quarta-feira, maio 31, 2017

IMAGINÁRiO #664

José de Matos-Cruz | 24 Junho 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO

MOTIVAÇÕES
Alberto Seixas Santos (1936-2016) é uma referência essencial do cinema português, a partir da geração que se afirmaria por uma identidade crítica e uma consciência de autor - os seus fantasmas e obsessões, os seus conflitos e confissões. Ensaiada a curta metragem documental, nessa ainda precária viragem da década de ’60 do Século XX, a longa revelação ficcional de Seixas Santos processou-se em 1974, com Brandos Costumes. Em causa, um certo espírito, nosso, em declínio e desolação, simbolicamente vinculado à morte do pai político e doméstico. O término de Salazar teve pois, como paralelismo, um outro luto na família em que fomos gerados e amadurecemos… Desde então - seguindo por Gestos & Fragmentos (1982), Paraíso Perdido (1992) e Mal (1999) - até E o Tempo Passa (2011), a carreira de Seixas Santos assinala uma vivência assombrada e crepuscular - de frustrações, desaires, medos, traições, angústias, roturas, decepções, memórias. Especulando uma lucidez aguda, através da realidade e das pessoas, até ao mais íntimo em que se tem degenerado quem somos, com a própria erosão comunitária. Apesar da entranhada expectativa numa ressurreição, e dos sinais exteriores que tal contrastam… IMAG.22-67-91-158-347-652

CALENDÁRiO

21JAN-01MAI2017 - Em Lisboa, Pavilhão de Portugal expõe Tutankamon: Segredos do Egipto - sobre as revelações (1922) ao arqueólogo Howard Carter (1873-1939). IMAG.81-108

23FEV-07MAI2017 - No Porto, Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresenta, em Projectos Contemporâneos, Yo-Yo - exposição de pintura de Ana Manso, sendo comissário Ricardo Nicolau. IMAG.651

25FEV-01ABR2017 - No Porto, Galeria AMIarte apresenta From the Warehouse - exposição de pintura de Ricardo Campos.

03MAR-28MAR2017 - Em Tomar, Convento de Cristo apresenta Eduardo Souto de Moura: Continuidade - exposição de arquitectura, sendo curadores António Sérgio Koch e André de França Campos. IMAG.249-349-529-611-627

03-31MAR2017 - Em Odivelas, Centro Cultural Malaposta apresenta Art Feelings - exposição de pintura de Sofia Simões.

04MAR-25ABR2017 - Em Lisboa, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional apresenta Tempo Depois do Tempo - exposição de Fotografia (1970-2017) de Alfredo Cunha. IMAG.398

04MAR-07MAI2017 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe Arpad Szènes [1897-1985] e Vieira da Silva [1908-1992] - Os Anos do Exílio No Brasil (1940-1947). IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227-382-386-392-434-461-486-490-499-500-502-522-554-567-579-603-604-609-662

04MAR-07MAI2017 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva apresenta a exposição de fotografia Armindo Cardoso - Heróis, Povo e Paisagem Chilena.

TRAJECTÓRiA

Roald Amundsen
Nasceu em Borge, perto de Oslo, a 16 de Julho de 1872, numa família de armadores noruegueses. Não surpreende, por isso, que a paixão pelo mar cedo lhe tenha marcado a vida, apesar dos esforços da sua mãe que quer afastar da empresa da família o seu quarto filho. É assim que o orienta para o estudo da medicina, pedindo-lhe que não a abandone pelo mar; promessa que o jovem quebra após a morte da mãe. Foi ele quem chefiou a primeira expedição à Antárctida para atingir o Pólo Sul (1910-1912), e foi também o primeiro europeu a fazer com sucesso a travessia da Passagem Noroeste (1903-1906). A morte surpreendeu, aos 56 anos, este explorador norueguês que partira em auxílio de um explorador italiano (Nobile): o seu avião despenhou-se três horas após ter levantado voo.
17AGO2009 - Diário de Notícias

MEMÓRiA

1872-18JUN1928 - Roald Engelbregt Gravning Amundsen, aliás Roald Amundsen: Explorador norueguês - «O sucesso aguarda aquele que tem tudo organizado - é o que se costuma designar de sorte. A derrota é certa para quem não tomou as devidas precauções - é o que se costuma designar de azar». IMAG.183-350-379


