domingo, junho 21, 2015

IMAGINÁRIO #562

José de Matos-Cruz | 08 Maio 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO


SINGULARIDADES
«A literatura infantil, os contos de fadas, estão estreitamente ligados às sensações e, sobretudo, ao medo» - referia François Truffaut nas célebres conversas sobre O Cinema de Alfred Hitchcock, tendo motivado ao mestre do suspense mais um ambíguo comentário: «Mas é esse, precisamente, o fascínio do imaginário…» Tal poderia simbolizar o apelo dos clássicos sobre a banda desenhada, de que é exemplar O Alfaiatezinho Valente / Le Vaillant Petit Tailleur (1997) - na versão escrita e ilustrada por Pierre Lavaud, aliás Mazan, autor da Escola de Angoulême. A partir da narrativa concebida pelos irmãos Jacob & Wilhelm Grimm, e publicada em antologia nos princípios do Século XIX, eis a saga de Valente - que se gaba «Matei sete de uma vez!», sem referir que eram moscas que estavam a perturbá-lo, no intervalo da confecção de um belo gibão. Assim, o vaidoso alfaiatezinho de Cirinte inicia as suas proezas heróicas - que o levam a enfrentar gigantes, ogres e unicórnios - dispondo-se, enfim, a conquistar o coração da Princesa, filha do rei Odon o Justo... Premiado como Melhor Álbum Juvenil no Festival de Erlangen, sobressai a recriação irónica e fantasista, estilizada por um grafismo solto mas alusivo.


CALENDÁRiO

¨1930-23MAR2015 - Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira, aliás Herberto Helder: Poeta e ficcionista português, autor de A Colher Na Boca (1961) - «é na morte de um poeta que se principia a ver que o mundo é eterno» (Os Passos Em Volta - 1963). IMAG.221-245-325-440-487-504-519
                      
¢28MAR-20SET2015 - Em Lisboa, Museu do Fado e Atelier-Museu Júlio Pomar expõem Sem Capricho ou Presunção - O Fado Por Júlio Pomar e Novas Doações. IMAG.19-312-449-495-505-534-552-553
 
VISTORiA

Morri Pela Beleza

¨Morri pela Beleza – mas mal me tinha
Acomodado à Campa
Quando Alguém que morreu pela Verdade,
Da Casa do lado –

Perguntou baixinho «Por que morreste?»
«Pela Beleza», respondi –
«E eu – pela Verdade – Ambas são iguais –
E nós também, somos Irmãos», disse Ele –

E assim, como parentes próximos, uma Noite –
Falámos de uma Casa para outra –
Até que o Musgo nos chegou aos lábios –
E cobriu – os nossos nomes –  
Emily Dickinson
- Poemas e Cartas (Tradução de Nuno Júdice)

Aos Amigos

¨Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
– Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.
Herberto Helder
- Lugar (1962)
VISTORiA

As Frases Feitas

¨Há um certo número de frases feitas que se conservam como num armazém, e das quais nos servimos para nos felicitarmos uns aos outros pelos nossos êxitos. Apesar de serem ditas, geralmente, sem aflição, e recebidas sem reconhecimento, nem por isso é permitido omiti-las, porque pelo menos são a imagem daquilo que há de melhor no mundo, que é a amizade; e os homens, não podendo contar uns com os outros na realidade, parecem ter combinado entre si contentarem-se com as aparências.
Com cinco ou seis termos de arte, e nada mais, dá-se ares de conhecedor de música, quadros, construções e manjares: pensa-se ter mais prazer do que os outros em ouvir, ver, comer; cada um impõe-se aos seus semelhantes, e engana-se a si mesmo.
Jean de La Bruyère
- Os Caracteres (1688, excerto)
O Espaço e a Morte

