PRONTUÁRiO
TRANSIÇÕES
A
grande literatura continua a ser um manancial a que o cinema recorre,
periódica e primordialmente, para recuperar os seus parâmetros
clássicos: transe psicológico, conflito sentimental, dilemas
avassaladores, tempos de rotura. Uma tal estratégia envolve ainda,
quanto ao enquadramento animatográfico, um outro elemento
significativo: um distinto olhar sobre os rituais, através do cotejo
das respectivas representações, tal como está implícito no
fenómeno das remakes.
Eis o potencial latente, para Neil Jordan, em O
Fim da Aventura
(1999). À partida, um romance autobiográfico (The
End of the Affair)
de Graham Greene, sobre o qual Edward Dmytryk havia dirigido um filme
(1955) memorável, com o mesmo título. Só que o drama vivido por
Deborah Kerr e Van Johnson, estilizando as obsessões de culpa e
expiação típicas em Edward Dmytryk, corresponde - na realização
de Neil Jordan, sendo protagonistas Julianne Moore e Ralph Fiennes -
a um outro dilema passional, intenso e dilacerante. As marcas sobre a
relação adúltera - um evento trágico, uma decisão enigmática -
fundem-se pela sua pulsão erótica.
CALENDÁRiO
04MAI-31JUL2017
- Em Lisboa, Galeria Ratton apresenta Matéria
do Tempo - exposição de
desenho e pintura de Helena Lapas, sendo curadora Ana Ruivo.
28MAR1938-01JUN2017-
Armando da Silva Carvalho: Escritor português, poeta e tradutor -
«Deitado sobre ti / ensinas-me a sair / da treva. // Com a boca
dorida / por tanta palavra / ensanguentada / devoro o teu cabelo /
ouro que se desfaz / por entre os dentes.» (Entre
Dentes - excerto).
IMAG.136-338-630
01JUN-10OUT2017
- Em Lisboa, Atelier-Museu Júlio Pomar apresenta Das
Pequenas Coisas - exposição
de objectos, esculturas e assemblages de Júlio Pomar e Pedro Cabrita
Reis.
IMAG.19-312-405-427-449-495-505-534-552-553-562-582-596-604-610-612-620-631-635-641-646-652
07JUN-31AGO2017
- Em Cascais, Casa Sommer expõe Silva
Júnior: Um Arquitecto Em Cascais.
VISTORiA
Os
Homens Ocos
Um
péni para o Velho Guy
Nós
somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dissecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada.
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dissecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada.
Fôrma
sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles
que atravessaram
De olhos rectos, para o outro reino da morte
Nos recordam – se o fazem – não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos,
Os homens empalhados.
De olhos rectos, para o outro reino da morte
Nos recordam – se o fazem – não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos,
Os homens empalhados.
T.S.
Eliot
(excerto
- Tradução de Ivan Junqueira)
VISTORiA
Aí
vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que
baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a
vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem,
como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas
várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o
pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em
derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à
indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma
dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da
fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita
de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro
de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da
imaginação; e essa figura, – nada menos que a quimera da
felicidade, – ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar
pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um
escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.
Machado
de Assis
-
Memórias Póstumas de Brás
Cubas (1881)
COMENTÁRiO
Raymond
Macherot
É
um gigante da estatura de um Hergé ou de um E.P. Jacobs.
André
Taymans
BREVIÁRiO
Relógio
D’Água edita O Alienista e
Outros Contos de Machado de
Assis (1839-1908).
Quetzal
edita Cântico Final de
Vergílio Ferreira (1916-1996).
IMAG.78-212-241-323-548-587
Teorema
edita A Especulação
Imobiliária de Italo Calvino
(1923-1985); tradução de José Colaço Barreiros. IMAG.51-439-482-531-631
Universal
edita em CD, sob chancela Decca, Dmitri Shostakovich
[1906-1975]:
Cello Concertos 1 + 2 por
Alisa Weilerstein, com Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks,
sob a direcção de Pablo Heras-Casado.
IMAG.100-266-408-499-526-580-659
Distrijazz
edita em CD, sob chancela Palmetto, Sunday
Night at the Vanguard por
The Fred Hersch Trio.
Porto
Editora lança O Livro Grande
de Tebas, Navio e Mariana de
Mário de Carvalho. IMAG.327-410-528-541-542-543-581-603-612-618-666
MEMÓRiA
29ABR1868-1937
- António Rodrigues da Silva Júnior: Arquitecto português, autor
de inúmeras obras no Estoril e em Cascais para aristocratas e
comerciantes ricos que desejavam ter, na zona, habitação permanente
ou de veraneio; fundador da Sociedade Teosófica Portuguesa, e membro
da Academia das Ciências.
23SET1938-1982
- Rosemarie Magdalena Albach, aliás Romy Schneider: Actriz austríaca
de cinema - «Na vida, não sou nada - mas, no ecrã, torno-me tudo».
IMAG.325-372-518-651
24SET1878-1947
- Charles-Ferdinand Ramuz, aliás C.F. Ramuz: Poeta e ficcionista
suíço - «O Leitor: Adeus, riquezas fabulosas, mandou-as à fava! /
Não disse nada a ninguém, destruiu / o livro e fugiu / e voltámos
ao velho tempo / menos o saco e o que tinha dentro.» (História
do Soldado). IMAG.611
25SET1888-1965
- Thomas Stearns
Eliot, aliás T.S. Eliot: - Poeta e dramaturgo inglês, distinguido
com o Prémio Nobel da Literatura (1948) - «A evolução de um
artista produz-se a partir de um sacrifício contínuo, de uma
constante extinção da personalidade… Nunca cessaremos de explorar
e, por fim, voltaremos ao ponto de partida, como se nada tivéssemos
conhecido». IMAG.196-497
1924-25SET2008
- Raymond Macherot: Artista de banda desenhada, criador de Clorofila
(1956) e Coronel Clifton
(1959) - «Um exemplo do talento multifacetado, um autor injustamente
pouco lembrado» (Pedro Cleto). IMAG.217-460
26SET1898-1937
- Jacob Gershowitz, aliás George Gershwin: Compositor americano,
autor de Porgy and Bess ou
de Rapsody In Blue -
«De certo modo, a vida é como o jazz…
Funcionamos melhor, quando improvisamos». IMAG.97-248-326-618
29SET1518-1594
- Jocopo Comin Robusti, aliás Tintoretto: Pintor italiano, mestre do
Maneirismo - «A pintura de Tintoretto é, em primeiro lugar, a
ligação apaixonada entre um homem e uma cidade… Veneza, inquieta,
maldita, produziu um inquieto, amaldiçoa nele a sua própria
inquietude» (Jean-Paul Sartre - 1953). IMAG.196-468
29SET1618-1680
- Juan Cererols Fornells, aliás Juan Cererols: Compositor e monge
espanhol, organista, harpista e violinista, pioneiro ibérico da
estética barroca.
1839-29SET1908
- Joaquim Maria Machado de Assis: Escritor brasileiro - «E enquanto
uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a
perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo,
cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços
e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade
necessária, e faz-se o equilíbrio da vida.» (Quincas
Borba - 1891).
IMAG.196-229-231-253-337
1921-29SET2008
- Hayden Carruth: Poeta americano, crítico literário - «Li os
mesmos erros em milhares de livros, vi-os também em milhares de
filmes, e, como podem passar desapercebidos a alguns, que a eles
próprios se consideram artistas, é algo que ultrapassa a minha
compreensão». IMAG.218-333
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