26JUN1938-2016 - Francisco António de Vasconcelos Nicholson, aliás Francisco Nicholson: Artista português, dramaturgo e argumentista, encenador e actor de teatro, cinema e televisão - «Considero que ele é o melhor autor de telenovelas que já existiu neste país» (Rui Mendes). IMAG.615

ANUÁRiO

1928-2011 - Mariano Ayuso Bruno, aliás Mariano Ayuso: Ensaísta e editor espanhol de quadradinhos, fez parte do Grupo de Madrid da segunda geração de críticos e historiadores de banda desenhada, tendo realizado conferências em Itália, França, Portugal e México. IMAG.385-396

COMENTÁRiO

E os Quadradinhos Nasceram Adultos…

Não é exactamente correcto que os quadradinhos sejam um divertimento para crianças. Sem dúvida, são feitos por adultos e nasceram na imprensa, onde tiveram a sua principal difusão através das tiras diárias nos jornais (daily strips). Todos sabemos que é o pai quem compra os jornais e, praticamente, só os lêem os adultos. Além das tiras diárias de imprensa, de segunda a sábado, ao domingo publica-se, independente do respectivo jornal, um suplemento a cores que, uma vez visto pelo pai, comodamente sentado na sua poltrona, passa para o filho, caso aquele o considere conveniente… Tais suplementos, a cores, publicavam uma página completa (sunday strips) que, por vezes, seguia a trama da história em quadradinhos iniciada em tira diária…
Mariano Ayuso

ANTIQUÁRiO

26NOV1922 - Liderando uma expedição científica financiada por Lord Carnavon ao Vale dos Reis, a mais importante jazida arqueológica do Egipto, Howard Carter (1873-1939) - apoiando-se nos indícios descobertos por Theodore Monroe Davis - divisa, através de uma estreita abertura motivada por árduas escavações, «coisas maravilhosas»: objectos de ouro, estátuas com forma de animais, e o túmulo de Tutankamon.

PARLATÓRiO

Assim se rasgou para sempre o véu, e um dos maiores segredos da Terra deixou de existir…
Roald Amundsen
(1911, ao atingir o Pólo Sul)

BREVIÁRiO

Livros RTP edita Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago (1922-2010). IMAG.38-75-155-158-196-198-224-241-245-252-263-268-311-331-385-394-412-475-521-539-553-564-585-656

Dom Quixote edita Anunciações de Maria Teresa Horta. IMAG.100-144-251-351-581-614-637


Âncora Editora lança Carolina Beatriz Ângelo [1878-1911] - Pioneira Na Cirurgia e No Voto de José Ruy, sendo consultor científico João Esteves. IMAG.4-16-19-36-61-78-96-117-129-141-149-197-223-224-252-263-267-271-279-305-392-416-430-504-514-531-553-607-639-Extra

Temas e Debates edita A Invenção da Natureza de Andrea Wulf; sobre Alexander von Humboldt (1769-1859), tradução de Pedro Vidal. IMAG.146-421-518

Harmonia Mundi edita em CD, Johannes Brahms [1833-1897]: Vier Ernste Gesänge pelo barítono Matthias Goerne, com o pianista Christoph Eschenbach. IMAG.82-171-193-199-256-286-303-324-393-417-482-531-554-597-605-608

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS - Folhetim Aperiódico

MAL TORNA AO CRIADOR QUEM, SUJEITO, SE REFAZ - 10

Algum instante, quer Ofélia quer Joel procuravam-se, com as marcas tribais da própria emanação, equívoca.
A dela, precedia-o. A dele, perseguia-a.
- És tu ou eu? – questionava a já maligna, fixando-se ao espelho. Mas logo lhe voltava as costas, como se vira a esquina para nada.
És tu ou eu! – deduzia o torcionário ao açaimar, furtando-se à sua imagem. Então, apático, ficava com o medo reflectido no olhar.
Continua

quarta-feira, maio 24, 2017

IMAGINÁRiO #663

José de Matos-Cruz | 16 Junho 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

