José
de Matos-Cruz | 24 Janeiro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal
– Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
EXPECTATIVAS
Com
a viragem para este milénio, acenturam-se os sinais alternativos,
entre nós, num panorama em quadradinhos motivado pela revelação de
jovens autores - que encontrariam outras oportunidades na
apresentação ao público, em exposições alusivas ou através de
publicações que divulgam / analisam a sua obra. Assumido por
Horácio Gomes, eis o desafio de Nova Comix - uma colecção
especialmente dedicada aos fanáticos, também sensíveis a uma
evolução em exigências criativas e editoriais. Aliás, esta
expectativa logo logrou plena consagração com
Eat & Spit (2000) de
Isabel Carvalho - nascida em 1977, no Porto, onde se formou em belas
artes. Confessando que nunca teve «o hábito de ler bd», e
reconhecendo-se atraída pelo
nonsense, além do fascínio
quanto ao imaginário infantil, sobressai neste seu labor a
preto-e-branco - irónico mas aliciante, em aparente apologia do
consome e deita fora - um
grafismo versátil, minucioso, propício à experimentação temática
e alegórica. São pequenas histórias com legendas em inglês, aliás
corroborando uma inspiração entre
Mickey Mouse e o
underground. Combinando as
referências ingénuas ou perversas, sofisticadas ou animalistas,
plásticas ou unidimensionais, Carvalho - que chegou à banda
desenhada em 1999, e com um rápido percurso de retrospectiva /
vanguarda por vários fanzines - evidencia, afinal, um talento
seguro, embora em prospecção. IMAG.310
VISTORiA
Os
bois! Fortes e mansos, os boizinhos,
– leões
com corações de passarinhos!
Os
bois! Os grandes bois, esses gigantes,
tão
amigos, tão úteis, tão possantes!
Vede
os bois a puxar, pelas estradas,
aquelas
pesadíssimas carradas.
O
corpo deles, com o esforço, freme,
e
o carro geme, longamente geme…
E
à noite, pela estrada tão sòzinha,
o
carro geme, geme, e lá caminha…
E
parece, pela noite envolta em treva,
que
é o carro a chorar por quem o leva.
Vede
o boi a puxar à velha nora,
que
parece também que chora, chora…
A
nora chora, e o boi, cansadamente,
anda
à roda, anda à roda, longamente…
E
parece pela tarde erma que expira,
que
é a água a chorar por quem a tira.
Mas
vede os bois, também, nessa alegria
de
trabalhar na terra à luz do dia!
Vede
os bois a puxar ao arado, agora
que
o lavrador conduz pelo campo fora!
Eis
um canto de amor no ar se espalha:
– é
a terra a cantar por quem trabalha!
O
arado rasga a terra, e os bois, passando,
com
os seus olhos a vão abençoando.
Sem
as suas fadigas e canseiras,
não
teriam florido as sementeiras!
Sem
a sua força, sem a sua dor,
não
estava rindo a terra toda em flor!…
E,
por onde os bois lavraram,
as
fontes frescas brotaram,
as
árvores verdejaram,
os
passarinhos cantaram,
as
flores floriram,
os
campos reverdeceram,
os
pães cresceram
e
os homens sorriram!…
Afonso
Lopes Vieira
CALENDÁRiO
1929-03OUT2016
- Mário Wilson: Atleta português nascido em Moçambique, jogador e
treinador de futebol - «Permanecerá
sempre na nossa memória como um caso raro de entrega e paixão ao
fenómeno desportivo. Pela sua humildade e disponibilidade para o
próximo, será sempre um exemplo» (Luís Filipe Vieira).
QUESTIONÁRiO
François
Truffaut: Concorda com o estudo
do cinema nas universidades?
Alfred
Hitchcock: Sim, com a condição
de que se ensine o cinema desde Méliès, que se aprenda a fazer
fitas mudas, porque não há melhor exercício do que esse. O cinema
falado, ou sonoro, em muitos casos serviu apenas para introduzir o
teatro nos estúdios. O perigo está em que os jovens, ou até os
menos jovens, imaginam – com demasiada frequência – que podem
ser realizadores sem saberem desenhar um cenário, ou montar um
filme.
François
Truffaut
-
O Cinema de Alfred Hitchcock
PARLATÓRiO
Viagem
à Lua foi a primeira grande
comédia de magia em imagens animadas, que determinou de modo
definitivo a entrada do cinema no caminho teatral e espectacular. Foi
o primeiro grande filme de fantasia e de composição, com argumento
inteiramente concebido para cinema. A acção desenrolava-se sem
legendas, e era perfeitamente compreensível em todos os países.
Realmente, e por excelência, foi o filme
internacional.
Georges
Méliès
MEMÓRiA
1861-21JAN1938
- Marie-Georges-Jean-Méliès, aliás Georges Méliès: Criador
francês, ilusionista, fotógrafo, pioneiro do cinema - produtor,
realizador, inventor técnico, cenógrafo, figurinista, actor -
precursor do imaginário fantástico, «o alquimista da luz»
(Charles Chaplin) - «Quando realizei Viagem
à Lua 1902,
ainda não havia estrelas
entre os artistas, os seus nomes não eram conhecidos nem estavam
impressos nos cartazes ou nos anúncios».
