sábado, agosto 01, 2015

IMAGINÁRIO #568



José de Matos-Cruz | 24 Junho 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
 
TRANSFIGURAÇÕES
Em 1917, a I Guerra Mundial devastava a Europa. A 13 de Maio, num dos ermos vales da Serra de Ourém, três crianças guardavam o rebanho na Cova da Iria, perto de Fátima. Então, a Virgem Maria apareceu junto às azinheiras solitárias, numa nuvem luminosa, aos pastorinhos - Lúcia, Jacinta e Francisco. Falou-lhes de profecia em palavras de fé, tendo recomendado penitência e oração, para salvação dos males do Mundo. Prometeu ainda voltar todos os dias 13, durante seis meses. Quando as autoridades locais tiveram conhecimento desta visão, ameaçaram os meninos com castigos, caso eles não se retractassem. Mas os jovens crentes reafirmaram os factos, inspirando toda a população. No predito 13 de Junho, setenta mil pessoas aglomeraram-se, esperando o fenómeno anunciado. De súbito, o Sol rompeu, estrelando o céu, sobre a Terra… Eis a ilustração de Fátima (1979) por Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005). Uma visão ingénua, fascinante, sobre as peripécias primordiais - aliando o mistério sobrenatural e a pureza da mensagem, à transcendência divina. Um grafismo sóbrio, quase tosco na expressão rústica, a preto e branco, mas de irradiante simbolismo. IMAG.28-31-41-43-85-117-129-132-209-328-372


                          
CALENDÁRiO

¯1918-30ABR2015 - Henriette Eugénie Jeanne Ragon, aliás Patachou: Cantora e actriz francesa - «A sua voz poderosa, elegante, perfeitamente trabalhada, permitia-lhe a evocação melancólica dos amores mortos e das separações» (Causeur.fr).

¯16SET1925-14MAI2015 - Riley Ben King, aliás B.B. King: Cantor americano, compositor e guitarrista - «Tem o mesmo lugar nos blues que Louis Armstrong tinha no jazz. É um embaixador para a música» (Peter Guralnick).

14MAI-05JUL2015 - Cidadela de Cascais, nova sede do evento principal, apresenta World Press Cartoon; sendo curador António Antunes, inclui uma exposição Top 50 dos prémios de 2014, menções honrosas e outros desenhos de humor da melhor produção internacional. IMAG.35-195-247-353-407-558

¢18MAI2015 - Em Cascais, Fundação D. Luís I expõe, na Casa Duarte Pinto Coelho, Vulcões Napolitanos da Colecção Duarte Pinto Coelho (1923-2010).

¢20MAI-29SET2015 - Em Lisboa, Museu Colecção Berardo expõe O Olhar do Coleccionador por Joe Berardo. IMAG.87-173-195-212-227-246-270-279-294-301-319-337-516-556-558-566

29MAI-14JUN2015 - Em Beja, decorre o XI Festival Internacional de Banda Desenhada, sendo director Paulo Monteiro. IMAG.36-250-305-416-514

¢11-27JUN2015 - Em Lisboa, Zaratan Arte Contemporânea apresenta And Murders and All - exposição de pintura de Sara Franco. IMAG.168-248-416-430-549
                    
VISTORiA


®Diabo: E as peitas dos judeus
que a vossa mulher levava?
Corregedor: Isso eu não o tomava
eram lá percalços seus.
Nom som pecatus meus,
peccavit uxore mea
.
Diabo: Et vobis quoque cum ea,
não temuistis Deus.
A largo modo adquiristis
sanguinis laboratorum
ignorantis peccatorum.
Ut quid eos non audistis?
Corregedor: Vós, arrais, nonne legistis
que o dar quebra os pinedos?
Os direitos estão quedos,
sed aliquid tradidistis
...
Gil Vicente
- Auto da Barca do Inferno (1517 - excerto)