CONQUISTADORES
Historicamente, a geografia lendária de El Dorado exalta uma dimensão onírica e visionária, privilegiada sobre Lope de Aguirre. Aquele que ao participar, em 1560, na expedição saída de Puerto de Lamas no Perú, em demanda do reino de Omagua, se converteria no mais infame e sangrento conquistador. Exposta à cupidez de fabulosas riquezas - que, no imaginário dos indígenas, se localizavam sempre mais longe - tal digressão acabou por configurar a expiação de homens que instituíram o seu próprio inferno. Entre a verdade e a invenção, a Dreamworks decidiu suavizar a trama, sem descurar a utopia inerente à Cidade do Ouro, que teria sobrevivido por mais de meio milénio. O Caminho Para El Dorado / The Road To El Dorado (2000) de Eric Bibo Bergeron & Don Paul favorece os secundários da grande epopeia. Tulio e Miguel - ora cúmplices, ora implicativos - dispõem de um mapa para El Dorado, mas estão cativos num navio do explorador espanhol Cortez. Logrando escapar graças ao cavalo Altivo, chegam enfim à Cidade do Ouro, onde o alto-sacerdote Tzekel-Kan os acolhe como divindades. Porém, o seu desígnio é usurpar o poder, levando Tulio e Miguel a optarem entre a fortuna e a liberdade...

CALENDÁRiO

14JAN-04MAR2017 - Em Lisboa, Galeria 111 apresenta Caravela-Salão - exposição de pintura de Fátima Mendonça.

04FEV-18MAR2017 - Em Lisboa, Fundação Carmona e Costa apresenta Deita-te, Levanta-te e Agora Deita-te - exposição de desenho de Maria Capelo, sendo curador Nuno Faria.

08FEV-24ABR2017 - Em Lisboa, Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia / MAAT apresenta, no Cinzeiro 8, Arquivo e Democracia - exposição de fotografia e vídeo de José Maçãs de Carvalho, sendo curadora Ana Rito. IMAG.393

08FEV-29MAI2017 - Em Lisboa, Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia / MAAT apresenta Dimensões Variáveis | Artistas e Arquitectura - exposição colectiva, sendo curadores Inês Grosso e Gregory Lang.

09FEV2017 - O Som e a Fúria produziu, e estreia El Dorado XXI / La Rinconada (2015), documentário de Salomé Lamas. IMAG.491

09FEV2017 - NOS Audiovisuais estreia Delírio Em Las Vedras (2016) de Edgar Pêra; com Marina Albuquerque e José Raposo. IMAG.23-53-91-142-284-381-541-604

1911-10FEV2017 - Manuela Saraiva de Azevedo, aliás Manuela de Azevedo: Jornalista (a primeira mulher com carteira profissional em Portugal) e escritora - «Nunca escrevi à máquina. Uma das razões por que pedi a reforma - a mais importante foi a vontade de sair pelo meu próprio pé - foi saber que teria de passar a escrever num computador» (2013). IMAG.398

11-26FEV2017 - No Porto, Galerias Lumière apresenta Sê Em Céu Azul, Porto - exposição de fotografia de Fábio Fonseca.

25FEV-25JUN2017 - Em Vila Franca de Xira, Museu do Neo-Realismo expõe Alexandre Cabral [1917-1996], Memória de Um Resistente - sobre o escritor e ensaísta, sendo curadores António Pedro Pita e Odete Belo. IMAG.390

SUMÁRiO

Charles-François Gounod
Vencedor do Prix de Rome, em 1839, Gounod (1818-1893) foi anos mais tarde desviado da vida religiosa por Pauline Viardot. Várias tentativas infelizes na ópera e uma Messe Solennelle antecedem o imenso sucesso que obtém com Faust [1859]. Êxito que (quase) repetirá com Roméo et Juliette, em 1867. É hoje ainda sobre este par de obras que repousa a posteridade de Gounod, sem esquecer, claro está, o famosíssimo Ave Maria, sobre o Prelúdio I do Cravo Bem Temperado. Modernamente, a ópera Mireille [1864] vem tendo certa reapreciação. Foi professor de Bizet e o seu estilo influenciou as gerações de músicos franceses que lhe sucederam.
08JAN2009 - Diário de Notícias

