quinta-feira, novembro 26, 2015

Bedeteca José de Matos-Cruz - Rescaldo

Volvida uma semana desde a inauguração da Bedeteca José de Matos-Cruz, na Biblioteca Municipal de S. Domingos de Rana, no passado dia 20 de Novembro, deixo aqui um breve registo fotográfico e em video, levantado do destaque feito no portal da C. M. de Cascais.





Obrigado ainda a todos os canais noticiosos e blogs que fizeram referência à abertura, e os meus agradecimentos a todos os que puderam estar presentes.


domingo, novembro 22, 2015

IMAGINÁRiO #584

José de Matos-Cruz | 24 Outubro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

CELEBRAÇÃO
Assinalando o 30º Aniversário de Jim Del Monaco (1985-2015), a Asa lançou O Cemitério dos Elefantes - uma Edição Comemorativa, com quatro aventuras inéditas, do extraordinário herói concebido e recriado por Luís Louro & Tozé Simões. Além do Prefácio de Rui Zink («surpreendentemente, nem uma ruga»), e da Introdução por Tozé Simões («seguindo o habitual método do disparate incontinente»), destacam-se ainda Curiosidades, Sessões Fotográficas, Entrevista com os autores e uma secção de Esboços. Além de Testemunhos, onde tive o gosto de registar: «A saga de Jim Del Monaco trouxe modernidade à banda desenhada portuguesa, estilizando a nostalgia sob o signo da aventura. Uma expressão jovial, inventiva, crítica e divertida de que sentimos saudades, apreciando ainda o seu engenho vanguardista. Tê-lo de volta é, pois, celebrar as virtualidades de um imaginário cujo original modelo heróico se transfigura pela fascinante intemporalidade». IMAG.4-11-187-430-493-551

CALENDÁRiO

ü18JUL-30SET2015 - No Parque dos Poetas, em Oeiras, Templo da Poesia expõe A Viagem de [Charles] Darwin (1809-1882) - ilustrando a expedição realizada pelo naturalista entre 1831 e 1836, e que visava o levantamento cartográfico da América do Sul.IMAG.16-63-74-77-87-90-101-109-119-214-234-238-241-248-295-367

®03MAI1946-08SET2015 - Maria Delfina da Cruz Neto Pinto do Amaral, aliás Delfina Cruz: Actriz portuguesa de teatro, cinema e televisão - «Uma belíssima colega de trabalho, incapaz de levantar problemas, cumpridora e muita segura» (Nicolau Breyner).

µ11SET-05OUT2015 - Em Lisboa, Largo do Intendente expõe Bang! e At Night We Dreamed of Tall Ships - pelos fotógrafos Augusto Brázio (Portugal) e Martina Cleary (Irlanda), integrando Flâneur - Novas Narrativas Urbanas com organização de Procurar.Arte.
       
VISTORiA

Apelo Paracleto
Para o Francisco Jorge
¨Deixa-te estar assim um instante mais pousada
no parapeito da janela,
antiquíssima profetisa dos bosques.

Não te vás,
pequeno deus do orvalho
(pelo menos enquanto escrevo este poema).

Deixa-te estar um instante mais
pousada
no parapeito da janela
que eu não sou caçador não ouso
armadilhas nem flechas
nem te levarei de oferta à minha amada,
noiva de Salomão,
ave sagrada de Afrodite,
símbolo talmúdico da castidade.

Fica,
alado peixe duplo,
breve mensageira da Grande Mãe Telúrica.

Deixa-te estar um instante mais pousada
no parapeito da janela,
portadora do ramo de oliveira.

Quero saber se o Dilúvio Universal
já acabou lá fora
e se o Espírito de Deus paira de novo sobre
as águas da substância primordial
indiferenciada.
Emanuel Félix
- O Instante Suspenso (1992)

