José de Matos-Cruz | 08 Dezembro 2016 | Edição Kafre |
Ano XII – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
CONFLITOS
Escrita
por Charles Fuller, a partir da sua peça teatral - inspirada em Billy Budd de Herman Melville, e galardoada com o Prémio Pulitzer -, A
História do Soldado / A Soldier's
Story (1984) é uma crónica da sociedade americana, em finais da II
Guerra Mundial, tomando como pretexto o assassinato dum soldado negro, em
Companhia aquartelada no Luisiana, e as peripécias de investigação que motivou.
Sendo intérpretes Howard E. Rollins Jr
e Denzel Washington, trata-se de um
mosaico onde convergem, ou se debatem, os sonhos e os desencontros, os valores
e os preconceitos, as tensões e os desafios. A realização, com assinatura de Norman Jewison, paira entre a viragem e
a expectativa - quanto ao testemunho duma actualidade marcada pelo conflito
bélico nas regras comunitárias, e aos dilemas que se repercutem do passado em
crises de mentalidade, confrontando-se no horizonte irreversível de um futuro
além dos escombros vividos. IMAG.268
MEMÓRiA
¸08DEZ1936-2009 - John Arthur Carradine, aliás David Carradine: Actor
americano, filho de John Carradine, protagonista da série televisiva Kung Fu
(1970) e dos filmes Kill Bill (2003-2004) - «O salgueiro frágil enfrenta a tempestade e, todavia,
sobrevive… Há sempre uma alternativa - uma terceira via, que não é a combinação
de duas outras vertentes. É algo autónomo, diferente». IMAG.20-253
ü1913-09DEZ1996 - Mary Leakey: Arqueóloga e antropóloga
inglesa - dedicou grande parte da sua carreira a descobrir ferramentas e
fósseis dos homínideos. Responsável pela descoberta do primeiro esqueleto do
humanóide Proconsul, género de primatas que viveram há cerca de 22 milhões de
anos, e ancestrais dos humanos. Trabalhando em África durante muitos anos,
desenvolveu um sistema de classificação de utensílios de pedra, Tendo ainda
encontrado quinze novas espécies animais.
¨1542-10DEZ1616 - Diogo do Couto: Cronista, autor de Diálogo do Soldado Prático, continuador
das Décadas da Ásia de João de Barros
- «Como mandais vós, senhor, dar vida a uns inimigos que tanto têm trabalhado
para nos beber o sangue? Se tal é verdade, eu, e estas minhas companheiras que
neste cerco temos tamanho quinhão, como todos os homens, o não havemos de
consentir, antes os havemos de espedaçar com nossas mãos, por isso mandai que
no-los entreguem» (V - Da Ásia - ed
1779). IMAG.353
1833-10DEZ1896
- Alfred Nobel: Químico sueco e inventor da dinamite, misturando nitroglicerina
com argila. Em testamento de 1895, estipulou os Prémios Nobel para distinguir
as personalidades que, durante o ano, trabalharam em benefício da Humanidade -
nas áreas da Física, Química, Fisiologia/Medicina, Literatura, Paz e (a partir
de 1969) da Economia - «Se eu tiver mil ideias e uma delas for uma boa ideia,
já fico satisfeito... Rir-se-ão de mim, o homem da dinamite feito amigo da paz.
Mas, uma vez que os homens não escutam a razão, é necessário inventar um
instrumento de morte para que, pelo medo, a humanidade passe à paz». IMAG.297-439
¨1867-10DEZ1936 - Luigi Pirandello: Ficcionista, poeta e
dramaturgo siciliano, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura (1934) -
«Frases! Frases! Como se o conforto de todos, diante de um facto que não se
explica, diante de um mal que nos consome, não fosse encontrar uma palavra que
não diz nada e na qual nos tranquilizamos!». IMAG.110-112-165-223-470-484-500
R14DEZ1546-1601 - Tyge Ottesen Brahe, aliás Tycho Brahe:
Astrónomo dinamarquês - «Os meus corpos celestes não eram o nascimento de
Mercúrio na sétima casa em quadratura com Marte, mas Copérnico e Tycho Brahe;
sem as suas observações, tudo o que eu pude trazer à luz estaria enterrado na
escuridão» (Johannes Kepler). IMAG.-68-115-344
¸1901-15DEZ1966
- Walt Disney: Cineasta e produtor americano - «Até certo ponto, eu não consigo
acreditar que haja alguém que conheça o segredo de converter os sonhos em realidade. Mas ,
para mim, tal desiderato pode resumir-se em quatro C's. São eles curiosidade, coragem, confiança e
constância. A maior de tais características é a confiança. Quando acreditamos
em algo, estamos certos do caminho a prosseguir, de um modo implícito e
inquestionável». IMAG.7-8-18-21-30-32-37-47-50-69-80-90-99-107-110-116-123-155-175-203-219-250-260-304-349-470-506-510-529-545
VISTORiA
Primeira Parte
¨Argumento
Estando
um fidalgo, que fora governador da Índia por sucessão, em casa de um
despachador de Portugal, entrou um soldado velho da Índia que ia a dar sua
petição e papéis. E entre todos três se passou o diálogo seguinte:
Cena I
Soldado – Já’gora meus negócios não podem dexar de ter muito
bom fim, pois tiveram tão bom princípio como este de achar a Vossa Mercê neste
tempo e nesta casa; de quem, como testemunha de meus serviços, me espero agora
valer para ser conhecido do senhor secretário, porque sou tão só neste reino
que não tenho cousa a que me possa arrimar que a estes papéis que aqui trago
dos muitos anos e muitos serviços que nas partes da Índia tenho feitos,
ornamentados e esmaltados muitas vezes com o sangue deste corpo, que espargi
pela lei e pelo rei, de que me não tenho arrependido; porque quando aqui me
faltar o galardão de minhas obras, lá em cima está aquele que com mão
liberalíssima satisfaz tudo melhor que os reis da terra.
