sexta-feira, março 03, 2017

IMAGINÁRiO #652

José de Matos-Cruz | 24 Março 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

DERIVAÇÕES
À sua terceira produção americana, Alfred Hitchcock (1899-1980) assinou um dos filmes mais insólitos e surpreendentes, durante a extensa carreira em que se consagraria como mestre do suspense. É sabido que além de intrigas, fatalidades, ameaças ou sobressaltos, o que caracteriza as suas obras-primas é uma ironia subtil, sofisticada, que paira sobre a estilizada irrupção das emoções. Porém, Hitch apenas terá dirigido duas genuínas comédias em longa metragem: O Terceiro Tiro (1955) entre os rituais do humor negro e, uns quinze anos antes, O Sr. e a Sr.ª Smith (1941) sob o signo da screwball comedy. Baseava-se esta em argumento de Norman Krasna - sobre história sua original - que acabara de o vender à RKO e, segundo Eric Rohmer, o mesmo escritor propôs a Hitch a respectiva adaptação. Era outra, porém, a versão do cineasta, revelada a François Truffaut. Grande amigo de Carole Lombard, casada à época com Clark Gable, foi a rainha da screwball comedy quem lhe falou duma história de que tanto gostava e que queria representar, só não tinha realizador… «Num momento de fraqueza», Hitch aceitou a incumbência - confessando, também, que não chegou a compreender as personagens, limitando-se a seguir escrupulosamente o guião técnico. Lombard faleceu meses depois, aos trinta e quatro anos, vítima dum acidente de aviação. IMAG.3-4-14-19-26-29-44-48-49-51-71-85-111-112-142-146-163-168-179-188-191-238-271-280-283-288-307-312-327-351-354-377-381-384-386-428-429-440-449-495-500-501-521-528-550-562-573-588-591-613-617-644

CALENDÁRiO

24NOV2016 - Em Lisboa, Museu do Oriente expõe A Ópera Chinesa, sendo curadoras Sylvie Pimpaneau e Sofia Campos Lopes.

04OUT1937-27NOV2016 - Carlos Alberto dos Santos, aliás Carlos Santos: Actor português de televisão e cinema, distinguido com o Prémio Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, pelo desempenho em Operação Outono (2012 - Bruno de Almeida).

29NOV2016-31JAN2017 - Em Lisboa, Instituto Cervantes expõe Ilustrações Para Dom Quixote de Júlio Pomar, assinalando os quatrocentos anos da morte de Miguel de Cervantes (1547-1616), e sendo curador Alexandre Pomar.  
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02DEZ2016-15JAN2017 - Em Lisboa, Lumiar Cité Maumaus apresenta Estúdio - exposição de pintura e intervenção performativa de Francisco Vidal. IMAG.292

06-30DEZ2016 - Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema apresenta José Fonseca e Costa (1933-2015) - Ciclo Integral.
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08DEZ2016 - Cinemundo estreia A Mãe É Que Sabe de Nuno Rocha; com Maria João Abreu e Dalila Carmo.

20MAR1936-10DEZ2016 - Alberto Jorge Seixas dos Santos, aliás Alberto Seixas Santos: Cineasta português, realizador, argumentista, actor e produtor, crítico e professor - «Em todos os lugares que ocupou deixou marcas na defesa intransigente - férrea - de um cinema de autor, contra os ditames do mercado» (Jorge Leitão Ramos). IMAG.22-67-91-158-347

14DEZ2016-01OUT2017 - Em Lisboa, Museu de Arte Popular expõe Da Fotografia ao Azulejo - Povo, Monumentos e Paisagens de Portugal Na Primeira Metade do Século XX, com base numa pesquisa de José Luis Mingote Calderón (Espanha).

SUMÁRiO
Maximo Gorki
Escritor russo, de seu verdadeiro nome Alexei Maximovitch Peshkov, nascido 28 de março de 1868, em Nizhni Novgorod, e falecido a 14[18] de junho de 1936. Poderoso ficcionista, aplaudido como o expoente da literatura proletária, celebrizou-se por contar histórias de párias e de vagabundos. Descreveu o movimento revolucionário russo na obra A Mãe (1906), e nesse mesmo ano partiu para o exílio. Atingiria o cume da sua produção literária com uma trilogia autobiográfica, composta por A Minha Infância (1913-1914), Ganhando o Meu Pão (1915-1916) e As Minhas Universidades (1923).