VISTORiA

¨ O colégio é uma casa triste, sombria, impregnada daquele cheiro abafante que deixa no ar a aglomeração das crianças. O colégio tem um guarda-portão de aspecto duro, homem habituado a pagar-se nas lágrimas dos colegiais pequenos das diabruras que os grandes lhe fazem. As paredes têm riscos e letras a lápis; no chão escuro há pedaços de papéis rasgados; a disposição das camas, o aspecto seco dos prefeitos, as maneiras dos criados dão aos dormitórios um ar de hospital. As aulas, sujas pela lama que trazem as botas dos externos, os bancos lustrados pelo uso, as carteiras de pinho pintadas de preto, os transparentes das janelas manchados pela chuva, a lousa negra polvilhada de giz a um canto da casa, o rodapé da banca do professor de baeta lagrimejada de tinta, infundem uma tristeza lúgubre. Tudo quanto pode converter o trabalho num objecto de repulsão e de horror acha-se felizmente reunido na maior parte dos colégios portugueses. As mulheres, que a experiência tem provado possuírem muito mais aptidão para o ensino do que os homens, são geralmente excluídas do professorado nos colégios de alunos do sexo masculino. O ensino é ordinariamente feito por sábios de pouco preço, para os quais os âmbitos da ciência bem como os da sociedade são igualmente cheios das trevas mais augustas e mais impenetráveis. Por via de regra, literato falido, escritor malogrado, crítico inédito, o magister tem a pedanteria das pequenas letras e as severidades da alta magistratura, envoltas num exterior intonso, com maneiras de uma gravidade suspeita e de um exemplo contestável. No entanto como no tocante às maneiras do aluno tudo quanto se exige é que ele seja aprovado no seu exame de civilidade, lá estão para suprir tudo os compêndios do Sr. João Félix, vigoroso freio para que o estudante nunca escarre na cara das pessoas de respeito nem arrote com repreensível estampido quando jantar na alta sociedade. Poupa o trabalho de dar exemplos a comodidade de possuir um livro assim, que permite ao preceptor dizer simplesmente o seguinte a um homem que vai entrar no mundo: «Releia o seu João Félix, e conserve-se sempre de sobreaviso sobre as expectorações e sobre os gases».
Ramalho Ortigão
- As Farpas (1871 - excerto)
MEMÓRiA

¨ 24OUT1836-1915 - José Duarte Ramalho Ortigão: Escritor e jornalista português - «Principiamos por desconhecer a nossa missão na humanidade. A família enfraquece por toda a parte. O hospício dos expostos em Lisboa contava no primeiro dia do corrente mês de Outubro 15099 crianças repudiadas por seus pais. A roda dos expostos joga com outra roda na administração do país – a roda da lotaria. A lotaria sustenta a Misericórdia. O jogo protege a prostituição. A tavolagem adopta o bordel. E a mancebia abjecta da batota e do prostíbulo abençoada pelo Estado e acarinhada pelo país» (As Farpas - 1871). IMAG.19-52-90-91-125-148-199-205-208-242-251-532-554-555

¨ 24OUT1936-2004 - Emanuel Félix Borges da Silva, aliás Emanuel Félix: Poeta e crítico literário, natural dos Açores - «Melhor o vejo operário da palavra como um mister sagrado - seu compromisso sócio-intelectual, apresentando serenamente a voz preclara da Verdade na sua função libertadora. Melhor o vejo ainda peregrino silencioso da Poesia, percorrendo os espaços onde se encontram as palavras disponíveis e componentes do edifício do poema» (Álamo de Oliveira).

ü25OUT1896-1984 - Maurice Bellonte: «Herói legendário da aviação mundial» (Diário de Notícias - 1965), «o último sobrevivente de uma plêiade de homens que souberam viver a vida com intensidade invulgar, enchendo-a de aventuras e incidentes». IMAG.450

¯25OUT1926-2012 - Galina Vishnevskaya: Soprano russa, casada com o maestro e violoncelista Mstilav Rostropovitch, estrela da ópera da União Soviética, e exilada em 1974 - «Foi um exemplo de superação e de génio forte ao melhor modo» (Ygor C.S.). IMAG.445

¢27OUT1866-1942 - António Teixeira Lopes: Escultor português, discípulo de António Soares dos Reis - «Tudo quanto ele modela reveste formas gráceis e esbeltas d’uma euritmia elegantíssima, d’uma expressão sempre pessoal» (António Arroyo - Soares dos Reis e Teixeira Lopes - 1899). IMAG.375