¨Os símbolos, uma vez realizados, pertencem à esfera da extensão. Todos eles – também os que designam um processo de evolução – são algo que se produziu e não algo que se produz. Por essa razão, têm limites rígidos e obedecem às leis do espaço. Não há símbolos que não sejam sensíveis e espaciais. A própria palavra forma significa algo que se estenda na extensão. Esta, porém, é a nota que caracteriza o facto de estar alerta; facto que constitui apenas um aspecto da existência individual e se acha intimamente ligado aos destinos da mesma. Sendo assim, todos os traços da vigilância activa – quer sintamos, quer compreendamos – pertencem já ao pretérito no mesmo instante em que nos demos conta deles. Sobre impressões somente podemos reflectir, como dizemos, servindo-nos de um termo significativo. Mas o que para a vida sensível dos animais é apenas passado, é passageiro para o intelecto humano, dependente de palavras. O que penetrou no reino da extensão tem não somente um começo como também um fim. Entre o espaço e a morte existe uma profunda conexão, que já se fez sentir em épocas muito remotas. O homem é o único ser que conhece a morte.
Oswald Spengler
- A Decadência do Ocidente (1918, excerto)
MEMÓRiA

¨ 1880-08MAI1936 - Oswald Arnold Gottfried Spengler, aliás Oswald Spengler: Filósofo e historiador alemão, autor de A Decadência do Ocidente (1918) - «Assim termina o espectáculo de uma grande cultura, esse mundo maravilhoso de deidades, artes, pensamentos… Resumindo, os factos primordiais do sangue eterno, que é idêntico às flutuações cósmicas em seus eternos ciclos».

¨ 1645-10MAI1696 - Jean de la Bruyère: Escritor francês, ensaísta sobre a Moral - «O mais doce de todos os sons é a voz de uma mulher apaixonada». IMAG.528


¯10MAI1916-2011 - Milton Babbitt: Compositor americano, teórico e professor, pioneiro da música electrónica - «Ensinar uma criança a imaginar o ritmo, uma sucessão de durações, é muito mais difícil que ensinar alguém a posicionar correctamente o seu dedo num instrumento». IMAG.342

¨ 13MAI1936-2009 - Manuel António dos Santos Lourenço, aliás M.S. Lourenço: Escritor português, poeta, filósofo, professor e tradutor - «Comigo as minhas vozes instam / Para que eu retome a Poesia. / Enfada-as o halo do silêncio / Após a audição da fala nobilíssima.» IMAG.264-294

¸ 12MAI1916-1980 - José Manuel Nobre Perdigão Queiroga, aliás Perdigão Queiroga: Cineasta português, realizador de Fado, História d’Uma Cantadeira (1947) - «Sem descer, sem concessões ao reles, [fixa] o ambiente em que vive esta canção popular, nem sempre doentia» (António Ferro). IMAG.63-82-90-94-223-275-279
 
¨ 1830-15MAI1886 - Emily Dickinson: Poetisa americana - «A beleza não tem causa. É. Quando a perseguimos, apaga-se. Quando paramos, permanece».IMAG.255-327

BREVIÁRiO

¨Assírio & Alvim re-edita Rosto Precário de Eugénio de Andrade (1923-2005); prefácio de Joana Matos Frias. IMAG.33-45-150-248-303-326-389-423-432-460-485-518-526-546

¨Afrontamento edita Categorias e Outras Paisagens de Fernando Echevarría. IMAG.345

¨Tinta da China edita Nas Bocas do Mundo - O 25 de Abril e o PREC Na Imprensa Internacional de Joaquim Vieira e Reto Monico.
         

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

JORNAL D’ONTEM, PAPÉIS VELHOS - 2

Antes, Hortênsio tivera uma história para contar, como aquelas que vinham nos diários: «Amanhã, realiza-se a notícia que demos no Domingo…»
Agora, o futuro de Hortênsio parecia depenicá-lo com panaceias doces, das que deixam um travo amargo: a mágoa de quem se antecipa no imaginário.
– Continua   

