José
de Matos-Cruz | 16 Janeiro 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
PESADELOS
No
imaginário americano, radical e crepuscular, o fim da civilização
emerge pelos sinais de uma vivência quotidiana banal, cuja
actualidade é devastada por um universo virtual, violento e
paranóico. Assim desvenda Hard
Boiled
(1990) - um testemunho em quadradinhos perturbante, devastador,
especialmente destinado aos leitores adultos, concebido pelo lendário
Frank
Miller,
a que Geof
Darrow
correspondeu, com uma impressionante ilustração, colorida ao
delírio por Claude Legris. Carl Seltz é um cidadão comum,
inspector de seguros e pai de família numa tranquila periferia. Mas,
quando dorme, terríveis pesadelos avassalam, transformando-o num
andróide exterminador, Unidade 4, que põe em risco a sobrevivência
da sociedade. Até ser regenerado, mas… Mundos paralelos?
Realidades antagónicas? Ou projecções apocalípticas de uma
mentalidade em transe, alucinatória, pervertida sob os desígnios do
bem e do mal? A verdade pode ser uma revelação fatal…
IMAG.27-40-98-149-193-209-240-517-530
CALENDÁRiO
25MAI-24JUL2018
- Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta New
Works - exposição /
instalação de Adam Pendleton (EUA).
1927-27JUN2018
- Stephen J. Ditko, aliás Steve Ditko: Argumentista e ilustrador
americano de banda desenhada, autor - com Stan Lee - de Spider-Man
(1962) e Doctor Strange
(1963) - «Sempre me senti fascinado pela sua maneira de ver as
coisas, que era muito mais mundana, muito mais real e muito mais
preocupada com escolhas morais do que a de qualquer outro autor de
quadradinhos» (Neil Gaiman). IMAG.3-86-448-653
29JUN-07OUT2018
- Em Guimarães, Centro Internacional das Artes José de Guimarães
apresenta Leopard In a Cage |
Projectos Inéditos (1969-2018)
de Julião Sarmento. IMAG.33-341-427-437-524-554-625-631-646-712-723
26JUL-28OUT2018
- Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Olhares
Sobre a Livraria do Convento da Arrábida.
VISTORiA
O
Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados
no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na
riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder,
no puro poder…
Somos
diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que
estamos a fazer. Todas as outras, até mesmo as que se assemelhavam a
nós, eram covardes e hipócritas. Os nazis alemães e os comunistas
russos aproximaram-se muito de nós nos métodos, mas nunca tiveram a
coragem de reconhecer os motivos próprios. Fingiam, talvez até
acreditassem, ter tomado o poder sem o querer, e por tempo limitado,
e que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso onde os seres
humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que
ninguém toma jamais o poder com a intenção de o largar. O poder
não é um meio, é um fim em si mesmo. Não se estabelece uma
ditadura com o desígnio de salvaguardar uma revolução; faz-se a
revolução para estabelecer a ditadura. O objectivo da perseguição
é a perseguição. O objectivo da tortura é a tortura. O objectivo
do poder é o poder.
George
Orwell
-
1984
(1949 - excerto)
PARLATÓRiO
O
público tem perdido o hábito de ir ao cinema, porque ir ao cinema
já não possui o encanto, a carisma hipnótica, a autoridade que já
teve. A imagem na posse de todos nós - a de um sonho que sonhou com
os olhos abertos - desapareceu. Será ainda possível que mil pessoas
possam agrupar-se no escuro e experimentar o sonho de um único
indivíduo?
Federico
Fellini
VISTORiA
A
Melhor Colheita
Por
tarde amena de estio
Vendo do campo o lidar,
Sentindo a brisa do rio,
Ouvindo o melro cantar,
Assentei-me em verde alfombra,
Dum freixo copado à sombra,
Com um amigo a conversar.
Vendo do campo o lidar,
Sentindo a brisa do rio,
Ouvindo o melro cantar,
Assentei-me em verde alfombra,
Dum freixo copado à sombra,
Com um amigo a conversar.
Qual
era a melhor seara,
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará;
Era o assunto da conversa,
Mas de opinião diversa,
Ambos teimávamos já.
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará;
Era o assunto da conversa,
Mas de opinião diversa,
Ambos teimávamos já.
Eis
que perto ali passava
Um camponês ancião,
Ao ombro a enxada levava,
Levava um cesto na mão
E no rosto lhe luzia,
Por entre doce alegria,
Doce paz no coração.
Um camponês ancião,
Ao ombro a enxada levava,
Levava um cesto na mão
E no rosto lhe luzia,
Por entre doce alegria,
Doce paz no coração.
– Façamos
do velho, digo,
Entre nós ambos juiz;
Que dizes tu meu amigo?
– Venha o teu velho, me diz.
Chamei-o logo, ele veio
E de nós ambos no meio
Assentar o velho fiz.
Entre nós ambos juiz;
Que dizes tu meu amigo?
– Venha o teu velho, me diz.
Chamei-o logo, ele veio
E de nós ambos no meio
Assentar o velho fiz.
Qual
era a melhor seara,
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará,
Lhe disse eu que era a conversa,
Mas de opinião diversa
Que ambos teimávamos já.
Qual melhor colheita dá,
Qual mais barata ou mais cara
Ao lavrador ficará,
Lhe disse eu que era a conversa,
Mas de opinião diversa
Que ambos teimávamos já.
– Dize,
pois, honrado velho,
É trigo, é milho, é arroz?