¨ 1872-30OUT1956 - Pio Baroja: Escritor espanhol da Geração de ’98 - «Assim como a desgraça faz discorrer mais, a felicidade rouba todo o desejo de análise; por isso, é duplamente desejável… Quase sempre a vida de sacrifícios pode tornar-se mais agradável do que a de amarguras». IMAG.400

¨ 31OUT1876-1972 - Natalie Barney: Novelista, poeta e dramaturga norte-americana - «A atracção do vazio explica a sedução das mulheres… Não posso dar-me a quem me não sabe prender». IMAG.357

¯31OUT1896-1963 - Pedro de Freitas Branco: Maestro português - fundador da Companhia de Ópera Portuguesa (1927) e da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (1934), autor de História da Música Popular Em Portugal (1947). IMAG.48-104-187

¨ 31OUT1926-2011 - Henry Reymond Fitzwalter Keating, aliás H.R.F. Keating: Escritor inglês de literatura policial, criador do inspector indiano Ganesh Ghote, do Departamento de Investigação de Mumbai - «Ele sou eu… Tanto um como o outro, nos aborrecemos com o que os outros pensam de nós». IMAG.350
                
ANTIQUÁRiO

28OUT1856 - Portugal inaugura o primeiro troço do caminho-de-ferro, entre Lisboa e o Carregado, viagem na qual participou El Rei D. Pedro V. IMAG.106
        
BREVIÁRiO
 
¨Secretaria Regional da Educação e Cultura dos Açores edita A Obra Completa de Emanuel Félix. IMAG.454

¨Gradiva edita Na Senda de Fernão Mendes - Percursos Portugueses No Mundo de Guilherme d’Oliveira Martins; a partir de Fernão Mendes Pinto (1510-1583). IMAG.17-122-148-426-541


quinta-feira, novembro 12, 2015

IMAGINÁRiO #583



José de Matos-Cruz | 16 Outubro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

VIRAGENS

Será o cinema, apenas, «um palpitar de emoções mais intenso que o pulsar dum coração, a vinte e quatro imagens por segundo»? Admitamos concordar, se quem assim considera é um autor com o talento e a ironia de Woody Allen. É inegável, pelo menos, que os seus testemunhos transmitem um olhar subjectivo, fascinante, sobre a existência aparentemente banal, entre seduções e roturas. Aliás, durante os anos ’90 do século passado, uma intensa actividade correspondeu, para Allen, a dramáticas mutações tanto pessoais - a separação afectiva/artística de Mia Farrow (1992), o casamento com Soon-Yi Previn (1997); como profissionais - um peculiar estilo de produção na Costa Leste, face às estratégias de Hollywood. Porém, ele persistiria Através da Noite / Sweet and Lowdown (1999), inabalável e melómano. Em 1994, Don’t Drink the Water assinalou o regresso de Allen à televisão, como guionista, director e intérprete. Quatro anos depois, deu voz aos traumas de Antz - Formiga Z (1998 - Eric Darnell, Larry Guterman, Tim Johnson) - para Steven Spielberg, com quem faria vários filmes a partir de 2001. Entretanto, a DreamWorks assegurara a distribuição dos Vigaristas de Bairro / Small Time Crooks (2000). E Allen prosseguiria a romagem pela Europa…
IMAG.44-120-171-190-325-412-516

CALENDÁRiO

µ12SET-11NOV2015 - Em Lisboa, Barbado Gallery apresenta A Place In the Sun - Beach Photos 1985-2015 - exposição de fotografia de Martin Parr, presidente da Agência Magnum. IMAG.554

¢20OUT2015-03JAN2016 - Em Lisboa, Fundação EDP expõe, no Museu da Electricidade, Afinidades Electivas. Julião Sarmento Coleccionador, sendo comissário Delfim Sardo. IMAG.33-341-427-437-524-554

µ07NOV2015-31JAN2016 - Em Évora, Fundação Eugénio de Almeida apresenta, com Património de Évora, Prece Geral de Daniel Blaufuks; início do projecto Re-Inventar a Memória, sendo curadora Filipa Oliveira. IMAG.475-546

¢20NOV2015-22FEV2016 - No Centro de Arte Moderna/CAM, em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian expõe O Círculo Delaunay - sobre as relações entre Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e Robert Delaunay (1885-1941), sendo curadora Ana Vasconcelos. IMAG.84-149-154-185-258-279-371-434-476-510-561

