José
de Matos-Cruz | 1 Dezembro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV –
Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
VIRAGEM
Entre
a evolução e a continuidade, como antes fora vanguardista em Os
Verdes Anos (1963), Paulo
Rocha (1935-2012) regressou com Mudar
de Vida (1966) - também
argumentista, sobre pretextos realistas e implicações dramáticas,
sendo os diálogos de António Reis. No horizonte sociológico, os
contornos duma comunidade litoral - suas fainas e rituais,
existência precária e conflitos individuais. Mas a perspectiva de
Rocha tornara-se mais alegórica: ao evidenciar «a harmonia que os
homens conseguiram estabelecer entre a vida à beira do rio e à
beira do mar», reencontrando «a aliança primitiva dos elementos:
a água e a terra». Com orçamento de 700 contos, e sempre
responsável António da Cunha Telles, a rodagem decorreu na região
vareira (Furadouro, próximo de Ovar), onde Rocha foi criado; a
fotografia tem o rigor de Elso Roque, autenticando o dilema dos
pescadores, ante as necessidades de industrialização. A música de
Carlos Paredes manifesta-se, outra vez, um elemento apelativo e
motivador. Quanto ao elenco, Isabel Ruth reaparece, vitalista ao
lado do brasileiro Geraldo del Rey, e de uma excelente Maria
Barroso. Aliás, heróis
entre a fadiga e o inconformismo, o desencanto e a alienação, que
a saudade fere e para quem o coração é traiçoeiro. Afectados
pela guerra em África, ou com teimosia em resistir, numa época de
viragem para o sucesso ou o fracasso…
IMAG.4-31-87-180-445-521-543-567-627
CALENDÁRiO
1930-25AGO2016
- Sonia Flis, aliás Sonia Rykiel: Estilista e escritora francesa,
inventora da démode
(cada pessoa adapta a moda à sua personalidade) - «Deixa um legado
extraordinário» (Jean-Marc Loubier).
1939-03SET2016
- Maria Isabel Barreno de Faria Martins, aliás Maria Isabel
Barreno: Escritora e investigadora portuguesa, uma das Três
Marias (com Maria Teresa
Horta e Maria Velho da Costa), coautora de Novas
Cartas Portuguesas (1971) -
«Uma mulher com uma capacidade intelectual fora do vulgar, com uma
escrita ficcional muitíssimo nova e moderna» (João Rodrigues). IMAG.144-351
08SET2016
- B’lizzard produziu, e
estreia Amateur - Um Filme
Sobre Carlos Relvas (2015)
de Olga Ramos. IMAG.48-76-169-202
1929-10SET2016
- Mário Silva: Artista plástico português - «Figura
incontornável da vida cultural coimbrã» (Público),
«a sua obra estética consagra-se principalmente à pintura, mas
alarga-se aos domínios das artes gráficas (monotipia, gravura,
serigrafia, ilustração, cartaz), da cerâmica, escultura e arte
pública monumental» (Mestre
Mário Silva). IMAG.393
09-18SET2016
- Em Cascais, decorre o II Festival Internacional de Cultura / FIC,
organizado pela Câmara Municipal e por LeYa, sendo curadora Inês
Pedrosa. IMAG.574
09SET-06NOV2016
- Fórum da Maia expõe O
Regresso do Objecto - Arte dos Anos 1980 Na Colecção de Serralves.
14SET-22OUT
- Em Lisboa, Artistas Unidos apresenta, no Teatro da Politécnica,
Noite, Noite, Mais do Que
Hoje - exposição de
pintura de João Jacinto. IMAG.627
15SET-27NOV2016
- Em Lisboa, Museu do Oriente expõe ChinAware
- Design de Porcelana Feita Na China Contemporânea.
VISTORiA
A
cidade é um chão de palavras pisadas
a
palavra criança a palavra segredo.
A
cidade é um céu de palavras paradas
a
palavra distância e a palavra medo.
A
cidade é um saco um pulmão que respira
pela
palavra água pela palavra brisa.
A
cidade é um poro um corpo que transpira
pela
palavra sangue pela palavra ira.
A
cidade tem praças de palavras abertas
como
estátuas mandadas apear.
A
cidade tem ruas de palavras desertas
como
jardins mandados arrancar.
A
palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A
palavra silêncio é uma rosa chá.
Não
há céu de palavras que a cidade não cubra
não
há rua de sons que a palavra não corra
à
procura da sombra de uma luz que não há.
- José
Carlos Ary dos Santos
COMENTÁRiO
Bastante
mais terrível [que o Inferno
de Dante] é o O Coração das
Trevas, o rio de África que
o capitão Marlow sobe, entre margens de ruínas e de selvas e que
pode muito bem ser uma projecção do abominável Kurtz, que é a
meta. Em 1889, Jósef Teodor Konrad Korzeniowski subiu o Congo até
Stanley Falls; em 1902, Joseph Conrad, hoje célebre, publicou em
Londres O Coração das
Trevas, talvez o mais intenso
dos contos elaborado pela imaginação humana. No
Extremo Limite não é menos
trágico. A chave da história é um facto que não revelaremos e que
o leitor descobrirá gradualmente. Nas primeiras páginas já há
indícios. H. L. Mencken, que certamente não é pródigo em
ditirambos, afirma que No
Extremo Limite é uma das
melhores narrativas, extensa ou breve, nova ou antiga, das letras
inglesas. Compara os dois textos deste livro às composições
musicais de Johannes Sebastian Bach.