VISTORiA

Quando Samantar saiu da gruta, o sol levantava-se por cima do mar, fazendo explodir debaixo dos seus raios mágicos todas as cores da paisagem. O verde dos palmeirais, o ocre das extensões arenosas, o azul do mar, apareciam em todo o esplendor da sua frescura primitiva. Era quase um chamamento sensual, uma exortação ao amor que Samantar sentiu com uma indizível felicidade. Então, fez vaguear o olhar maravilhado por toda aquela beleza cintilante debaixo do sol, como uma oferenda àquele que simplesmente quer viver e que a ambição de um homem quase destruíra.
Albert Cossery
- Uma Ambição No Deserto
(Tradução de Sarah Adamopoulos - excerto)

Quanto ouro há na ruína
E quanta dor
Para medir o verso
E esquecer a chama
Que cresce aos meus pés:
Porque o único homem supremo
É aquele que está morto, e já não é.
Leopoldo Maria Panero


MEMÓRiA

16JUN1948-2014 - Leopoldo Maria Panero: Poeta espanhol, autor de Poemas del Manicomio de Mondragón (1987) - «Eu sou Fernando Pessoa / como Pessoa foi Álvaro de Campos». IMAG.504

17JUN1818-1893 - Charles-François Gounod: Compositor francês - «Se a vida precede a morte na sequência do tempo, a morte precede a vida na sequência da eternidade. A morte pode ser o fim da ilusão da vida, mas é o princípio da verdadeira vida, da vida imortal da alma» (1863). IMAG.54-84-183-375-439-464

1922-17JUN2008 - Tula Ellice Finklea, aliás Cyd Charisse: Actriz e bailarina americana - «Quando estávamos a dançar juntos, nem nos apercebíamos de que horas eram» (Fred Astaire). IMAG.204-362

22JUN1898-1970 - Erich Paul Remark, aliás Erich Maria Remarque: Escritor alemão - «Os horrores são suportáveis, enquanto causam sofrimento; mas passam a matar, quando reflectimos sobre eles».

1913-22JUN2008 - Albert Cossery: Escritor egípcio, de expressão francesa - «É a voz de um povo que desperta e que cedo vai estrangulá-lo. Cada minuto que passa, separa-o da sua antiga vida. O futuro está cheio de gritos. O futuro está cheio de revoltas. Como represar este rio transbordante que vai submergir as cidades?» (A Casa da Morte Certa - excerto). IMAG.205-441-563

23JUN1668-1744 - Giovanni Battista Vico, aliás Gianbattista Vico: Filósofo italiano - «A memória é muito vigorosa nas crianças e, por esse motivo, a sua imaginação é excessivamente viva, pois esta não é mais do que uma memória dilatada e composta». IMAG.451

1901-25JUN1948 - Bento de Jesus Caraça: Matemático português - «Não foi um investigador, isto é, não foi um criador de ciência. E como poderia sê-lo, tendo sido nomeado assistente aos 18 anos (!) e professor catedrático aos 28, numa Escola da Universidade Técnica, onde grande parte da massa discente entrava com uma preparação deficientíssima em matemática? O que devemos admirar, sim, é o seu esforço de autodidacta, as suas invulgares qualidades de trabalho, de que as Lições de Álgebra e Análise são um dos frutos. E sinto-me inclinado a admitir que, sob esse aspecto, a sua actividade foi realmente criadora; isto é, sou levado a pensar que Bento Caraça criou, efectivamente, um estilo de ensino da matemática, de que eu próprio sou beneficiário» (José Sebastião e Silva - 1968). IMAG.224-319

PARLATÓRiO

Ascética e severa, há a música tranquila, horizontal como a linha do oceano, monótona em virtude da sua serenidade, tudo menos sensual, e ao mesmo tempo tão intensa na pulsão contemplativa que, por vezes, logra atingir o êxtase…
As ideias musicais brotam na minha mente como um voo de borboletas, e tudo o que eu tenho de fazer é estender a mão para as colher.
Charles-François Gounod

As ilusões nunca são perdidas. Elas significam o que há de melhor na vida dos homens e dos povos. Perdidos são os cépticos que escondem sob uma ironia fácil a sua impotência para compreender e agir, perdidos são aqueles períodos da história em que os melhores, gastos e cansados, se retiram da luta, sem enxergarem no horizonte nada a que se entreguem, caída uma sombra uniforme sobre o pântano estéril da vida sem formas.
Bento de Jesus Caraça

