terça-feira, março 22, 2016

IMAGINÁRiO #602

José de Matos-Cruz | 08 Março 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO
 
EXEMPLOS
Se há um cineasta que, segundo as coordenadas de Hollywood, possa ser apontado para a concretização de qualquer espectáculo em expectativa, exemplar é porventura o canadense Norman Jewison, nascido em 1926. Prolixo e prolífico, brilhante e eloquente, encontramos uma estilização, não propriamente um cunho pessoal, em quantos filmes dirigiu - dos mais variados géneros, com distinto grau de exigência técnica e estética. Alguns títulos serão, de imediato, reconhecidos pelo público: Um Violino no Telhado (1971), Jesus Cristo Superstar (1973), …E Justiça Para Todos (1979), Agnés de Deus (1985). Mas, curioso, é verificar que, até Bogus (1996) em vídeo, todas as suas realizações estrearam entre nós, no circuito comercial. Quanto às últimas, citem-se O Feitiço da Lua» (1987), Um Herói Como Nós (1989), Larry, o Liquidador (1991), Só Tu (1994) com o nosso Joaquim de Almeida, ou O Furacão (1999). Implicado na pesquisa e formação de nóveis autores, Jewison - também com interesses na produção - foi em 1999, por esta categoria, distinguido pela Academia com o Prémio Irving Thalberg. Um Oscar especial, instituído em 1937, e destinado a laurear «os criativos cujos trabalhos reflectem, constantemente, um elevado nível de qualidade». IMAG.268-590

CALENDÁRiO
 
µ28NOV2015-30JAN2016 - Em Lisboa, Barbado Gallery apresenta Facing the Camera: 1970 To Tomorrow - exposição de fotografia de Arno Rafael Minkkinen.

¢09JAN-27FEV2016 - Em Ponte de Sor, Centro de Artes e de Cultura apresenta Gabinete de Curiosidades - exposição de pintura de Rui Macedo. IMAG.192-298

®21FEV1946-14JAN2016 - Alan Sidney Patrick Rickman, aliás Alan Rickman: Actor inglês de teatro, televisão e cinema, intérprete de Die Hard / Assalto ao Arranha-Céus (1988) - «Os actores são agentes de mudança. Um filme, uma obra teatral, um musical ou um livro podem marcar a diferença… Podem alterar o mundo».

¾1955-16JAN2016 - Fernando Ávila: Realizador português de televisão, encenador - «Generoso, competente e talentoso, um português que houvera louvar como ele merece» (Maria Vieira).

¨1924-18JAN2016 - Michel Tournier: Escritor francês, distinguido com o Prémio Goncourt (1970) - «Ficará para a história da literatura francesa precisamente por ter escrito à sua maneira a história de vários mitos e lendas» (Maria João Caetano).

¸1931-19JAN2016 - Ettore Scola: Cineasta italiano - «O cenário do pós-guerra na realidade italiana foi uma das suas frequentes temáticas, e o vincado espírito político nunca deixou de estar presente» (Inês Lourenço). IMAG.126-214-454

1922-20JAN2016 - Nuno Teotónio Pereira: Arquitecto português - «Em geral, os arquitectos centram-se no seu trabalho e não se preocupam muito com o contexto. Há um culto do objecto, esquecendo o envolvimento. A arquitectura portuguesa actual é de muito boa qualidade, mas recai no edifício» (2004). IMAG.46-192-197-255-435
            
VISTORiA

O Jardim
¨Existe um jardim antigo com o qual às vezes sonho,
sobre o qual o sol de Maio despeja um brilho tristonho;
onde as flores mais vistosas perderam a cor, secaram;
e as paredes e as colunas são ideias que passaram.

Crescem heras de entre as fendas, e o matagal desgrenhado
sufoca a pérgula, e o tanque foi pelo musgo tomado.
Pelas áleas silenciosas, vê-se a erva esparsa brotar,
e o odor a mofo de coisas mortas derrama-se no ar.

Não há nenhuma criatura viva no espaço ao redor,
e entre a quietude das cercas não se ouve qualquer rumor.
E, enquanto ando, observo, escuto, uma ânsia às vezes me invade
de saber quando é que vi tal jardim numa outra idade.

