quarta-feira, novembro 23, 2016

IMAGINÁRiO #637

José de Matos-Cruz | 1 Dezembro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

VIRAGEM
Entre a evolução e a continuidade, como antes fora vanguardista em Os Verdes Anos (1963), Paulo Rocha (1935-2012) regressou com Mudar de Vida (1966) - também argumentista, sobre pretextos realistas e implicações dramáticas, sendo os diálogos de António Reis. No horizonte sociológico, os contornos duma comunidade litoral - suas fainas e rituais, existência precária e conflitos individuais. Mas a perspectiva de Rocha tornara-se mais alegórica: ao evidenciar «a harmonia que os homens conseguiram estabelecer entre a vida à beira do rio e à beira do mar», reencontrando «a aliança primitiva dos elementos: a água e a terra». Com orçamento de 700 contos, e sempre responsável António da Cunha Telles, a rodagem decorreu na região vareira (Furadouro, próximo de Ovar), onde Rocha foi criado; a fotografia tem o rigor de Elso Roque, autenticando o dilema dos pescadores, ante as necessidades de industrialização. A música de Carlos Paredes manifesta-se, outra vez, um elemento apelativo e motivador. Quanto ao elenco, Isabel Ruth reaparece, vitalista ao lado do brasileiro Geraldo del Rey, e de uma excelente Maria Barroso. Aliás, heróis entre a fadiga e o inconformismo, o desencanto e a alienação, que a saudade fere e para quem o coração é traiçoeiro. Afectados pela guerra em África, ou com teimosia em resistir, numa época de viragem para o sucesso ou o fracasso… IMAG.4-31-87-180-445-521-543-567-627

CALENDÁRiO

1930-25AGO2016 - Sonia Flis, aliás Sonia Rykiel: Estilista e escritora francesa, inventora da démode (cada pessoa adapta a moda à sua personalidade) - «Deixa um legado extraordinário» (Jean-Marc Loubier).

1939-03SET2016 - Maria Isabel Barreno de Faria Martins, aliás Maria Isabel Barreno: Escritora e investigadora portuguesa, uma das Três Marias (com Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa), coautora de Novas Cartas Portuguesas (1971) - «Uma mulher com uma capacidade intelectual fora do vulgar, com uma escrita ficcional muitíssimo nova e moderna» (João Rodrigues). IMAG.144-351

08SET2016 - B’lizzard produziu, e estreia Amateur - Um Filme Sobre Carlos Relvas (2015) de Olga Ramos. IMAG.48-76-169-202

1929-10SET2016 - Mário Silva: Artista plástico português - «Figura incontornável da vida cultural coimbrã» (Público), «a sua obra estética consagra-se principalmente à pintura, mas alarga-se aos domínios das artes gráficas (monotipia, gravura, serigrafia, ilustração, cartaz), da cerâmica, escultura e arte pública monumental» (Mestre Mário Silva). IMAG.393

09-18SET2016 - Em Cascais, decorre o II Festival Internacional de Cultura / FIC, organizado pela Câmara Municipal e por LeYa, sendo curadora Inês Pedrosa. IMAG.574

09SET-06NOV2016 - Fórum da Maia expõe O Regresso do Objecto - Arte dos Anos 1980 Na Colecção de Serralves.

14SET-22OUT - Em Lisboa, Artistas Unidos apresenta, no Teatro da Politécnica, Noite, Noite, Mais do Que Hoje - exposição de pintura de João Jacinto. IMAG.627

15SET-27NOV2016 - Em Lisboa, Museu do Oriente expõe ChinAware - Design de Porcelana Feita Na China Contemporânea.

VISTOR
iA

A Cidade É Um Chão

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa.
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
- José Carlos Ary dos Santos

COMENTÁRiO

Joseph Conrad
Bastante mais terrível [que o Inferno de Dante] é o O Coração das Trevas, o rio de África que o capitão Marlow sobe, entre margens de ruínas e de selvas e que pode muito bem ser uma projecção do abominável Kurtz, que é a meta. Em 1889, Jósef Teodor Konrad Korzeniowski subiu o Congo até Stanley Falls; em 1902, Joseph Conrad, hoje célebre, publicou em Londres O Coração das Trevas, talvez o mais intenso dos contos elaborado pela imaginação humana. No Extremo Limite não é menos trágico. A chave da história é um facto que não revelaremos e que o leitor descobrirá gradualmente. Nas primeiras páginas já há indícios. H. L. Mencken, que certamente não é pródigo em ditirambos, afirma que No Extremo Limite é uma das melhores narrativas, extensa ou breve, nova ou antiga, das letras inglesas. Compara os dois textos deste livro às composições musicais de Johannes Sebastian Bach.
- J.L. Borges
ANUÁRiO