Pedirem-me para escolher entre Fred Astaire e Gene Kelly, é como comparar maçãs com laranjas. Ambas são frutos deliciosos…
Cyd Charisse

COMENTÁRiO

Observamos que todas as nações, tanto as bárbaras como as civilizadas, embora tão distintas entre si no espaço e no tempo, conservam estes três costumes humanos: todas têm alguma religião, todas contraem casamentos solenes e todas enterram os seus mortos.
Gianbattista Vico

BREVIÁRiO

Arte de Autor edita A Marca Jacobs - Uma Vida Em Banda Desenhada de Rodolphe/Rodolphe Daniel Jacquette (argumento) e Louis Alloing (ilustração); sobre Edgar Pierre Jacobs (1904-1987), criador de As Aventuras de Blake e Mortimer (1946). IMAG.10-66-119-218-245-281-348-427-451-460-487-507-599-642-658-Extra
 

quarta-feira, maio 10, 2017

AURORA BOREAL e O INSTINTO SUPREMO

Assinalando a homenagem a Daniel Maia e Susana Resende, durante o 13º Festival Internacional de BD de Beja, com uma exposição alusiva a O Infante Portugal e a Aurora Boreal, de que aqueles artistas fixaram o imaginário primordial, a editora Apenas Livros lança uma apresentação especial do projecto criativo Aurora Boreal, sob o signo fantástico, que José de Matos-Cruz tem, actualmente, em desenvolvimento ficcional.
Trata-se de Aurora Boreal e O Instinto Supremo – que incide sobre um dos universos em que se estrutura O Princípio Infinito, primeiro segmento de um tríptico dedicado à heroína titular. Aurora Boreal surgiu n’O Infante Portugal (2007-2012), nascida de uma relação efémera entre Oktobraia, uma aventureira soviética exilada em Lisboa, e o Malsão, um portento cósmico que avassala o marasmo lusitano. 
 

Para o autor, trata-se de uma experiência inversa: enquanto, na trilogia d’O Infante Portugal, diversos artistas aceitaram ilustrar personagens e situações já descritas, para Aurora Boreal foi-lhes proposta – considerando alguns elementos essenciais – a concepção de um universo próprio, segundo os seus estímulos e preferências, a partir do qual desencadeou todo o processo narrativo.

A natureza onírica e mágica de Aurora Boreal suscitou uma visão original, a qual foi solicitada a Susana Resende – que depois transfigurou O Instinto Supremo. Para a contextualização deste universo, contribuiu também Daniel Maia – cuja inspiração havia consumado a evolução icónica do Infante Portugal, culminante n’As Sombras Mutantes (2012), em que se revelara Aurora Boreal.


Aurora Boreal e O Instinto Supremo
(Apenas Livros)
Autor: José de Matos-Cruz
Ilustração: Susana Resende e Daniel Maia
1ª Edição: Maio 2017 | ISBN: 9789896185671

 Livreto de Prosa Ilustrado | 28 páginas/PB | PVP: 3,60€

IMAGINÁRiO #662

José de Matos-Cruz | 8 Junho 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Douro, Faina Fluvial (1931) de Manoel de Oliveira
TESTEMUNHOS
O documentarismo constitui, no cinema português, o seu domínio mais fecundo e genuíno, explorado em múltiplas tendências ou correspondências. De facto, num país com pequena e precária indústria das imagens animadas, tal expressão assumiria uma alternativa importante, na própria função técnica e continuidade profissional, investida mesmo como elemento estético, temático e poético, em fitas de representação ficcional. Nas referências da actualidade, pelas expectativas em risco, repercutiu-se um olhar retrospectivo - no qual evoluem as emoções e a maturidade, cruzando afinal os múltiplos registos que o cinema propiciou. É o estímulo das fotografias vivas, cujas representação e projecção readquirem primordiais virtualidades. De certo modo, a nossa própria experiência de ideais, sucessos e desaires também está assim estigmatizada ou latente. Sublimando uma abordagem sobre as pessoas, os eventos e as paisagens, em recorrente transfiguração lírica ou simbólica, o documentarismo afirmou-se, sobretudo, por uma fusão aliciante entre realismo e criatividade. Em causa, está a constância de um olhar sobre a história e a memória, contrastando a evocação ou o testemunho. Essa navegação imaginária que, portanto, nos faz presente entre o passado e o futuro. Além disso, o documentarismo desempenhou, com frequência, uma manifestação de vanguarda, quanto às fases de viragem na produção ou na criatividade. Pioneiro e referencial, logo quando a maravilha técnica desponta. Em pujante expressão artística, pela transição entre o mudo e o sonoro. Persistindo ao longo de décadas, com o empenho e a obstinação de vários cinegrafistas, cada um com a sua marca peculiar.