sábado, junho 13, 2015

IMAGINÁRIO #561

José de Matos-Cruz | 01 Maio 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
RECRIAÇÕES
Sobretudo motivadas para a publicação, em álbuns coloridos, das obras-primas e da produção em série de origem franco-belga, as principais editoras foram alterando, estrategicamente, uma opção de actualidade - pela oferta de títulos prestigiados ou alusivos sobre clássicos da literatura, em especial para jovens, através da recriação quadrinizada. Trata-se de uma alternativa à expressão tradicional que, podendo atrair os leitores fanáticos, suscita outros horizontes de fascinação aos destinatários primordiais. Assim, Os Três Cabelos de Ouro do Diabo / Le Diable aux Trois Cheveux d'Or (1999) - sobre o conto dos irmãos Jacob & Wilhelm Grimm - assinalou a estreia de Cécile Chicault como argumentista/ilustradora. Distinguido com os troféus Alpha-Art e Élephant d’Or, eis um imaginário sob o signo fantástico - em que o lendário da magia, o elã prodigioso, o onírico e a antiguidade correspondem, no entanto, a uma bizarra expressão dos valores e da moralidade, inerentes ao culto; e simbolizada numa contemporânea equivalência sobre os sentimentos humanos, ou numa dramática implicação pelas contingências do real.

CALENDÁRiO

¢17MAR-28JUN2015 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/MNAA expõe, no Salão do Mezanino, O Belo Vermelho - Desenhos a Sanguínea (Séculos XVI-XVIII), sendo comissária Alexandra Gomes Markl.

¨24MAR-20JUN2015 - Em Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal apresenta Os Caminhos de Orpheu; sendo comissário Richard Zenith, exposição de originais de Fernando Pessoa ou Mário de Sá-Carneiro, cartas, publicações da época e obras plásticas de Almada Negreiros, Santa-Rita Pintor e Amadeo de Souza Cardoso.

®1935-26MAR2015 - Fernanda Janeira de Sobral Pereira, aliás Fernanda Montemor: Actriz portuguesa de teatro, cinema e televisão - «Era um encanto, entusiasta, divertida, disposta a experimentar, atenta ao mundo, sincera, empenhada» (Jorge Silva Melo).

¨26MAR-26SET2015 - Em Lisboa, Casa Fernando Pessoa apresenta Os Testamentos de Orpheu - exposição de «obras (pinturas, cartazes, esculturinhas) onde abundam textos dos seus membros, colagens e abusos sobre eles, ou pequenos ensaios» de Pedro Proença.

¢27MAR-24MAI2015 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação Luís I apresenta Música e Monumentos - exposição de pintura de Mary St. George.
           
ANUÁRiO

¸1886-1970 - Silvino Simões Santos Silva, aliás Silvino Santos: Documentarista de origem portuguesa, pioneiro do cinema brasileiro, realizador de Cenas Amazónicas (1917) - «Índios em estado selvagem, completamente desnudos, como se encontram na natureza» (Jornal do Comércio - 26ABR1919). IMAG.28-79-503

¨MAR1915 - É publicado o primeiro número da revista Orpheu, de cariz literário e periodicidade trimestral, destinada a Portugal e ao Brasil. Em apresentação, Luís de Montalvor anuncia «um exílio de temperamentos de arte que a querem como a um segredo ou tormento», pretendendo «formar, em grupo ou ideia, um número escolhido de revelações em pensamento ou arte, que sobre este princípio aristocrático tenham em Orfeu o seu ideal esotérico e bem nosso de nos sentirmos e conhecermos». Então, constituíam-se em Lisboa os fundamentos sociais e culturais para um movimento estético pós-simbolista, pelo encontro e influência entre personalidades como Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro e Santa-Rita Pintor. IMAG.64-498-513


EPISTOLÁRiO

+ Na verdade, não sou, de forma alguma, um homem de ciência, nem um observador, nem um experimentador, nem um pensador. Nada mais sou, por temperamento, que um conquistador – um aventureiro, por outras palavras – com toda a curiosidade, ousadia e tenacidade características desse tipo de homem.
Sigmund Freud
- Carta a Wilhelm Fliess
- 01FEV1900
          
