quarta-feira, agosto 02, 2017

IMAGINÁRIO #673

José de Matos-Cruz | 01 Setembro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
TRANSGRESSÕES
Uma das convenções tradicionais da banda desenhada respeita à identidade secreta dos heróis, sujeitos a uma exposição pública, que os vulnerabiliza perante todos os perigos e as piores vinganças. Tal estimula os autores às mais insólitas especulações, as quais, muitas vezes, remontam às próprias origens de um desígnio justiceiro. Imagine-se então um homem privado de memória e, no entanto, constrangido por um passado obscuro, perturbante, que o torna vulnerável a volúveis suspeitas, sob ameaças que, simultaneamente, impelem o seu destino para um confronto de vingança… ou expiação! Eis os fundamentos de
XIII (1984 ) - uma das sagas mais aliciantes, com a marca da escola franco-belga. Mistério, aventura, disputam uma acção de contornos políticos - em flagrantes de espionagem, sob implicações militares - em que o poder absoluto se insinua, irreversível, pairando entre referências financeiras ou proezas criminais. Dois criadores veteranos - o argumentista Jean Van Hamme (lembrar Thorgal) e o ilustrador William Vance (lembrar Bob Morane) - conquistaram os fanáticos com as proezas do enigmático mas empolgante XIII. Entre muitos nomes, talvez mais próximo da verdade, mas o futuro é uma realidade instável…
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CALENDÁRiO

06MAI-19MAI2017 - Em Lisboa, Museu Militar apresenta
Delfim Maya [1886-1978] - Escultor Ibérico.

06MAI-03JUN2017 - No Porto, Cooperativa Árvore e Museu Nacional de Soares dos Reis apresentam
Espaços Imprevisíveis - exposição de pintura de Fernando Marques de Oliveira.

1934-09MAI2017 - Armando Baptista-Bastos: Escritor e jornalista português - «…A
actividade de escrever é demasiado natural, e de certa forma transcendente, para se reduzir às consequências de um ofício.» (O Cavalo a Tinta-da-China - 1995).  
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PRIORITÁRiO

BAPTISTA-BASTOS
Homem de coragem e convicções, autor de afeições e desafios, Baptista-Bastos celebra um envolvimento exemplar sobre a solidariedade, o compromisso, a militância, o testemunho quanto à realidade e à intervenção em Portugal, entre tanto do Século XX e tudo em pleno 3º Milénio. Ensaísta e jornalista prestigiado, a aliciante vocação do ficcionista expande-se em renovo e emoção, em sensibilidade e acuidade, em magia e fascínio. Eis a plenitude do humanista e a maturidade do escritor numa fluência propícia à inquietação, à descoberta, ao mistério, à partilha, ao desassombro, à solenidade, por quem a candura austera, a rude sobriedade inspiram e motivam, encerram e desvendam sobre a revelação e o pudor, o amor e a paixão, a identidade e a transferência, nessa inextrincável sagração de origens e inícios, de ciclos e pactos, de referências e inquietações que se assumem com pujante fruição ou sob o signo da mulher. História e memória, prenúncio e presença, retorno e futuro, constância e transfiguração, sublimam afinal Baptista-Bastos, ao forjar a criatividade sob um nexo lírico e trágico, onírico e afável, que tem a cultura como matriz, a vivência como alternativa.

José de Matos-Cruz

COMENTÁR
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David Foster Wallace

É um autor que pode escrever o que quiser. Pode fazer algo triste, divertido, descabido, arrebatador ou absurdo com igual mestria; até pode fazer tudo ao mesmo tempo.
Michiko Katutani