CALENDÁRiO

19JAN-04MAR2017 - Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta Late Night Shopping - exposição de pintura de Gil Heitor Cortesão.

21JAN-19FEV2017 - Em Sintra, Museu do Ar apresenta Penetrando Em Outras Dimensões - exposição de pintura de Rosário Figueiredo Gomes, com fotografias de Cristina Menezes Alves e Luís Miguel Azevedo.

21JAN-25FEV2017 - No Porto, Espaço Mira apresenta Saturnidade - exposição de pintura, desenho, escultura e vídeo de Isabel Ribeiro, sendo curador José Maia. IMAG.543

1940-25JAN2017 - John Vincent Hurt, aliás John Hurt: Actor inglês de teatro, televisão e cinema, intérprete de O Homem-Elefante / The Elephant Man (1980 - David Lynch) - «A sua carreira foi a de um eterno secundário, com uma invulgar capacidade de transfiguração» (João Lopes). IMAG.74

24FEV1927-27JAN2017 - Paulette Germaine Riva, aliás Emmanuelle Riva: Actriz francesa de teatro e cinema, protagonista de Hiroxima, Meu Amor / Hiroshima Mon Amour (1959 - Alain Resnais) - «Vi tudo… Tudo!». IMAG.502

05FEV2017 - Bando à Parte produziu, e estreia no Porto, Ornamento e Crime (2015) de Rodrigo Areias; com Edgar Pêra e Vítor Correia. IMAG.284-414-514-522

23FEV-09ABR2017 - Em Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga/MNAA apresenta, na Galeria de Exposições Temporárias, A Cidade Global - Lisboa No Renascimento, sendo comissárias Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe.

15FEV-16ABR2017 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Uma Viagem Simbólica: Bairro Histórico de Cascais - exposição de pintura de MAN. IMAG.360

VISTORiA

Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade, não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições da alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada um, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa
- Para a Explicação da Heteronímia

TRAJECTÓRiA

VIEIRA DA SILVA
Maria Helena Vieira da Silva nasceu em Lisboa, a 13 de Junho de 1908. Cedo motivada em música e literatura, não tardou a revelar-se para o desenho e a pintura. Atraída pela escultura, em 1924 estudou Anatomia na Escola de Belas Artes de Lisboa. Em Paris aos vinte anos, frequentou as academias La Grande Chaumière e Scandinave, foi aluna de Fernand Léger e trabalhou com Dufresne e Waroquier. Em 1930, casou com o pintor húngaro Arpad Szènes. Em 1931, expôs nos Salons d’Automne e Surindépendants. Em 1932, tornou-se discípula de Bissière, na Académie Ransom. Até finais dos anos ’30, desenvolveu a perspectiva e a repetição, distinguindo-se L’Atelier (1940 - óleo sobre tela). Com a II Guerra Mundial, e após passagem por Lisboa, radicou-se com Arpad no Brasil, expondo no Museu Nacional de Belas-Artes (1942) e concluindo La Partie d’Échecs (1943). Em 1947, regressou a Paris, assinando Bibliothèque (1949). Distinguindo-se no Abstraccionismo Lírico da Escola de Paris, apresentou Bataille des Rouges et des Bleus (1953). Em 1956, naturalizou-se francesa, com Arpad. Galardoada com o Prémio Internacional de Pintura na Bienal de São Paulo (1961), executou L’Enterprise Impossible (1961-1967). Alvo de uma Retrospectiva integral na Fundação Calouste Gulbenkian, após a Revolução dos Cravos o Presidente da República impôs-lhe a Grã-Cruz de Sant’Iago e Espada. Falecido Arpad em 1985, no ano seguinte concluiu Soleils. Em 1988, o Governo atribuiu-lhe a Ordem da Liberdade. Criada a Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva em 1990, em 1991 recebeu o grau de Oficial da Légion d’Honneur pela República Francesa. Faleceu em Paris, a 6 de Março de 1992.

