domingo, março 04, 2018

IMAGINÁRiO #705

José de Matos-Cruz | 01 Maio 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

REBELDIAS
A rebelde utopia que, em meados da década de ’60, no século passado, fazia tantos de nós - corando embora de vergonha - abrir as páginas da revista Playboy, em busca dos quadradinhos eróticos de Little Annie Fanny, tornou-se entretanto uma memória jocosa e nostálgica. Até ao ano 2000! Finalmente, Dark Horse Comics e Playboy Enterprises aliaram-se, para nos proporcionarem - e a milhares de outros fanáticos da banda desenhada, entre as novas gerações - dois volumes que reuniram, pela primeira vez, mais de quatrocentas páginas com as aventuras originais da tola e tentadora heroína. Implícita em Little Annie Fanny 1962-1970, está ainda uma homenagem ao grande Harvey Kurtzman - criador do magazine Mad, padrinho dos underground comics. Aliado a Will Elder - um veterano dos EC Comics - ou, esporadicamente, a Frank Frazetta, Russ Heath e Jack Davis - Kurtzman alegrou, com ironia e sensualidade, mais de 25 anos de leitores da Playboy e de entusiastas da banda desenhada… Desde que na América se debatiam temas sérios como os direitos civis, ou de Inglaterra nos chegavam os Beatles e a revolução sexual. IMAG.360-431-504

CALENDÁRiO

29NOV2017-03JUN2018 - Em Lisboa, Museu Nacional dos Coches expõe Partida da Família Real Para o Brasil - 1807, sendo comissários Silvana Bessone e Carlos Bártolo, com investigação científica de Maria Adelina Amorim. IMAG.51-156-169-307-385-481

1956-30NOV2017 - José Pedro Amaro dos Santos Reis, aliás Zé Pedro: Músico português, guitarrista e cantor, membro dos Xutos & Pontapés - «Não é preciso ser músico para sentir, tem que ver com aventura. Pode ter que ver com uns certos limites na vida, mas tem, acima de tudo, que ver com a realização pessoal de uma vida mexida» (2016). IMAG.76-138-526-579

30NOV2017 - NOS Audiovisuais estreia O Fim da Inocência (2017) de Joaquim Leitão; com Francisco Fernandez e Catarina Matos. IMAG.122-269-453-490-506-687

30NOV2017 - Filmin Portugal estreia Verão Danado (2017) de Pedro Cabeleira; com Pedro Marujo e Lia Carvalho.

VISTORiA

É uma história curiosa a que lhe vou contar, minha prima. Mas é uma história e não um romance. Há mais de dois anos, seriam seis horas da tarde, dirigi-me ao Rocio para tomar o ônibus de Andaraí. Sabe que sou o homem menos pontual que há neste mundo; entre os meus imensos defeitos e as minhas poucas qualidades, não conto a pontualidade, essa virtude dos reis e esse mau costume dos ingleses. Entusiasta da liberdade, não posso admitir de modo algum que um homem se escravize ao seu relógio e regule as suas ações pelo movimento de uma pequena agulha de aço ou pelas oscilações de uma pêndula. Tudo isto quer dizer que, chegando ao Rocio, não vi mais ônibus algum; o empregado a quem me dirigi respondeu:
Partiu há cinco minutos.
José de Alencar
- Cinco Minutos (1856 - excerto)

PARLATÓRiO

Quem seja a causa de alguém se tornar poderoso, desgraça-se a si próprio: pois esse poder é produzido por si, quer através de engenho quer de força; e ambos são suspeitos, para aquele que subiu à posição de poder.
Maquiavel

Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida, porque, o que fazemos no palco, fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro.
Temos a obrigação de inventar outro mundo, porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos, entrando em cena no palco e na vida.
Apesar dos nossos defeitos, precisamos enxergar que somos pérolas únicas no teatro da vida, e entender que não existem pessoas de sucesso e pessoas fracassadas. O que existem são pessoas que lutam pelos seus sonhos ou desistem deles.
Augusto Boal

MEMÓRiA

01MAI1829-1877 - José Martiniano de Alencar, aliás José de Alencar: Ficcionista, dramaturgo, jornalista e político brasileiro - «O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis». IMAG.638

1931-02MAI2009 - Augusto Pinto Boal, aliás Augusto Boal: Dramaturgo e encenador brasileiro - «Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos, e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência». IMAG.249-315

03MAI1469-1527 - Niccolò Machiavelli, aliás Maquiavel: Historiador, filósofo e escritor italiano - «Quem se torna senhor de uma cidade habituada a viver em liberdade, e não a destrói, espere por ela ser destruído». IMAG.192-225-615

03MAI1919-2014 - Peter Seeger, aliás Pete Seeger: Cantor e compositor americano de música folk - «Em geral, sou contra as coisas grandes… Serão as coisas pequenas a salvar o mundo». IMAG.498

04MAI1929-1993 - Audrey Kathleen Hepburn, aliás Audrey Hepburn: Actriz americana - «Se algum dia precisar de ajuda, lembre-se de que no final do seu braço encontrará uma mão. E, à medida que envelhecer, descobrirá que tem duas mãos - uma para o ajudar a si, e a outra para apoiar os outros». IMAG.225-403

