José de
Matos-Cruz | 01 Janeiro 2017 | Edição Kafre | Ano XIV – Semanal – Fundado em
2004
PRONTUÁRiO
PRONTUÁRiO
PRIMÓRDIOS
A coisa pior e mais certa que se comentou sobre os primórdios de Bryan Singer, é que se tratou de um cruzamento entre Woody Allen e
Quentin Tarantino. Essa mutação
brotaria num filme insólito, fenomenal - Os
Suspeitos do Costume / The Usual Suspects (1995). Mas o realizador de X-Men (2000) já tivera Public Access (1992), e lá está a matriz
essencial de um cineasta que, com ironia e inteligência, explora um imaginário
subtilmente perverso, nos estigmas entre o bem e o mal, enquadrados pelo padrão
psicológico de cada personagem distorcida; estilhaçando tais referências sob as
pulsações de uma intriga insinuante e fatídica. Ao assinar a sua terceira longa
metragem, as características em causa encontraram um protagonista excepcional em Ian McKellen , que
contra os X-Men assumiu Magneto, a trágica
nemésis dos super-heróis.
Começando a filmar em adolescente, com uma câmara de 8 mm , Singer estudou na School
of Visual Arts em Nova
Iorque , prosseguindo a sua aprendizagem na University of
South California de Los Angeles, revelando-se com a curta metragem Lion’s Dead (1988). Public Access distinguiu Singer com o Grande Prémio do Júri no
Sundance Film Festival, mas a consagração chegaria com Os Suspeitos do Costume: Oscars para os Melhores Actor Secundário
(Kevin Spacey) e Argumento Original (Christopher McQuarrie) - manipulando uma
acção equívoca, surpreendente, estilizada por Singer com olhar brutal,
fascinador, quanto às (ex)tensões do thriller
no cinema independente. IMAG.109
CALENDÁRiO
¢SET-31DEZ2015 - Em Lisboa,
Galeria São Roque Too expõe António Costa
Pinheiro [1932-2015] - O Pintor Por
Ele-Mesmo, sendo comissário Bernardo Pinto de Almeida. IMAG.239-312-486-569-590
¸17OUT2015-30ABR2016
- Em Vila Franca
de Xira, Museu do Neo-Realismo expõe Manuel
Guimarães [1915-1975], Sonhador
Indómito, sendo curadora Leonor Areal. IMAG.47-74-86-131-137-150-223-334-347-500-521-527-548-572
O31OUT2015-23JAN2016
- No Centro
Cultural de Cascais, Fundação Luís I apresenta D. Luís de Portugal - Perspectivas; ciclo de
Conferências / Concerto sobre El-Rei D. Luís I (1838-1889). IMAG.200-247-368-531
¸1933-01NOV2015 - José Fonseca e
Costa: Cineasta português, realizador e produtor - «A
burocracia mata a criatividade. A criatividade devia matar a burocracia, a
criatividade somos nós» (2014). IMAG.63-77-117-126-158-192-223-334-508
¢02NOV-19DEZ2015 - Em Lisboa, Casa
da Liberdade - Mário Cesariny apresenta Artur
Bual [1926-1999] - Exposição
Retrospectiva (1940-1999).
PARLATÓRiO
¨A caridade é isto: é este
condescender incessante com todos os apelos; é esta concorrência ofegante e
apressada a todos os chamamentos! E a sua influência são amanhã as enfermidades
saradas, os pobres consolados, e as tristezas sem dor… Deixem-me alevantar o
espírito neste país que talhou a pique as suas formas esculturais, e recortou,
como de pólo a pólo, as suas feições gigantescas n’uma montanha imensa, que
atira com a sua testa para o meio das nuvens para que as estrelas lhe emoldurem
lá em cima tiara esplêndida, e cá em baixo assenta as suas bases n’um mundo
imenso, onde Alexandre d’Humbold, sábio imenso como ele, viu, à luz poderosa da
sua presciência enorme, o empório da civilização futura!
Vieira de Castro
- Discurso Sobre a Caridade (excerto)
- Recitado no Salão do Theatro
Lyrico do Rio de Janeiro, em 26JAN1867
TRAJECTÓRiA
João Gaspar Simões
¨ Escritor, ensaísta, crítico literário e jornalista português
nascido a 25 de Fevereiro de 1903, na Figueira da Foz, e falecido a 6 de Janeiro
de 1987, em Lisboa.
