José
de Matos-Cruz | 24 Maio 2018 | Edição Kafre | Ano XV – Semanal –
Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
Um
dos mais fascinantes e misteriosos cineastas
de todos os tempos, que sublimou o talento de autor europeu com o
espectáculo ritualizado em Hollywood, Josef Von Sternberg
(1894-1969) foi, no início dos anos ’50, incumbido por Howard
Hughes de concretizar duas fitas, a cargo da RKO: Jet
Pilot (1950)
- apenas lançado entre nós em 1957, como Estradas
do Inferno;
e Macao
(1952) - que nunca estreou comercialmente em Portugal, logo por
óbvias razões geopolíticas. Longe iam já as cintilações de um
vínculo mítico com Marlene Dietrich, até The
Devil Is a Woman (1935);
e mesmo a actividade primordial de Sternberg há muito esmorecera,
após Aconteceu
Em Xangai (1941).
Aliás, o realizador austríaco estaria cada vez mais farto com as
actuais condições de trabalho e dificuldades de produção -
assumida em Macao
por
Alex Gottlieb, com argumento de Bernard C. Schoenfeld & Stanley
Rubin, sobre enredo de Bob Williams. Consagrado como um fenómeno de
génio e subversão, desde meados da década de ’20, em plena magia
das imagens silenciosas, Sternberg abandonou a carreira pouco depois,
sendo o seu título culminante The
Saga of Anatahan (1953),
a convite da indústria nipónica. A acidentada rodagem de Macao
principiou
em Setembro de 1950, antes de estar concluído Jet
Pilot,
mas só viria a público longos meses após a conclusão.
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CALENDÁRiO
11JAN-09FEV2017
- Em Lisboa, Appleton Square apresenta Cielo
y Luz - exposição de
fotografia e vídeo de Augusto Alves da Silva. IMAG.648
1941-23JAN2017
- Gordon Fitzgerald Kaye, aliás Gorden Kaye: Actor inglês de rádio,
cinema e televisão, intérprete de René
Artois na série Allo’
Allo! / Alô, Alô (1982) -
«Não haverá outro René» (Vicki Michelle).
26JAN2017
- Terratreme produziu, e estreia Ama-San
(2016), documentário de
Cláudia Varejão.
26JAN2017
- Leopardo Filmes produziu, e estreia
O Divã de Estaline / Le Divan de Staline (2016)
de Fanny Ardant; com Gérard Depardieu e Emmanuelle Seigner.
IMAG.505
02FEV-05JUN2017
- Em Lisboa, Museu Calouste Gulbenkian expõe Almada
Negreiros [1893-1970],
Uma Maneira de Ser Moderno,
sendo curadoras Mariana Pinto dos Santos e Ana Vasconcelos.
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VISTORiA
Que
ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são
máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre
da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Bárbaros
agarram esse cão que tão prodigiosamente vence o homem em amizade,
pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para te mostrarem as
suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de
sentimentos de que te gabas. Responde-me, maquinista, teria a
natureza entrosado nesse animal todos os órgãos de sentimentos sem
objectivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquires a
natureza sobre tão impertinente contradição?
Voltaire
-
Dicionário Filosófico (1764)
Os
homens transitam do Norte para o Sul, de Leste para Oeste, de país
para país, em busca de pão e de um futuro melhor. Nascem por uma
fatalidade biológica e quando, aberta a consciência, olham para a
vida, verificam que só a alguns deles parece ser permitido o direito
de viver. Uns resignam-se logo à situação de elementos supérfluos,
de indivíduos que excederam o número, de seres que o são apenas no
sofrimento, no vegetar fisiológico de uma existência condicionada
por milhentas restrições. Curvam-se aos conceitos estabelecidos de
há muito, aceitam por bom o que já estava enraizado quando eles
chegaram e deixam-se ir assim, humildes, apagados, submissos, do
berço ao túmulo – a ver, pacientemente, a vida que levam outros
homens mais felizes.
Ferreira
de Castro
-
Emigrantes (1928) – Pórtico
MEMÓRiA
24MAI1898-1974
- José Maria Ferreira de Castro: Escritor português, cidadão do
Mundo, autor de A Selva
(1930) - «Eu devia este livro a essa majestade verde, soberba e
enigmática, que é a selva amazónica, pelo muito que nela sofri
durante os primeiros anos da minha adolescência e pela coragem que
me deu para o resto da vida.» (Pórtico
- 1955).
