Em Apresentação, Júlio Conrado esclarece ainda haver uma «estrutura» «híbrida, isto é, a acção desenvolve-se a partir de uma personagem que em muitos momentos espelha a minha vivência juvenil […], sobrepondo-lhe uma outra figura, a mesma personagem em versão adulta, rigorosamente inventada, tendo como pano de fundo a vida quotidiana na cidade de Lisboa num período que vai do Verão quente de setenta e cinco aos primeiros anos oitenta do século passado». Assim também, a «Vila das Quintas do livro é a Carcavelos dos anos quarenta, cinquenta, a terra das minhas infância e adolescência». Por outro lado, incluem-se agora passagens de «um caderno cujas páginas [foram] preenchidas à mão, sob o título de Memórias Eróticas no Tempo dos Amores Difíceis, e com a assinatura de Serafim João» – supostamente, um pseudónimo do incidental protagonista, chamado Aurélio Romeira…
Eis,
portanto, a estratégia recorrente de uma escrita múltipla, sobre a
realidade e a imaginação, cuja arquitectura temporal se privilegia
e reexpõe. Através de peripécias formuladas, de alusões
suprimidas, de referências acrescentadas e de implicações em
revitalização. Sem que a essência primordial se atenue, no âmbito
narrativo ou por uma abrangente contextualização. Revelando,
reflectindo, Júlio Conrado envolve-nos, com argutas ironia e
subtileza, num jogo íntimo ou simulado de turbulência
e coloquialidade, de encantos e decepções, sobre o autêntico e o
actual, a experiência e a maturidade, a própria matéria pretérita
e a consistente virtualização interactiva. Um criador versátil e
prolífico em inquieta ou explícita evolução perante a sua obra,
tornando o repositório matricial
d’As Pessoas de Minha Casa
em manancial de inesperadas,
surpreendentes assunções e alternativas. Um
testemunho fascinante e caprichoso, um novelesco volúvel e
acutilante, conjugando os contrastes da ficcionação com os
artifícios da existência.
IMAG.
24-44-184-222-271-292-345-460-565-675
José
de Matos-Cruz
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