segunda-feira, abril 18, 2016

IMAGINÁRiO #605

José de Matos-Cruz | 01 Abril 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO
 
CREPÚSCULOS
Num panorama de banda desenhada por autores portugueses, David Soares - lisboeta nascido em 1976, artista gráfico e editor de fanzines - sobressairia como um autor aliciante, em evolução pelo Círculo de Abuso. Após Cidade-Túmulo e Mr. Burroughs em álbuns de 2000, o novo milénio foi estigmatizado com Sammahel (2001), pelas sombras do nazismo durante o século findo. Escritor e ilustrador, Soares apelou à inspiração de Thomas Mann, em Doutor Fausto, reivindicando um fascínio pela «literatura alemã; e por toda a literatura da Europa do leste, já que o menciono». Em causa está uma descida ao inferno que habita no íntimo de Adrian Leverkhün, estudante de teologia e compositor. Obcecado pelo medo de executar a sua música, com o pressentimento de que morrerá, Adrian parece nem se aperceber do regime de horror que germina na Alemanha, e avassalará na crepuscular bestialidade do Terceiro Reich. Uma obra complexa, madura e perturbante, Sammahel apela à consciência cultural/histórica do leitor, consumando as virtualidades de um criador que se aprofunda, sob o desígnio da sua radicalidade. IMAG.6-358-410


CALENDÁRiO
 
¢06FEV-08MAI2016 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresenta The Sonnabend Collection: Meio Século de Arte Europeia e Americana (Parte 1), sendo comissário António Homem. IMAG.554

¢20FEV2016 - Na Amadora, Casa Roque Gameiro apresenta A Casa, Vida e Obra da Família [Alfredo] Roque Gameiro (1864-1935) - exposição permanente, e a Coletiva da Associação de Aguarela de Portugal. IMAG.197-558-585-602

¯ABR1937-14FEV2016 - Vera Varela Cid: Bailarina portuguesa, professora de dança, co-fundadora da Companhia Nacional de Bailado/CNB (1977) - «Deixa um legado de dedicação, profissionalismo e criatividade artística de valor inestimável, na história do bailado e das artes performativas em Portugal» (Ministério da Cultura).
      
PARLATÓRiO
 
¯Não custa muito escrever música, mas é extraordinariamente difícil deixar as notas supérfluas em cima da secretária… Por vezes, eu pondero em variantes formais, e o resultado final acaba por me parecer mais específico, mais puro.
Johannes Brahms

¨ Continuo a viajar pela arte. Neste fim-de-semana, não sei o que se passou com o mundo. Não quero saber. Por uma noite, permitam-me ser como a avestruz. Só por esta noite, porque amanhã já é segunda feira…
Leonora Carrington
              
VISTORi

Desaparecido
¨Sempre que leio nos jornais:
«De casa de seus pais desapar’ceu…»
Embora sejam outros os sinais,
Suponho sempre que sou eu.

Eu, verdadeiramente jovem,
Que por caminhos meus e naturais,
Do meu veleiro, que ora os outros movem,
Pudesse ser o próprio arrais.

Eu, que tentasse errado norte;
Vencido, embora, por contrário vento,
Mas desprezasse, consciente e forte,
O porto do arrependimento.

Eu, que pudesse, enfim, ser eu!
– Livre o instinto, em vez de coagido.
«De casa de seus pais desapar’ceu…»
Eu, o feliz desaparecido!
Carlos Queiroz
- Desaparecido e Outros Poemas (1950)


MEMÓRiA

¯1833-03ABR1897 - Johannes Brahms: Compositor alemão - «Herdeiro de Beethoven, oferece em sua obra a síntese perfeita do romantismo e do classicismo. Não desprezou o canto popular húngaro, que incorporou a uma poesia tipicamente nórdica e suntuosa» (Renata Cortez Sica). IMAG.82-171-193-199-256-286-303-324-393-417-482-531-554-597

¨ 05ABR1907-1949 - José Carlos de Queiroz Nunes Ribeiro, aliás Carlos Queiroz: Poeta e ensaísta português - «Por que vieste? – Não chamei por ti! / Era tão natural o que eu pensava, / (Nem triste, nem alegre, de maneira / Que pudesse sentir a tua falta…) / E tu vieste, / Como se fosses necessária!» (Apelo à Poesia). IMAG.167-307-491

¨ 1926-05ABR1997 - Irwin Allen Ginsberg, aliás Allen Ginsberg: Poeta americano, ligado à beat generation - «Os corpos quentes / brilham juntos / na escuridão, / a mão move-se / para o centro / da carne, / a pele treme / na felicidade / e a alma sobe / feliz até ao olhar – // sim, sim, / é isso que / eu queria, / eu sempre quis, / eu sempre quis / voltar / ao corpo / em que nasci.» (Canção). IMAG.9-13-64-85-89-247-306-362-426-469-565

¨ 06ABR1917-2011 - Leonora Carrington: Escritora, pintora e escultora de origem inglesa, ligada ao surrealismo e ao México - «Não é uma poetisa, mas um poema que caminha, que sorri, que de repente exibe o seu sorriso e se converte em pássaro, depois em peixe, e desaparece» (Octavio Paz). IMAG.361