IMAG.26-37-47-83-115-128-156-180-217-244-472-629
1922-25MAI2008
- David Gahr: Fotógrafo americano - «É impossível pensar na
música popular americana dos últimos cinquenta anos, sem nos vir à
cabeça uma fotografia tirada pelo Dave Gahr. As suas fotografias
possuem qualidades líricas e íntimas, fossem tiradas com pose ou
fossem espontâneas. Ele era um pioneiro, um divertido irascível, um
sujeito formidável» (Henry Sapoznik). IMAG.201-387
1934-26MAI2008
- Sydney Irwin Pollack, aliás Sydney Pollack: Cineasta americano,
actor e produtor - «Eu não nasci a pensar nos filmes como arte, mas
apenas como filmes - algo que fosse para ser visto numa tarde de
sábado». IMAG.200-331-357-364-434-471-473
28MAI1738-1814
- Joseph-Ignace Guillotin: Médico francês, ligado à execução
pela guilhotina (1789), como meio de eliminar os tratamentos
desiguais e os castigos bárbaros - «O criminoso será decapitado
por efeito desse simples mecanismo, capaz de fazer saltar a cabeça
num piscar de olhos». IMAG.291-333-465-560
28MAI1908-1964
- Ian Lancaster Fleming, aliás Ian Fleming: Escritor e jornalista
inglês, agente da espionagem naval, criador de James
Bond 007 (1952)
- «Deveríamos viver duas
vezes. Uma quando nascemos, e outra ao olharmos a morte de frente».
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1694-30MAI1778
- François-Marie Arouet, aliás Voltaire: Escritor francês,
filósofo iluminista, autor de Tratado
Sobre a Tolerância (1762)
- «Não é aos homens que me dirijo, é a ti, Deus de todos os
seres, de todos os homens e de todos os tempos… Que as pequenas
diferenças entre as vestimentas que cobrem os nossos fracos corpos,
entre os nossos costumes ridículos, entre todas as nossas leis
imperfeitas, entre todas as nossas opiniões insensatas, que todas
essas pequenas nuances
que distinguem os átomos chamados homens não sejam motivo de
perseguição.». IMAG.28-180-270-295-388-491-593
31MAI1928-2013
- Édouard Camille Molinaro, aliás Édouard Molinaro: Cineasta
francês, realizador de O Amor
Faz-me Fome / La Mandarine (1972)
- «Tinha gosto e competência para converter em campeões de
bilheteira os sucessos do teatro de boulevard»
(Les Inrockuptibles).
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PARLATÓRiO
Guillotin
O
senhor Guillotin, que conheci na sua velhice, não se conformava com
aquilo a que chamava uma mancha inapagável na sua vida. A sua figura
venerável enchia-se de tristeza profunda; e os seus cabelos,
completamente brancos, testemunhavam tudo o que tinha sofrido. Ele
queria aliviar a Humanidade, e contribuiu, sem ter previsto isso,
para a destruição de um grande número de indivíduos. Se a morte
destes tivesse sido menos expedita, talvez o povo se houvesse cansado
mais cedo das execuções, às quais acorria como a um espectáculo.
Imperatriz
Joséphine
A
maioria dos grandes realizadores de cinema que conheço, não foram
actores - por isso, não posso considerar que tal seja um factor
essencial. No entanto, para mim tornou-se uma enorme ajuda.
Sydney
Pollack
BREVIÁRiO
Tinta
da China edita A Conquista das
Almas de Aniceto Simões e
Carlos Matos Gomes / Carlos Vale Ferraz. IMAG.3-197-616
Assírio
& Alvim edita Poemas
Escolhidos de José de Almada
Negreiros (1893-1970).
GALERiA
Almada
Negreiros – Uma Maneira de Ser Moderno
Autor
profuso e diversificado, Almada (1893-1970) pôs em prática uma
conceção heteróclita do artista moderno, desdobrado por múltiplos
ofícios. Toda a arte, nas suas várias formas, seria, para Almada,
uma parte do espetáculo
que o artista teria por missão apresentar perante o público,
fazendo de cada obra, gesto ou atitude um meio de dar a ver uma ideia
total de modernidade.
A
exposição apresenta um conjunto de obras que reflete a condição
complexa, experimental, contraditória e híbrida da modernidade. A
pintura e o desenho mostram-se em estreita ligação com os trabalhos
que fez em colaboração com arquitetos, escritores, editores,
músicos, cenógrafos ou encenadores. Esta escolha dá também
visibilidade à presença marcante do cinema e à persistência da
narrativa gráfica ao longo da sua obra. Juntam-se ainda obras e
estudos inéditos que darão a conhecer diferentes facetas do
processo de trabalho artístico de José de Almada Negreiros.
EXTRAORDINÁRiO
OS
SOBRENATURAIS – Folhetim Aperiódico
MAL
TORNA AO CRIADOR QUEM, SUJEITO, SE REFAZ -
8
Antes,
Ofélia aderiu à diáspora lésbica. De sua imensa dor, extrairia os
prazeres da absolvição. Gritando para as parceiras, enciumadas: «Eu
nunca te menti sobre a minha condição!» Pois não. Só que estava
diferente, devassada que foi um dia em sua ambiguidade carnal.
– Continua
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