José de Matos-Cruz | 08 Março 2017 | Edição Kafre |
Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
EXEMPLOS
Se
há um cineasta que, segundo as coordenadas de Hollywood, possa ser apontado
para a concretização de qualquer espectáculo em expectativa, exemplar é
porventura o canadense Norman Jewison,
nascido em 1926. Prolixo e prolífico, brilhante e eloquente, encontramos uma
estilização, não propriamente um cunho pessoal, em quantos filmes dirigiu - dos
mais variados géneros, com distinto grau de exigência técnica e estética.
Alguns títulos serão, de imediato, reconhecidos pelo público: Um Violino no Telhado (1971), Jesus Cristo Superstar (1973), …E Justiça Para Todos (1979), Agnés de Deus (1985). Mas, curioso, é
verificar que, até Bogus (1996) em
vídeo, todas as suas realizações estrearam entre nós, no circuito comercial.
Quanto às últimas, citem-se O Feitiço da
Lua» (1987), Um Herói Como Nós
(1989), Larry, o Liquidador (1991), Só Tu (1994) com o nosso Joaquim de
Almeida, ou O Furacão (1999).
Implicado na pesquisa e formação de nóveis autores, Jewison - também com
interesses na produção - foi em 1999, por esta categoria, distinguido pela
Academia com o Prémio Irving Thalberg. Um Oscar especial, instituído em 1937, e
destinado a laurear «os criativos cujos trabalhos reflectem, constantemente, um
elevado nível de qualidade». IMAG.268-590
CALENDÁRiO
µ28NOV2015-30JAN2016 - Em Lisboa, Barbado Gallery
apresenta Facing the Camera: 1970 To
Tomorrow - exposição de fotografia de Arno Rafael Minkkinen.
¢09JAN-27FEV2016 - Em Ponte de Sor, Centro de Artes e de
Cultura apresenta Gabinete de
Curiosidades - exposição de pintura de Rui Macedo. IMAG.192-298
®21FEV1946-14JAN2016 - Alan Sidney Patrick Rickman,
aliás Alan Rickman: Actor inglês de teatro, televisão e cinema, intérprete de Die Hard / Assalto ao Arranha-Céus (1988)
- «Os actores são agentes de mudança. Um filme, uma obra teatral, um musical ou
um livro podem marcar a diferença… Podem alterar o mundo».
¾1955-16JAN2016 - Fernando Ávila: Realizador português
de televisão, encenador - «Generoso, competente e talentoso, um português que
houvera louvar como ele merece» (Maria Vieira).
¨1924-18JAN2016 - Michel Tournier: Escritor francês,
distinguido com o Prémio Goncourt (1970) - «Ficará para a história da
literatura francesa precisamente por ter escrito à sua maneira a história de
vários mitos e lendas» (Maria João Caetano).
¸1931-19JAN2016 - Ettore Scola: Cineasta italiano - «O
cenário do pós-guerra na realidade italiana foi uma das suas frequentes
temáticas, e o vincado espírito político nunca deixou de estar presente» (Inês
Lourenço). IMAG.126-214-454
1922-20JAN2016
- Nuno Teotónio Pereira: Arquitecto português - «Em geral, os arquitectos
centram-se no seu trabalho e não se preocupam muito com o contexto. Há um culto
do objecto, esquecendo o envolvimento. A arquitectura portuguesa actual é de
muito boa qualidade, mas recai no edifício» (2004). IMAG.46-192-197-255-435
VISTORiA
O Jardim
¨Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho,
sobre o qual o sol de Maio despeja um brilho tristonho;
onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;
e as paredes e as colunas são ideias que passaram.
Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado
sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.
Pelas áleas silenciosas, vê-se a erva esparsa brotar,
e o odor a mofo de coisas mortas derrama-se no ar.
Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor,
e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.
E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade
de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.
A visão de dias idos em mim ressurge e demora,
quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.
E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são
minhas esperanças murchas – e, o jardim, meu coração.
sobre o qual o sol de Maio despeja um brilho tristonho;
onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;
e as paredes e as colunas são ideias que passaram.
Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado
sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.
Pelas áleas silenciosas, vê-se a erva esparsa brotar,
e o odor a mofo de coisas mortas derrama-se no ar.
Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor,
e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.
E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade
de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.
A visão de dias idos em mim ressurge e demora,
quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.
E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são
minhas esperanças murchas – e, o jardim, meu coração.