MEMÓRiA

09JUN1918-2011 - Vitorino Barbosa de Magalhães Godinho, aliás Vitorino Magalhães Godinho: Historiador, professor universitário, autor de Ensaios e Estudos - Uma Maneira de Pensar (2009) - «Foi até ao fim um cidadão empenhado, preocupado com o lançamento das bases de uma sociedade democrática» (Guilherme d’Oliveira Martins). IMAG.207-244-358

10JUN1918-2015 - Henriette Eugénie Jeanne Ragon, aliás Patachou: Cantora e actriz francesa - «A [sua] voz rouca fazia romper a alegria popular, às vezes trocista, às vezes brejeira, gritando gosto pela vida» (José Cutileiro). IMAG.568

13JUN1888-1935 - Fernando António Nogueira Pessoa, aliás Fernando Pessoa: Escritor português, poeta e ficcionista - «Nós nunca nos realizamos. Somos dois abismos - um poço fitando o céu».
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13JUN1908-1992 - Maria Helena Vieira da Silva: Artista plástica portuguesa, naturalizada francesa (1956) - «Às vezes, pelo caminho da arte, experimento súbitas, mas fugazes iluminações e então sinto por momentos uma confiança total, que está além da razão. Algumas pessoas entendidas que estudaram essas questões dizem-me que a mística explica tudo. Então, é preciso dizer que não sou suficientemente mística. E continuo a acreditar que só a morte me dará a explicação que não consigo encontrar». IMAG.14-39-42-75-134-168-182-224-227-382-386-392-434-461-486-490-499-500-502-522-553-554-567-579-603-604-609

13JUN1928-2015 - John Forbes Nash Jr, aliás John Nash: Matemático americano - «Talvez seja bom ter uma mente brilhante, mas um dom ainda maior é descobrir um coração bonito». IMAG.571

14JUN1908-1979 - Joaquim Belford Correia da Silva, aliás Joaquim Paço d’Arcos: Ficcionista, poeta e ensaísta português - «Eu não quis fazer História, pretendi escrever umas páginas poucas em que focasse a miséria duns e a grandeza de outros.» (Herói Derradeiro - Introdução). IMAG.219-230-529

1923-15JUN1968 - John Leslie Montgomery, aliás Wes Montgomery: Guitarrista americano de jazz, Prémio New Star (1960) da revista Down Beat - «desenvolveu um estilo único de dedilhado com o polegar, bem como um modo de tocar em oitavas, que se tornariam as suas marcas registadas. A sua extrema liberdade e fluidez no instrumento chamaram, desde o início, a atenção» (Fernando Jardim) - «Se um artista de jazz está efectivamente a tocar, o executante de música clássica tem, necessariamente, de o respeitar». IMAG.419-505

PARLATÓRiO

Não é possível analisar os problemas da realidade portuguesa contemporânea sem os inserir na trama da evolução do nosso país, quer dizer, sem estudar as condições de formação do mundo em que vivemos, a génese da nossa cultura, da nossa sociedade, da estrutura político-económica de Portugal.
Vitorino Magalhães Godinho

BREVIÁRiO

Relógio D’Água edita Ensaios Escolhidos de George Orwell (1903-1950); tradução de José Miguel Silva. IMAG.170-205-212-222-259-313-318-419-424-476

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS – Folhetim Aperiódico

MAL TORNA AO CRIADOR QUEM, SUJEITO, SE REFAZ - 9

Depois, Joel tornou-se proxeneta de almas, escavando nelas, estilizado, um suplício irritante, como funcionário catártico do Poder vigente. Às tantas, canino, deleitava-se mesmo a infligir tormentos vãos aos pobres diabos, idealistas, num desbarato quanto à integridade militante.
Continua