Decide com o teu conselho,
Dá o teu voto entre nós;
Que na falta de ciência
A sabedora experiência
Falará na tua voz.
É trigo, é milho, é arroz?
Decide com o teu conselho,
Dá o teu voto entre nós;
Que na falta de ciência
A sabedora experiência
Falará na tua voz.
Olhou-nos
então sorrindo,
E disse – Se Deus o quer,
Tudo é bom à terra indo,
Quando e como o tempo der,
Quando e como nos ensina
Da própria terra a doutrina
Aos que nela sabem ler.
E disse – Se Deus o quer,
Tudo é bom à terra indo,
Quando e como o tempo der,
Quando e como nos ensina
Da própria terra a doutrina
Aos que nela sabem ler.
Mas
de todas as colheitas
E, mancebos, a melhor
A das acções por nós feitas,
Sem que suba ao rosto a cor;
Porque é dessa que é medida,
No dia da despedida,
Nossa pensão ao Senhor!
E, mancebos, a melhor
A das acções por nós feitas,
Sem que suba ao rosto a cor;
Porque é dessa que é medida,
No dia da despedida,
Nossa pensão ao Senhor!
João
de Lemos
MEMÓRiA
1819-16JAN1890
- João de Lemos Seixas de Castelo Branco, aliás João de Lemos:
Poeta, dramaturgo e jornalista português - «Quem sou… quem fui?
Toda a terra / Que o diga, que o aprendeu; / Diga-o na paz e na
guerra, / Diga-o ela, que não eu! / Quem fui, que o digam cem povos,
/ Que o digam os climas novos / Por onde primeiro andei; / Que o
digam cristãos e mouros, / Que o digam troféus e louros, / Que eu
nem dizê-lo já sei!» (Portugal).
IMAG.226-244-259-706
16JAN1920-2018
- Maria Germana Dias da Silva Moreira Tânger Corrêa, aliás Maria
Germana Tânger: Declamadora portuguesa, poetisa, actriz, encenadora
e professora - «Tudo certo, certo / Relógios certos / Nas cabeças
certas. / Tudo certo, certo /…E eu tão errada / Tão longe nas
certezas certas.» (Escritório
- 1999). IMAG.712
1925-18JAN2010
- Ursula Kübler, aliás Ursula Vian-Kübler: Bailarina da Ópera de
Zurique (com Maurice Béjart) e dos Ballets de Paris (com Roland
Petit), actriz de cinema (dirigida por Louis Malle, Agnès Varda ou
Roger Vadim), casada com Boris Vian e fundadora da Association (1963)
e da Fond’action Boris Vian (1992), organizou os Festivais anuais
de música na cidade de Eus. IMAG.286-524
20JAN1920-1993
- Federico Fellini: Cineasta italiano - «Falar sobre sonhos é como
falar de filmes, uma vez que o cinema utiliza a linguagem dos sonhos;
anos podem passar em um segundo, e nós podemos ir de um local para
outro. É uma linguagem feita de imagens. E, no verdadeiro cinema,
cada objecto e cada luz significam alguma coisa, como em um sonho».
IMAG.72-213-247-259-331-367-383-385-440-471-551-694
20JAN1940-1995
- Jorge Manuel Rosado Marques Peixinho, aliás Jorge Peixinho:
Compositor, maestro e pianista português - «O objectivo da minha
música é a construção e organização de um novo e pessoal mundo
sonoro. Explorei profundamente e intensivamente todas as relações
entre a harmonia e o timbre para construir uma espécie de rede muito
densa de sons transformados. A característica principal da minha
música é uma espécie de atmosfera
sonora onírica, na qual
surgem pequenas transformações através de artifícios
contrapontísticos, filtragens harmónicas e tímbricas… Dou também
muita importância à ambiguidade entre a continuidade e a
descontinuidade».
IMAG.36-40-67-155-175-182-198-259-279-311-677
1903-21JAN1950
- Eric Arthur Blair, aliás George Orwell: Escritor e jornalista
inglês - «Não é uma questão de saber se a guerra é real ou não
é. A vitória não é possível. A guerra não é destinada a ser
ganha. É destinada a ser contínua. Uma grande sociedade arcaica só
é possível à custa da pobreza e da ignorância».
IMAG.170-205-212-222-259-313-318-419-424-476-662
22JAN1940-2017
- John Vincent Hurt, aliás John Hurt: Actor inglês de teatro,
televisão e cinema, intérprete de O
Homem-Elefante / The Elephant Man
(1980 - David Lynch) - «Distinguia-se, antes do mais, pela
inconfundível densidade dramática da voz» (João Lopes).
IMAG.74-662
23JAN1950-2018
- Maria Margarida Gouveia Vaquinhas, aliás Guida Maria: Actriz
portuguesa de cinema, teatro e televisão - «Uma honestidade
desassombrada, sem espaço para hipocrisia» (Ana Sousa Dias).
IMAG.696-709
EXTRAORDINÁRiO
OS
SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico
A
MELANCOLIA FIXA DO CONTROLADOR DE ONDAS -
7
Por
conseguinte, deveria confinar-se. Encerrado numa caixa tumular
estanques cada um dos lados cardeais, o quinto infinito e o sexto,
por onde entrara, tornado inexistente como a sua condição essencial
não haveria mais pontos de orientação que o relacionassem,
convertendo-se apenas numa efeméride onírica, referenciada com a
identidade pátria e a demanda da liberdade.
– Continua
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