INVENTÁR
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O Primo Basílio
 


Em 1922, George Pallu realizou, para a Invicta Film, o drama cinegráfico O Primo Basílio, baseado no romance de Eça de Queiroz. Tudo gira, como se sabe, em volta dum adultério incómodo – entre Luísa, uma dama (bem) casada com Jorge, mas suspirante; e Basílio, um parente cosmopolita, leviano, que chega do estrangeiro… No contrato celebrado com os livreiros Lello & Irmão, estava prevista a venda da fita para o Brasil, estipulando-se quanto aos termos ficcionais e económicos: a Invicta podia «introduzir, modificar ou suprimir qualquer assunto», «segundo as exigências do cinematógrafo, desde que não fiquem alteradas as linhas gerais», «ou suprimidos os principais personagens»; a cessão foi feita «pela quantia de dois cêntimos em moeda francesa ao câmbio do dia, por metro de cada positivo vendido», «depois de deduzida a metragem dos títulos». Reproduzindo com bastante fidelidade os tipos característicos, bem como o clima fútil e a tensão expiadora, na obra literária, Pallu – também autor do argumento – não consegue, todavia, transmitir a toada sibilina, nem a feroz insolência sobre os costumes mesquinhos e a medíocre moral da época. Mesmo assim, um tema tão ousado e a sugerida escabrosidade levantaram significativa onda de protestos. Já a Invicta Cine – reconhecendo a «grande irreverência» de Eça – criticou os «delambidos púrrios, grotesca personificação da honestidade, que andam a ejacular a sua estupidez…»
A estreia comercial do filme esteve em risco, acabando por ocorrer – com distribuição Castello Lopes – em Lisboa (Condes), a 16 de Março; e no Porto (Jardim Passos Manuel), a 27 de Março de 1923. A fotografia de Maurice Laumann é sóbria mas envolvente, filtrando a mecânica do conflito (assédio, infidelidade, chantagem) através da transparência cénica (humilhação, doença, morte). O papel de Basílio, interpretado por um Robles Monteiro corpulento e bonacheirão, raro sugere o insinuante sedutor que implicaria a trama sentimental, bem servida por uma Amélia Rey Colaço na figura vulnerável e patética de Luísa. Arrebatador é, no entanto, o desempenho da notável Ângela Pinto, como Juliana, na sua única aparição em cinema: cria com o espectador uma distanciação ambígua que, no entanto, gera a cumplicidade, proferindo apartes em direcção à câmara…
Ainda no elenco, destacam-se Raul de Carvalho (Jorge), António Pinheiro (Conselheiro Acácio) e Arthur Duarte (Ernestinho). A pouco característica definição de situações, no acercamento desse estrato classista e pretensioso, algo parasitário em seus rituais de dissolução, para além das aparências morais, é contrabalançada pela dinâmica narrativa – assente numa montagem equilibrada, com recurso frequente a sequências paralelas. Assinalemos, pois, O Primo Basílio – como um exemplo marcante entre as versões cinegráficas, de ambiência urbana – sagrando corajosamente o polémico romance de Eça de Queiroz, duas ou três vezes adaptado no período sonoro: por Carlos Najera (Eurindia Films – México) em 1934; e por António Lopes Ribeiro (para Eduardo Costa) em 1959.

MEMÓRiA

1869-01SET1948 - Gabriel Georges Pallu, aliás Georges Pallu: Cineasta francês, trabalhou em Portugal ao serviço da Invicta Film, tendo dirigido várias transposições literárias, como Amor de Perdição (1921).
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02SET1928-2012 - Stuart Solomon, aliás Mel Stuart: Cineasta americano, produtor e realizador (A Maravilhosa História de Charlie / Willy Wonka and the Chocolate Factory - 1971, Brenda Starr, Reporter - 1976, Cães do Ódio / Mean Dog Blues - 1978), presidente da International Documentary Association. IMAG.278-421

02SET1928-2014 - Horace Ward Martin Tavares Silva, aliás Horace Silver: Compositor e músico americano de
jazz, saxofonista e pianista, co-fundador do hard bop, líder de The Jazz Messengers, tocou com Milt Jackson ou Paul Chambers, tendo criado «um legado entre as décadas de 1950 e 1960 altamente influente» (Diário de Notícias). IMAG.521

02SET1938-2013 – Eduardo José Nery de Oliveira, aliás Eduardo Nery: Artista plástico e fotógrafo português, ligado à
op art - «O seu trabalho em pintura, mais ligado à arte abstracta, foi inovador mesmo em termos internacionais e acompanhou Vasarely, um papel que nunca foi reconhecido» (Vítor Albuquerque Freire). IMAG.405-435-454



1910-06SET1998 - Akira Kurosawa: Cineasta nipónico, realizador de Rashomon - Às Portas do Inferno (1950) - «Por que razão se deixam os homens arrastar, sempre, para a fatalidade? Porque não podem viver em paz, com um pouco mais de bondade entre si, de uns para com os outros?». IMAG.193-267-531

1962-12SET2008 - David Foster Wallace: Escritor americano, autor de Infinite Jest (1996): «Estava a chover de um céu baixo, e a maré tinha vazado toda». IMAG.217-360
 
BREVIÁRiO

Apenas Livros edita Aurora Boreal e O Instinto Supremo de José de Matos-Cruz; terceiro universo de O Princípio Infinito, com visões de Susana Resende e Daniel Maia.
 


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