quarta-feira, julho 01, 2015

IMAGINÁRIO #563



José de Matos-Cruz | 16 Maio 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

TRANSFIGURAÇÃO
Um estranho efeito repercutiu o fenómeno de Manoel de Oliveira, consagrado em todo o Mundo, sobretudo a partir da última década do século passado: as suas referências pessoais e culturais converteram-se numa espécie de parâmetro confluente ao próprio cinema português. Desde finais dos anos ’20, Oliveira ousara um percurso estético, temático e artístico com a sua carreira, exemplar e excepcional. Assim sobressaem o rosto e o vulto de um homem complexo, intenso, cuja matriz de criador se delimita entre a sensibilidade e a veterania, através olhares, intuições, deixando transparecer uma sublimação ritual de ironia e serenidade. Virtualizando um repositório actual de angústias, emoções, que é, simultaneamente, de compromisso e premonitório, Manoel de Oliveira traça, afinal, os estigmas do seu próprio imaginário - puro e tremendo, inocente ou monstruoso, poético e solene, insolente ou expiatório, em que o tributo ancestral acaba por transfigurar, além do testemunho sobre as adversidades, as marcas cintilantes quanto ao futuro. Eis um artista exposto, na plenitude do génio e da perplexidade.


CALENDÁRiO

11ABR-30MAI2015 - Em Lisboa, Museu Bordalo Pinheiro apresenta, aos sábados, Curso de Banda Desenhada por Penim Loureiro, em dois módulos (1º - técnicas básicas da arte sequencial, como superar o stress do desenho inicial e possíveis limitações no argumento; 2º - a estimulação da criatividade através da linguagem da bd, e como melhorar o estilo pessoal através da prática e troca de experiências); como artistas convidados, participam Daniel Maia, João Mascarenhas, André Oliveira, Susana Resende, Rosário Félix e Lígia Sousa, além de uma aparição especial (como anfitrião do Lisbon Studio) de Nuno Lourenço Rodrigues. IMAG.534

¨1931-27MAR2015 - Tomas Tranströmer: Poeta sueco - distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2011 («as suas imagens, condensadas e translúcidas, dão-nos um renovado acesso à realidade») - autor de As Minhas Lembranças Observam-me (1993) - «Conhecer o Mundo foi uma experiência muito forte». IMAG.379-445-450

¸1908-02ABR2015 - Manoel Cândido Pinto de Oliveira, aliás Manoel de Oliveira: Cineasta português - «Tudo é memória, tudo resta na memória. E a memória da vida é a arte, que existe como representação. Todos somos actores e espectadores - estamos isolados mas, ao mesmo tempo, em sociedade». IMAG.2-11-23-41-42-48-60-68-72-74-83-134-158-161-164-165-170-175-178-190-199-201-203-205-206-208-214-221-222-224-225-237-241-242-244-248-256-277-283-285-287-293-295-301-335-342-347-350-358-384-394-400-431-432-451-494-501-539-546

¢02-30ABR2015 - Em Grândola, Sala de Exposições da Biblioteca Municipal apresenta João Cutileiro: Escultura - Desenho - Fotografia. IMAG.68-532

µ08ABR-12MAI2015 - Em Lisboa, Centro Cultural de Belém/CCB apresenta, no Centro de Reuniões, O Elogio da Luz e da Sombra - A Imagem Cinematográfica - exposição de fotografia de João Abel Aboim, dedicada aos directores de fotografia.

O08ABR-12JUL2015 - No Centro Cultural de Cascais, Câmara Municipal de Cascais expõe, no âmbito das comemorações dos 645 anos do município e dos 650 anos da fundação da vila, Cascais: Memórias de Pedra e Cal (1364-2014).
ANTIQUÁRiO

¨480cC-406aC - Eurípedes: Poeta grego - «Aprendemos o bem e conhecemo-lo, mas não o praticamos, por doença ou por lhe preferirmos o prazer… Fala, se tens palavras mais fortes do que o silêncio. Ou, então, mantem-te calado». IMAG.284   

VISTORiA

¨A minha mãe gerou-me infeliz.
Invejo os mortos, amo-os ardentemente,
aspiro a morar em suas casas. 
Eurípedes
- Alceste (excerto)
VISTORiA

