José
de Matos-Cruz | 08 Fevereiro 2019 | Edição Kafre | Ano XVI – Semanal
– Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
VITALIDADE
Na
geração de cineastas americanos revelados pelas últimas cinco
décadas, nenhum será tão coerente e paradoxal, insólito e
surpreendente como Woody
Allen.
Símbolo da Costa Leste, devotado à sua cidade, Nova Iorque,
completando-se como argumentista, realizador e protagonista, fiel a
poucos actores favoritos, ou outros imprevisíveis requerendo,
obcecado com temas primordiais em subtis variantes… Alvo de culto
entre os que, repetidas vezes, presumiam que teria atingido um clímax
- questionando o que poderia tratar em seguida, ciente de um domínio
atrás da câmara. A verdade é que, durante os derradeiros anos ’90
do século passado, os filmes de Woody Allen - culminando Através
da Noite
/ Sweet
and Lowdown
(1999) - nos mantiveram, incólumes, a perplexidade e o fascínio.
Woody Allen perseguiria sempre a obra perfeita, a ponto de tudo
refazer sem retraimento quanto aos custos de produção;
relançando-se pelos artifícios da comédia, ou sondando os abismos
do drama, consagraria o seu tributo aos maiores cineastas europeus -
como Federico Fellini ou Ingmar Bergman; enquanto restabelece a
vitalidade plástica e estética de um imaginário tão peculiar -
íntimo ou sarcástico, denso ou exorcizador.
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CALENDÁRiO
22SET-11NOV2017
- Em Lisboa, Galeria Pedro Cera apresenta Lush
Underground - exposição de
pintura e escultura de David Thorpe (GB).
29SET-19NOV2017
- Em Lisboa, Le Consulat apresenta Silêncios,
Vales e Ecos - exposição de
fotografia de Carmen Escudero e Miquél Llonch (Catalunha), sendo
curadora Adelaide Ginga.
04OUT-26NOV2017
No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta
Super:Visions
- exposição de ilustração de Elizabeth Casqueiro
(Inglaterra/Portugal).
04OUT-29DEZ2017
- Em Lisboa, Casa da América Latina apresenta, no âmbito da Capital
Ibero-Americana de Cultura, Objectivo
Mordzinski - exposição de
fotografia de Daniel Mordzinski (Argentina).
12OUT-19NOV2017
- Em Lisboa, Museu do Oriente expõe Memórias
de Camilo Pessanha
(1867-1926). IMAG.5-72-307-326-553-625
VISTORiA
Ninguém
pode admirar-se de que haja ainda tantos pontos obscuros
relativamente à origem das espécies e das variedades, se
reflectirmos na nossa profunda ignorância sobre tudo o que se prende
com as relações recíprocas dos inúmeros seres que vivem em redor
de nós. Quem pode dizer a razão por que tal espécie é mais
numerosa e mais espalhada, quando outra espécie vizinha é muito
rara e tem um habitat muito restrito? Estas relações têm, contudo,
a mais alta importância, porque é delas que dependem a prosperidade
actual e, creio firmemente, os futuros progressos e a modificação
de todos os habitantes da Terra. Conhecemos ainda bem pouco das
relações recíprocas dos inúmeros habitantes da Terra durante os
longos períodos geológicos passados.
Ora,
posto que numerosos pontos sejam ainda muito obscuros, se bem que
devem ficar, sem dúvida, inexplicáveis por bastante tempo ainda,
vejo-me, contudo, após os estudos mais profundos e uma apreciação
fria e imparcial, forçado a sustentar que a opinião defendida até
há pouco pela maior parte dos naturalistas, opinião que eu próprio
partilhei, isto é, que cada espécie foi objecto de uma criação
independente, é absolutamente errónea. Estou plenamente convencido
que as espécies não são imutáveis; estou convencido que as
espécies que pertencem ao que chamamos o mesmo género derivam
directamente de qualquer outra espécie ordinariamente distinta, do
mesmo modo que as variedades reconhecidas de uma espécie, seja qual
for, derivam directamente desta espécie; estou convencido, enfim,
que a selecção natural tem desempenhado o principal papel na
modificação das espécies, posto que outros agentes tenham nela
partilhado igualmente.
Charles
Darwin
-
A Origem das Espécies (1859,
excerto)
MEMÓRiA
09FEV1909-1955
- Maria do Carmo Miranda da Cunha, aliás Carmen Miranda: Cantora,
bailarina e actriz brasileira, nascida em Portugal - «A maior
humilhação para uma mulher é ser abandonada pelo homem que ama. O
homem recupera-se depressa, se o caso é oposto, porque não quer dar
o braço a torcer para os amigos. A mulher não: a sua sensibilidade
e fraqueza ficam estampadas no seu olhar, no seu rosto, nos seus
gestos. É triste». IMAG.45-141-232-310-339-525
1934-10FEV1999
- Maria de Lurdes Ribeiro, aliás Maluda: Pintora portuguesa -
«Independente do mundo e da fortuna, era ela - do mundo das artes e
das suas tricas, do da fortuna delas, com seus truques. Maluda não
tinha marchand
nem fazia exposições comerciais… Ia
registando
encomendas para os quadros que pintava e, por serem poucos ao ano, no
perfeccionismo da sua pintura, iam pondo coleccionadores à espera,
sempre por conhecimento uns dos outros» (José-Augusto França).