H.P. Lovecraft
MEMÓRiA
¢1768-08MAR1837 - Domingos António Sequeira, aliás
Domingos Sequeira: Artista plástico português - «No que diz respeito à fé
católica, nunca vacilou, foi sempre fiel; é, aliás, dessa fé que ele parte, no
período final da sua vida e carreira» (José Luís Porfírio). IMAG.496-513
¯1886-08MAR1957 - Othmar Schoeck: Compositor e director
de orquestra suíço, autor da ópera Penthesilea
(1927). IMAG.310-577
¢09MAR1907-1983
- António Amadeu Conceição Cruz, aliás António Cruz: Artista plástico português
- «De todos os pintores do Porto do Século XX, foi decerto aquele que melhor
soube entender a alma da cidade» (Bernardo Pinto de Almeida). IMAG.432
¨ 12MAR1867-1930 - Raul Germano Brandão, aliás Raul
Brandão: Escritor e jornalista português, autor de Húmus (1917) - «Nem sei o que é a vida. Chamo vida ao espanto.
Chamo vida a esta saudade, a esta dor; chamo vida e morte a este cataclismo. É
a imensidade e um nada que me absorve; é uma queda imensa e infinita, onde
disponho de um único momento. IMAG.48-161-293-301-342-350-384-394-400-431-495-582
¨ 13MAR1907-1985 - Mircea Eliade: Ficcionista e filósofo
americano, de origem romena - «…E, de repente, surgiram na minha memória as imagens dos parques na
província portuguesa. Lembro-me da sua melancolia terrível. Mundos há muitos
mortos que só aguardam o punho vigoroso do bárbaro para se descomporem» (Diário - 07FEV1965). IMAG.511
¨ 1890-15MAR1937
- Howard Phillips Lovecraft, alias H.P. Lovecraft: Escritor americano - «A
emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais
forte de todos os medos é o medo do desconhecido». IMAG.16-85-140-288-436
VISTORiA
¨Nós não vemos a vida – vemos um instante da vida. Atrás
de nós a vida é infinita, adiante de nós a vida é infinita. A primavera está
aqui, mas atrás deste ramo em flor houve camadas de primaveras de oiro, imensas
primaveras extasiadas, e flores desmedidas por trás desta flor minúscula. O
tempo não existe. O que eu chamo a vida é um elo, e o que aí vem um tropel, um
sonho desmedido que há-de realizar-se. E nenhum grito é inútil, para que o
sonho vivo ande pelo seu pé. A alma que vai desesperada à procura de Deus, que
erra no universo, ensanguentada e dorida, a cada grito se aproxima de Deus. Lá
vamos todos a Deus, os vivos e os mortos.
Raul
Brandão
-
Húmus (excerto)
¨Quando a lança trespassou o corpo de Cristo, o sangue
jorrou e salpicou a túnica da mulher de Pilatos, e espalhou-se em redor. Então , ela
correu para casa, para limpar a mancha e lavar a túnica; mas, por temer o
marido, correu para uma vinha, debaixo de um pessegueiro, escavou e enterrou a
túnica, e então a vinha cresceu, carregada de cachos de uvas.
Mircea
Eliade
-
Des Herbes Sous la Croix (excerto)
COMENTÁRiO
António Cruz
¢…É,
sem contestação possível, o maior aguarelista português dos tempos modernos.
Tirou a aguarela da banalidade para que a tinham arrastado Roque Gameiro e os
aguarelistas portugueses. Deu-lhe grandeza, ressonância sinfónica; levou-a até
atingir o valor de uma alta expressão sintética e afastou-a da superficialidade
habitual.
Abel Salazar
BREVIÁRiO
¨ Relógio
D’Água re-edita O Delfim (1968) de
José Cardoso Pires (1925-1998); prefácio de Gonçalo M. Tavares. IMAG.53-200-226-227-314-366-367-533-581
¨ Cavalo de Ferro edita Bestiário de Julio Cortázar (1914-1984); tradução de Miguel Mochila. IMAG.205-298-330-454-539-546-563
¯Sony edita em CD, sob
chancela Columbia, Jean Sibelius [1865-1957]: The
Symphonies por N.Y. Philharmonic, sob a direcção de Leonard Bernstein. IMAG. 213-402-404-542-551
¨Porto Editora lança Diário de Um Killer Sentimental de Luis
Sepúlveda; tradução de Pedro Tamen.
¨Relógio D’Água edita Contos de Guerra de Lev/Leon Tolstoi (1828-1910); tradução de Nina Guerra
e Filipe Guerra. IMAG.56-194-299-305-358-363-444-506-515-527-593
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