em Lisboa, Museu de São Roque / Santa Casa da Misericórdia expõe De Roma Para Lisboa - Um Álbum [Weale] Para o Rei Magnânimo, sendo comissária Teresa Vale.
           
MEMÓRiA

¢1912-11AGO1956 - Jackson Pollock: Artista plástico americano, ligado ao expressionismo abstracto - «Eu não pinto a natureza, eu sou a natureza». IMAG.109-225-356-364

¨ 1924-21AGO1986 - Alexandre O’Neill: Escritor português, co-fundador do Movimento Surrealista de Lisboa - «Vós, que trabalhais só duas horas / a ver trabalhar a cibernética, / que não deixais o átomo a desoras / na gandaia, pois tendes uma ética; // que do amor sabeis o ponto e a vírgula / e vos engalfinhais livres de medo, / sem peçários, calendários, Pílula, / jaculatórias fora, tarde ou cedo» (Aos Vindouros, Se os Houver - excerto). IMAG.16-18-53-83-149-182-213-495-572
 
¨1820-22AGO1886 - José da Silva Mendes Leal: Escritor, jornalista, diplomata e político português - «Cabeça altiva e fantasiosa nos domínios da arte era, ao mesmo passo, reflexiva e serena nas regiões positivas. Assim é que, subindo da imprensa e da tribuna para o Poder, se desempenhou como é notório» (Bulhão Pato). IMAG.540

¸1895-23AGO1926 - Rodolfo Alfonso Raffaello Pierre Filibert Guglielmi di Valentina D'Antonguolla, aliás Rodolfo Valentino: Actor italiano, radicado nos EUA - «Eu sou, apenas, uma tela em branco, sobre a qual as mulheres pintam as suas fantasias». IMAG.513


VISTORiA

Indianas

¨Se algum caía por terra,
Sob a turba, ou pelo ardil,
Dava-lhe as honras da guerra
O próprio moiro anafil.

Eram-lhes feras mortalhas
De Ormuz e Diu as muralhas,
Nas homéricas batalhas
De quarenta contra mil!
Mendes Leal
 (excerto)

Bom e Expressivo
 
¨Acaba mal o teu verso,
mas fá-lo com um desígnio:
é um mal que não é mal,
é lutar contra o bonito.

Vai-me a essas rimas que
tão bem desfecham e que
são o pão de ló dos tolos
e torce-lhes o pescoço,

tal como o outro pedia
se fizesse à eloquência,
e se houver um vossa excelência
que grite: – Não é poesia!,

diz-lhe que não, que não é,
que é topada, lixa três,
serração, vidro moído,
papel que se rasga ou pe-

dra que rola na pedra…
Mas também da rima «em cheio»
poderás tirar partido,
que a regra é não haver regra,

a não ser a de cada um,
com sua rima, seu ritmo,
não fazer bom e bonito,
mas fazer bom e expressivo
Alexandre O'Neill
- De Ombro Na Ombreira
INVENTÁRiO

POLLOCK

¸Num âmbito tão complexo e imperativo como a indústria artística sob o signo de Hollywood, é difícil perspectivar - sobretudo nestes tempos actuais - uma experiência tão intensa e significativa como a de Ed Harris em Pollock (2000). Implicações que vão para além do seu estatuto como produtor, realizador e protagonista assumindo um projecto pessoal, longo e penoso, pois estendem-se à personalidade e peripécias que envolvem ou evoluem através do testemunho realista em causa.
Conta a lenda que tudo remonta a 1986, quando Harris fez trinta e seis anos e o pai lhe ofereceu um livro sobre Pollock. Não por apreço especial ao pintor, mas apenas porque achou o sujeito na fotografia da capa parecido com o filho. Ed acabou por ler a biografia Jackson Pollock: An American Saga de Steven Naifeh & Gregory White Smith, ficando de tal modo entusiasmado que encomendou um argumento alusivo a Barbara Turner & Susan J. Emshwiller, enquanto prosseguia a carreira.
Nos anos seguintes dessa actividade prestigiosa - que lhe valeu nomeações aos Oscars como actor secundário em Apollo 13 (1995 - Ron Howard) ou A Vida Em Directo (1998 - Peter Weir) - Harris passou os tempos livres a atrair financiamentos, familiarizar-se com a volúvel marca de Pollock, assumir os fantasmas desse universo criativo e o modo peculiar como ele lidava com os pincéis. Por detrás de Pollock estava um talento fascinante, e por detrás deste uma personalidade controversa.
Tudo principia com os anos ’50, encontrando-se Pollock - considerado pelo crítico Clement Greenberg o mestre do expressionismo abstracto - no auge do sucesso. Mas logo se recua a finais de 1941, quando a pintora Lee Krasner começa a assediar o estúdio de Pollock, em Greenwich Village. São momentos difíceis com o raio da guerra, ainda nas sequelas da depressão. Fala-se e fuma-se, tanto como o intratável artista, afinal um ser humano vulnerável, se dissipa pelo álcool.
Krasner casa com ele, consciente de que também está a ser caçada. A sua obra própria fica relegada, promovendo a de Pollock. Nessa sobrevivência e subserviência, Nova Iorque vai recuperando a dignidade social e a categoria das elites, pelo favoritismo de coleccionadores como a milionária Peggy Guggenheim. Durante uns tempos, fora da metrópole, um Pollock refeito e abstémio compensará a devoção de Krasner, até ser de novo apanhado pela destruição e mulheres como Ruth Klingman.
Pollock era um génio, tinha aquela técnica de trabalhar com a tela no chão, para se sentir «mais próximo e enleante», mas sobretudo distinguia-se pelo seu rasgo plástico, num estilo revolucionário e impressionante. Porém, o criador naufragaria no turbilhão de um estro melancólico, ríspido, instável e maníaco-depressivo. Atormentado por um desequilíbrio intenso entre a pureza e a verdade da concepção, consumido no alvoroço dos seus demónios íntimos e crepusculares.
Devastado em tal vertigem pseudo-suicidária, Pollock sucumbiu, embriagado, num acidente de automóvel em 1956, o qual faria ainda outra vítima fatal… No processo nu e cru dum retrato que vacila para as margens, mas se firma no enquadramento, Harris transfere-se em testemunho autêntico, íntegro, da direcção à representação. Aliás, perturba essa assunção referencial, personificando o contrito Pollock na essência mais misteriosa da revelação, enquanto ser liberto em pleno ritual de produzir.
A pertinácia de Harris e o desempenho de um Pollock temperamental, céptico, radical, colocaram-no entre os candidatos ao Oscar para o melhor actor, sendo Marcia Gay Harden justamente galardoada na categoria secundária, ao irradiar uma paciente e cativante Krasner. O que de ambos persiste, além dos dissabores cúmplices ou dos despojos conjugais, é um tremendo mas fascinante testemunho sobre os parâmetros de uma certa América, entre cultura e civilização, em meados do Século XX.
                     
BREVIÁRiO

¨Dom Quixote edita Se Não Agora, Quando? de Primo Levi (1919-1987); tradução de José Colaço Barreiros. IMAG.126-236-244-412-416

¨Guerra & Paz edita João Abel Manta – Não se Distorce a Cara de Um Homem; diálogo com José Jorge Letria. IMAG.172-193-195-224-280-292-312-482-572
 

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