MEMÓRiA

¸ 01MAI1916-30AGO2006 - Gwyllyn Samuel Newton Ford, aliás Glenn Ford: Actor americano, nascido no Canadá - «Para mim, é indiferente interpretar um herói ou um vilão. Por vezes, o vilão é mais expressivo. Mas eu prefiro as personagens que se mantêm enigmáticas até ao fim». IMAG.110

¢01MAI1926-2014 - Nuno Belger Alves de San-Payo, aliás Nuno San-Payo: Pintor e arquitecto português, nascido no Brasil - «Foi acompanhando a evolução, não saindo do seu estilo» (António Silva). IMAG.525

05MAI1926-2011 - Luís Archer: Cientista português, pioneiro da investigação em genética molecular, padre jesuíta - «Não senti incompatibilidade entre os objectivos da fé e da ciência. A minha formação em Filosofia há muito que tinha destruído esses mitos; já tinha entendido que a Evolução foi o caminho que Deus seguiu para dar origem a este ser estranho que é o homem. O que não retira em nada o sagrado da vida» (2006). IMAG.380

06MAI1856-1939 - Sigismund Schlomo Freud, aliás Sigmund Freud: Neurologista austríaco, fundador da psicanálise - «A religião é, porventura, a neurose obsessiva universal da humanidade - tal como a neurose obsessiva das crianças, que decorre do Complexo de Édipo, quanto à relação com o pai». IMAG.31-81-117-199-243-343-370
         
PARLATÓRiO

¸Tenho que me representar a mim próprio. Não sou actor que possa encarnar uma qualquer personagem, como Laurence Olivier. A pior coisa que poderia fazer, era interpretar Shakespeare!
Glenn Ford
          
SUMÁRiO

O CINEASTA DA AMAZÓNIA
¸Silvino Santos lançou-se em 1913, na Amazónia, com O Rio Putumayo Em Iquitos, Peru para a Peruvian Amazon Rubber Company. Em 1922, cinegrafou a longa metragem No País das Amazonas, Brasil, sob encargo do compatriota Agesilau de Araújo. Em 1925, foi a vez do mítico No Rastro do El Dorado, sobre a Expedição de A. Hamilton Rice ao Rio Branco. A relação com o Comendador Araújo chegou até 1957 (Santa Maria da Villa Amazónica). Quarenta anos depois, Aurélio Michiles consagrava Silvino Santos, como O Cineasta da Selva (1997).
             
BREVIÁRiO

¨Tinta da China edita Sobre o Fascismo, a Ditadura Militar e Salazar de Fernando Pessoa (1888-1935); edição de José Barreto. IMAG. 26-28-64-82-130-131-157-182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343-347-376-382-384-385-395-399-403-404-417-426-433-450-460-467-491-507-509-524-540-551-556

¯Universal edita em CD, sob chancela Decca, Enrique Granados [1867-1916]: Goyescas, Danzas Españolas; [Manuel de] Falla [1876-1946]: 4 Piezas Españolas, El Sombrero de Trés Picos, Amor Brujo por Alicia de Larrocha (1923-2009). IMAG.104-382-409-556
         



EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

JORNAL D’ONTEM, PAPÉIS VELHOS - 1
10 de Setembro de 1899
- Sobre isso, ainda não sei nada, meu senhor. Não ouvi, nem me disseram. Olhe que eu aprendi a ler, mas nem consigo reparar nas letras tão pequeninas com que fazem as folhas de novidades. É como se quisessem reservá-las para burgueses de lupa ou cavalheiros de monóculo, mantendo-nos na ignorância, aos pobres que nem dinheiro temos para comprar um pão. Quanto mais umas lunetas, como está bom de ver…
Quem assim falava, em palavras tão estrondosas, em tão amplas frases porém decepcionadas, tinha - afinal - consciência crítica, e estava bem à altura da situação. Entre contentar ou contestar, num português vernáculo. À opinião das duas, uma, Hortênsio Jardim preferia a opção uma, de duas. E não lhe ficava mal, considerando-se as circunstâncias. Ora, não há craveira intelectual que resista à caveira em terminal.  

