sexta-feira, janeiro 06, 2017

IMAGINÁRiO #644

José de Matos-Cruz | 24 Janeiro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

EXPECTATIVAS
Com a viragem para este milénio, acenturam-se os sinais alternativos, entre nós, num panorama em quadradinhos motivado pela revelação de jovens autores - que encontrariam outras oportunidades na apresentação ao público, em exposições alusivas ou através de publicações que divulgam / analisam a sua obra. Assumido por Horácio Gomes, eis o desafio de Nova Comix - uma colecção especialmente dedicada aos fanáticos, também sensíveis a uma evolução em exigências criativas e editoriais. Aliás, esta expectativa logo logrou plena consagração com Eat & Spit (2000) de Isabel Carvalho - nascida em 1977, no Porto, onde se formou em belas artes. Confessando que nunca teve «o hábito de ler bd», e reconhecendo-se atraída pelo nonsense, além do fascínio quanto ao imaginário infantil, sobressai neste seu labor a preto-e-branco - irónico mas aliciante, em aparente apologia do consome e deita fora - um grafismo versátil, minucioso, propício à experimentação temática e alegórica. São pequenas histórias com legendas em inglês, aliás corroborando uma inspiração entre Mickey Mouse e o underground. Combinando as referências ingénuas ou perversas, sofisticadas ou animalistas, plásticas ou unidimensionais, Carvalho - que chegou à banda desenhada em 1999, e com um rápido percurso de retrospectiva / vanguarda por vários fanzines - evidencia, afinal, um talento seguro, embora em prospecção. IMAG.310

VISTORiA

Os Bois

Os bois! Fortes e mansos, os boizinhos,
leões com corações de passarinhos!

Os bois! Os grandes bois, esses gigantes,
tão amigos, tão úteis, tão possantes!

Vede os bois a puxar, pelas estradas,
aquelas pesadíssimas carradas.

O corpo deles, com o esforço, freme,
e o carro geme, longamente geme…

E à noite, pela estrada tão sòzinha,
o carro geme, geme, e lá caminha…

E parece, pela noite envolta em treva,
que é o carro a chorar por quem o leva.

Vede o boi a puxar à velha nora,
que parece também que chora, chora…

A nora chora, e o boi, cansadamente,
anda à roda, anda à roda, longamente…

E parece pela tarde erma que expira,
que é a água a chorar por quem a tira.

Mas vede os bois, também, nessa alegria
de trabalhar na terra à luz do dia!

Vede os bois a puxar ao arado, agora
que o lavrador conduz pelo campo fora!

Eis um canto de amor no ar se espalha:
é a terra a cantar por quem trabalha!

O arado rasga a terra, e os bois, passando,
com os seus olhos a vão abençoando.

Sem as suas fadigas e canseiras,
não teriam florido as sementeiras!

Sem a sua força, sem a sua dor,
não estava rindo a terra toda em flor!…

E, por onde os bois lavraram,
as fontes frescas brotaram,
as árvores verdejaram,
os passarinhos cantaram,
as flores floriram,
os campos reverdeceram,
os pães cresceram
e os homens sorriram!…
Afonso Lopes Vieira
CALENDÁRiO

1929-03OUT2016 - Mário Wilson: Atleta português nascido em Moçambique, jogador e treinador de futebol - «Permanecerá sempre na nossa memória como um caso raro de entrega e paixão ao fenómeno desportivo. Pela sua humildade e disponibilidade para o próximo, será sempre um exemplo» (Luís Filipe Vieira).

QUESTIONÁRiO


François Truffaut: Concorda com o estudo do cinema nas universidades?
Alfred Hitchcock: Sim, com a condição de que se ensine o cinema desde Méliès, que se aprenda a fazer fitas mudas, porque não há melhor exercício do que esse. O cinema falado, ou sonoro, em muitos casos serviu apenas para introduzir o teatro nos estúdios. O perigo está em que os jovens, ou até os menos jovens, imaginam – com demasiada frequência – que podem ser realizadores sem saberem desenhar um cenário, ou montar um filme.
François Truffaut
- O Cinema de Alfred Hitchcock
PARLATÓRiO


Viagem à Lua foi a primeira grande comédia de magia em imagens animadas, que determinou de modo definitivo a entrada do cinema no caminho teatral e espectacular. Foi o primeiro grande filme de fantasia e de composição, com argumento inteiramente concebido para cinema. A acção desenrolava-se sem legendas, e era perfeitamente compreensível em todos os países. Realmente, e por excelência, foi o filme internacional.
Georges Méliès

