José
de Matos-Cruz | 01 Agosto 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal
– Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
RESCALDOS
O
25 de Abril de 1974 abriu e forjou a carreira de Luís
Filipe Rocha,
testemunhada com um talento singular e solidário. Ao longo dos anos
e dos filmes manifestos, mantiveram-se a integridade e a coerência
do cineasta, que assumiria também, em tal intervenção artística,
as suas virtualidades de evolução e maturidade. Através de várias
longas metragens, pairam os valores intrínsecos da sensibilidade e
da sobriedade. Em Camarate
(2000), Luís Filipe Rocha culminou o melhor de um compromisso
pessoal sobre a nossa realidade colectiva.
Expondo
um envolvimento aliciante, prospectivo, entre as pessoas e os
eventos. Tudo remonta à noite de 4 de Dezembro de 1980, durante a
campanha para as eleições presidenciais. Uma avioneta Cessna 421,
acabada de descolar do Aeroporto de Lisboa, despenha-se e arde em
Camarate, vitimando o então Primeiro-Ministro de Portugal, Francisco
Sá Carneiro, a sua mulher, Snu Abcassis, o Ministro da Defesa
Nacional, Adelino Amaro da Costa, a sua esposa, o Chefe do Gabinete
do Primeiro-Ministro, António Patrício Gouveia, e os dois pilotos.
Acidente ou atentado? Baseando-se em factos reais, Camarate
transita da feição sociopolítica para a docutrama, sob as
vertentes especulativa e ficcional. Em evidência estão a chantagem
afectiva, os jogos corporativos, a influência emocional, os
conflitos de persuasão e de poder. IMAG.5-63-67-168
CALENDÁRiO
12JUL1936-18MAR2016
- Jan Nemec: Cineasta checo, professor e realizador de A
Festa e os Convidados / O Slavnosti a Hostech (1966)
- «É preciso buscar uma estilização… Um cineasta tem de lograr
o seu mundo, inteiramente diferente da realidade». IMAG.521
14MAI-28AGO2016
- Em Évora, Fundação Eugénio de Almeida expõe Todo
o Património É Poesia,
sendo curadora Filipa Oliveira.
19MAI2016
- Fado Filmes produziu, e estreia Cinzento
e Negro (2015) de Luís
Filipe Rocha; com Joana Bárcia e Filipe Duarte.
19MAI2016
- NOS Audiovisuais estreia Aqui,
Em Lisboa - Episódios da Vida de Uma Cidade (2015)
de Gabriel Abrantes, Denis Côté, Marie Losier e Dominga Sotomayor.
IMAG.571
19MAI-29JUL2016
- Em Lisboa, Galeria Ratton apresenta O
Rosto do Medo - exposição
de azulejo, pintura e desenho sobre papel de Graça Morais.
IMAG.65-68-139-305-318-448
20MAI-30DEZ2016
- No Estoril, Fundação D. Luís I expõe, no Espaço Memória dos
Exílios, O Estoril e a
Paisagem Cultural Nos Anos 40.
21MAI2016-14MAI2017
- Na Amadora, Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira expõe O
G.E.A.R. - Grupo de Esquadrilhas de Aviação República.
25MAI-02OUT2016
- Em Lisboa, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional apresenta
Sombras, Máscaras e Títeres
da Colecção do Museu da Marioneta -
exposição de António Viana, Francisco Tropa, Jorge Queiroz e
Susanne Themlitz. IMAG.351-399-555-603
25MAI-30OUT2016
- Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe Old
Meets New de Paula Rego,
sendo curadora Catarina Alfaro.
IMAG.11-13-31-199-205-258-269-325-342-351-357-364-370-399-416-464-486-489-515-545-596-597-620
PARLATÓRiO
"Depois de dar uma olhadela por este planeta, qualquer visitante do espaço logo diria:
– Quero
falar com o gerente!"
- William
S. Burroughs
INVENTÁRiO
William
Burroughs - O Fora-da-lei da Literatura
William Burroughs nunca abandonou seu projeto literário e político
de questionar a estrutura da realidade. Sua obra seria melhor lida no
contexto da Nova Mitologia
que dizia estar criando para nossa época.
Em
seu universo mágico e perigoso, o escritor descrevia a presença de
estruturas arcaicas em eterno conflito. A realidade humana, no grande
circo burroughsiano, nada mais é que «um universo pré-filmado e
pré-gravado». Na sua ficção, vive-se numa grande Interzone
infestada de piratas homossexuais, políticos mafiosos, serial
killers, burocratas viciados,
seitas fanáticas, cyborgs
e alienígenas. Nesta cidade-mundo, «nada é verdadeiro, tudo é
permitido». A própria História é um velho filme que é rebobinado
toda vez que chega ao fim, e pode ser alterada apenas através de uma
radical Operação Reescrita.