PARLATÓRiO

A banda desenhada sempre existiu, com outros nomes ou manifestações, desde um passado bastante remoto. Os novos processos mediáticos permitem uma difusão maior. A base da sua actual expressão está, primordialmente, no alemão Albert Dürer (1471-1528) - que, em gravura, ilustrou duas peças do teatro romano. Entre muitas coisas, esse foi o labor essencial. Realmente, com características semelhantes ao que conhecemos hoje, a bd começa no século passado. Mas os actuais atalhos técnicos atingem extraordinários resultados. Os muitos autores que se dedicam à bd também contribuíram para sucessivas melhorias.
É preciso ser meio louco, para dedicar uma vida a fazer banda desenhada. Dá imenso trabalho, cada obra é infernal em pesquisa, para ter veracidade. O autor de bd deve estar preparado para ilustrar tudo o que se relaciona com o tema em foco - e isso é completamente diverso de um pintor subjectivo, ou que se especializa em retratos, em paisagens, só necessitando depois do seu talento. Nós temos que desenhar animais, pessoas vestidas ou despidas, em todas as posições, ambientar outras épocas… Em suma, precisamos de uma grande bagagem. Uns são melhores, outros piores, mas o esforço é igual para todos.
Em banda desenhada, cuidar do lado estético e plástico é muito difícil, e ainda pior analisá-lo. Eu não tenho nenhuma mania artística, não me sinto incomodado por tais preocupações. Cabe-me, simplesmente, executar um determinado tipo de trabalho, e é isso que eu tento fazer, o melhor que posso e sei. Esta foi sempre a minha postura, desde que comecei a dedicar-me à banda desenhada e à ilustração. Fornecendo, a quem lê ou olha o que eu faço, um produto agradável, que cumpra o maior número possível de requisitos e exigências.
Eduardo Teixeira Coelho
(1998)

BREVIÁRiO

¨Dom Quixote edita Cláudio e Constantino de Luísa Costa Gomes. IMAG.58-135-298

¨Asa edita O Franco-Atirador Paciente de Arturo Pérez-Reverte; tradução de Cristina Rodríguez e Artur Guerra.

¨Relógio D’Água edita O Planeta do Sr. Sammler de Saul Bellow (1915-2005); tradução de José Miguel Silva. IMAG.36-87-360-421-518-546-553-555
            
GALERiA

Vulcões Napolitanos

¢Parte da Colecção de Duarte Pinto Coelho que se encontra em Cascais ao abrigo de um Protocolo assinado entre a Câmara Municipal de Cascais, a Fundação D. Luís I e a Fundación Duques de Soria, esta exposição é um raro momento de confluência da pintura com a sedução de lugares cuja história está ligada à actividade vulcânica na região de Nápoles, assolada pelas erupções intermitentes do Vesúvio. Estamos, assim, perante obras que fixaram para a posteridade, de forma exuberante, antes do advento da fotografia, momentos de angústia mas também de assinalável expressão plástica.


O Olhar do Coleccionador

¢Uma selecção de obras da Colecção Berardo, feita pelo seu colecionador, algumas nunca anteriormente exibidas mas que, no conjunto, nos dão uma visão particular deste monumental acervo. Nas palavras do Comendador Joe Berardo, também curador, «a presente exposição teve como ponto de partida algumas obras da colecção que, embora menos conhecidas do público, constituem parte das minhas predilecções. Trata-se, por isso, de uma selecção de afectos. Confesso que sempre me senti atraído pela escala opulenta de alguma pintura moderna, e a selecção de algumas das obras reflecte esse meu fascínio. É, pois, para essa experiência da desmesura da imaginação e do reconhecimento da própria vida que esta exposição convida o visitante». Entre muitos outros nomes, incluem-se obras de Marc Chagall, Pierre Klossowski, Frank Stella, Georg Baselitz, Sarah Morris e Rui Chafes.
        
ANTIQUÁRiO

®1465-1536 - Gil Vicente: Dramaturgo, poeta e ficcionista português - «Juro-vos que de saudade / tanto de pão não comia / a triste de mi cada dia / doente, era üa piedade. / Já carne nunca a comi, / esta camisa que trago / em vossa dita a vesti / porque vinha bom mandado.» (Ama - Auto da Índia - 1509, excerto). IMAG.29-63-457-537

¯1926-2013 - Maria Antónia Luna Andermatt, aliás Luna Andermatt: Bailarina e coreógrafa portuguesa, co-fundadora da Companhia Nacional de Bailado (1977) - «O trabalho no palco tem que ter fogo. Se não tem fogo, não presta. É preciso viver por dentro do trabalho. Se não se vive, não presta. O público percebe muito bem quando não é sentido…  Tenho a impressão de que a dança já nasceu comigo» (2011). IMAG.489

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS - Folhetim Aperiódico

JORNAL D’ONTEM, PAPÉIS VELHOS - 7

- Reparou nisto? O desplante da criatura… - comentava todavia Silvino de seguida, e em recato, para o Coronel Mathias Plínio, um oficial de confiança mesmo ao lado. Não era tanto a insolência que o avespinhara, mas a esperteza do Hortênsio, a enobrecer a ignorância de saloio.
– Continua