1933-04MAI2009 - Dominick DeLuise, aliás Dom DeLuise: Actor americano - «Um grande homem, em todos os aspectos. Era grande em tamanho e, como actor, gerava grande alegria e grandes gargalhadas» (Mel Brooks). IMAG.249-429

1925-05MAI2009 - Vasco de Oliveira Granja, aliás Vasco Granja: Cineclubista e escritor (Dziga Vertov - 1981), pioneiro e primordial divulgador da banda desenhada e do cinema de animação em Portugal, na televisão (RTP - 1974-1990), em jornais (República), revistas (Tintin, Spirou) e fanzines (Quadradinhos). IMAG.250-384-385-522-557

14SET1769-06MAI1859 - Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt, aliás Alexander von Humboldt: Cientista alemão, geógrafo, naturalista e explorador, autor de Kosmos - Entwurf Einer Physischen Weltbeschreibung (1845-1862) - «Nas montanhas, está a liberdade. As fontes da degradação não chegam às regiões puras do ar. O mundo vive bem nesses lugares, onde o ser humano não logra perturbá-lo com as suas misérias». IMAG.146-664

TRAJECTÓRiA

AUDREY HEPBURN - OS ROSTOS DA SEDUÇÃO

Uma beleza ingénua, gaiata e maliciosa, ou simbolizando a mulher moderna, estilizada e elegante, Audrey Hepburn impôs o encanto do seu talento artístico em Hollywood, entre meados dos anos ‘50 e ‘60. Para os que permaneceram seus fiéis admiradores, ou àqueles para quem se tornará uma jovial revelação, três filmes são fundamentais - numa carreira iniciada com Uma Bela Piada (1950 - Mario Zampi), e que culminaria como aparição soturna mas angelical de Sempre (1989 - Steven Spielberg). Filha de um banqueiro inglês e de uma baronesa holandesa, nasceu na Bélgica em 1929.
Através de êxitos como Cinderella Em Paris (1957 - Stanley Donen), Ariane (1957 - Billy Wilder) ou Minha Linda Lady (1964 - George Cukor), Hepburn confirmaria o vaticínio do Motion Picture Herald - que, em 1954, a considerou uma «estrela do amanhã». Estudara dança e representação em Amesterdão e Londres, confirmando talentos dramáticos em 1955, quando subiu aos palcos da Broadway (Gigi de Colette, Ondine de Giraudoux). Em 1954-1968, Hepburn foi casada com o actor Mel Ferrer, tornando-se embaixadora da Unicef. Entre os filmes da maturidade, sobressai A Flecha e a Rosa (1976 - Richard Lester).
Eis alguns dos maiores sucessos que consagraram a mulher e a actriz - do mito ao culto, além da doença que a vitimou em 1993:
FÉRIAS EM ROMA (1953) de William Wyler - A jovem princesa Anne logra evadir-se do palácio onde reside, durante uma estadia na capital italiana, para passar um dia em grande. Serve-lhe de anfitrião Joe Bradley - sem que ela o saiba, um jornalista incumbido de a entrevistar. Tão distintos entre si, o amor acaba por uni-los, mas a felicidade é uma quimera para o casal… A composição amável e irradiante de Hepburn seria galardoada com um Oscar e o galardão britânico BFA. Segundo Wyler, foi «deliberadamente concebido como um divertimento, sem mensagem particular nem significado social»; com Gregory Peck e Eddie Albert.
SABRINA (1954) de Billy Wilder - Uma adolescente filha do motorista da família Larrabee, Sabrina Fairchild apaixona-se por David, o mais novo membro do abastado clã. Desprezada, Sabrina tenta um suicídio - o que leva o pai a enviá-la para Paris, onde aprenderá a arte de cozinheira. Passados dois anos, regressa uma mulher elegante e sofisticada. Irresistível para David - que, no entanto, está noivo de uma herdeira rica… Transposição de uma peça teatral de Samuel Taylor, numa comédia romântica em que rivalizam Humphrey Bogart e William Holden. Hepburn transfigura o recato e a inocência, por uma deslumbrante estilização cosmopolita.
BONECA DE LUXO (1961) de Blake Edwards - Um escritor de Nova Iorque apaixona-se por uma esbelta e elegante vizinha, sendo fascinado sobretudo pela sua excitante vida social. Afinal, Holly Golightly é uma mulher melancólica, emocional, cuja postura exibicionista oculta o mistério das suas origens modestas… Adaptação de um romance de Truman Capote, em que a sátira insolente se dissimula pela recriação das peripécias fantasistas e trepidantes. Tal como em Sabrina, Hepburn - contracenando com George Peppard e Patricia Neal - foi nomeada ao Oscar pela Academia de Hollywood, ao lograr um desempenho fluido mas vitalista.

BREVIÁRiO

Relógio d’Água edita A Poesia Como Arte Insurgente de Lawrence Ferlinghetti; tradução de Inês Dias.

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