José de Matos-Cruz | 01 Março 2017 | Edição Kafre
| Ano XIV – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Ao
assumir Promethea, Sophie Bangs dá corpo à imaginação - cumprindo a profecia de
que, quando o sonho se revela, não mais tem fim. As aventuras de Promethea
(1999-2005) - heroina titular da obra-prima de Alan Moore, America’s Best
Comics - foram distinguidas com o Prémio Eisner. Mick Gray & J.H.
Williams III ilustraram - além de Charles
Vess, artista convidado - a saga de Sophie, uma estudante na futurista Nova
Iorque. Investigando, para um trabalho de curso, o mito de Promethea - uma
guerreira cujo culto foi reinventado, ao longo dos séculos - Sophie recebe
estranhos avisos, de que deve desistir dessas pesquisas. No entanto, a jovem só
se apercebe de que corre perigo real, quando uma fatídica criatura das trevas
tenta assassiná-la, por se aproximar demasiado do enigma de Promethea. Ante um
tal desígnio, a imatura Sophie transforma-se na fantástica Promethea! Assim,
por ironia heróica, Sophie terá que proteger os segredos das suas predecessoras,
preservando ainda as coordenadas do reino de Immateria - ou ficarão vulneráveis
aos inimigos ancestrais… IMAG.8-25-35-37-61-85-86-145-236-341
VISTORiA
¨Mas
os povos católicos?… Que é Portugal e quem somos nós, portugueses? Escravos
duma nacionalidade exausta, com um povo devorado até aos ossos, cheio de fome,
sem liberdade, fanatizado, escravizado, inconsciente, miserável… É católica a
Espanha. Mas que é a Espanha? Uma nação depauperada, como nós exausta e
decadente, também enferma e aviltada. O jesuitismo minou-a desde os alicerces…
É católica a Itália. Mas essa só agora começa a libertar-se, fazendo substituir
o templo pela escola, o frade pelo professor, o devoto pelo industrial. Porque
a Itália tem sido um foco imenso de miséria moral e económica… É católica a
Áustria. Mas como Portugal, como a Espanha, a Áustria é uma nação vencida, onde
vegeta um povo miserável, em perpétuo conflito consigo próprio, os negócios
sempre mal…
Isto
sem sairmos da Europa, porque o mesmo acontece nas duas Américas. Pois que são
o Paraguai, o Brasil, o Chile, o Equador, o México, a Bolívia, católicos,
comparados com os povos do norte, protestantes?
Tomás
da Fonseca
-
Sermões da Montanha (1909 - excerto)
TRAJECTÓRiA
ALEXANDER GRAHAM BELL
Alexander Graham
Bell nasceu em Edimburgo, a 3 de Março de 1847, no seio de intelectuais: neto
de um professor de retórica, o pai era mestre de dicção. Da mãe colheu
inclinação para a música, e foi pela
linguística que o adolescente - estudante na cidade natal e em Londres - entrou
em contacto com o mundo do som. Tendo contraído tuberculose em jovem, a família
emigrou para o Canadá, com um clima benéfico. Em 1870, residiam no Ontário; um
ano depois, fixaram-se em Boston. Recuperado, desenvolveu o método do discurso visível (para expressão dos
surdos-mudos de nascimento) com o progenitor, e investigou a transmissão
eléctrica da voz humana. Professor de fisiologia da fala na Escola de Retórica
da Universidade de Boston, fazia experiências com o recém-criado telégrafo, em
1874, quando construiu o aparelho que lhe proporcionaria fama mundial: o
telefone, registado em 1876. Casou-se, então, com Mabel Hubbard. Inventou ainda
o audiómetro (para medir a acuidade do ouvido), a balança de indução (que
localiza objectos metálicos no corpo humano) e, em 1886, o primeiro cilindro de
cera para gravar som, ou gramofone. Em 1892, foi-lhe concedida a cidadania
americana. Esteve entre os fundadores da revista Science (1883) e da National Geographic Society, a que presidiu de 1896 a 1904. Em 1895,
interessara-se pela aeronáutica, organizando a Associação Para Experiências
Aéreas (1907). Faleceu em
Cape Breton , Nova Escócia (Canadá), a 2 de Agosto de 1922.
VISTORiA
As Duas Flores
¨São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo, no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Castro Alves
MEMÓRiA
03MAR1847-1922 -
Alexander Graham Bell: Cientista escocês, inventor do telefone - «Um país que
conseguir o domínio do ar, em última análise logrará o controlo do mundo». IMAG.36-121-135
¨ 04MAR1927-2012 - Jacques Dupin: Poeta francês,
co-fundador da revista L’Éphemère
(1966) - «Poeira fina e seca no vento / Chamo-te, pertenço-te. / Poeira, feição
a feição, / Que o teu rosto seja o meu, / Inescrutável no vento». IMAG.435
¯05MAR1887-1959
- Heitor Villa-Lobos: Compositor e maestro brasileiro - «Considero minhas obras
como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta». IMAG.251
06MAR1917-2005
- William Erwin Eisner, aliás Will Eisner: Autor americano de banda desenhada,
argumentista e ilustrador, criador de The
Spirit (1940) - «O estilo é o resultado do nosso fracasso para atingir a
perfeição».