PARLATÓRiO

A arte é a mais bela das mentiras… É preciso primeiro encontrar, depois cortar, para chegar à carne nua da emoção.
Claude Debussy

O talento desenvolve-se no amor que pomos no que fazemos. Talvez até a essência da arte seja o amor pelo que se faz, o amor pelo próprio trabalho.
Maximo Gorki

Quem quiser ser realizador de cinema, tem que ter espírito prático. É trabalho árduo, como o de um carpinteiro e, quando eu termino um filme, estou absolutamente exausto… Aliás, só em idade já madura comecei a ter a ousadia de pensar que possuo algo de artista.
David Lean

MEMÓRiA

25MAR1908-1991 - David Lean: Cineasta britânico - «Gosto de uma boa história, bem consistente, com princípio, meio e fim. Na sua maioria, os novos filmes parecem diários. Não têm construção dramática. E devo dizer que gosto de uma boa construção dramática. Gosto de me emocionar, quando vou ao cinema». IMAG.141-320-492

1862-25MAR1918 - Claude-Achille Debussy, aliás Claude Debussy: Compositor francês - «As obras de arte fazem regras, mas as regras não fazem obras de arte». IMAG.252-291-301-349-375-383-438-535-540-576

28MAR1868-18JUN1936 - Alexei Maximovitch Peshkov, aliás Maximo Gorki: Escritor russo - «A tarefa da literatura é ajudar o homem a compreender-se a ele mesmo». IMAG.102-567

1926-30MAR1988 - John Clellon Holmes: Novelista, poeta e professor americano, membro da Beat Generation - «Mais do que simples fadiga, beat implica a sensação de ter sido usado, de estar em carne viva. Envolve uma espécie de desnudamento da mente e, em última instância, da alma: a sensação de estar sendo reduzido às bases da consciência. Em síntese, significa ser empurrado sem drama contra o muro do isolamento» (1952). IMAG.362-554

31MAR1918-2013 - Ted Post: Realizador americano de cinema e televisão, director de Harry, o Detective em Acção / Magnum Force (1973) com Clint Eastwood - «Acredito que a ganância e o ego de Clint afectaram a sua sensibilidade e o seu discernimento». IMAG.479

COMENTÁRiO

DAVID LEAN
Desde cedo o cinema se converteu em fenómeno de culto, explorado por múltiplas facetas: culto das suas vedetas, dos criadores, das próprias fitas - assim variando ao longo do Século XX, entre o fascínio e a emoção, a nostalgia e o encantamento. Durante sucessivas décadas, por conseguinte, subsistiu uma margem de público instituída - apesar das variantes - entre o estrito fanatismo e os limites volúveis do espectáculo. Pensemos agora noutra situação, punhamos a eventualidade de um culto que não respeita, já, ao espectador mas directamente ao artista visionário, àquele que manipula os materiais do cinema, e se exprime segundo as específicas virtualidades do imaginário. O realizador - fiel à regras duma indústria a que outrora se chamou fábrica de sonhos, mas também dependente dos caprichos do mercado, ou deles vítima eventual. Em tal sortilégio transfigurador, as modas e os modelos foram-se alterando. Este dilema eminente era reconhecido por David Lean, pouco antes de falecer. O mesmo director que, após uma iniciação prestigiosa (Breve Encontro - 1945, Grandes Esperanças - 1946), logrou alguns dos maiores sucessos de sempre (A Ponte do Rio Kway - 1957, Doutor Jivago - 1965, A Filha de Ryan - 1971)… Era um cinema de sublimes emoções, de espaços exaltantes, de anti-heróis em períodos de crise, de ambiciosas adaptações, da gigantesca reconstituição histórica, das paisagens exóticas e dos milhares de figurantes. Do esplendor ao crepúsculo das superproduções, concebidas para um deslumbramento ritual, o talento maior de David Lean terá sido reverter um desafio tão insinuante, culminado em Lawrence da Arábia (1962).

E O TEMPO PASSA
Um pouco como o cesteiro que entrelaça dezenas de fios de vime e daí faz uma cesta, também quis cruzar várias linhas narrativas, vários tons - momentos burlescos, dramáticos ou trágicos - passando ora por transição ora por corte franco de umas para outras, esperando que aos poucos o espectador comece a navegar - sem colete salva-vidas - pelas cenas que vão combinando ficção e vida até não saber em que território está. De qualquer modo estando no cinema estamos de certeza no espaço fascinante da ilusão em que todos nos deixamos enredar.
Alberto Seixas Santos

BREVIÁRiO

Leopardo Filmes produziu, e edita em DVD, Axilas (2016) de José Fonseca e Costa (1933-2015); com Pedro Lacerda e Maria da Rocha.

Marcador edita 100 Heróis e Vilões Que Fizeram a História de Portugal de Pedro Rabaçal.

Cotovia edita Satyricon de Petrónio (27-66); tradução de Delfim Leão. IMAG.81

Harmonia Mundi edita em CD, sob chancela Paraty, Heitor Villa-Lobos [1887-1959]: Obra Completa Para Guitarra por Mickael Viegas. IMAG.251-601

Ítaca edita Os Filhos de Franz Kafka (1883-1924); tradução de Isabel Castro Silva.  
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INCM/Imprensa Nacional - Casa da Moeda edita A Sereia de Camilo Castelo Branco (1825-1890). 
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Guerra & Paz edita A Ilha do Tesouro de Robert Louis Stevenson (1850-1904); tradução de Rui Santana Brito.  
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