IMAG.36-61-163-350-397-498-504-508
26JAN1878-1946
- Afonso Lopes Vieira: Poeta português - «Enfim, sob o desdém dos
olhares, olho os céus; / Vejo no firmamento as estrelas de Deus, / E
penso que não são oceanos, continentes, / As pérolas em monte e os
diamantes ardentes, / Que em meu orgulho calmo e enorme estão
fulgindo: / – São estrelas no céu que o meu olhar, subindo, /
Extasiado fixou pela primeira vez… / Estrelas coroai meu sonho
Português!» (Pois Bem!
- excerto). IMAG.76-98-307-327-548-639
28JAN1898-13JUN1958
- Vasco António Rodrigues Santana, aliás Vasco Santana: Actor
português de teatro, cinema, rádio e televisão - «Nós, os
actores cómicos, já nascemos para fazer rir». IMAG.95-164-457-458-501-518-574-631-635
1815-31JAN1888
- João Melchior Bosco, aliás São João Bosco: Religioso italiano,
sacerdote católico, fundador da Pia Sociedade São Francisco de
Sales, proclamado santo em 1934 - «Um raio despontará para consolar
os tímidos, que sentem o gelo entre os seus ossos. Depois, paz
universal». IMAG.47
31JAN1928-2014
- Milton Santos de Almeida, aliás Miltinho: Artista brasileiro,
cantor de samba, autor de Mulher
de 30 - «…Esse pandeiro
fez-me sustentar uma família inteira». IMAG.532
TRAJECTÓRiA
Nasceu
em Paris, a 8 de Dezembro de 1861, filho de um fabricante de calçado.
Em 1879, concluiu os estudos liceais. Após o serviço militar em
1881, ingressou na empresa paterna - secção dos mecanismos. Durante
estadia em Londres, aprendeu o idioma e interessou-se pelo
ilusionismo. Em 1885, casou com Eugénie Génin, e dedicou-se a
espectáculos de prestidigitação no Cabinet
Fantastique du Musée Grévin e Théâtre
des Illusions, que viria a adquirir em 1888 e a explorar como Théâtre
Robert-Houdin. Em 1891, fundou a Académie de Prestidigitation, após
1904 Chambre Syndicale de Prestidigitation, e de que foi Presidente
por dezenas de anos. Em 1895, assistiu à apresentação do
Cinématographe
Lumière; maravilhado, tentou em vão adquirir uma câmara. Com o seu
próprio aparelho, alterando um modelo adquirido a Robert W. Paul em
Londres, começou por realizar Une
Partie de Cartes (1896).
Em 1897, construiu um estúdio em Montreuil e fundou a Star Film. A
partir de 1898, dedicou-se a actualidades
reconstituídas
e, com recurso a trucagens, dirigiu fitas de mise-en-scène
como L’Affaire
Dreyfus/O Caso Dreyfus (1899)
e Jeanne
d’Arc/Joana d’Arc (1900).
Em 1902 - ano da fantástica Le
Voyage Dans la Lune/Viagem à Lua e
de Robinson
Crusoé -
visitou os EUA, começando a vender para o mercado americano.
Seguiram-se Le
Royaume des Fées/O Reino das Fadas (1903)
ou Fausto
(1904),
entre dezenas de títulos em comédia, drama, magia, história,
romance, mistério e melodrama. Em 1909, liderou em Paris o Congresso
Internacional dos Fabricantes de Filmes. Em 1911, dirigiu Les
Hallucinations du Baron de Münchausen/As Alucinações do Barão
Munchausen,
e assinou um contrato de distribuição exclusiva pela Pathé. Em
1914, com a I Grande Guerra e o declínio económico, além da
recente viuvez (1913), desistiu da Star Film e criou, em
Montreuil-Sur-Bois, o Théâtre Lirique des Variétés Artistiques,
de que foi empresário e actor. Em 1925, desposou Charlotte Faes, de
nome artístico Jehanne d’Alcy. Reconhecido, por 1928, como um dos
grandes pioneiros do cinema, responsável por cerca de seiscentas
produções, foi distinguido com a Legião de Honra. Em 1932,
retirou-se para Château d’Orly, instituição de La Mutuelle du
Cinéma, onde faleceu a 21 de Janeiro de 1938.
BREVIÁRiO
Sony
edita em CD e DVD, sob chancela Columbia, The
Ties That Bind: The River Collection por
Bruce Springsteen.
IMAG.41-96-177-236-502-505
Assírio
& Alvim edita Vertentes do Olhar de Eugénio de Andrade
(1923-2005).
IMAG.33-45-150-248-303-326-389-423-432-460-485-518-526-546-562-566-636
Sem comentários:
Enviar um comentário