quinta-feira, outubro 18, 2018

IMAGINÁRiO #379

José de Matos-Cruz | 16 Janeiro 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

PESADELOS
No imaginário americano, radical e crepuscular, o fim da civilização emerge pelos sinais de uma vivência quotidiana banal, cuja actualidade é devastada por um universo virtual, violento e paranóico. Assim desvenda Hard Boiled (1990) - um testemunho em quadradinhos perturbante, devastador, especialmente destinado aos leitores adultos, concebido pelo lendário Frank Miller, a que Geof Darrow correspondeu, com uma impressionante ilustração, colorida ao delírio por Claude Legris. Carl Seltz é um cidadão comum, inspector de seguros e pai de família numa tranquila periferia. Mas, quando dorme, terríveis pesadelos avassalam, transformando-o num andróide exterminador, Unidade 4, que põe em risco a sobrevivência da sociedade. Até ser regenerado, mas… Mundos paralelos? Realidades antagónicas? Ou projecções apocalípticas de uma mentalidade em transe, alucinatória, pervertida sob os desígnios do bem e do mal? A verdade pode ser uma revelação fatal…
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CALENDÁRiO

25MAI-24JUL2018 - Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta New Works - exposição / instalação de Adam Pendleton (EUA).

1927-27JUN2018 - Stephen J. Ditko, aliás Steve Ditko: Argumentista e ilustrador americano de banda desenhada, autor - com Stan Lee - de Spider-Man (1962) e Doctor Strange (1963) - «Sempre me senti fascinado pela sua maneira de ver as coisas, que era muito mais mundana, muito mais real e muito mais preocupada com escolhas morais do que a de qualquer outro autor de quadradinhos» (Neil Gaiman). IMAG.3-86-448-653

29JUN-07OUT2018 - Em Guimarães, Centro Internacional das Artes José de Guimarães apresenta Leopard In a Cage | Projectos Inéditos (1969-2018) de Julião Sarmento. IMAG.33-341-427-437-524-554-625-631-646-712-723

26JUL-28OUT2018 - Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Olhares Sobre a Livraria do Convento da Arrábida
 
VISTORiA

O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, no puro poder…
Somos diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que estamos a fazer. Todas as outras, até mesmo as que se assemelhavam a nós, eram covardes e hipócritas. Os nazis alemães e os comunistas russos aproximaram-se muito de nós nos métodos, mas nunca tiveram a coragem de reconhecer os motivos próprios. Fingiam, talvez até acreditassem, ter tomado o poder sem o querer, e por tempo limitado, e que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso onde os seres humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que ninguém toma jamais o poder com a intenção de o largar. O poder não é um meio, é um fim em si mesmo. Não se estabelece uma ditadura com o desígnio de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. O objectivo da perseguição é a perseguição. O objectivo da tortura é a tortura. O objectivo do poder é o poder.
George Orwell
- 1984 (1949 - excerto)

PARLATÓRiO

O público tem perdido o hábito de ir ao cinema, porque ir ao cinema já não possui o encanto, a carisma hipnótica, a autoridade que já teve. A imagem na posse de todos nós - a de um sonho que sonhou com os olhos abertos - desapareceu. Será ainda possível que mil pessoas possam agrupar-se no escuro e experimentar o sonho de um único indivíduo?
Federico Fellini

VISTORiA
A Melhor Colheita

Por tarde amena de estio
Vendo do campo o lidar,
Sentindo a brisa do rio,
Ouvindo o melro cantar,
Assentei-me em verde alfombra,
Dum freixo copado à sombra,
Com um amigo a conversar.

Qual era a melhor seara,
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará;
Era o assunto da conversa,
Mas de opinião diversa,
Ambos teimávamos já.

Eis que perto ali passava
Um camponês ancião,
Ao ombro a enxada levava,
Levava um cesto na mão
E no rosto lhe luzia,
Por entre doce alegria,
Doce paz no coração.

Façamos do velho, digo,
Entre nós ambos juiz;
Que dizes tu meu amigo?
– Venha o teu velho, me diz.
Chamei-o logo, ele veio
E de nós ambos no meio
Assentar o velho fiz.

Qual era a melhor seara,
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará,
Lhe disse eu que era a conversa,
Mas de opinião diversa
Que ambos teimávamos já.

Dize, pois, honrado velho,
É trigo, é milho, é arroz?
Decide com o teu conselho,
Dá o teu voto entre nós;
Que na falta de ciência
A sabedora experiência
Falará na tua voz.