A única saída para o escritor é expor o funcionamento dos sistemas
de controle e ao mesmo tempo tentar miná-los viroticamente.
Neste
cenário pessimista, o corpo humano nada mais é que uma máquina
macia programada para
satisfazer as necessidades absolutas de seus controladores: a Nova
Gangue, um grupo paramilitar intergalático que domina a humanidade
através da manipulação da imagem e da palavra. Sua tarefa, na
ficção anarquista de Burroughs, é agravar os conflitos humanos
colocando num mesmo planeta formas de vida irreconciliáveis. Para o
autor, uma nova mitologia, nos termos que propõe, só seria possível
na era espacial, «onde teremos novamente heróis e vilões quanto às
suas intenções para com este planeta».
Pelos
labirintos da grande zona
textual de seus romances, circulam personagens que parecem saídos da
realidade, como Dr. Benway, inescrupuloso médico cujo maior feito
foi ter retirado o apêndice de um paciente com uma lata de sardinha
enferrujada. Há também Mr. Bradley Mr. Martin, «um Deus que
fracassou, um Deus do Conflito, o inventor da cruz dupla, dos
dualismos». Existem os Mugwumps, répteis alienígenas que sugam
humanos (chupa-cabras?) e garotos heavy
metal (termo extraído de sua
obra). E, claro, há o Estúdio Realidade, onde imagens e
representações do mundo ao
vivo estão a todo instante
sendo editadas e manipuladas. A tarefa da Polícia Nova, liderada
pelo Inspetor Lee, é expulsar os invasores e liberar o planeta.
Profeticamente, em Naked
Lunch, de 1959, Burroughs
apresentava um vírus letal e misterioso (também chamado de B-23 ou
vírus do amor),
e que teria surgido na África, atacando principalmente homossexuais.
A
obra de Burroughs – que engloba intervenções em áreas diversas –
pode ser entendida como uma grande teia onde se entrecruzam
disciplinas como filosofia, antropologia, psicanálise, política,
pintura, cinema e cultura pop.
Por isso, ela acabou contaminando personalidades de diversas áreas,
como David Cronenberg, Robert Wilson, e artistas como Brian Eno, Lou
Reed, Tom Waits, David Bowie, Patti Smith e Laurie Anderson.
Rodrigo
Garcia Lopes
-
Revista Cult
(Brasil – 1997, excerto)
GALERiA
Old Meets New - Paula Rego
Old Meets New apresenta parte da produção mais recente de Paula Rego, realizada entre 2013 e 2015. As séries de pintura d'A Relíquia (2013) e d'O Primo Basílio (2015) são inspiradas nos romances homónimos de Eça de Queiroz.
A
exposição mostra, pela primeira vez em Portugal, o regresso a
narrativas do escritor do século XIX. Na obra recente de Paula Rego,
essas ficções são encenadas, representadas e reinterpretadas num
espaço de intimidade onde estas histórias ganham vida própria,
através dos modelos vivos - e sobretudo de Lila Nunes -
que seguem as visões da artista, enriquecendo-as sempre com as suas
vivências e as suas próprias versões das histórias.
Paula Rego estabelece, como ponto de partida narrativo para as suas novas série de obras, os dramas morais e sociais construídos nos finais do Século XIX, numa relação directa com a literatura próxima da crítica de costumes, reinterpretando o retrato político, social e psicológico da sociedade portuguesa.
BREVIÁRiO
Universal
edita em CD, sob chancela Decca, Jean Sibelius
[1865-1957]:
Songs por Tom Krause e
Elisabeth Söderström, com os pianistas Irwin Gage e Vladimir
Ashkenazy, e o guitarrista Carlos Bonell. IMAG.
213-402-404-542-551-602
Dom
Quixote edita Os Voláteis de
Fra Angelico de Antonio
Tabucchi (1943-2012); tradução de Helena Domingos e Maria da
Piedade Ferreira. IMAG.269-273-404-421-535
MEMÓRiA
1914-02AGO1997 - William Seward Burroughs, alias William S.
Burroughs: Escritor e pintor americano - «Não poderia existir uma
sociedade em que as pessoas não sonhem… Elas estariam mortas,
passadas duas semanas». IMAG.85-141-484
05AGO1397-1474
- Guillaume Dufay: Compositor da escola franco-flamenga, de início
do Renascimento, tendo influenciado autores como Josquin, Martini,
Obrecht e Ockeghem. IMAG.395-492
06AGO1937-2014
- Charles Edward Haden, aliás Charlie Haden: Contrabaixista e
compositor americano, cuja discografia inclui For
a Free Portugal (1976) - «A
próxima canção é dedicada aos movimentos de libertação do povo
de Moçambique, Guiné e Angola» (1971 - I Festival Internacional de
Jazz de Cascais). IMAG.337-525-547
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