Fidalgo – Folgo de vos ver neste reino e tirado daquela
confusão de Babel. E sei decerto que sereis muito bem respondido e despachado
por vossa idade e serviços, sem outra aderência e favor. Porque, depois que el-rei
nosso senhor elegeu a Sua Mercê para juiz destas satisfações, não tendes
necessidade de mais que de apresentar vossos papéis e serviços, porque o tempo
que se despachava por favores e aderência é passado; porque, como o coração dos
reis está nas mãos de Deus, ordenou Ele agora, para remédio dos desemparados,
fazerem tão boa eleição como foi esta, com que nem meus favores são
necessários, nem vossos serviços dexarão de ser mui bem satisfeitos. Mas já que
viestes a este tempo, sentai-vos: sereis testemunha das cousas que da Índia
tratávamos; da qual vós, polos muitos anos que dela tendes conhecimento dos
homens e do tempo, bem sei que podereis dar muito boa rezão de tudo com aquela
liberdade e desengano de soldado veterano, que nem recea mal pelo que disser
nem espera bens pelo que lisonjar.
Soldado – Bejo as mãos a Vossa Mercê por tamanha honra e pela
opinião que tem de mim. Já’góra hei por bem empregados todos os trabalhos da
viagem e dos anos de minha perigrinação, pois mereci ser admitido a esta conversação.
Despachador – Té’gora estive calado por não interromper Sua Mercê e
por não tirar os olhos de vós, em cujas cãs, idade e mais cousas que pela
fisonomia em vós estive notando, me parecestes deferente de muitos outros
soldados que diante de mim trazem requerimento, tão outros a vossa quietação e
maneira que lhes parece que a hora que se lhe tarda em acudir a seus negócios,
já lhe roubam sua honra e merecimentos; e assi representam suas cousas com
aquele ímpeto e furor, como se estiveram pelejando com os imigos. E eu, em vez
de os ouvir e responder, estou com os olhos buscando algum lugar onde me
esconda de suas cóloras.
Soldado – Nunca vi cousa mais pera se lhe poder relevar que
essa, quando eles são cheos de merecimentos, digo. Porque andaram té’gora tão
desfavorecidos do tempo e atropelados dos despachadores que se não sabiam
detriminar; porque assaz de bem remediado parte um soldado da Índia, que pode
sostentar-se nesta corte de ũas naus a outras, para se
poder tornar. E se virem que lhe respondem devagar, não sente mor desesperação
que lembrar-lhe que está em terra onde não tem remédio e que o que ajuntou por
seus amigos para vir requerer, parte se lhe foi na Casa da Índia pelos excessos
dos contratadores, que até das camisas que levam vestidas lhe tomam dereitos;
sendo tantos anos isto tão favorável aos soldados, que nunca lhe boliram em
seus caixões, em que traziam um quintal de cravo, dous de canela e outras
pouquidades; e parte gastou em seu requerimento; e que não vê donde se possa
valer, e que ou será forçado morrer de fome neste reino, ou dexar tudo e
tornarse para a Índia sem ser respondido, o que se tem por tamanha infâmia que
o prove a que isto acontece não ousa de aparecer ante aqueles do seu tempo,
porque ou hão que o tiveram para pouco, ou que lhe não acharam merecimentos
para o despacharem. O que tudo fica à conta do despachador, que lhe dilatou seu
negócio, do que entendo deve de dar larga conta a Deus, assi de não dar o seu a
seu dono a tempo, como da honra que lhe roubou, na infâmia em que encorreu em
se tornar, afrontado e sem despacho.
Diogo
do Couto, cronista e guarda-mor da Torre do Tombo da Índia
-
Diálogo do Soldado Prático Que Trata dos
Enganos e Desenganos da Índia (1612)
CALENDÁRiO
¢1932-09OUT2015 - António Costa Pinheiro: Artista
plástico português, co-fundador do colectivo KWY - «A imaginação domina o
corpo. E o corpo vive equilibrado com as emoções e os sentimentos naturais». IMAG.239-312-486-569
¸ 15OUT2015 - Leopardo Filmes produziu, e estreia A Uma Hora Incerta de Carlos Saboga; com
Joana Ribeiro e Paulo Pires. IMAG.463
¸ 15OUT2015 - Leopardo Filmes estreia Coro dos Amantes de Tiago Guedes; com
Isabel Abreu e Gonçalo Waddington. IMAG.82-221
15OUT-18DEZ2015
- Em Lisboa, Instituto Cultural Romeno expõe Os Milagres de Um Joalheiro de Marian Nacu.
¨Todo o fantasma, toda a criatura de arte, para existir,
deve ter o seu drama, ou seja, um drama do qual seja personagem e pelo qual é
personagem. O drama é a razão de ser da personagem. É a sua função vital,
necessária à sua existência.
Luigi Pirandello
NOTICIÁRiO
Privilégio
Alfred Nobel obtém o privilégio, por cinco anos, como inventor de um aperfeiçoamento
na pólvora dinamita ou utilização prática da nitroglicerina.
JUN1872
- Diário de Notícias
BREVIÁRiO
Arte de
Autor edita Caravaggio - 1ª Parte - O Pincel e a Espada de Milo Manara. IMAG.3-13-52-64-132-140-147-221-305-365-501-548
Sem comentários:
Enviar um comentário