segunda-feira, junho 17, 2019

IMAGINÁRiO #776

José de Matos-Cruz | 24 Outubro 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

TESTEMUNHOS
À época, as ocorrências da guerra colonial não tiveram, no cinema português, uma expressiva incidência directa, em actualidades e reportagens, ao contrário do que havia sucedido noutros períodos marcados pelas circunstâncias político-militares. Por dois motivos principais: a influência da censura e a importância sucedânea da televisão. Em alternativa, o documentarismo africano mereceu um notável incremento, graças ao apoio oficial, especialmente sobre Angola e Moçambique, em múltiplas vertentes - sociais, económicas, turísticas, de ensino - sempre com uma dinâmica de progresso e desenvolvimento. Por outro lado, desde meados dos anos de 1960, a guerra colonial reflectiu-se na área ficcional da nossa cinematografia, com destaque para as longas metragens. Em causa, sobretudo, estão os conflitos individuais - os quais se repercutem pelo envolvimento familiar e comunitário, através das convencionais implicações dramáticas. Entretanto, a partir de finais do Século XX, passou a registar-se - em pequeno e grande ecrãs, com a assinatura ou o desempenho das novas gerações - uma multiplicidade significativa de propostas romanescas e testemunhadoras.
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CALENDÁRiO

02FEV-14ABR2019 - Em Lisboa, Galeria Quadrum expõe Assentamento de António Bolota - em jogo, a arquitectura, a engenharia dos materiais e a escultura, sendo curadora Sara Antónia Matos. IMAG.597-641

08FEV-06MAI2019 - Em Lisboa, Espaço Projecto do Museu Calouste Gulbenkian expõe Moi Je Suis la Langue et Vous Êtes Les Dents de Yto Barrada (Marrocos/França), sendo comissária Rita Fabiana.

09FEV-27ABR2019 - Em Lisboa, Galeria Zé dos Bois apresenta Mil Órbitas por António Poppe - exposição de colagens, desenhos, caligrafias, livros e esculturas, sendo curador Natxo Checa. IMAG.461

1941-15FEV2019 - Bruno Ganz: Actor suíço do teatro, da televisão e do cinema internacionais, intérprete de A Cidade Branca (1982 - Alain Tanner) - «Os guiões têm de me agarrar, de me irritar, de me seduzir. Não quero repetir-me nos meus papéis». IMAG.127-208-268

15FEV-21ABR2019 - Em Lisboa, Museu da Marioneta apresenta, com Monstra - Festival de Animação de Lisboa, A Magia dos Estúdios Aardman (GB) - exposição de marionetas, cenários, esquissos e storyboards de filmes e séries televisivas. IMAG.159

15FEV-19MAI2019 - Em Lisboa, Culturgest apresenta Once In A Life Time [Repeat] - exposição antológica de João Onofre, sendo curador Delfim Sardo. IMAG.575

19FEV-24JUN2019 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves expõe, com Museo Guggenheim Bilbao e Kunsthall Rotterdam, I’m Your Mirror de Joana Vasconcelos, sendo comissário Enrique Juncosa. IMAG.294-497-761

22FEV-20ABR2019 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Mapa Luga, Uma Lacuna - exposição de desenho Rui Horta Pereira. IMAG.541-601-735

02MAR2019 - Em Lisboa, Galeria Diferença expõe Diários de Lisboa de André Ruivo. IMAG.375-378-390-405-407-416-430-435-596-771

VISTORiA

Contigo o Céu

Se me aparto de Ti, Deus de bondade,
que ausência tão cruel! Como é possível
que me leve a um abismo tão terrível
pendor infeliz da humanidade.

Conforta-me, Senhor, que esta saudade
me despedaça o coração sensível;
se a Teus olhos na cruz sou desprezível,
não olhes para a minha iniquidade.

À suave esperança me entregaste,
e o preço do Teu sangue precioso
me afiança que não me abandonaste.

Se justo, castigar-me Te é forçoso,
lembra-Te que Te amei e me criaste
para habitar contigo o Céu lustroso!
Alcipe
(D. Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre)

MEMÓRiA


25OUT1890-1953 - Raul Ferrão: Maestro e compositor português, autor de Abril Em Portugal, oficial do exército, engenheiro químico, professor - «O nome de Raul Ferrão fica sinónimo com os bons momentos da música portuguesa» (D. Belo). IMAG.417-464

25OUT1930-2015 - Joaquim Manuel Durão, aliás Joaquim Durão: Xadrezista português, Mestre Internacional - «Trabalhei muito pelo xadrez. Foram treze anos dedicados ao dirigismo da FIDE/Federação Internacional de Xadrez, influenciando os destinos da modalidade, nos bons e nos maus momentos» (1999). IMAG.569

26OUT1910-1996 - Fernando Carvalho Trindade Bento, aliás Fernando Bento: Ilustrador, figurinista, pintor, autor de banda desenhada - transpôs As Mil e Uma Noites de Adolfo Simões Muller, e colaborou no Cavaleiro Andante a partir de 1952. IMAG.257-299-307-328-367-533-550-578-643

1901-27OUT1980 - José Claudino Rodrigues Miguéis, aliás José Rodrigues Miguéis: Escritor português - «Começo a compreender, com espanto, o que me move: um desejo de identificação com os humildes deste mundo.» (Gente da Terceira Classe - 1962). IMAG.311-350-376

