José de
Matos-Cruz | 24 Dezembro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em
2004
PRONTUÁRiO
CELEBRAÇÕES
Por finais de Novembro, o coração das crianças começa a bater mais
forte, e no rosto dos adultos desenha-se um sorriso de candura. Enfim, após
umas semanas de ansiedade, chega a noite especial, e está tudo preparado para a
grande festa - que se celebra a 25 de Dezembro - e para receber quem todos
esperaram ao longo do ano… Imaginem, agora, a realidade desta fascinante
fantasia - alguém que exista mesmo e não seja um mero símbolo, com barbas
brancas e trajando de vermelho! Eis a proposta de Bom Dia, Menino Pai Natal / Bonjour, Petit Pére Noel (2000) - na
alegre e adorável concepção de Lewis Trondheim, para a ilustração ágil e
alusiva de Thierry Robin.
Cada página deste álbum colorido, divertido, é outra faceta de um universo mágico que, da infância, se estiliza em banda desenhada sob os auspícios da escola franco-belga. Mas, até o Pai Natal tem os seus problemas: calculem que não pode fabricar mais brinquedos, por falta de combustível - o vulgar lixo que cada um de nós vai deitando fora, e assim reciclado em salvaguarda da mãe Natureza. Ora, não se apoquentem os mais pequeninos, pois há sempre resíduos urbanos para tratar, e o Pai Natal põe em cada aventura um final feliz!
Cada página deste álbum colorido, divertido, é outra faceta de um universo mágico que, da infância, se estiliza em banda desenhada sob os auspícios da escola franco-belga. Mas, até o Pai Natal tem os seus problemas: calculem que não pode fabricar mais brinquedos, por falta de combustível - o vulgar lixo que cada um de nós vai deitando fora, e assim reciclado em salvaguarda da mãe Natureza. Ora, não se apoquentem os mais pequeninos, pois há sempre resíduos urbanos para tratar, e o Pai Natal põe em cada aventura um final feliz!
VISTORiA
De Vuelta a Casa
¨ Desde mi cielo a despedirme
llegas
fino orvallo que lentamente bañas
los robledos que visten las montañas
de mi tierra, y los maíces de sus vegas.
fino orvallo que lentamente bañas
los robledos que visten las montañas
de mi tierra, y los maíces de sus vegas.
Compadeciendo
mi secura, riegas
montes y valles, los de mis entrañas,
y con tu bruma el horizonte empañas
de mi sino, y así en la fe me anegas.
montes y valles, los de mis entrañas,
y con tu bruma el horizonte empañas
de mi sino, y así en la fe me anegas.
Madre
Vizcaya, voy desde tus brazos
verdes, jugosos, a Castilla enjuta,
donde fieles me aguardan los abrazos
verdes, jugosos, a Castilla enjuta,
donde fieles me aguardan los abrazos
de
costumbre, que el hombre no disfruta
de libertad si no es preso en los lazos
de amor, compañero de la ruta.
de libertad si no es preso en los lazos
de amor, compañero de la ruta.
Miguel de Unamuno
Legenda Para a Vida de Um Vagabundo
¨Nasci vagabundo em qualquer país,
minhas fronteiras são as do mundo.
Esta sina vem-me no sangue:
não me fartar! Um desejo morto,
mais de dez a matar.
O caminho é longo!…
― Mas nada é longe e distante
quando se quer realmente…
E nunca o cansaço é tão grande
que um passo mais se não possa dar.
Joaquim Namorado
- Antologia de Poetas
Alentejanos
¨Quem não tem razão é sempre
insolente o bastante para apoquentar a paciência de quem tem razão. A razão
ferve em pouca água, a ausência de razão aventa sempre uma aparência de
descuido frívolo e orgulhoso. Quem tem boas e apaixonadas intenções (Kraus)
sucumbe sempre às mãos de quem (eu, portanto) não preza tanto o que é bom e
útil. Eu triunfo porque fico ainda deitado na cama… São-me infinitamente
simpáticas as pessoas que se zangam… O indignado tem sempre de ser confrontado
pelo pecador, caso contrário falta alguma coisa.
Robert Walser
- Jakob von Gunten - Um Diário
(1909 – excerto - Tradução de
Isabel Castro Silva)
CALENDÁRiO
¸1920-24OUT2015 - Maureen
FitzSimons, aliás Maureen O’Hara: Actriz e cantora americana, de origem
irlandesa - «Os seus papéis foram sempre de grandeza humana, de firmeza
absoluta, marcada nuns olhos de constante espanto» (Inês Lourenço). IMAG.114
MEMÓRiA
¨ 1878-25DEZ1956 - Robert Walser:
Escritor suíço de língua alemã - «Quando estamos assim, sem nada que fazer,
pressentimos subitamente quão dolorosa pode ser a existência. A energia
dispendida a fazer alguma coisa não é nada quando comparada à energia de nada
fazer e ainda assim ter de manter a postura». IMAG.200-376
¯1933-25DEZ2006 - James Joseph Brown Jr., aliás James Brown, aliás
Mr. Dynamite: Cantor americano, precursor da música funk - «O cabelo é a primeira coisa importante. Os dentes, a
segunda. Os cabelos e dentes. Um homem tem essas duas coisas como deve ser,
pode considerar-se que ele possui tudo aquilo de que precisa para ter sucesso». IMAG.57-90-125-328
®1881-22DEZ1926 - André Francisco
Brun, aliás André Brun: Escritor português, ficcionista e dramaturgo - «Para se
desenhar em termos um acto heróico, é preciso pelo menos um recuo de duzentos
quilómetros… De perto, a heroicidade confunde-se com coisas que de heróico não
têm a mínima parcela.» (A Malta das
Trincheiras - Migalhas da Grande Guerra: 1917-1918). IMAG.327-339-416
¨ 1875-29DEZ1926
- Reiner Maria Rilke: Poeta alemão - «Ser amado é consumir-se na chama. Amar, é luzir com uma luz inesgotável.
