segunda-feira, agosto 01, 2016

IMAGINÁRiO #621

José de Matos-Cruz | 01 Agosto 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO

RESCALDOS
O 25 de Abril de 1974 abriu e forjou a carreira de Luís Filipe Rocha, testemunhada com um talento singular e solidário. Ao longo dos anos e dos filmes manifestos, mantiveram-se a integridade e a coerência do cineasta, que assumiria também, em tal intervenção artística, as suas virtualidades de evolução e maturidade. Através de várias longas metragens, pairam os valores intrínsecos da sensibilidade e da sobriedade. Em Camarate (2000), Luís Filipe Rocha culminou o melhor de um compromisso pessoal sobre a nossa realidade colectiva.
Expondo um envolvimento aliciante, prospectivo, entre as pessoas e os eventos. Tudo remonta à noite de 4 de Dezembro de 1980, durante a campanha para as eleições presidenciais. Uma avioneta Cessna 421, acabada de descolar do Aeroporto de Lisboa, despenha-se e arde em Camarate, vitimando o então Primeiro-Ministro de Portugal, Francisco Sá Carneiro, a sua mulher, Snu Abcassis, o Ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, a sua esposa, o Chefe do Gabinete do Primeiro-Ministro, António Patrício Gouveia, e os dois pilotos. Acidente ou atentado? Baseando-se em factos reais, Camarate transita da feição sociopolítica para a docutrama, sob as vertentes especulativa e ficcional. Em evidência estão a chantagem afectiva, os jogos corporativos, a influência emocional, os conflitos de persuasão e de poder. IMAG.5-63-67-168

CALENDÁRiO

12JUL1936-18MAR2016 - Jan Nemec: Cineasta checo, professor e realizador de A Festa e os Convidados / O Slavnosti a Hostech (1966) - «É preciso buscar uma estilização… Um cineasta tem de lograr o seu mundo, inteiramente diferente da realidade». IMAG.521

14MAI-28AGO2016 - Em Évora, Fundação Eugénio de Almeida expõe Todo o Património É Poesia, sendo curadora Filipa Oliveira.

19MAI2016 - Fado Filmes produziu, e estreia Cinzento e Negro (2015) de Luís Filipe Rocha; com Joana Bárcia e Filipe Duarte.

19MAI2016 - NOS Audiovisuais estreia Aqui, Em Lisboa - Episódios da Vida de Uma Cidade (2015) de Gabriel Abrantes, Denis Côté, Marie Losier e Dominga Sotomayor. IMAG.571

19MAI-29JUL2016 - Em Lisboa, Galeria Ratton apresenta O Rosto do Medo - exposição de azulejo, pintura e desenho sobre papel de Graça Morais. IMAG.65-68-139-305-318-448

20MAI-30DEZ2016 - No Estoril, Fundação D. Luís I expõe, no Espaço Memória dos Exílios, O Estoril e a Paisagem Cultural Nos Anos 40.

21MAI2016-14MAI2017 - Na Amadora, Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira expõe O G.E.A.R. - Grupo de Esquadrilhas de Aviação República.

25MAI-02OUT2016 - Em Lisboa, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional apresenta Sombras, Máscaras e Títeres da Colecção do Museu da Marioneta - exposição de António Viana, Francisco Tropa, Jorge Queiroz e Susanne Themlitz. IMAG.351-399-555-603

25MAI-30OUT2016 - Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe Old Meets New de Paula Rego, sendo curadora Catarina Alfaro. IMAG.11-13-31-199-205-258-269-325-342-351-357-364-370-399-416-464-486-489-515-545-596-597-620

PARLATÓRiO

"Depois de dar uma olhadela por este planeta, qualquer visitante do espaço logo diria:
– Quero falar com o gerente!"
- —William S. Burroughs