Enquanto cursava Direito em Coimbra, colaborou com José Régio
e Branquinho da Fonseca, participando, em 1927, na fundação da revista Presença,
aí se revelando como crítico literário especialmente atento aos valores
intrínsecos da obra literária na sua conexão, com eixos biográficos e
geracionais. Foi também bibliotecário na Biblioteca da Imprensa Nacional, em Lisboa. Como outros
críticos da Presença, pertence-lhe o mérito de ter divulgado o primeiro
modernismo, tendo, com Luís de Montalvor, editado as Obras Completas, de
Fernando Pessoa (Ática, 1942-45) e publicado uma biografia exaustiva sobre o
autor de Mensagem, umas e outra responsáveis, de modo diverso, pela
difusão da estética pessoana junto de gerações posteriores ao Orpheu, e,
muito especialmente, junto da geração de 50. Tendo, entre os anos 30 e 70,
marcado a história da crítica literária em Portugal, por uma metodologia
especialmente atenta à análise da obra literária na sua interdependência com o
percurso biográfico e geracional dos autores abordados, de que se destaca como
modelares as obras Eça de Queirós, o Homem e o Artista (1945) e Vida
e Obra de Fernando Pessoa (1950), exerceu a crítica literária de
modo sistemático nas páginas de publicações periódicas como Diário de Lisboa,
Diário Popular, Primeiro de Janeiro, Mundo Literário, Diário de Notícias, Átomo,
entre outras. No domínio da criação literária, tentado pelo teatro, com cinco
peças de factura pouco inovadora, distinguiu-se essencialmente como romancista,
tendo-se, com a publicação de Elói, afirmado como representante, em
Portugal, de um romance de cunho introspectivo e psicologista. Desenvolveu
ainda uma vastíssima actividade como tradutor, tendo vertido para português
autores como Balzac, Bernanos, Charlotte Brontë, Caldwell, Jean Cocteau,
Diderot, Dostoievski, Gogol, Aldous Huxley, Joyce, Kafka, D. H. Lawrence,
Thomas Mann, Merimée, Tchekov, Tolstoi, Turguenev, Oscar Wilde, Voltaire ou
Zola.
http://www.infopedia.pt/$joao-gaspar-simoes
VISTORiA
¨ Em Juvenal, a inteligência dava-lhe para aquilo: para se negar,
para se complicar, para se dissolver por dentro. Assim, inútil pensar em viver. Para viver há
que fechar os olhos e parecer cego. Para amar também.
João Gaspar Simões
- Pântano (1940 - excerto)
MEMÓRiA
¯1666-02JAN1747 - Jean-Féry Rebel:
Compositor e violinista francês, ao estilo barroco, autor de Les Éléments (1737). IMAG.294-559
¨ 02JAN1837-1872 - José Cardoso Vieira
de Castro: Escritor e político português - «Um dirigente académico com alguma
importância; um jornalista menor; um escritor sem talento; um político sem
poder; um criminoso e um degredado» (Vasco Pulido Valente - Glória). IMAG.389
¨ 1903-06JAN1987 - João Gaspar Simões: Escritor e ensaísta
português, biógrafo e crítico literário - «Tudo o que tenho dito sobre o
romance acaba na mesma trivialidade: não há romance onde não houver imaginação
psicológica». IMAG.128-131-191-203-502
INVENTÁRiO
Vieira de Castro
¨ No dia 7 de Maio de 1870, a
tragédia aproxima-se, quando, julgando confirmadas as suas suspeitas de
infidelidade da sua esposa, com o sobrinho de Almeida Garrett, acaba por
assassinar a sua jovem esposa, quando esta dormia, usando para isso, uma
almofada com clorofórmio.
No dia seguinte entregou-se às autoridades, confessando o crime.
Em 1871, é julgado, partindo para Angola, a fim de cumprir a pena de 10 anos de
degredo, vindo a falecer nos arredores de Luanda em 5 de Outubro de 1872, com
apenas 36 anos de idade.
Miguel Monteiro
- José Cardoso Vieira de Castro (excerto)
¸Revelando-se com O Recado (1971), após notável
experiência pela via documental, José Fonseca e Costa voltou às longas
metragens, para exorcizar Os Demónios de
Alcácer-Kibir (1975). A produção coube à Tobis Portuguesa - com a
participação do Centro Português de Cinema / CPC - executada por Artur Semedo,
também protagonista, e coordenada por Paulo de Morais. António H. Escudeiro
dirigiu a fotografia em exteriores no Alentejo, e nos estúdios da Tobis
Portuguesa - decorados por Madalena & Fernando Pinto Coelho e Jasmim de
Matos - de que se manteve o som directo. Também argumentista, com a colaboração
de Augusto Sobral, Fonseca e Costa sagra uma visão épica / simbólica de
Portugal contra os fantasmas do passado, sobre as vitórias a conquistar de arma
na mão. No elenco, destacam-se António Beringela, Ana Zanatti, Sérgio Godinho,
Luís Barradas e João Guedes. Os Demónios
de Alcácer-Kibir estreou no Quarteto, em 1977, tendo Fonseca e Costa
reivindicado uma reflexão «sobre o fim do Império, sem parecer que o faça. Há
sinais básicos - como o mito de Dom Sebastião, a independência nacional… É como
se, de certa forma, se advertissem as pessoas de que podemos perdê-la de novo. A
maior parte dos textos são resultado de leituras da História Trágico-Marítima, d’A
Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, da História
de Portugal de Oliveira Martins. Em minha opinião, só poderá ser bem compreendido em Portugal e por
Portugueses, ou então por gente do Terceiro Mundo».
BREVIÁRiO
Na série Astérix o Gaulês de René Gosciny & Albert Uderzo,
Asa edita O Papiro de César de Jean-Yves Ferri e
Didier Conrad. IMAG.2-4-21-29-37-58-69-76-94-101-136-179-206-245-248-275-290-342-356-390-406-418-431-453-504-574
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