MEMÓRiA

1861-21JAN1938 - Marie-Georges-Jean-Méliès, aliás Georges Méliès: Criador francês, ilusionista, fotógrafo, pioneiro do cinema - produtor, realizador, inventor técnico, cenógrafo, figurinista, actor - precursor do imaginário fantástico, «o alquimista da luz» (Charles Chaplin) - «Quando realizei Viagem à Lua 1902, ainda não havia estrelas entre os artistas, os seus nomes não eram conhecidos nem estavam impressos nos cartazes ou nos anúncios». IMAG.36-61-163-350-397-498-504-508

26JAN1878-1946 - Afonso Lopes Vieira: Poeta português - «Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus; / Vejo no firmamento as estrelas de Deus, / E penso que não são oceanos, continentes, / As pérolas em monte e os diamantes ardentes, / Que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo: / – São estrelas no céu que o meu olhar, subindo, / Extasiado fixou pela primeira vez… / Estrelas coroai meu sonho Português!» (Pois Bem! - excerto). IMAG.76-98-307-327-548-639

28JAN1898-13JUN1958 - Vasco António Rodrigues Santana, aliás Vasco Santana: Actor português de teatro, cinema, rádio e televisão - «Nós, os actores cómicos, já nascemos para fazer rir». IMAG.95-164-457-458-501-518-574-631-635

1815-31JAN1888 - João Melchior Bosco, aliás São João Bosco: Religioso italiano, sacerdote católico, fundador da Pia Sociedade São Francisco de Sales, proclamado santo em 1934 - «Um raio despontará para consolar os tímidos, que sentem o gelo entre os seus ossos. Depois, paz universal». IMAG.47

31JAN1928-2014 - Milton Santos de Almeida, aliás Miltinho: Artista brasileiro, cantor de samba, autor de Mulher de 30 - «…Esse pandeiro fez-me sustentar uma família inteira». IMAG.532

TRAJECTÓRiA

GEORGES MÉLIÈS
Nasceu em Paris, a 8 de Dezembro de 1861, filho de um fabricante de calçado. Em 1879, concluiu os estudos liceais. Após o serviço militar em 1881, ingressou na empresa paterna - secção dos mecanismos. Durante estadia em Londres, aprendeu o idioma e interessou-se pelo ilusionismo. Em 1885, casou com Eugénie Génin, e dedicou-se a espectáculos de prestidigitação no Cabinet Fantastique du Musée Grévin e Théâtre des Illusions, que viria a adquirir em 1888 e a explorar como Théâtre Robert-Houdin. Em 1891, fundou a Académie de Prestidigitation, após 1904 Chambre Syndicale de Prestidigitation, e de que foi Presidente por dezenas de anos. Em 1895, assistiu à apresentação do Cinématographe Lumière; maravilhado, tentou em vão adquirir uma câmara. Com o seu próprio aparelho, alterando um modelo adquirido a Robert W. Paul em Londres, começou por realizar Une Partie de Cartes (1896). Em 1897, construiu um estúdio em Montreuil e fundou a Star Film. A partir de 1898, dedicou-se a actualidades reconstituídas e, com recurso a trucagens, dirigiu fitas de mise-en-scène como L’Affaire Dreyfus/O Caso Dreyfus (1899) e Jeanne d’Arc/Joana d’Arc (1900). Em 1902 - ano da fantástica Le Voyage Dans la Lune/Viagem à Lua e de Robinson Crusoé - visitou os EUA, começando a vender para o mercado americano. Seguiram-se Le Royaume des Fées/O Reino das Fadas (1903) ou Fausto (1904), entre dezenas de títulos em comédia, drama, magia, história, romance, mistério e melodrama. Em 1909, liderou em Paris o Congresso Internacional dos Fabricantes de Filmes. Em 1911, dirigiu Les Hallucinations du Baron de Münchausen/As Alucinações do Barão Munchausen, e assinou um contrato de distribuição exclusiva pela Pathé. Em 1914, com a I Grande Guerra e o declínio económico, além da recente viuvez (1913), desistiu da Star Film e criou, em Montreuil-Sur-Bois, o Théâtre Lirique des Variétés Artistiques, de que foi empresário e actor. Em 1925, desposou Charlotte Faes, de nome artístico Jehanne d’Alcy. Reconhecido, por 1928, como um dos grandes pioneiros do cinema, responsável por cerca de seiscentas produções, foi distinguido com a Legião de Honra. Em 1932, retirou-se para Château d’Orly, instituição de La Mutuelle du Cinéma, onde faleceu a 21 de Janeiro de 1938.

BREVIÁRiO

Sony edita em CD e DVD, sob chancela Columbia, The Ties That Bind: The River Collection por Bruce Springsteen. IMAG.41-96-177-236-502-505

Assírio & Alvim edita Vertentes do Olhar de Eugénio de Andrade (1923-2005). IMAG.33-45-150-248-303-326-389-423-432-460-485-518-526-546-562-566-636
 

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