TRAJECTÓRiA 

LEITÃO DE BARROS – O SENHOR CINEMA
No cinema português, José Leitão de Barros (1896-1967) é, sem dúvida, uma das personalidades multifacetadas de artista que, com maior coerência, assistiu durante décadas à ascensão e decadência do Estado Novo. Para alguns analistas, a sua obra mais significativa encontra-se em pleno período silencioso, com vários documentários clássicos ao rondar a década de ’30. Já então, porém, Maria do Mar (1930) deixava antever uma linha de ficção com singular recorte do real, tendência que se prolongaria em todos os filmes de fundo - em particular As Pupilas do Senhor Reitor (1935) e Ala-Arriba! (1942) - embora com desigual eficácia. Curiosamente, encontramos em A Severa (1931) alguns dos melhores apontamentos desse pendor documental, logo na abertura, com a caravana dos ciganos e a separação de gado pelos campinos: Leitão de Barros como que reforça o vigor das imagens, às quais se vai colando a perturbante insinuação do som, pela primeira vez num filme nacional. Em Bocage (1936), Inês de Castro (1945), Camões (1946) ou Vendaval Maravilhoso (1949), que sagram a fascinação pelas reconstituições históricas, de forte cunho literário, sobressai igualmente o cuidado em caracterizar realisticamente um quotidiano, apesar das restrições à ambiência arquitectónica, em que os limites da produção fazem acentuar o artifício dos cenários. Se Malmequer (1918) tinha mais a ver com esta via, Mal de Espanha (1918) seria um esboço humorístico do que Leitão de Barros deixou morrer em finais dos anos ’30, com as comédias Maria Papoila (1937) e Varanda dos Rouxinóis (1939). O estigma satírico manter-se-ia, apenas, na caracterização de certas personagens. Uma constante sem hiatos é, todavia, a composição de tipos humanos (como grandes planos sobre os rostos) que, no geral, constituem uma riquíssima galeria, de figuras populares ou nobres.          


VISTORiA 
 
Rosa Vespertina
¨Anochece. En la aldea,
un gallo cacarea
mirando el amapol
del Sol.

Vacas y recentales
pacen en los herbales,
y canta una mociña
albina.

El refajo de grana
de la niña aldeana
enciende al cristalino
lino.

En el fondo del prado
el heno agavillado,
entre llovizna y bruma
perfuma.

Por la verde hondonada,
la luz anaranjada
que la tarde deslíe,
ríe.

Y abre sobre la loma
su curva policroma,
el arco que ventura
augura.

Y toda azul, la hora,
tiene el alma que llora
y reza, de una santa
infanta.

Con el rumor de un vuelo
tiembla el azul del cielo,
y un lucero florece.
Anochece.
Ramón del Valle-Inclán
         
MEMÓRiA

¨ 16OUT1906-1972 - Dino Buzzati: Escritor italiano, autor de O Deserto dos Tártaros (1940) - «Certos livros são perigosos. Perigosos, porque nos retiram do conforto habitual e fazem-nos mergulhar em outras realidades. Cada vez que os lemos, não são os mesmos. Mas também nós não somos os mesmos. Estabelecido tal círculo, estamos presos: passam a fazer parte de nós. Este é um livro assim. Pode-se gostar ou não, mas ninguém o atravessa impunemente» (Umberto Krenak). IMAG. 50-88-92-224-356

¨ 19OUT1936-2002 - Álvaro Guerra: Escritor, jornalista e diplomata português - «No meio da Vila que crescia, o Central, que já se chamara República, ficava na mesma. A bica de saco aguentava bem a ofensiva do café expresso» (Café Central - 1984). IMAG.367

¸ 22OUT1896-1967 - José Júlio Marques Leitão de Barros, aliás Leitão de Barros: Escritor, artista plástico e cineasta português - «O cinema traz-nos, cada noite, a imagem maravilhosa duma terra feliz e diferente - desde os operários que trabalham de luvas, aos automóveis que abrem a porta para cima» (Corvos). IMAG.68-76-78-82-94-95-103-115-130-154-161-164-175-180-221-222-227-232-239-242-245-269-297-307-327-370-395-436-500