INVENTÁRiO

William Burroughs - O Fora-da-lei da Literatura

William Burroughs nunca abandonou seu projeto literário e político de questionar a estrutura da realidade. Sua obra seria melhor lida no contexto da Nova Mitologia que dizia estar criando para nossa época.
Em seu universo mágico e perigoso, o escritor descrevia a presença de estruturas arcaicas em eterno conflito. A realidade humana, no grande circo burroughsiano, nada mais é que «um universo pré-filmado e pré-gravado». Na sua ficção, vive-se numa grande Interzone infestada de piratas homossexuais, políticos mafiosos, serial killers, burocratas viciados, seitas fanáticas, cyborgs e alienígenas. Nesta cidade-mundo, «nada é verdadeiro, tudo é permitido». A própria História é um velho filme que é rebobinado toda vez que chega ao fim, e pode ser alterada apenas através de uma radical Operação Reescrita. A única saída para o escritor é expor o funcionamento dos sistemas de controle e ao mesmo tempo tentar miná-los viroticamente.
Neste cenário pessimista, o corpo humano nada mais é que uma máquina macia programada para satisfazer as necessidades absolutas de seus controladores: a Nova Gangue, um grupo paramilitar intergalático que domina a humanidade através da manipulação da imagem e da palavra. Sua tarefa, na ficção anarquista de Burroughs, é agravar os conflitos humanos colocando num mesmo planeta formas de vida irreconciliáveis. Para o autor, uma nova mitologia, nos termos que propõe, só seria possível na era espacial, «onde teremos novamente heróis e vilões quanto às suas intenções para com este planeta».
Pelos labirintos da grande zona textual de seus romances, circulam personagens que parecem saídos da realidade, como Dr. Benway, inescrupuloso médico cujo maior feito foi ter retirado o apêndice de um paciente com uma lata de sardinha enferrujada. Há também Mr. Bradley Mr. Martin, «um Deus que fracassou, um Deus do Conflito, o inventor da cruz dupla, dos dualismos». Existem os Mugwumps, répteis alienígenas que sugam humanos (chupa-cabras?) e garotos heavy metal (termo extraído de sua obra). E, claro, há o Estúdio Realidade, onde imagens e representações do mundo ao vivo estão a todo instante sendo editadas e manipuladas. A tarefa da Polícia Nova, liderada pelo Inspetor Lee, é expulsar os invasores e liberar o planeta. Profeticamente, em Naked Lunch, de 1959, Burroughs apresentava um vírus letal e misterioso (também chamado de B-23 ou vírus do amor), e que teria surgido na África, atacando principalmente homossexuais.
A obra de Burroughs – que engloba intervenções em áreas diversas – pode ser entendida como uma grande teia onde se entrecruzam disciplinas como filosofia, antropologia, psicanálise, política, pintura, cinema e cultura pop. Por isso, ela acabou contaminando personalidades de diversas áreas, como David Cronenberg, Robert Wilson, e artistas como Brian Eno, Lou Reed, Tom Waits, David Bowie, Patti Smith e Laurie Anderson.
Rodrigo Garcia Lopes
- Revista Cult (Brasil – 1997, excerto)
GALERiA

Old Meets New - Paula Rego

Old Meets New apresenta parte da produção mais recente de Paula Rego, realizada entre 2013 e 2015. As séries de pintura d'A Relíquia (2013) e d'O Primo Basílio (2015) são inspiradas nos romances homónimos de Eça de Queiroz.
A exposição mostra, pela primeira vez em Portugal, o regresso a narrativas do escritor do século XIX. Na obra recente de Paula Rego, essas ficções são encenadas, representadas e reinterpretadas num espaço de intimidade onde estas histórias ganham vida própria, através dos modelos vivos  - e sobretudo de Lila Nunes  - que seguem as visões da artista, enriquecendo-as sempre com as suas vivências e as suas próprias versões das histórias.
Paula Rego estabelece, como ponto de partida narrativo para as suas novas série de obras, os dramas morais e sociais construídos nos finais do Século XIX, numa relação directa com a literatura próxima da crítica de costumes, reinterpretando o retrato político, social e psicológico da sociedade portuguesa.

BREVIÁRiO

Universal edita em CD, sob chancela Decca, Jean Sibelius [1865-1957]: Songs por Tom Krause e Elisabeth Söderström, com os pianistas Irwin Gage e Vladimir Ashkenazy, e o guitarrista Carlos Bonell. IMAG. 213-402-404-542-551-602

Dom Quixote edita Os Voláteis de Fra Angelico de Antonio Tabucchi (1943-2012); tradução de Helena Domingos e Maria da Piedade Ferreira. IMAG.269-273-404-421-535

MEMÓRiA

1914-02AGO1997 - William Seward Burroughs, alias William S. Burroughs: Escritor e pintor americano - «Não poderia existir uma sociedade em que as pessoas não sonhem… Elas estariam mortas, passadas duas semanas». IMAG.85-141-484

05AGO1397-1474 - Guillaume Dufay: Compositor da escola franco-flamenga, de início do Renascimento, tendo influenciado autores como Josquin, Martini, Obrecht e Ockeghem. IMAG.395-492

06AGO1937-2014 - Charles Edward Haden, aliás Charlie Haden: Contrabaixista e compositor americano, cuja discografia inclui For a Free Portugal (1976) - «A próxima canção é dedicada aos movimentos de libertação do povo de Moçambique, Guiné e Angola» (1971 - I Festival Internacional de Jazz de Cascais). IMAG.337-525-547

Sem comentários:

Enviar um comentário