José
de Matos-Cruz | 8 Novembro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV –
Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Harper
Harrison é uma jovem estudante - sedutora, inteligente, popular.
Nada lhe falta, e a vida bafejou-a. Mas, para além desta aparência,
a menina-bonita sente-se devastada pelo suicídio do ex-namorado -
uma tragédia que Harper poderia ter evitado, se não fosse tão
egoísta e insolente para com ele. Embora nunca o estimasse enquanto
viveram juntos, agora Harper daria tudo para estar de novo a seu
lado… Mas, será que tal desejo admitiria, mesmo, um pacto com o
diabo? Sob chancela DC Comics, eis Jezebelle (2001) - uma
hexassérie concebida por Ben Raab (lembrar Legend of he Hawkman)
e ilustrada por Steve Ellis (Tunderbook) & Mark Irwin
(Wildcats: LadyTron). Sob o lema A Small Corner of Hell,
novos elementos do sobrenatural são, assim, introduzidos no universo
WildStorm, após a revelação - em Devil’s Night (2000) -
de Jezebelle, a última de uma tradição de magas-guerreiras,
iniciada há trezentos anos, durante a Caça às Bruxas de Salem.
Entretanto, Jezebelle evitou que o demónio e seu inimigo Ghoulgotha
se apossasse de todas as almas do planeta Terra. Mas, para o bem da
humanidade, Harper deverá assumir e prosseguir o seu desígnio
sagrado…
CALENDÁRiO
01ABR1927-25AGO2016
- Maria Eugénia Rodrigues Branco Pinto do Amaral, aliás Maria
Eugénia: Actriz portuguesa de cinema, protagonista de A Menina da
Rádio (1944) - «Um cometa que passou por nós» (Júlio
Isidro). IMAG.574
25AGO2016 - NOS Audiovisuais estreia Refrigerantes e Canções de Amor (2016) de Luís Galvão Teles; com Ivo Canelas e Victoria Guerra. IMAG.34-38-143-608
02SET-15OUT2016
- Bedeteca da Amadora apresenta Banda Escrita: Nuno Duarte - Uma
Exposição Em Torno do Trabalho do Argumentista. IMAG.424
EPISTOLÁRiO
Meu
Querido Tio
Estranhei
a sua carta pela maneira como me compreendeu, ou eu mal me exprimi. A
minha vida não é nada de contemplação, ao contrário tudo o que
há de mais real, mais de facto. Nem eu sou um temperamento
contemplativo, essa idade passou quando eu ia pelo Coliseu ouvir a
Tosca. Não, isso permite-se numa outra idade, e se acaso não passa,
é um sinal incontestável de inferioridade. Agora a minha idade é
outra - resolver problemas e marchar, subir em cultura física, e
espiritual e artística ao mais alto degrau, aproveitar desta vida o
mais possível, pois que tudo é passageiro, e o Céu outrora
prometido já não seduz os homens modernos. Em Arte estamos em
absoluto desacordo. De resto, estou-o também com os amigos
compatriotas que marcham numa rotina atrasada. Arte é bem outra
coisa que quase toda a gente pensa, é bem mais que muita gente
julga. Tudo quanto para aqui se faz é medíocre, aparte raras
coisas. Porque eu não gosto de Rodin ou Ticiano, todos me dizem que
sigo um mau caminho. E porquê? Se cada um se fiasse no caminho que
nos aconselham nada de mais se fazia, pois que eles, os outros, só
sabem indicar-nos as suas próprias pisadas. Há gente que chama ao
meu estado uma pretensão para sair fora do vulgar - que pensem o que
queiram, indiferente me é – eu tenho as minhas razões e bastam.
Eu sei o que agrada em geral – eu na generalidade desagrado. Até
certo ponto não é menos lisonjeiro.
A
técnica de que fala é coisa em que nem penso. Fixar aí a ideia é
parar muito aquém do fim. Qualquer aprende. Ninguém deixa de fazer
uma obra de arte intensa por falta de técnica, mas por falta de
outra coisa que se chama temperamento.
Enfim,
para mim os tais artistas de técnica acabaram.
Não
é precisamente uma exposição que vou fazer. São apenas alguns
desenhos e alguns cartões que fiz aí que colocarei no meu atelier
com o fim de serem visitados em intimidade e ver se vendo alguns.
Tudo isto são coisas a que não ligo nenhuma sorte de importância e
talvez as únicas que poderei vender. Eu não me iludo, sei
separar-me de mim para julgar…
Agora
outra coisa: as minhas ideias não têm relação nenhuma com a nossa
estima, e espero que me julgue sempre bom amigo e grato a toda a
afeição e favores que me concede. Dê um abraço à Avozinha e
outro para si do seu sobrinho e grande amigo
-
Amadeo de Souza-Cardoso
( Carta ao tio Francisco Cardoso - c1910 – excerto)
VISTORiA
Lembras-te,
meu amor,
Das tardes outonais,
Em que íamos os dois,
Sozinhos, passear,
Para fora do povo
Alegre e dos casais,
Onde só Deus pudesse
Ouvir-nos conversar?