¨ 28OUT1866-05JAN1936 - Ramón del Valle-Inclán: Ficcionista, poeta e dramaturgo espanhol, membro do modernismo - «Fuí peregrino sobre la mar, / y en todas partes pecando un poco, / dejé mi vida como un cantar.». IMAG.440
         
ANTIQUÁRiO

O 18OUT1936 - O paquete Luanda parte de Lisboa, levando os primeiros presos políticos para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, tendo chegado à ilha de Santiago em 29OUT, com 152 condenados. IMAG.180-410-516
   
NOTICIÁRiO

Cinzas de Dino Buzzati Lançadas na Montanha

As cinzas do escritor e jornalista italiano Dino Buzzati, autor do famoso romance O Deserto dos Tártaros, vão poder ser lançadas sobre os Dolomitas, respeitando finalmente a sua vontade. O acto simbólico foi tornado possível pela aprovação de uma lei, votada pela região do Veneto, autorizando a dispersão de cinzas funerárias na natureza.
«A nossa família só estava à espera da aprovação da lei para lançar as cinzas em Croda del Lago, nas montanhas de Cortina (Norte de Itália)», disse a viúva, Almerina Antoniazzi, em entrevista ao jornal Il Corriere del Veneto.
As cinzas do escritor, que estão actualmente na Lombardia, serão lançadas durante uma cerimónia cuja data ainda não foi fixada. «O sonho de Dino será finalmente cumprido», disse a viúva.
Dino Buzzati, que era alpinista amador, tinha uma confessada paixão pelo maciço pré-alpino meridional, inscrito desde Junho de 2009 no Património Mundial da UNESCO. O escritor consagrou mesmo à região algumas narrativas, reunidas em Sobre os Dolomitas - escritos de 1932 a 1970.
As montanhas devem o nome a Deodat Gratet de Dolomieu, geólogo francês do século XVIII que deu o nome de Dolomita à rocha de origem marinha que constitui este maciço. Na verdade, os Dolomitas eram, há milhões de anos, um maciço de coral.
Dino Buzzati nasceu a 16 de Outubro de 1906, em Belluno (no Veneto), e morreu de cancro a 28 de Janeiro de 1972, em Milão. É sobretudo conhecido como autor de O Deserto dos Tártaros.
Em português estão traduzidos três dos seus livros: O Deserto dos Tártaros, A Derrocada da Baliverna e Pânico no Scala (os três editados pela Cavalo de Ferro).
Em O Deserto dos Tártaros, romance transposto para o cinema por Valerio Zurlini, em 1976, um jovem oficial, o tenente Giovanni Drogo, aguarda, num forte de fronteira, a chegada do inimigo. Trata-se de uma brilhante metáfora sobre a longa espera, a ambição de glória, a sombra permanente do fracasso e a solidão.
11FEV2010 - Diário de Notícias
            
BREVIÁRiO
 
¨Relógio D’Água edita Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento de Alice Munro; tradução de José Miguel Silva. IMAG.488

¨Glaciar edita Poesia Completa de João Cabral de Melo Neto (1920-1999); organização e prefácio de Antonio Carlos Secchin.

¯Purple Records edita em DVD, Made In Japan (1972) por Deep Purple.  

quarta-feira, novembro 11, 2015

IMAGINÁRiO #582



José de Matos-Cruz | 08 Outubro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

ALTERNATIVAS
Da crise que, ciclicamente, paira sobre o nosso panorama em quadradinhos, afectando sobretudo a relação entre profissionais e público leitor, é possível paralelamente extrair significativas ilações e experiências. Umas e outras de importância decisiva para os nóveis artistas, reivindicando um justo direito de divulgação mas, ao mesmo tempo, cientes de que a respectiva obra reflecte problemáticas próprias, e tem em vista destinatários específicos. Portanto, exigindo equivalentes meios de difusão - através de empresas que assumam o risco, registem a diversidade e proponham alternativas. Assim resultaria, sob chancela das Edições Polvo, pela vertente de Banda Desenhada - ao estilizar um testemunho criativo sempre propício às cumplicidades radicais, exploratórias, virtuais. Por exemplo, O Diário de K. (2001) por Filipe Abranches, adaptando A Morte do Palhaço por Raul Brandão. «Sonhar é tudo o que resta. Sonhar. Um uivo na noite… e folhas dispersas de um diário.» Já em 2011, O Diário de K. foi incluído no livro 1001 Comics You Must Read Before You Die (1001 Bandas Desenhadas Para Ler Antes de Morrer), do jornalista e escritor britânico Paul Gravett, assinalando a única presença portuguesa. IMAG.17-29-129-244-384-416-430-502