28OUT1900-1967 - Eduardo Augusto D’Oliveira Morais Melo Jorge Malta, aliás Eduardo Malta: Pintor português, distinguido com o Prémio Columbano (1936), director do Museu de Arte Contemporânea (1959-1967) - «Os retratos de Eduardo Malta vivem carnal e espiritualmente» (Teixeira de Pascoaes). IMAG.612

31OUT1750-1839 - D. Leonor de Almeida Portugal de Lorena e Lencastre: Condessa de Oeynhausen-Gravenburg, Condessa de Assumar e Marquesa de Alorna, poetisa de nome literário Alcipe - «Nos discretos caracteres, / Vão teus olhos magoados / Ora lendo o seu conforto, / Ora o decreto dos Fados. // Já te lanças brandamente / No seio da paciência; / Já te recreia admirar / O aspecto da Providência. // Eu te sigo, suspirando, / E teço então sobre a lira / Estas cantigas saudosas / Que o contemplar-te me inspira. // Se os meus versos te consolam, / Sempre a branda simpatia / Conduzirá no silêncio / A Musa que teme o dia!» (A Uma Freira Em Chelas). IMAG.246-296-726

31OUT1950-2016 - Zaha Mohammad Hadid, aliás Zaha Hadid: Arquitecta inglesa de origem iraquiana, distinguida com o prémio Pritzker em 2004 - «O que a fazia diferente, era essa vontade de dar movimento ao espaço» (Lina Santos). IMAG.613

TRAJECTÓRiA

Raul Ferrão

Ninguém diria, mas o compositor de algumas das mais populares e conhecidas canções, fados e marchas de Lisboa era… militar de carreira! Raul Ferrão escreveu música para mais de uma centena de peças de teatro e revistas e ainda para alguns dos mais aclamados filmes portugueses.
A ele se devem êxitos como Cochicho, As Camélias, Burrié, Velha Tendinha, Rosa Enjeitada, Ribatejo, e ainda canções para os filmes A Canção de Lisboa, Maria Papoila, Aldeia da Roupa Branca e Varanda dos Rouxinóis; e escreveu ainda música para operetas como A Invasão, Ribatejo, Nazaré, Colete Encarnado ou Senhora da Atalaia.
Em 1907, com 17 anos de idade, ingressou na carreira militar. Foi professor da Escola de Guerra em 1917 e 1918, depois de ter cumprido comissões de serviço em África durante a I Guerra Mundial.
Ferrão, formado em engenharia química, começou a compor durante os anos vinte e chegou a ser representante da antecessora da Sociedade Portuguesa de Autores, a Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, em congressos internacionais de direitos de autor.
Extraordinariamente produtivo como compositor (só na década de quarenta escreveu música para quase quarenta revistas!), as suas criações atravessaram gerações, e basta recordarmos duas das mais importantes: Lisboa Não Sejas Francesa, originalmente composta para a opereta A Invasão, e o eterno Coimbra, que, contudo, tem uma história curiosa.
De facto, a melodia de Coimbra existia desde 1939 sem que Ferrão conseguisse que lha aceitassem numa peça. A canção foi ficando na gaveta até que, finalmente, apareceu em 1947 no filme Capas Negras, onde foi criada por Alberto Ribeiro, ironicamente, sem grande sucesso. Só três anos mais tarde, quando Amália a interpreta numa digressão internacional, a canção se tornaria popular em todo o mundo, ficando conhecida no estrangeiro como Avríl au Portugal ou Apríl in Portugal… Ferrão ainda assistiu ao triunfo desta canção enjeitada antes de falecer em 1953. O realizador e produtor televisivo Ruy Ferrão, seu filho, encarregou-se de manter viva a sua memória.

COMENTÁRiO

FERNANDO BENTO

Com um historial esparso, mas de notável qualidade, graças a um leque de artistas que, tendo-se afirmado pela época áurea, persistiram em actividade, a banda desenhada portuguesa constitui um fecundo património - ciosamente preservado por coleccionadores, apreciado por leitores nostálgicos e, ao ressurgir em álbum, seduzindo as mais jovens gerações.
Um exemplo único, a nível internacional, pelo fascinante grafismo, ágil e harmonioso, inconfundível, Fernando Bento tem justa evocação - através de obras-primas clássicas, oportunamente relançadas. Um universo fabuloso e aliciante, a redescobrir do original preto-e-branco à prancha colorida.

VISTORiA

Ao longo dos passeios de Nova Iorque, por sobre as estações e galerias do subway, abrem-se grandes respiradouros gradeados por onde cai de tudo: o sol, a chuva, o luar e a neve, luvas, lunetas e botões, papelada, chewing gum, tacões de sapatos de mulheres que ficam entalados e até dinheiro. Às vezes, lá no fundo, no lixo acumulado, ou em poças de água estagnada, brilham moedas de níquel e mesmo de prata.
José Rodrigues Miguéis
- Arroz do Céu (1962, excerto)
BREVIÁRiO

Porto Editora lança Burgueses Somos Nós Todos ou Ainda Menos de Mário de Carvalho. IMAG.327-410-528-541-542-543-581-603-612-618-666-676-6784
 

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