Ser amado é passar; amar é durar.» (Cadernos de Malte Laurids Brigge). IMAG.102-112-541
1889-29DEZ1946 - Abel de Lima Salazar, aliás Abel Salazar: Médico
português, investigador e professor, artista plástico - «Um médico que só sabe
medicina, nem medicina sabe!» (Instituto de Biomédicas do Porto). IMAG.101-112-304-488-553
¸ 1932-29DEZ1986 - Andrei
Arsenyevich Tarkovski, aliás Andrei Tarkovski: Cineasta soviético - «A questão
da vanguarda é peculiar ao Século XX, à época em que a arte vem,
progressivamente, perdendo a sua espiritualidade. A situação é ainda pior nas
artes visuais, que hoje estão quase inteiramente privadas de espiritualidade». IMAG.32-112-383-470
¨ 1914-29DEZ1986 - Joaquim Vitorino
Namorado, aliás Joaquim Namorado: Poeta português, membro do grupo neo-realista
de Coimbra - «Então / os teus versos estarão na primeira fila dos pioneiros /
cobertos de cicatrizes / porque fizeram todo o caminho do tempo / multiplicados
por milhões de vozes / pela alta potência dos alto-falantes / como uma bandeira
erguida / sobre os anos futuros.» (Poeta
- excerto). IMAG.472
¨ 1864-31DEZ1936 - Miguel de Unamuno y Jugo, aliás Miguel de
Unamuno: Escritor e filósofo espanhol - «O céu da
fama não é muito grande e, quantos mais ali entrarem, menos fica para cada um
deles». IMAG.112-226-382-484
COMENTÁRiO
¨ Toda a arte é pela arte e toda a
arte é humana; depende isso do sentido que se queira ligar às frases, as quais
só por si nada significam. Se alguém diz que lhe não interessa a arte quando
ela não tem por tema um caso social, esse alguém diz uma coisa com sentido, que
tem um legítimo direito de afirmar; mas se esse alguém diz que toda a arte deve
ser social, ou que a arte não deve ser senão social ou humana, faz então uma
afirmação puramente gratuita, vazia de sentido e absolutamente estéril.
Abel Salazar
- Que É a Arte? (1940 - excerto)
PARLATÓRiO
¸ Se tentarmos agradar ao público,
aceitando acriticamente as suas preferências, isso significará apenas que não
temos respeito algum por ele, que só queremos o seu dinheiro. Em vez de educarmos
o espectador através de obras de arte inspiradoras, estaremos apenas a ensinar
o artista a garantir o seu lucro. Por sua parte, o público ― satisfeito com
aquilo que lhe dá prazer ― continuará firme na convicção de estar certo, uma
convicção no mais das vezes sem fundamento. Deixar de desenvolver a capacidade
crítica do público equivale a tratá-lo com total indiferença.
Andrei Tarkovski
¯ A minha obra Funky
[1997] é sobre injustiças, sobre as coisas que se tornam erradas, como as
crianças esfomeadas que vão para a escola tentando aprender. Funky é sobre o que faz as pessoas
movimentarem-se - como o gospel e o jazz.
James Brown
(2000 - à CNN)
EPISTOLÁRiO
Carta a Franz Kapus (1904)
+ A rapariga e a mulher, neste seu novo e próprio desenvolvimento, imitarão
o jeito e os vícios dos homens e copiarão as profissões masculinas apenas por
algum tempo. Uma vez vencida a insegurança destas transições, ver-se-á que esta
multiplicação e constante mudança de disfarces (quantas vezes ridículos)
ajudarão as mulheres a depurarem a sua natureza das influências desfiguradoras
do outro sexo. As mulheres, em que a vida mora e perdura de maneira mais
imediata, fértil e confiada, ter-se-ão no fundo tornado pessoas mais
amadurecidas, pessoas mais humanas, quando comparadas com a leveza do homem,
que é incapaz de penetrar a superfície da vida com o peso de um fruto carregado
no ventre, que é demasiado petulante e precipitado para dar valor ao que julga
amar. Esta humanidade da mulher, moldada pela dor e pela humilhação, será
trazida à luz do dia quando ela se despir das convenções da feminilidade
estrita, ao longo das metamorfoses da sua condição exterior, e os homens, que
hoje não pressentem ainda esta mudança, serão surpreendidos e abalados por ela.
Chegará o dia (e nos países nórdicos temos já sinais evidentes que anunciam e
iluminam este dia) em que surgirão a rapariga e a mulher cujo nome já não
designa nada que se oponha ao ser masculino, mas antes qualquer coisa que
existe para si, qualquer coisa que não fará pensar em complemento ou limite,
mas apenas na vida e na presença no mundo: o ser humano feminino.
Este progresso, contrariando de início a vontade dos homens
ultrapassados, trará uma metamorfose da experiência do amor, que a mudará desde
o seu fundamento até lhe dar a forma de uma relação entre um ser humano e outro
ser humano, e já não entre um homem e uma mulher. E este amor mais humano (que
se consumará num movimento infinitamente atencioso e discreto, e bom e claro,
de prendimento e libertação) será semelhante àquele que arduamente preparamos e
pelo qual lutamos, o amor de duas solidões que se protegem, delimitam e saúdam.
Rainer Maria Rilke
- Cartas a Um Jovem Poeta
(Tradução de Isabel Castro Silva)
BREVIÁRiO
¨Caminho edita Meu Pai, o General Sem Medo - Memórias de
Iva Delgado; sobre Humberto Delgado (1906-1965). IMAG.61-436
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