®Marta - Agora já todos partiram…
Bernick - E estamos sós… O meu nome já não brilha em letras de fogo… todas as luzes das janelas se apagaram…
Lona - Queres que as acendam outra vez?
Bernick - Nem pensar nisso… Onde estive eu? Ficarão espantados quando souberem. Parece que recuperei os sentidos depois de ter sido envenenado… Sinto que posso ser outra vez novo e forte… Vem cá, Betty! E tu, meu filho! Vem para aqui, Marta… parece que não vos vi durante estes anos…
Lona - Acredito… Esta comunidade é quase toda constituída por solteirões… Vêem-se poucas mulheres…
Bernick - É verdade!… E por essa razão, está decidido, Lona… não deixarás de estar ao pé da Betty e de mim.
Senhora Bernick - Não deves sair daqui, Lona!
Lona - Como seria eu capaz de deixar pessoas tão novas que estão prontas para começar agora a sua vida? Sou a vossa mãe adoptiva… Marta, tu e eu somos duas solteironas… O que é que estás a ver?
Marta - O céu está a ficar muito claro… Do lado do mar… O Palmeira vai ter boa viagem…
Lona - A bordo haverá pessoas muito felizes!
Bernick - Ao passo que nós temos à nossa frente um dia de trabalho… principalmente eu… Enquanto vos tiver junto de mim, a vós, mulheres fiéis e verdadeiras, sinto-me bem… Nestes últimos dias aprendi também que são elas os autênticos pilares da comunidade…
Lona - Então aprendeste mal… (Pondo-lhe as mãos nos ombros.) Ouve, os pilares da comunidade são o espírito de justiça e de liberdade.
Cai o Pano
Henrik Ibsen
- Os Pilares da Comunidade (1877 - excerto)
- Tradução de Mário Delgado
Fachadas

I
Ao fim do caminho vejo o poder.
Lembra uma cebola
com rostos sobrepostos
que vão caindo uns após outros…

II
Os teatros esvaziam-se. É meia-noite.
Letreiros flamejam nas fachadas.
O mistério das cartas sem resposta
afunda-se por entre a fria cintilação.
Tomas Tranströmer
- Tradução de Luís Costa
BREVIÁRiO

¨Antígona edita Mandriões No Vale Fértil de Albert Cossery (1913-2008); tradução de Júlio Henriques. IMAG.205-441

¨Cavalo de Ferro edita Final do Jogo de Julio Cortázar (1914-1984); tradução de Miguel Mochila. IMAG.205-298-330-454-539-546

¨Deutsche Grammophon edita Anton Bruckner (1824-1896) de Claudio Abbado (1933-2014). IMAG.104-233-323-404-437-440-481



MEMÓRiA

1451-20MAI1506 - Cristóvão Colombo: - Navegador e explorador genovês - «Muitos dos homens que já vi têm cicatrizes em seus corpos, e quando eu fazia sinais para eles para descobrir como isso aconteceu, eles indicavam que pessoas de outras ilhas vizinhas chegavam a San Salvador para capturá-los e eles defendiam-se o melhor possível. Acredito que as pessoas do continente vêm aqui para tomá-los como escravos. Devem servir como ajudantes bons e qualificados, pois eles repetem muito rapidamente o que lhes dizemos. Acho que eles podem muito facilmente ser cristãos, porque parece não terem nenhuma religião. Se for do agrado de nosso Senhor, vou tomar seis deles de Suas Altezas quando eu partir, para que possam aprender a nossa língua» (Diário de Bordo - 12OUT1492). IMAG.39-49-78-83-160-181-348-359-381-519

¨ 20MAI1806-1873 - John Stuart Mill: Escritor e pensador, filósofo e economista inglês - «As pessoas de génio, é verdade, são e, provavelmente, sempre serão uma pequena minoria; no entanto, para tê-las, é necessário conservar o solo em que crescem. O génio só pode respirar livremente numa atmosfera de liberdade». IMAG.418

¨1828-23MAI1906 - Henrik Ibsen: Dramaturgo norueguês - «Viver é lutar contra os demónios do coração e da mente. Escrever, é pronunciar sobre nós próprios o juízo final» (Carta a Ludwig Passarge). IMAG.83-115-268-451 

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

JORNAL D’ONTEM, PAPÉIS VELHOS - 3

Termos repetidos. Tempos repartidos.
Hortênsio Jardim, um mero civil em pancas durante a Campanha Expedicionária que derrotou o régulo Kuamba, após renhidos combates, tinha diante de si o próprio Comandante Militar de Lourenço Marques, que o felicitava e lhe pedia a partilha de mais pormenores sobre os desígnios até Napulo daquela gesta heróica, tão enaltecida pela Gazeta de Moçambique. Claro, ele sabia, sabia mais, não queria porém saber demais.
– Continua  

Sem comentários:

Enviar um comentário