CALENDÁRiO

¸1939-30AGO2015 - Wesley Earl Craven, aliás Wes Craven: Cineasta americano, realizador, argumentista, produtor e actor - «Para mim, o cinema é uma das principais formas de arte. Um meio incrivelmente poderoso, para contar histórias que façam as pessoas rir ou gritar, e inspirá-las a tocar as estrelas». IMAG.341

¸03SET2015 - Cinemundo estreia Vontade de Vencer de André Banza; com Anselmo Ralph.

µ04SET-11OUT2015 - Em Lisboa, Fundação EDP apresenta no Museu da Electricidade, em parceria com Fundação Cupertino de Miranda, Mário Cesariny [de Vasconcellos - 1923-2006] - Em Casas Como Aquela; exposição de fotografia de Duarte Belo, sendo comissário António Gonçalves. IMAG.17-19-20-29-66-123-179-430-442-475-486-505-537

¢08OUT2015-20FEV2016 - Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar apresenta Júlio Pomar e Rui Chafes: Desenhar - exposição de escultura e desenho, sendo curadora Sara Antónia Matos. IMAG.19-65-299-312-364-427-449-461-495-500-505-534-552-553-562-568

¢17OUT2015-10JAN2016 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves expõe A Minha Obra É o Meu Corpo / O Meu Corpo É a Minha Obra - retrospectiva de Helena Almeida, sendo curadores João Ribas e Marta Moreira de Almeida. IMAG.461-475-486-554


VISTORiA

Quem Pode Impedir a Primavera
¨Quem pode impedir a Primavera
Se as árvores se vão cobrir de flores
E o homem se sentiu sorrir à Vida?

Quem pode impedir a surda guerra
Que vai nos campos deslocando as pedras
– Mudas comparsas no ritmo das estações –
E da terra inerte ergueu milhares de lanças
Que a tremer avançam, cintilantes, para o limite
Em que a luz aquosa se derrama
Como um mar infinito onde o arado
Abre caminho misterioso à seiva inquieta!

Quem pode impedir a Primavera
Se estamos em Maio e uma ternura
Nos faz abrir a porta aos viandantes
E o amor se abriga em cada um dos nossos gestos.

Quem?…
Se os sonhos maus do Inverno dão lugar à Primavera!
 Ruy Cinatti


VISTORiA

O Mestre
¨Quando as trevas começaram a cair sobre a Terra, José de Arimateia acendeu uma tocha de pinheiro e desceu da colina para o vale. Tinha que fazer em casa. E, ajoelhando-se sobre as pedras do Vale da Desolação, viu um jovem que estava nu e chorava. Os seus cabelos eram da cor do mel, e o corpo tão branco como uma flor. Mas ferira o corpo nos espinhos e, sobre os cabelos, pusera cinza à guisa de coroa.
E José, que possuía grandes virtudes, disse ao jovem que se encontrava nu e chorava:
– Não me admira que o teu sentimento seja tão grande, porque, realmente, Ele foi um homem justo.
E o jovem respondeu:
– Não é por Ele que choro, mas por mim mesmo. Eu também alterei a água em vinho, curei o leproso e restituí a vista ao cego. Andei sobre as águas e, das profundezas dos sepulcros, expulsei os demónios. Alimentei os famintos no deserto, onde não havia comida; ergui os mortos dos leitos exíguos e à minha ordem, diante de imensa multidão, uma figueira seca novamente frutificou. Tudo o que esse homem logrou, também eu realizei e, todavia, não me crucificaram.
Oscar Wilde
- Poemas Em Prosa e Salomé