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1795-11FEV1829
- Alexander Sergueievitch Griboiedov, aliás Alexander Griboiedov:
Dramaturgo, compositor e diplomata russo - «Aquilo que mais devemos
recear, é a cólera dos senhores… E, também, a sua afeição».
IMAG.498
11FEV1909-1993
- Joseph Leo Mankiewicz, aliás Joseph L. Mankiewicz: Escritor e
cineasta americano - «A diferença entre o que se passa na vida e
nos filmes, é que, quando escrevemos um argumento, tudo tem de ter
lógica e sentido, enquanto que, na realidade, não é assim que as
coisas acontecem». IMAG.83-23-405
12FEV1809-1865
- Abraham Lincoln: Político americano, Presidente dos EUA (1861-
1865) - «Quase todos sabemos lidar com a adversidade, mas, se queres
testar o carácter de um homem, dá-lhe poder». IMAG.
68-147-236-334-350-510
12FEV1809-1882
- Charles Robert Darwin, aliás Charles Darwin: Naturalista
britânico, geólogo e biólogo - «Quando entre indivíduos,
evidentemente expostos às mesmas condições, qualquer desvio muito
raro, devido a algum concurso extraordinário de circunstâncias,
aparece num só indivíduo, em meio de milhões de outros que não
são afectados, e vemos aparecer este desvio no descendente, a
simples teoria das probabilidades força-nos quase a atribuir esta
aparição à hereditariedade».
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12FEV1929-1985
- Nuno Manuel Maria Caupers de Bragança, aliás Nuno Bragança:
Escritor português, autor de A
Noite e o Riso (1969) - «Um
dia peguei em uma caneta, em um tinteiro e em uma folha de papel, e
fui sentar-me a uma pequena mesa em um pequeno gabinete, e escrevi no
alto da folha e em letras grandes: u
omãi q dava pulus.».
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1883-12FEV1969
- António Sérgio de Sousa, aliás António Sérgio: Escritor e
filósofo português - «A polémica tornou-se a própria maneira de
ser da minha vida espiritual. A minha fidelidade à própria
inteligência havia de levar-me a este antipático papel de sempre
resistir, contrariar, combater, que tem sido o meu destino».
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1894-12FEV1979
- Jean Renoir: Cineasta, encenador, actor e escritor francês - «Um
cineasta faz, apenas, um filme durante toda a sua vida… Depois,
redu-lo a pedaços e volta a realizá-lo, uma e outra vez».
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1931-12FEV1989
- Niclaas Thomas Bernhard, aliás Thomas Bernhard: Escritor austríaco
- «Eu entrei na arte para fugir da vida, como também poderia dizer
– afirmou ele. Aguardei o momento mais favorável e aproveitei esse
momento, e evadi-me do mundo para a arte, para a música – disse
ele. Como outros se evadem para as chamadas artes plásticas, para a
arte dramática – acrescentou ele. Essas pessoas, que afinal são,
como eu, gente que de facto odeia o mundo, evadem-se de um momento
para o outro do mundo odiado para a arte, que fica por completo fora
desse mundo odiado.» (Antigos
Mestres).
1903-13FEV2009
- Edward Falaise Upward, aliás Edward Upward: Escritor britânico,
membro da Geração de Oxbridge dos anos de 1930 - «Aquele cuja vida
mais se manteve fiel aos seus princípios e ideais» (Stephen
Spender). IMAG.238-434
1924-14FEV2009
- Luigi Paulino Alfredo Francesco Antonio Balassoni, aliás Louie
Bellson: Músico e baterista americano, mestre do Jazz
pelo National Endowment for the Arts (EUA, 1994). IMAG.238-473
PARLATÓRiO
Não
sei se a saudade nos libertará desta lógica da História: mas creio
que não. E visto que não temos entre nós uma disciplina
tradicional do trabalho, uma educação, ou como lhe chamar, vivemos
e respiramos uma atmosfera de inércia parasitária, é esse o
elemento que havemos de pedir ao estrangeiro: os métodos, a técnica,
a educação para a produção crematística.
O
meu objectivo não é propriamente o de informar sobre a História,
mas o de formar sobre o espírito da gente moça para uma visão
sócio-filosófica dos factos, como preparação para a obra da
elevação do povo, que lhe cumpre empreender.
António
Sérgio
(excertos)
BREVIÁRiO
Relógio
D’Água edita A Sibila
de Agustina Bessa-Luís.
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Opera
Omnia edita Os Pobres
de Raul Brandão (1867-1930).
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