1597-1646 - Virgilio Mazzochi: Compositor italiano, mestre de capela de várias instituições e igrejas romanas, autor com intensa produção de música sacra e litúrgica. IMAG.266

1907-1974 - Francisco da Cunha Leão: Escritor, director do Diário Popular (1953-1958), autor de O Enigma Português (1960) e de Ensaio de Psicologia Portuguesa (1971) - «Povo mesclado, poliétnico, porventura dos contingentes francos e romanos lhe adveio a quota-parte sanguínea, dos nórdicos algo de fleuma, e dos mediterrâneos e arábicos a emotividade primária, movediça de muitos dos seus homens». IMAG.461

1937-2006 - Fernando Monteiro de Bragança Gil, aliás Fernando Gil: Filósofo português, distinguido com o Prémio Pessoa (1993), autor de Traité de l'Évience (1993) ou Viagens do Olhar: Retrospeção, Visão e Profecia no Renascimento Português (com Hélder Macedo - 1998) - «As controvérsias mais importantes e mais interessantes são, em geral, as mais indecidíveis e, sobretudo, aquelas em que - antes ainda das divergências sobre as melhores soluções - os objectos não são os mesmos para todos.» (Mimesis e Negação - 1984). IMAG.555

1864-1957 - Francisco da Silva Rocha: Arquitecto, criador plástico e pedagogo, professor da Escola de Desenho Industrial de Aveiro, autor primordial da Arte Nova. IMAG.240-491

MEMÓRiA

02DEZ1927-2011 - James Henry Kinmel Sangster, aliás Jimmy Sangster: Escritor inglês, argumentista de clássicos da Hammer, como O Horror de Drácula (1957), A Vingança de Frankenstein (1958) ou A Múmia (1959) - «Por meia dúzia de filmes, fizeram de mim uma figura de culto». IMAG.372

03DEZ1857-1924 - Józef Teodor Nałęcz Korzeniowski, aliás Joseph Conrad: Escritor britânico de origem polaca, autor de O Coração das Trevas (1902) - «O espírito revolucionário é muito conveniente. Ele liberta-nos de todos os escrúpulos, no que se refere a ideias». IMAG.157-224-243-303-418-477-564-571

05DEZ1687-1762 - Francesco Saverio Geminiani: Compositor, maestro e violinista italiano, teórico e pedagogo, director da orquestra do teatro da Opera di Napoli (1711) - «Em breve tempo, destacou-se a tal ponto pelas suas impecáveis interpretações que, todos os que desejavam compreender ou amar a música, foram impelidos a ir escutá-lo e, entre os nobres, muitos houve que, com frequência, se sentiram honrados em serem seus patronos» (John Hawkins). IMAG.426

07DEZ1937-1984 - José Carlos Ary dos Santos: Poeta e declamador português - «Desbaratamos deuses, procurando / Um que nos satisfaça ou justifique. / Desbaratamos esperança, imaginando / Uma causa maior que nos explique.» (Ecce Homo - excerto). IMAG.157-276-451

BREVIÁRiO

Sistema Solar edita Freya das Sete Ilhas de Joseph Conrad (1857-1924); tradução de Aníbal Fernandes.

Porto editora lança O Fim do Homem Soviético de Svetlana Aleksievitch/Alexievich; tradução de António Pescada. IMAG.588

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, O Retiro de Rodrigo Leão; com Orquestra & Coro Gulbenkian, sob a direcção de Rui Pinheiro. IMAG.26-565-581

Dom Quixote edita A Lição de Anatomia de Philip Roth; tradução de Francisco Agarez. IMAG.182-198-240-290-328-375-390-412-440-479

Relógio D’Água edita Contos de Petersburgo de Nikolai Gogol (1809-1852); tradução de Carlos Leite. IMAG.118-219-223-361-474-593

Warner edita em CD, sob chancela Rhino, Otis Redding / Otis Redding [1941-1967] Sings Soul. IMAG.328-612

Tinta da China edita Bronco Angel, o Cowboy Analfabeto de Fernando Assis Pacheco (1937-1995); ilustrações de João Fazenda. IMAG. 117-190-317-416-539-549-597

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS – Folhetim Aperiódico

QUANDO ME ENTERNEÇO EM VÃO, DESAPAREÇO - 13
Ele era, está claro, o maior... ironizou o Manso, fixando o seu tom mais soturno. Mas nós, mesmo insignificantes, também temos tamanho!
Lisboa pasma. Curva-se a noite. E, em seu dorso, ascende a alvorada.
- Continua

Sem comentários:

Enviar um comentário