terça-feira, fevereiro 12, 2019

IMAGINÁRiO #757

José de Matos-Cruz | 01 Junho 2020 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal – Fundado em 2004
 
PRONTUÁRiO

DESAFIOS
É um espectáculo? É um desporto? É o futebol! Só um tal fenómeno poderia atrair milhares de fanáticos ao estádio, deixando muitos outros milhões em casa, a sofrer diante da televisão. Afinal, foi penalti, ou não? Bolas, o árbitro prejudicou-nos - mas, mesmo assim, a nossa equipa está a ganhar… Muitas destas emoções e experiências ressaltam na série Os Campeões (2000) por Gurcan Gürsel. Não será tão impressionante como um jogo ao vivo, mas surge em álbuns rectangulares, como um campo relvado - e, além do verde, que também é esperança, aparecem muitas outras cores como o azul do sonho e o vermelho da raiva. A sério, nada disto são insinuações ao Sporting, ao Porto ou ao Benfica! Mas, a brincar, muitas das peripécias que têm envolvido estas equipas, e tantas outras que enchem as parangonas dos jornais especializados, ou são o motivo de conversa às segundas-feiras, ressaltam aqui ilustradas, estilizadas, quase sem palavras e com muitos esgares, entre as façanhas individuais e a caricatura colectiva. Se a melhor defesa é o ataque, e preferível o apito ficar no bolso, evitando ser engolido, não há nada mais bonito do que um golo - mesmo que seja apenas em banda desenhada, e sem culpa para o guarda-redes…

CALENDÁRiO

21SET-16NOV2018 - Em Lisboa, Galeria Cristina Guerra apresenta What Do They Feel? - exposição de artes plásticas de Matt Mullican (EUA).

11OUT2018-13JAN2019 - Em Lisboa, Galeria Quadrum apresenta Vaivém - exposição de pintura de Bruno Pacheco, sendo curador Bruno Marchand. IMAG.611

1937-14OUT2018 - Eduardo Arroyo Rodríguez, aliás Eduardo Arroyo: Artista plástico / gráfico espanhol, pintor, escultor, ilustrador, cenógrafo e cronista - «Realizou uma interpretação muito pessoal dos preceitos definidos na União Soviética para a arte realista, reflexão que partilhava com os seus colegas do movimento da Figuração Narrativa» (Luísa Soares de Oliveira).

18OUT2018 - NOS Audiovisuais estreia Pedro e Inês (2018) de António Ferreira; sobre A Trança de Inês de Rosa Lobato de Faria (1932-2010), com Joana de Verona e Diogo Amaral. IMAG.273-326

20OUT2018-06JAN2019 - Em Lisboa, Culturgest expõe As Raízes Também Se Criam No Betão - múltiplo olhar sobre a arquitectura moderna africana por Kader Attia (França / Argélia), com organização original de Mac Val.

26OUT2018-04FEV2019 - Em Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian expõe Pose e Variações - Escultura Em Paris No Tempo de Rodin, sendo curadores Luísa Sampaio e Rune Frederiksen.

VISTORiA

Saudade do Teu Corpo

Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?…

Anda a saudade do teu corpo (sentes?…)
Sempre comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: «vem, meu todo amado…»

É o teu corpo em sombra esta saudade...
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar é escuridade…

Fecho os olhos ao sol para estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra…
Vês?! A saudade é um escultor antigo!
António Patrício
MEMÓRiA

1825-01JUN1890 - Camilo Castelo Branco: Ficcionista e poeta português - «O amor, que vem procurado como sensação necessária à felicidade da vida, perde dois terços da sua embriagante doçura; porém, o amor inesperado, impetuoso e fulminante, esse é um abrir-se o céu a verter no peito do homem todas as delícias puras que não correm perigos de empestarem-se em contacto com as da terra».
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1933-01JUN2010 - Andrei Andreyevich Voznesensky, aliás Andrei Voznesensky: Poeta russo, contestatário - «O destino está acima de mim. Por que deveria arrastar-me? / Dormindo em abrigos, um pária, eu vago. / A dor é um sótão, aberto em cada casa velha. / Por baixo de mim, há uma vala, sobre mim paira o destino.» (Destino). IMAG.255-307-418

02JUN1740-1814 - Donatien Alphonse François de Sade, aliás Marquês de Sade: Aristocrata e escritor francês - «E venham dizer-nos, agora, que não é necessário instruir as moças quanto às obrigações que, um dia, terão para com seus maridos!». IMAG.150-208-279-493