Olhou-nos então sorrindo,
E disse – Se Deus o quer,
Tudo é bom à terra indo,
Quando e como o tempo der,
Quando e como nos ensina
Da própria terra a doutrina
Aos que nela sabem ler.

Mas de todas as colheitas
E, mancebos, a melhor
A das acções por nós feitas,
Sem que suba ao rosto a cor;
Porque é dessa que é medida,
No dia da despedida,
Nossa pensão ao Senhor!
João de Lemos

MEMÓRiA

1819-16JAN1890 - João de Lemos Seixas de Castelo Branco, aliás João de Lemos: Poeta, dramaturgo e jornalista português - «Quem sou… quem fui? Toda a terra / Que o diga, que o aprendeu; / Diga-o na paz e na guerra, / Diga-o ela, que não eu! / Quem fui, que o digam cem povos, / Que o digam os climas novos / Por onde primeiro andei; / Que o digam cristãos e mouros, / Que o digam troféus e louros, / Que eu nem dizê-lo já sei!» (Portugal). IMAG.226-244-259-706

16JAN1920-2018 - Maria Germana Dias da Silva Moreira Tânger Corrêa, aliás Maria Germana Tânger: Declamadora portuguesa, poetisa, actriz, encenadora e professora - «Tudo certo, certo / Relógios certos / Nas cabeças certas. / Tudo certo, certo /…E eu tão errada / Tão longe nas certezas certas.» (Escritório - 1999). IMAG.712

1925-18JAN2010 - Ursula Kübler, aliás Ursula Vian-Kübler: Bailarina da Ópera de Zurique (com Maurice Béjart) e dos Ballets de Paris (com Roland Petit), actriz de cinema (dirigida por Louis Malle, Agnès Varda ou Roger Vadim), casada com Boris Vian e fundadora da Association (1963) e da Fond’action Boris Vian (1992), organizou os Festivais anuais de música na cidade de Eus. IMAG.286-524

20JAN1920-1993 - Federico Fellini: Cineasta italiano - «Falar sobre sonhos é como falar de filmes, uma vez que o cinema utiliza a linguagem dos sonhos; anos podem passar em um segundo, e nós podemos ir de um local para outro. É uma linguagem feita de imagens. E, no verdadeiro cinema, cada objecto e cada luz significam alguma coisa, como em um sonho». IMAG.72-213-247-259-331-367-383-385-440-471-551-694

20JAN1940-1995 - Jorge Manuel Rosado Marques Peixinho, aliás Jorge Peixinho: Compositor, maestro e pianista português - «O objectivo da minha música é a construção e organização de um novo e pessoal mundo sonoro. Explorei profundamente e intensivamente todas as relações entre a harmonia e o timbre para construir uma espécie de rede muito densa de sons transformados. A característica principal da minha música é uma espécie de atmosfera sonora onírica, na qual surgem pequenas transformações através de artifícios contrapontísticos, filtragens harmónicas e tímbricas… Dou também muita importância à ambiguidade entre a continuidade e a descontinuidade».  
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1903-21JAN1950 - Eric Arthur Blair, aliás George Orwell: Escritor e jornalista inglês - «Não é uma questão de saber se a guerra é real ou não é. A vitória não é possível. A guerra não é destinada a ser ganha. É destinada a ser contínua. Uma grande sociedade arcaica só é possível à custa da pobreza e da ignorância».  
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22JAN1940-2017 - John Vincent Hurt, aliás John Hurt: Actor inglês de teatro, televisão e cinema, intérprete de O Homem-Elefante / The Elephant Man (1980 - David Lynch) - «Distinguia-se, antes do mais, pela inconfundível densidade dramática da voz» (João Lopes). IMAG.74-662

23JAN1950-2018 - Maria Margarida Gouveia Vaquinhas, aliás Guida Maria: Actriz portuguesa de cinema, teatro e televisão - «Uma honestidade desassombrada, sem espaço para hipocrisia» (Ana Sousa Dias). IMAG.696-709

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

A MELANCOLIA FIXA DO CONTROLADOR DE ONDAS - 7
Por conseguinte, deveria confinar-se. Encerrado numa caixa tumular estanques cada um dos lados cardeais, o quinto infinito e o sexto, por onde entrara, tornado inexistente como a sua condição essencial não haveria mais pontos de orientação que o relacionassem, convertendo-se apenas numa efeméride onírica, referenciada com a identidade pátria e a demanda da liberdade.
Continua

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