A visão de dias idos em mim ressurge e demora,
quando olho as cenas cinzentas que sinto ter visto outrora.
E, de tristeza, estremeço ao ver que essas flores são
minhas esperanças murchas – e, o jardim, meu coração.
H.P. Lovecraft


MEMÓRiA
 
¢1768-08MAR1837 - Domingos António Sequeira, aliás Domingos Sequeira: Artista plástico português - «No que diz respeito à fé católica, nunca vacilou, foi sempre fiel; é, aliás, dessa fé que ele parte, no período final da sua vida e carreira» (José Luís Porfírio). IMAG.496-513
 
¯1886-08MAR1957 - Othmar Schoeck: Compositor e director de orquestra suíço, autor da ópera Penthesilea (1927). IMAG.310-577

¢09MAR1907-1983 - António Amadeu Conceição Cruz, aliás António Cruz: Artista plástico português - «De todos os pintores do Porto do Século XX, foi decerto aquele que melhor soube entender a alma da cidade» (Bernardo Pinto de Almeida). IMAG.432

¨ 12MAR1867-1930 - Raul Germano Brandão, aliás Raul Brandão: Escritor e jornalista português, autor de Húmus (1917) - «Nem sei o que é a vida. Chamo vida ao espanto. Chamo vida a esta saudade, a esta dor; chamo vida e morte a este cataclismo. É a imensidade e um nada que me absorve; é uma queda imensa e infinita, onde disponho de um único momento. IMAG.48-161-293-301-342-350-384-394-400-431-495-582

¨ 13MAR1907-1985 - Mircea Eliade: Ficcionista e filósofo americano, de origem romena - «…E, de repente, surgiram na minha memória as imagens dos parques na província portuguesa. Lembro-me da sua melancolia terrível. Mundos há muitos mortos que só aguardam o punho vigoroso do bárbaro para se descomporem» (Diário - 07FEV1965). IMAG.511

¨ 1890-15MAR1937 - Howard Phillips Lovecraft, alias H.P. Lovecraft: Escritor americano - «A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido». IMAG.16-85-140-288-436
                        
VISTORiA

¨Nós não vemos a vida – vemos um instante da vida. Atrás de nós a vida é infinita, adiante de nós a vida é infinita. A primavera está aqui, mas atrás deste ramo em flor houve camadas de primaveras de oiro, imensas primaveras extasiadas, e flores desmedidas por trás desta flor minúscula. O tempo não existe. O que eu chamo a vida é um elo, e o que aí vem um tropel, um sonho desmedido que há-de realizar-se. E nenhum grito é inútil, para que o sonho vivo ande pelo seu pé. A alma que vai desesperada à procura de Deus, que erra no universo, ensanguentada e dorida, a cada grito se aproxima de Deus. Lá vamos todos a Deus, os vivos e os mortos.
Raul Brandão
- Húmus (excerto)

¨Quando a lança trespassou o corpo de Cristo, o sangue jorrou e salpicou a túnica da mulher de Pilatos, e espalhou-se em redor. Então, ela correu para casa, para limpar a mancha e lavar a túnica; mas, por temer o marido, correu para uma vinha, debaixo de um pessegueiro, escavou e enterrou a túnica, e então a vinha cresceu, carregada de cachos de uvas.
Mircea Eliade
- Des Herbes Sous la Croix (excerto)
       
COMENTÁRiO
 
António Cruz
¢…É, sem contestação possível, o maior aguarelista português dos tempos modernos. Tirou a aguarela da banalidade para que a tinham arrastado Roque Gameiro e os aguarelistas portugueses. Deu-lhe grandeza, ressonância sinfónica; levou-a até atingir o valor de uma alta expressão sintética e afastou-a da superficialidade habitual.
Abel Salazar
                 
BREVIÁRiO
   
¨ Relógio D’Água re-edita O Delfim (1968) de José Cardoso Pires (1925-1998); prefácio de Gonçalo M. Tavares. IMAG.53-200-226-227-314-366-367-533-581

¨ Cavalo de Ferro edita Bestiário de Julio Cortázar (1914-1984); tradução de Miguel Mochila. IMAG.205-298-330-454-539-546-563
 
¯Sony edita em CD, sob chancela Columbia, Jean Sibelius [1865-1957]: The Symphonies por N.Y. Philharmonic, sob a direcção de Leonard Bernstein. IMAG. 213-402-404-542-551
 
¨Porto Editora lança Diário de Um Killer Sentimental de Luis Sepúlveda; tradução de Pedro Tamen.
 
¨Relógio D’Água edita Contos de Guerra de Lev/Leon Tolstoi (1828-1910); tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra. IMAG.56-194-299-305-358-363-444-506-515-527-593



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