José
de Matos-Cruz | 16 Janeiro 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal
– Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Nascido
em Nova Iorque, no ano de 1942,
e com uma carreira iniciada em 1963, Martin Scorsese sobressai numa
geração de realizadores cujo talento, modelado pela formação
universitária e por um entranhado apelo dos clássicos, subverteria
- sob o signo de Hollywood - as motivações tradicionais, quanto à
realidade e ao imaginário. Trata-se de um autor cuja autenticidade
motiva, além da nostalgia ou do fascínio, singulares expectativas
para a reformulação de uma arte, em constante vertigem entre a
indústria e o espectáculo… Eis o estímulo radical dum olhar de
cineasta - sensível, inteligente, contra as tendências
convencionais de mistificação - que, encarando os filmes pela
fruição, contrapõe sobretudo, ao artifício crítico, o signo da
transfiguração - por vezes violenta, aleatória mas vibrátil - na
qual se gera o culto. Aliando a memória e a lenda, Scorsese -
descendente de uma família católica italiana - culmina, assim, uma
visão sempre original pelo animatógrafo, como referência
primordial, apelando ainda aos «filmes de Hollywood que eu amei na
adolescência, com uma Nova Iorque mais forte do que aquela por onde
andava».
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VISTORiA
Adeus
Adeus!
e para sempre embora,
Que seja para nunca mais:
Sei teu rancor – mas contra ti
Não me rebelarei jamais.
Que seja para nunca mais:
Sei teu rancor – mas contra ti
Não me rebelarei jamais.
Visses
nu meu peito, onde a fronte
Tu descansavas mansamente
E te tomava um calmo sono
Que perderás completamente:
Tu descansavas mansamente
E te tomava um calmo sono
Que perderás completamente:
Que
cada fundo pensamento
No coração pudesses ver!
Que estava mal deixá-lo assim
Por fim virias a saber.
No coração pudesses ver!
Que estava mal deixá-lo assim
Por fim virias a saber.
Louve-te
o mundo por teu acto,
Sorria ele ante a acção feia:
Esse louvor deve ofender-te,
Pois funda-se na dor alheia.
Sorria ele ante a acção feia:
Esse louvor deve ofender-te,
Pois funda-se na dor alheia.
Desfigurassem-me
defeitos:
Mão não havia menos dura
Que a de quem antes me abraçava
Que me ferisse assim sem cura?
Mão não havia menos dura
Que a de quem antes me abraçava
Que me ferisse assim sem cura?
Não
te iludas contudo: o amor
Pode afundar-se devagar;
Porém não pode os corações
Um golpe súbito apartar.
Pode afundar-se devagar;
Porém não pode os corações
Um golpe súbito apartar.
-
Lord Byron
(excerto)
o
da tristeza em azul
Tudo
o que existe é assim
neste
sul
Mostramos
o sol e o mar
e
vendemo-lo a quem tem,
para
podermos aguentar
o
que vem
Ah
país de fato preto
meu
país engravatado
do
grande amor em soneto
da
grande desgraça em fado
-
Maria Judite de Carvalho
-
A Flor Que Havia Na Água
Parada (1998)
CALENDÁRiO
15SET-30OUT2016
- Em Lisboa, Fundação Portuguesa das Comunicações | Museu das
Comunicações expõe 100
Obras Em 100 Anos - Mulheres Europeias Na Arquitectura e No Design -
1918-2018; iniciativa do
projecto MoMoWo, sendo comissária Maria Helena Souto.
13OUT-31DEZ2016
- Museu de Évora apresenta Pelas
Ruas de Macau - exposição
de fotografia de Rui Palha.
15OUT2016
- Na Amadora, Clube Português de Banda Desenhada/CPBD expõe
Fernando Bento [1910-1996]
- Homenagem ao Grande
Desenhador.
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INVENTÁRiO
Francisco Lázaro - A
Emborcação No Treino
Na
Revue Olympique
nº 80 de agosto de 1912 pode ler-se que, pela primeira vez, desde
que os Jogos Olímpicos foram restaurados, o Movimento Olímpico foi
atingido pelo luto quando um corredor português sofreu um golpe
de insolação que lhe foi fatal. Francisco Lázaro morreu no dia
seguinte num hospital de Estocolmo.
Ao
cabo de dezasseis anos, desde que os Jogos Olímpicos da era moderna
tinham, pela primeira vez, acontecido em Atenas no ano de 1896,
morreu um atleta em plena competição. Diz o articulista que apesar
da prova ter sido realizada num período quente do dia, o que é
facto é que o colapso do atleta não pode ser atribuído ao ligeiro
calor sueco (légère chaleur
suédoise) uma vez que o
calor em Portugal, a que o atleta estava habituado, era muito mais
intenso. E o articulista avança para a suposição de que seria
muito mais provável que o colapso de Francisco Lázaro (1888-1912)
tivesse sido provocado por uma qualquer causa intestinal.
Francisco
Lázaro era carpinteiro de uma fábrica de carroçarias de automóveis
na Travessa dos Fiéis de Deus no Bairro Alto em Lisboa, foi o
porta-estandarte da equipa portuguesa que participou nos Jogos da V
Olimpíada da era moderna.
A
busca da superação não encontra limites na condição humana.
Pierre de Coubertin dizia, e bem, que «não existe desporto sem
excessos». E foram os excessos próprios daqueles que buscam a areté
– quer dizer, a excelência dos gregos antigos que, muito
provavelmente, conduziram o atleta, tal como qualquer herói da
Grécia antiga, à morte prematura.