IMAG.22-240-388
¨ 06MAR1927-2014 -
Gabriel García Márquez: Escritor colombiano, radicado no México, autor de O Amor Nos Tempos de Cólera (1985),
distinguido com o Prémio Nobel da Literatura (1982) - «O ofício de escritor é,
talvez, o único que se torna mais difícil à medida que mais se pratica. A
facilidade com que me sentei a escrever aquele conto, numa tarde, não pode
comparar-se ao trabalho que me custa, agora, a escrever uma página». IMAG.13-224-261-294-391-509
07MAR1887-1961
- José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais, aliás Stuart Carvalhais:
Artista português, desenhador, fotógrafo, cineasta, figurinista - «A vida da cidade enfastia-me. É questão de saúde. Os
vinhos cá fora são melhores, não são tão falsificados». IMAG.102-121-303-349-353-413-588
¨ 10MAR1877-1968 - José Tomás da Fonseca: Escritor
português, autor de Sermões da Montanha (1909)
- «É o escritor anticlerical português de maior renome» (1897 - Lopes de Oliveira).IMAG.122
-292-303-429-465-513
¨ 14MAR1847-1871 - António Frederico de Castro Alves:
Poeta brasileiro - «Na hora em que a terra dorme / enrolada em frios véus, / eu
ouço uma reza enorme / enchendo o abismo dos céus». IMAG.216-239-463
INVENTÁRiO
PORTUGAL E BRASIL
¸ «O cinema falado em português claro, articulado e
simples, é compreensível ao ouvido brasileiro, como em Lisboa ninguém deixa de
entender o português do Brasil, quando pronunciado por quem fale bem» - dizia
Leitão de Barros no Rio de Janeiro, em finais de 1949, a propósito de Vendaval Maravilhoso - sobre o poeta
brasileiro Castro Alves, e seus amores pela artista nossa Eugénia Câmara,
protagonizados por Paulo Maurício e Amália Rodrigues, num elenco dos dois
países. Um épico ambicioso e exaltante, de Produções Atlântico e David
Serrador, filmado sobretudo no complexo da Tobis Portuguesa e da Lisboa Filme,
e só parcialmente em exteriores ou estúdios de Niterói, Bahia e Rio, com
milhares de figurantes. Dirigiram a fotografia Francesco Izzarelli e Aquilino
Mendes, sendo a música de Oscar Lorenzo Fernández executada por Luís de Freitas
Branco. Barros estudou o tema durante anos, com os co-argumentistas Joracy
Camargo e José Osório de Oliveira, tendo feito, em 1947, uma viagem de
preparação ao Rio. Ainda em destaque, um dos maiores acontecimentos brasileiros
do século XIX - a abolição da escravatura… Em paralelo com o esplendor cénico e
visual, destaca-se a manifestação exuberante dos rituais e costumes populares.
Embora evitando uma implicação política sobre a militância do poeta dos escravos, em privilégio do
idealismo humanista, libertário, Barros enfrentou uma forte condenação da Censura portuguesa. Vendaval Maravilhoso estreou no Tivoli,
em Dezembro de 1949, com breve pateada
- mas o próprio cineasta já não tinha ilusões, pois resultou «demasiado
português para os brasileiros e demasiado brasileiro para os portugueses». O
fracasso comercial nas duas bandas do Atlântico, após graves problemas
financeiros quanto aos compromissos da outra parte, vergaram Leitão de Barros -
que não voltou a ensaiar nenhuma obra longa, e muito tempo depois evocaria esta
aventura com palavras amargas.
CALENDÁRiO
¢16JAN-20FEV2016 - Em Lisboa, Fundação Carmona e Costa apresenta É - exposição de desenho de Rui Horta
Pereira, sendo curador Nuno Faria. IMAG.541
BREVIÁRiO
¨Relógio D’Água edita Da Natureza das Coisas de Lucrécio (99aC-55aC); tradução de
Luís Manuel Gaspar Cerqueira. IMAG.386
¨Dom Quixote edita Dias
Comuns de José Gomes Ferreira (1900-1985). IMAG.23-270-278-350-363-440-502
¨Assírio & Alvim edita Cavaleiro Andante de Almeida Faria. IMAG.463-498-554
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