- J.L.
Borges
ANUÁRiO
1597-1646
- Virgilio Mazzochi: Compositor italiano, mestre de capela de várias
instituições e igrejas romanas, autor com intensa produção de
música sacra e litúrgica. IMAG.266
1907-1974
- Francisco da Cunha Leão: Escritor, director do Diário
Popular (1953-1958), autor de
O Enigma Português
(1960) e de Ensaio de
Psicologia Portuguesa (1971)
- «Povo mesclado, poliétnico, porventura dos contingentes francos e
romanos lhe adveio a quota-parte sanguínea, dos nórdicos algo de
fleuma, e dos mediterrâneos e arábicos a emotividade primária,
movediça de muitos dos seus homens». IMAG.461
1937-2006
- Fernando Monteiro de Bragança Gil, aliás Fernando Gil: Filósofo
português, distinguido com o Prémio Pessoa (1993), autor de
Traité de l'Évience (1993)
ou Viagens do Olhar:
Retrospeção, Visão e Profecia no Renascimento Português (com
Hélder Macedo - 1998) - «As controvérsias mais importantes e mais
interessantes são, em geral, as mais indecidíveis e, sobretudo,
aquelas em que - antes ainda das divergências sobre as melhores
soluções - os objectos não são os mesmos para todos.» (Mimesis
e Negação - 1984). IMAG.555
1864-1957
- Francisco da Silva Rocha: Arquitecto, criador plástico e pedagogo,
professor da Escola de Desenho Industrial de Aveiro, autor primordial
da Arte Nova. IMAG.240-491
MEMÓRiA
02DEZ1927-2011
- James Henry Kinmel Sangster, aliás Jimmy Sangster: Escritor
inglês, argumentista de clássicos da Hammer, como O
Horror de Drácula (1957), A
Vingança de Frankenstein (1958)
ou A Múmia (1959)
- «Por meia dúzia de filmes, fizeram de mim uma figura de culto». IMAG.372
03DEZ1857-1924
- Józef Teodor Nałęcz Korzeniowski, aliás Joseph Conrad: Escritor
britânico de origem polaca, autor de O
Coração das Trevas (1902)
-
«O
espírito revolucionário é muito conveniente. Ele liberta-nos de
todos os escrúpulos, no que se refere a ideias». IMAG.157-224-243-303-418-477-564-571
05DEZ1687-1762
- Francesco Saverio Geminiani: Compositor, maestro e violinista
italiano, teórico e pedagogo, director da orquestra do teatro da
Opera di Napoli (1711) - «Em breve tempo, destacou-se a tal ponto
pelas suas impecáveis interpretações que, todos os que desejavam
compreender ou amar a música, foram impelidos a ir escutá-lo e,
entre os nobres, muitos houve que, com frequência, se sentiram
honrados em serem seus patronos» (John Hawkins). IMAG.426
07DEZ1937-1984
- José Carlos Ary dos Santos: Poeta e declamador português -
«Desbaratamos deuses, procurando / Um que nos satisfaça ou
justifique. / Desbaratamos esperança, imaginando / Uma causa maior
que nos explique.» (Ecce Homo
- excerto). IMAG.157-276-451
BREVIÁRiO
Sistema
Solar edita Freya
das Sete Ilhas de
Joseph Conrad (1857-1924);
tradução de Aníbal Fernandes.
Porto
editora lança O Fim do Homem
Soviético de Svetlana
Aleksievitch/Alexievich; tradução de António Pescada. IMAG.588
Universal
edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, O
Retiro de Rodrigo Leão; com
Orquestra & Coro Gulbenkian, sob a direcção de Rui Pinheiro. IMAG.26-565-581
Dom
Quixote edita A
Lição de Anatomia de
Philip Roth; tradução de Francisco Agarez. IMAG.182-198-240-290-328-375-390-412-440-479
Relógio
D’Água edita Contos
de Petersburgo de
Nikolai Gogol (1809-1852);
tradução de Carlos Leite. IMAG.118-219-223-361-474-593
Warner
edita em CD, sob chancela Rhino, Otis
Redding / Otis Redding [1941-1967]
Sings Soul. IMAG.328-612
Tinta
da China edita Bronco
Angel, o Cowboy Analfabeto de
Fernando Assis Pacheco (1937-1995);
ilustrações de João Fazenda. IMAG.
117-190-317-416-539-549-597
EXTRAORDINÁRiO
OS
ALTERNATIVOS – Folhetim Aperiódico
QUANDO
ME ENTERNEÇO EM VÃO, DESAPAREÇO - 13
Ele
era, está claro, o maior...
ironizou o Manso, fixando o seu tom mais soturno.
Mas nós, mesmo insignificantes, também temos tamanho!
Lisboa
pasma. Curva-se a noite. E, em seu dorso, ascende a alvorada.
- Continua
Sem comentários:
Enviar um comentário