Um
médico foi-lhe prestar assistência. Aplicou-lhe gelo em plena
estrada. Levaram-no para o hospital onde lhe diagnosticaram uma
meningite.
No
dia 14 de Julho de 1912, aos 29 km dos 42,185 da Maratona, na colina
de Öfver-Järva, Francisco Lázaro cambaleou, caiu por várias vezes
e várias vezes se levantou para continuar a prova, até cair para
não mais se levantar. (Nolasco, Pedro, 1985).
No
Estádio Olímpico de Estocolmo a bandeira portuguesa ficou a meia
haste.
Francisco
Lázaro é, porventura, a maior lenda do desporto português.
Estocolmo
(1912), era a primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos
e, simultaneamente, o culminar de um processo iniciado por D. Carlos
Rei de Portugal que, segundo conta a tradição, a pedido de Pierre
de Coubertin, indicou o Dr. António Lancastre médico da Casa Real
como Encarregado de Negócios do Comité Olímpico Internacional
(COI) em Portugal. O que é facto é que a nomeação foi aceite por
António Lancastre, e por ele formalizada por carta de 9 de Junho de
1906, dirigida a Pierre de Coubertin. Esta é, na realidade, a data
da institucionalização do Movimento Olímpico em Portugal e aquela
que, em respeito pela histórica, devia ser comemorada pelo
Comité Olímpico de Portugal (COP).
A
partida para a Maratona foi dada às onze e meia da manhã debaixo de
um calor sufocante. Trinta e dois graus à sombra.
Até
desfalecer, Lázaro correu sempre no grupo da frente. Reza a história
que antes da partida Lázaro afirmou solenemente «Ou ganho ou
morro». E assim cumpriu o seu destino.
Anos
mais tarde, Armando Cortezão, colega de Lázaro na fatídica
participação olímpica de 1912, explicou o drama (Correia, Romeu,
1988):
«O
Lázaro morreu por dois motivos: primeiro, porque se untou com sebo.
Fui eu e o Fernando Correia, quando ele não aparecia à partida na
maratona, que o procurámos no balneário e o encontrámos a
besuntar-se com sebo. Não faço a menor ideia como Lázaro conseguiu
arranjá-lo. Eu e o Fernando Correia ainda tentámos que ele tomasse
banho, mas não havia tempo. E ele lá foi correr a maratona todo
besuntado com sebo, com os poros da pele tapados, o que impedia a
transpiração cutânea nessa parte do corpo… E outra coisa: só
ele e um japonês é que foram de cabeça descoberta àquele sol…»
Francisco
Lázaro, com o seu procedimento, entrou em desequilíbrio
hidro-electrolítico irreversível e, em consequência, em colapso.
A
este respeito Armando Cortezão, um dos elementos da equipa
portuguesa, contou a Romeu Correia:
«Quando
me lembro da nossa ida a Estocolmo, há uma coisa que me irrita
sempre. Ainda há pessoas que me falam nisso hoje: o caso do Lázaro!
Que o Lázaro fora envenenado… que lhe fizeram essa patifaria para
ele perder a corrida… Urn disparate! O Lázaro morreu por dois
motivos: primeiro, porque se untou com sebo. Fui eu e o Fernando
Correia, quando ele não aparecia à partida da Maratona, que o
procurámos no balneário, e lá o encontramos a besuntar-se com
sebo… Não faço a menor ideia como o Lázaro conseguiu arranjá-lo
(ele que mal falava português), mas conseguiu sebo e estava a
untar-se… Eu e o Fernando Correia ficamos apavorados, ainda
tentámos que ele tomasse um banho, mas já não havia tempo. E ele
lá foi correr a Maratona todo besuntado de sebo, com os poros da
pele tapados, o que impedia a transpiração cutânea nessa parte do
corpo. E outra coisa: Só ele e um japonês é que foram de cabeça
descoberta, àquele Sol.»
Acreditamos
que assim tenha sido, mas não só…
Contudo,
o verdadeiro problema de Lázaro não se deve ter ficado pela
essência de terebintina e o ácido acético. Ao tempo, a emborcação
ia bem mais longe. De facto, a comunicação social informou que
Lázaro abusava da estricnina.
-
Gustavo Pires (excertos)
MEMÓRiA
1921-18JAN1998
- Maria Judite de Carvalho: Escritora portuguesa, autora de Os
Armários Vazios (1978) - «Eu
dantes tinha olhos verdes / só agora reparei. / Verdes, viam tudo
verde / por que eram verdes, não sei. / Sorriam àquela flor / que
havia na água parada. / Verde flor, na verde água / da vida
transfigurada. / Hoje olham e reconhecem / que há muito mais cores
para ver. / Cor de flor, que logo esquecem, / cor de charco a
apodrecer.» (A Flor Que Havia
Na Água Parada). IMAG.376
19JAN1798-1857
- Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, aliás Auguste Comte:
Filósofo francês, fundador do Positivismo - «O Amor por princípio,
e a Ordem por base; o Progresso por fim». IMAG.625
21JAN1888-1912
- Francisco Lázaro: Atleta português, participou na prova da
Maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo (1912), durante a qual
desfaleceu, vindo a morrer horas depois, por causas múltiplas.
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22JAN1788-1824
- George Gordon Noel Byron, aliás Lord Byron: Poeta britânico -
«Vivi, amei, bebi, tal como tu; morri; / Que renuncie a terra aos
ossos meus. / Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme / Lábios
mais repugnantes do que os teus.» (Versos
Inscritos Numa Taça Feita de Um Crânio).
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