– Continua   

terça-feira, junho 09, 2015

IMAGINÁRiO #560

José de Matos-Cruz | 24 Abril 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

HUMORES
O mais aliciante humor em quadrinhos, estilizado no Brasil, tem o sabor de Chiclete Com Banana - a revista que, em 1984-1990, logrou o maior sucesso do público e da crítica, no mercado de além-Atlântico, com 24 números normais e 7 especiais. Um êxito que se saldou em mais de quatro milhões de exemplares vendidos - compensando o desafio do criador e editor Angeli, que distribuiu os louros com o principal colaborador Laerte. Nomes maiores dos quadrinhos de sátira aos costumes e às vivências sociopolíticas, através de uma leitura irreverente e corrosiva, para adultos, Laerte e Angeli ficaram conhecidos dos leitores portugueses, através das tiras publicadas pelo Diário de Notícias. Chiclete Com Banana permite-nos um olhar mais amplo e diversificado, logo por um leque de irresistíveis personagens: Wood & Stock, Os Skrotinhos, Rhalah Rikota, Osgarmo ou Mara-Tara de Angeli; Os Gatinhos, Fagundes o Puxa-Saco, Os Piratas do Tietê, Síndico o Administrador do Prédio ou Aderbal de Laerte. Não há como resistir…


VISTORiA

Álcool
¨Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longemente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.

Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.

Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo
Luto, estrebucho… Em vão! Silvo pra além…

Corro em volta de mim sem me encontrar…
Tudo oscila e se abate como espuma…
Um disco de oiro surge a voltear…
Fecho os meus olhos com pavor da bruma…

Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?…
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante
Manhã tão forte que me anoiteceu.
Mário de Sá-Carneiro

Ilha Nua
¨Coqueiros e palmares da Terra Natal
Mar azul das ilhas perdidas na conjuntura dos séculos
Vegetação densa no horizonte imenso dos nossos sonhos.
Verdura, oceano, calor tropical
Gritando a sede imensa do salgado mar
No deserto paradoxal das praias humanas
Sedentas de espaço e de vida
Nos cantos amargos do ossobô
Anunciando o cair das chuvas
Varrendo de rijo a terra calcinada
Saturada do calor ardente
Mas faminta da irradiação humana
Ilhas paradoxais do Sul do Sará
Os desertos humanos clamam
Na floresta virgem
Dos teus destinos sem planuras
Alda do Espírito Santo
- É Nosso o Solo Sagrado da Terra (1978)
 
CALENDÁRiO

µ09ABR-02AGO2015 - Em Lisboa, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional apresenta Génesis - exposição de fotografia de Sabastião Salgado, sendo curadora Lélia Wanick Salgado.

MEMÓRiA

1861-08FEV1926 - William Baterson: Biólogo inglês, cofundador da Genética, autor de Materials For the Study of Variation (1894) - «É sugerido que em animais e plantas as relações mútuas entre os membros de uma Série de Partes Repetidas, quer a série seja radial ou linear, é em alguns aspectos essenciais comparável ao que existe entre uma série de segmentos [“ventrais”] formados pela comunicação de vibrações de um corpo elástico. Nesta comparação, as linhas de divisão entre os segmentos adjacentes dizem respeito a linhas internodais ou locais de movimento máximo» (1891).

1867-24ABR1936 - Finley Peter Dunne: Jornalista e editor americano - «Muitos vegetarianos parecem-se tanto com a comida que ingerem que poderiam ser considerados canibais».