¨…Há na nossa sociedade outro princípio de exclusão: não já um interdito, mas uma partilha e uma rejeição. Penso na oposição da razão e da loucura (folie). Desde os arcanos da Idade Média que o louco é aquele cujo discurso não pode transmitir-se como o dos outros: ou a sua palavra nada vale e não existe, não possuindo nem verdade nem importância, não podendo testemunhar em matéria de justiça, não podendo autentificar um acto ou um contrato, não podendo sequer, no sacrifício da missa, permitir a transubstanciação e fazer do pão um corpo; ou, como reverso de tudo isto, e por oposição a outra palavra qualquer, são-lhe atribuídos estranhos poderes: o de dizer uma verdade oculta, o de anunciar o futuro, o de ver, com toda a credulidade, aquilo que a sagacidade dos outros não consegue atingir. É curioso reparar que na Europa, durante séculos, a palavra do louco, ou não era ouvida, ou então, se o era, era ouvida como uma palavra verdadeira. Ou caía no nada – rejeitada de imediato logo que proferida; ou adivinhava-se nela uma razão crédula ou subtil, uma razão mais razoável do que a razão das pessoas razoáveis. De qualquer modo, excluída ou secretamente investida pela razão, em sentido estrito, ela não existia. Era por intermédio das suas palavras que se reconhecia a loucura do louco; essas palavras eram o lugar onde se exercia a partilha; mas nunca eram retidas ou escutadas. A nunca um médico ocorrera, antes do final do século XVIII, saber o que era dito (como era dito, por que é que era dito isso que era dito) nessa palavra que, não obstante, marcava a diferença. Todo esse imenso discurso do louco recaía no ruído; e se se lhe dava a palavra era de modo simbólico, no teatro, onde se apresentava desarmado e reconciliado, já que aí representava a verdade mascarada.
Michel Foucault
- A Ordem do Discurso (1971 - excerto)
 - Tradução de Edmundo Cordeiro, António Bento
BREVIÁRiO

¨Porto Editora lança A Erva das Noites de Patrick Modiano; tradução de Carlos Sousa de Almeida. IMAG.535-552-553-555-564-571-578

¨Dom Quixote edita A Filha do Papa de Dario Fo; tradução de Maria do Carmo Abreu. IMAG.72-216

¯Universal edita em CD, sob chancela Decca, St. Petersburg por Cecilia Bartoli, com I Barocchisti sob a direcção de Diego Fasolis. IMAG.69-288-338-445-498-520

¨Relógio D’Água edita Diários de Viagem de Franz Kafka (1883-1924); tradução e introdução de Isabel Castro Silva. IMAG.31-84-131-165-426-469-474-493

¨Quetzal edita A Casa da Aranha de Paul Bowles (1910-1999); tradução de Jorge Pereirinha Pires. IMAG.204-247-251-304-469

MEMÓRiA

¯1824-11OUT1896 - Anton Bruckner: Compositor austríaco - «A sua Oitava Sinfonia é a criação de um gigante, ultrapassando em dimensão espiritual e magnitude de concepção todas as outras sinfonias do Mestre» (Hugo Wolf). IMAG.104-233-323-404-437-440-481-563

¢1848-11OUT1926 - Albert Robida: Ilustrador e litografo francês, autor de livros como O Século Vinte (1883) e A Vida Eléctrica (1890) - imaginou como seria a vida quotidiana, concebendo invenções sobre o futuro.


®11OUT1936-2010 - Maria Dulce: Actriz portuguesa de cinema, teatro e televisão - «Tenho orgulho de ser altamente profissional, de nunca me atrasar e de ter os textos todos trabalhados. Sinto que ainda podia fazer muito na representação, e é com muita mágoa que vou encarando este momento como o fim da minha carreira. Tenho pena que seja desta forma tão inglória, porque ainda estou muito funcional e só queria ter trabalho» (2009). IMAG.117-322

¨ 1915-12OUT1986 - Ruy Cinatti: Poeta e antropólogo português - «Teus olhos, Honorine, cruzaram oceanos, / longamente tristes, sequiosos, / como flor aberta nas sombras em busca do Sol. / Vieram com o vento e com as ondas, / através dos campos e bosques da beira-mar. / Vieram até mim, estudante triste, / dum país do Sul.». IMAG.95-506

¨ 15OUT1926-1984 - Michel Foucault: Historiador francês, filósofo e ensaísta - «Acredito demasiado na verdade para não supor que existam diferentes verdades e diversas maneiras de dizê-la». IMAG.102-472