Tu levavas, na mão,
Um lírio enamorado,
E davas-me o teu braço;
E eu triste, meditava
Na vida, em Deus, em ti…
E, além, o sol doirado
Morria, conhecendo
A noite que deixava.
Harmonias astrais
Beijavam teus ouvidos;
Um crepúsculo terno
E doce diluía,
Na sombra, o teu perfil
E os montes doloridos…
Erravam, pelo Azul,
Canções do fim do dia.
Canções que, de tão longe,
O vento vagabundo
Trazia, na memória…
Assim o que partiu
Em frágil caravela,
E andou por todo o mundo,
Traz, no seu coração,
A imagem do que viu.
Olhavas para mim,
Às vezes, distraída,
Como quem olha o mar,
À tarde, dos rochedos…
E eu ficava a sonhar,
Qual névoa adormecida,
Quando o vento também
Dorme nos arvoredos.
Olhavas para mim…
Meu corpo rude e bruto
Vibrava, como a onda
A alar-se em nevoeiro.
Olhavas, descuidada
E triste… Ainda hoje te escuto
A música ideal
Do teu olhar primeiro!
Ouço bem a tua voz,
Vejo melhor teu rosto
No silêncio sem fim,
Na escuridão completa!
Ouço-te em minha dor,
Ouço-te em meu desgosto
E na minha esperança
Eterna de poeta!
O sol morria, ao longe;
E a sombra da tristeza
Velava, com amor,
Nossas doridas frontes.
Hora em que a flor medita
E a pedra chora e reza,
E desmaiam de mágoa
As cristalinas fontes.
Hora santa e perfeita,
Em que íamos, sozinhos,
Felizes, através
Da aldeia muda e calma,
Mãos dadas, a sonhar,
Ao longo dos caminhos…
Das tardes outonais,
Em que íamos os dois,
Sozinhos, passear,
Para fora do povo
Alegre e dos casais,
Onde só Deus pudesse
Ouvir-nos conversar?
Tu levavas, na mão,
Um lírio enamorado,
E davas-me o teu braço;
E eu triste, meditava
Na vida, em Deus, em ti…
E, além, o sol doirado
Morria, conhecendo
A noite que deixava.
Harmonias astrais
Beijavam teus ouvidos;
Um crepúsculo terno
E doce diluía,
Na sombra, o teu perfil
E os montes doloridos…
Erravam, pelo Azul,
Canções do fim do dia.
Canções que, de tão longe,
O vento vagabundo
Trazia, na memória…
Assim o que partiu
Em frágil caravela,
E andou por todo o mundo,
Traz, no seu coração,
A imagem do que viu.
Olhavas para mim,
Às vezes, distraída,
Como quem olha o mar,
À tarde, dos rochedos…
E eu ficava a sonhar,
Qual névoa adormecida,
Quando o vento também
Dorme nos arvoredos.
Olhavas para mim…
Meu corpo rude e bruto
Vibrava, como a onda
A alar-se em nevoeiro.
Olhavas, descuidada
E triste… Ainda hoje te escuto
A música ideal
Do teu olhar primeiro!
Ouço bem a tua voz,
Vejo melhor teu rosto
No silêncio sem fim,
Na escuridão completa!
Ouço-te em minha dor,
Ouço-te em meu desgosto
E na minha esperança
Eterna de poeta!
O sol morria, ao longe;
E a sombra da tristeza
Velava, com amor,
Nossas doridas frontes.
Hora em que a flor medita
E a pedra chora e reza,
E desmaiam de mágoa
As cristalinas fontes.
Hora santa e perfeita,
Em que íamos, sozinhos,
Felizes, através
Da aldeia muda e calma,
Mãos dadas, a sonhar,
Ao longo dos caminhos…
Tudo,
em volta de nós,
Tinha um aspecto de alma.
Tudo era sentimento,
Amor e piedade.
A folha que tombava
Era alma que subia…
E, sob os nossos pés,
A terra era saudade,
A pedra comoção
E o pó melancolia.
Falavas duma estrela
E deste bosque em flor;
Dos ceguinhos sem pão,
Dos pobres sem um manto.
Em cada tua palavra,
Havia etérea dor;
Por isso, a tua voz
Me impressionava tanto!
E punha-me a cismar
Que eras tão boa e pura,
Que, muito em breve – sim! –,
Te chamaria o céu!
E soluçava, ao ver-te
Alguma sombra escura,
Na fronte, que o luar
Cobria, como um véu.
A tua palidez
Que medo me causava!
Teu corpo fino
E leve (oh meu desgosto!)
Que eu tremia, ao sentir
O vento que passava!
Caía-me, na alma,
A neve do teu rosto.
Como eu ficava mudo
E triste, sobre a terra!