­ 1499-25ABR1566 - Diane Poitiers: Nobre francesa - «A calúnia é como uma moeda falsa: muitos que não gostariam de a ter emitido, fazem-na circular sem escrúpulos». IMAG.267

¨ 1890-26ABR1916 - Mário de Sá-Carneiro: Ficcionista e poeta português - «Nada me expira já, nada me vive / Nem a tristeza nem as horas belas. / De as não ter e de nunca vir a tê-las, / Fartam-me até as coisas que não tive.» (Além-Tédio). IMAG.65-71-236-275-307

ü27ABR1926-2014 - Anthímio José de Azevedo, aliás Antímio de Azevedo: Meteorologista português, ligado ao Serviço Meteorológico Nacional e ao Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, o Senhor do Tempo na RTP e na SIC - «O aspecto mais saliente é a sua intervenção televisiva, as suas características pessoais de apresentador, de quem está no estúdio como quem está na rua ou em casa» (Costa Alves). IMAG.65-286-394-540

¯28ABR1926-2009 - Blossom Dearie: Compositora americana, pianista e cantora de jazz - «As suas interpretações passam, de um modo único, do meticuloso ao sublime» (Rogers Whittaker - The New Yorker). IMAG.237

µ1922-28ABR2006 - Victor Palla: Arquitecto português, escritor, fotógrafo e designer, Prémio Nacional de Fotografia em 1999 - «Protagonista de um dos mais importantes e versáteis percursos do Século XX português, sem que a dimensão da sua obra global tenha sido verdadeiramente entendida» (Lígia Afonso). IMAG.92-216-358


¨ 1561-29ABR1626 - Francis Bacon: Filósofo, ensaísta e político britânico - «O costume é o principal moderador dos actos humanos. Esforcemo-nos por adquirir e conservar bons costumes». IMAG.307

¨ 1908-29ABR2006 - John Kenneth Galbraith: Escritor, diplomata, filósofo, economista, professor americano - «Todos os grandes líderes têm manifestado um aspecto característico em comum: a disposição para confrontar inequivocamente a principal ansiedade dos povos do seu tempo. Isto, e não muito mais, é a essência da liderança».

¨ 30ABR1926-2010 - Alda Neves da Graça do Espírito Santo, aliás Alda Graça, aliás Alda do Espírito Santo: Escritora natural de São Tomé e Príncipe, militante da luta pela independência, autora do Hino Nacional, ministra e deputada - «A sua poesia teve importância em todo o movimento anticolonial e em todos países de expressão portuguesa» (Manuel Alegre). IMAG.293

ANTIQUÁRiO

28ABR1896 - Em Inglaterra, a Royal Society autoriza a publicação do primeiro de três volumes dos Philosophiae Naturalis Principia Mathematica de Isaac Newton (1643-1727), com o patrocínio do astrónomo Edmond Halley (1656-1742). IMAG.29-46-80-87-124-353-401

GALERiA

Génesis - Sebastião Salgado
µA exposição itinerante Génesis, de Sebastião Salgado, já passou pelo Brasil, após inauguração no Museu de História Natural de Londres, em 2013, e chega a Portugal numa produção de Terra Esplêndida, em conjunto com a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural/EGEAC da Câmara Municipal de Lisboa. As imagens captadas por Sebastião Salgado a preto e branco, sobre pessoas e natureza, abordando tanto os flagelos da Humanidade como os lugares intocados pelo Homem, têm corrido mundo em livros e exposições. Esta mostra surge na sequência de dois anteriores grandes projectos de Sebastião Salgado: Trabalhadores (1993) e Migrações (2000), que abordaram o trabalho manual e o movimento de populações no planeta. Por seu turno, Génesis é uma homenagem do fotógrafo brasileiro à grandiosidade da natureza e, ao mesmo tempo, um alerta para a fragilidade da Terra, desvendando lugares quase intocados que a Humanidade pode perder, se não tomar medidas para a preservar. As imagens, captadas em várias áreas geográficas, são apresentadas nas secções Sul do Planeta, Santuários, África, Espaços a Norte e Amazónia e Pantanal. O conjunto é o resultado de mais de trinta viagens pelo mundo, entre 2004 e 2011. 

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

ENTRE AS TERRAS DO SOL E O REINO DAS TREVAS - 13
Se bem o imaginou, pior o fez quanto à segunda função. Desfez-se o encantamento. E, ao tocar no Rio Douro, a lágrima prateada de Celeste Maldonado estava de tal modo seca, que se desintegrou em estilhaços.

– Continua