1943-03JUN2010 - João Casimiro de Aguiar, aliás João Aguiar: Escritor português - «Quem tem um trabalho criativo, tanto o autor como o actor, tem de entrar na personagem e ficar ligeiramente de fora, o que implica uma certa dose de esquizofrenia». IMAG.235-307-440

1878-04JUN1930 - António Pires Patrício, aliás António Patrício: Escritor e diplomata português - «Viver é só sentir como a Morte caminha / E como a Vida a quer e como a vida a chama… / Viver, minha princesa pobrezinha, / É esta morte triste de quem ama…». IMAG.172-277-488-592-650

1862-05JUN1910 - William Sydney Porter, aliás O. Henry: Ficcionista americano - «O senhor João Cão Grande, empoleirado no carvão, perdeu e vasa pelo processo involuntário de imitar perfeitamente um alvo. O guarda caçou-o. Com uma bala exactamente entre as espáduas, o cavalheiro de cor e indústria caiu para o chão, aumentando assim automaticamente em um sexto o quinhão de cada um dos camaradas.» (A Teoria e o Cão - Os Caminhos Que Tomamos). IMAG.15

06JUN1950-2015 - Chantal Anne Akerman, aliás Chantal Akerman: Cineasta belga, realizadora, actriz e produtora - «Era impossível tomá-la como modelo, porque ela era única; era tudo, excepto alguém que se pudesse prender, ou definir» (Claire Denis). IMAG.588

1891-07JUN1980 - Henry Valentine Miller, aliás Henry Miller: Escritor americano - «A melhor maneira de matar um artista é dar-lhe tudo o que ele precisa».
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VISTORiA

Não há mais livros a escrever, graças a Deus. E isto, então? Isto não é um livro. Isto é injúria, calúnia, difamação de carácter. Isto não é um livro, no sentido comum da palavra. Não, isto é um prolongado insulto, uma cuspidela na cara da Arte, um pontapé no traseiro de Deus, do Homem, do Destino, do Tempo, do Amor, da Beleza… e do que mais quiserem. Vou cantar para ti, um pouco desafinado talvez, mas vou cantar. Cantarei enquanto tu coaxas, dançarei sobre o teu cadáver sujo… Para cantar, é preciso primeiro abrir a boca. É preciso ter um par de pulmões e um pouco de conhecimento de música.
Henry Miller
- Trópico de Câncer

Não é de ânimo leve que um homem, mesmo corajoso, se acerca de uma necrópole durante a noite, pois nunca se sabe que espíritos ou entidades errantes poderão andar em tais lugares. No entanto, decidi arriscar um encontro com os mortos porque os vivos, naquela altura, podiam ser mais perigosos; a praia que fica próxima da velha necrópole cartaginesa de Gadir era um lugar abrigado e solitário onde seria possível aguardar o embarque em segurança.
Bem abafados contra o ar nocturno, esperámos sentados na areia fria. O mar ali é sempre sereno e o barulho das ondas reduzia-se a um chapinhar surdo, mas o ar estava cheio de murmúrios. Mantivemo-nos calados para não atrair a atenção dos defuntos.
Finalmente, ouvimos o ruído de remos ferindo a água e uma pequena embarcação tornou-se visível e aproximou-se até encalhar quase silenciosamente. Fui ao encontro do seu único tripulante, que me olhou com atenção, como para ter a certeza de que eu era um ser de carne e osso, e pronunciou a senha combinada: «Eunois».
João Aguiar 
- A Voz dos Deuses
COROLÁRiO

Ninguém sente em si o peso do amor que se inspira e não comparte. Nas máximas aflições, nas derradeiras do coração e da vida, é grato sentir-se amado quem já não pode achar no amor diversão das penas, nem soldar o último fio que se está partindo. Orgulho ou insaciabilidade do coração humano, seja o que for, no amor que nos dão é que nós graduamos o que valemos em nossa consciência.
Camilo Castelo Branco

COMENTÁRiO

António Patrício
Foi António Patrício o que, estando mais longe da realidade, nos pôde legar a possibilidade de uma rápida visão de conjunto da sua obra, virtude também, da sua unidade intrínseca. E eu creio que não foi indiferente a este facto a circunstância puramente fortuita de ter passado a maior parte da sua vida de escritor no estrangeiro, inacessível portanto às familiaridades que diminuem ou à facilidade nos contactos sociais que não são, em Portugal, como se sabe, elemento de convívio e de interconhecimento fecundo.
Luiz Forjaz Trigueiros

BREVIÁRiO

Âncora Editora lança Nascida das Águas e o 16 de Março de 1974 e A Ilha do Corvo Que Venceu os Piratas, álbuns em quadradinhos de José Ruy.
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