E uma vez, quando a noite
Amortalhava a aldeia,
Tu gritaste, de susto,
Olhando para a serra:
– Que incêndio! – E eu, a rir,
Disse-te: – É a lua cheia!…
E sorriste também
Do teu engano. A lua
Ergueu a branca fronte,
Acima dos pinhais,
Tão ébria de esplendor,
Tão casta e irmã da tua,
Que eu beijei, sem querer,
Seus raios virginais.
E a lua, para nós,
Os braços estendeu.
Uniu-nos num abraço,
Espiritual, profundo;
E levou-nos assim,
Com ela, até ao céu…
Mas, ai, tu não voltaste
E eu regressei ao mundo.
Tinha um aspecto de alma.
Tudo era sentimento,
Amor e piedade.
A folha que tombava
Era alma que subia…
E, sob os nossos pés,
A terra era saudade,
A pedra comoção
E o pó melancolia.
Falavas duma estrela
E deste bosque em flor;
Dos ceguinhos sem pão,
Dos pobres sem um manto.
Em cada tua palavra,
Havia etérea dor;
Por isso, a tua voz
Me impressionava tanto!
E punha-me a cismar
Que eras tão boa e pura,
Que, muito em breve – sim! –,
Te chamaria o céu!
E soluçava, ao ver-te
Alguma sombra escura,
Na fronte, que o luar
Cobria, como um véu.
A tua palidez
Que medo me causava!
Teu corpo fino
E leve (oh meu desgosto!)
Que eu tremia, ao sentir
O vento que passava!
Caía-me, na alma,
A neve do teu rosto.
Como eu ficava mudo
E triste, sobre a terra!
E uma vez, quando a noite
Amortalhava a aldeia,
Tu gritaste, de susto,
Olhando para a serra:
– Que incêndio! – E eu, a rir,
Disse-te: – É a lua cheia!…
E sorriste também
Do teu engano. A lua
Ergueu a branca fronte,
Acima dos pinhais,
Tão ébria de esplendor,
Tão casta e irmã da tua,
Que eu beijei, sem querer,
Seus raios virginais.
E a lua, para nós,
Os braços estendeu.
Uniu-nos num abraço,
Espiritual, profundo;
E levou-nos assim,
Com ela, até ao céu…
Mas, ai, tu não voltaste
E eu regressei ao mundo.
-
Teixeira de Pascoaes
(excerto)
MEMÓRiA
08NOV1847-1912
- Abraham Stoker, aliás Bram Stoker:
Romancista irlandês, autor de Drácula (1897): «Ocorreu algo
semelhante a um milagre: perante o nosso olhar, e quase durante o
tempo de um fôlego, todo aquele corpo se transformou em pó,
desaparecendo!». IMAG.27-35-157-208-213-221-367-527-620
08NOV1877-1952
- Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, aliás Teixeira de
Pascoaes: Escritor português - «Sou fraga da montanha, névoa
astral, / Quimérica figura matinal, / Imagem de alma em terra
modelada. / Sou o homem de si mesmo fugitivo; / Fantasma a delirar,
mistério vivo, / A loucura de Deus, o sonho e o nada.».
IMAG.153-398-453-537
1923-10NOV2007
- Norman Kingsley Mailer, aliás Norman Mailer: Escritor e jornalista
americano - «Não acredito que a vida seja um absurdo. Penso que
estamos todos, aqui, para um enorme propósito. Creio, isso sim, que
temos receio da imensa finalidade que nos trouxe a este mundo».
IMAG.105-171-228-404
13NOV1897-1948
- José Ângelo Cottinelli Telmo: Arquitecto e cineasta português,
realizador de A Canção de Lisboa (1933) - «[Com Cristino da
Silva, Cassiano Branco, Carlos Ramos, Pardal Monteiro e Segurado] vai
fazer parte dessa geração de arquitectos que faz a transição das
beaux-arts para o modernismo, antes da passagem para o
português suave, e terá um papel notável na história da
arquitectura portuguesa» (João Paulo Martins - Revista /
Expresso - 29NOV2014). IMAG.78-94-95-115-130-154-164-180-222-545
14NOV1887-1918
- Amadeo de Souza-Cardoso: Pintor português, ligado aos primórdios
do modernismo - «O futurismo é um truc charlatão sem
sensibilidade nem cérebro, camelote do cubismo; o cubismo é
uma caligrafia mental e literária. A arte tal como a sinto é um
produto emotivo da natureza».
IMAG.84-149-154-185-258-279-434-476-510
BREVIÁRiO
Sémele
edita em CD, sob chancela Arcana, Figures of Harmony: Songs of
Codex Chantilly C. 1390 por Ferrara Ensemble, sob a direcção de
Crawford Young.
Cavalo
de Ferro edita O Terceiro Polícia de
Flann O’Brien (1911-1966); tradução de
Rita Carvalho e Guerra. IMAG.496-557
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