1863-07ABR1947 - Henry Ford: Industrial americano - «Se o dinheiro for a nossa esperança de independência, jamais a alcançaremos. A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria, de experiência e de competência… Há um punhado de homens que conseguem enriquecer, simplesmente, porque prestam atenção aos pormenores que a maior parte das pessoas despreza». IMAG.125-428
                                   
TRAJECTÓRiA
 
Joannes Brahms
¯ Compositor e pianista alemão, Brahms nasceu em 1833, em Hamburgo, na Alemanha, e morreu em 1897, em Viena, na Áustria. Compôs sinfonias, concertos, música de câmara, peças para piano, peças corais e mais de 200 canções. Foi o grande mestre da sinfonia e da sonata da segunda metade do século XIX e um dos grandes compositores da época romântica.
Johannes Brahms era talentoso, produtivo e, além do êxito alcançado, tornou-se imensamente popular. Apesar disso, era visto como um conservador, em contraste com o progressismo de outros compositores seus contemporâneos. As suas sinfonias e concertos são bastante formais e não fossem os pequenos toques de classe, nomeadamente em alguns andamentos, não seriam hoje tão considerados. A sua excelência revela-se nesses pequenos detalhes. Talvez por isso, os seus trabalhos de menor dimensão - as peças de câmara e as sonatas - demonstrem tanta imaginação e energia. O simples facto de a sua Primeira Sinfonia ser ironicamente apelidada de Décima de Beethoven, prova o seu apego ao formalismo clássico de um compositor falecido há 50 anos. Adicionalmente, o facto de Johannes Brahms se ter demarcado de Liszt, Wagner e Bruchner e outros compositores da chamada Nova Escola Alemã atesta a sua inadaptação à rápida mudança estética da segunda metade do século XIX.
Os estudos musicais de Brahms foram iniciados muito cedo, no piano e na composição. O seu desejo era ser reconhecido como maestro e compositor. Tornou-se amigo de Robert Schumann, até porque partilhavam o mesmo estilo musical. A partir daí, Brahms tentou a sua sorte em Viena, a capital musical da Europa, e conheceu algum sucesso. Adicionalmente, atuou um pouco por toda a Europa, dando a conhecer a sua obra, perante audiências cada vez maiores. Depois disso, como muitos outros músicos, tornou-se professor. Quando em 1869 compôs Um Requiem Alemão, um trabalho coral e orquestral grandioso, conseguiu críticas bastante positivas e o retorno financeiro de que necessitava. Com a confiança renovada, trabalhou no formato que sempre o tinha amedrontado: a sinfonia. Veio a compor quatro sinfonias, além de numerosos concertos.
Entre as suas composições mais conhecidas encontram-se o Concerto para Piano N.º 1 em Ré Menor (1854-58), o Um Requiem Alemão (1868), as Danças Húngaras (1869), as Variações sobre um Tema de Haydn (1873), a Sinfonia N.º 1 em Dó Menor (1876), a Sinfonia N.º 2 em Ré Maior (1877), o Concerto para Violino em Ré Maior (1878), a Sinfonia N.º 3 em Fá Maior (1883), a Sinfonia N.º 4 em Mi Menor (1884-85), a Sonata para Violino em Ré Menor (1886-88), o Quinteto para Cordas em Fá Maior (1882), o Quinteto para Cordas em Sol Maior (1890), o Quinteto para Clarinete e Cordas (1891) e as Sonatas para Clarinete e Piano (1894).
Uma boa parte da sua obra foi inspirada diretamente na música popular alemã, húngara e zíngara. Toda a sua música apresenta solidez, riqueza harmónica, expressividade melódica e uma força rítmica baseada na utilização de síncopas. Embora não tenha sido um inovador, a sua arte marca uma forte maturidade dentro do movimento romântico alemão, o que faz de Brahms uma das figuras máximas da História da música.
        
SUMÁRiO
 
¨ Nasceu em 1907, em Paris. Poeta, ensaísta, crítico literário e de arte, estudou Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se funcionário da Emissora Nacional, onde organizou programas culturais. Assíduo colaborador da Presença e de outras publicações literárias, foi considerado um elo de ligação entre a geração presencista e a de Orpheu. Considerado um discípulo directo de Fernando Pessoa, a sua poesia caracteriza-se pela perfeição formal, pelo equilíbrio e sobriedade e pela sugestão musical. Denuncia alguma herança romântica e certa aproximação ao simbolismo. Morreu em 1949, em Paris.
        
BREVIÁRiO
 
¨ Relógio D’Água edita Convite Para Uma Decapitação de Vladimir Nabokov (1899-1977); tradução de Carlos Leite. IMAG.63-223-253-272-325-338-418-503-504-505-507-600
 
¨ Cavalo de Ferro edita Thérèse Desqueyroux de François Mauriac (1885-1970); tradução de Manuela Barros. IMAG.112-484-534

¨ Fundação Francisco Manuel dos Santos edita Malditos - Histórias de Homens e de Lobos de Ricardo J. Rodrigues.

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