domingo, novembro 22, 2015

IMAGINÁRiO #584

José de Matos-Cruz | 24 Outubro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

CELEBRAÇÃO
Assinalando o 30º Aniversário de Jim Del Monaco (1985-2015), a Asa lançou O Cemitério dos Elefantes - uma Edição Comemorativa, com quatro aventuras inéditas, do extraordinário herói concebido e recriado por Luís Louro & Tozé Simões. Além do Prefácio de Rui Zink («surpreendentemente, nem uma ruga»), e da Introdução por Tozé Simões («seguindo o habitual método do disparate incontinente»), destacam-se ainda Curiosidades, Sessões Fotográficas, Entrevista com os autores e uma secção de Esboços. Além de Testemunhos, onde tive o gosto de registar: «A saga de Jim Del Monaco trouxe modernidade à banda desenhada portuguesa, estilizando a nostalgia sob o signo da aventura. Uma expressão jovial, inventiva, crítica e divertida de que sentimos saudades, apreciando ainda o seu engenho vanguardista. Tê-lo de volta é, pois, celebrar as virtualidades de um imaginário cujo original modelo heróico se transfigura pela fascinante intemporalidade». IMAG.4-11-187-430-493-551

CALENDÁRiO

ü18JUL-30SET2015 - No Parque dos Poetas, em Oeiras, Templo da Poesia expõe A Viagem de [Charles] Darwin (1809-1882) - ilustrando a expedição realizada pelo naturalista entre 1831 e 1836, e que visava o levantamento cartográfico da América do Sul.IMAG.16-63-74-77-87-90-101-109-119-214-234-238-241-248-295-367

®03MAI1946-08SET2015 - Maria Delfina da Cruz Neto Pinto do Amaral, aliás Delfina Cruz: Actriz portuguesa de teatro, cinema e televisão - «Uma belíssima colega de trabalho, incapaz de levantar problemas, cumpridora e muita segura» (Nicolau Breyner).

µ11SET-05OUT2015 - Em Lisboa, Largo do Intendente expõe Bang! e At Night We Dreamed of Tall Ships - pelos fotógrafos Augusto Brázio (Portugal) e Martina Cleary (Irlanda), integrando Flâneur - Novas Narrativas Urbanas com organização de Procurar.Arte.
       
VISTORiA

Apelo Paracleto
Para o Francisco Jorge
¨Deixa-te estar assim um instante mais pousada
no parapeito da janela,
antiquíssima profetisa dos bosques.

Não te vás,
pequeno deus do orvalho
(pelo menos enquanto escrevo este poema).

Deixa-te estar um instante mais
pousada
no parapeito da janela
que eu não sou caçador não ouso
armadilhas nem flechas
nem te levarei de oferta à minha amada,
noiva de Salomão,
ave sagrada de Afrodite,
símbolo talmúdico da castidade.

Fica,
alado peixe duplo,
breve mensageira da Grande Mãe Telúrica.

Deixa-te estar um instante mais pousada
no parapeito da janela,
portadora do ramo de oliveira.

Quero saber se o Dilúvio Universal
já acabou lá fora
e se o Espírito de Deus paira de novo sobre
as águas da substância primordial
indiferenciada.
Emanuel Félix
- O Instante Suspenso (1992)

VISTORiA

¨ O colégio é uma casa triste, sombria, impregnada daquele cheiro abafante que deixa no ar a aglomeração das crianças. O colégio tem um guarda-portão de aspecto duro, homem habituado a pagar-se nas lágrimas dos colegiais pequenos das diabruras que os grandes lhe fazem. As paredes têm riscos e letras a lápis; no chão escuro há pedaços de papéis rasgados; a disposição das camas, o aspecto seco dos prefeitos, as maneiras dos criados dão aos dormitórios um ar de hospital. As aulas, sujas pela lama que trazem as botas dos externos, os bancos lustrados pelo uso, as carteiras de pinho pintadas de preto, os transparentes das janelas manchados pela chuva, a lousa negra polvilhada de giz a um canto da casa, o rodapé da banca do professor de baeta lagrimejada de tinta, infundem uma tristeza lúgubre. Tudo quanto pode converter o trabalho num objecto de repulsão e de horror acha-se felizmente reunido na maior parte dos colégios portugueses. As mulheres, que a experiência tem provado possuírem muito mais aptidão para o ensino do que os homens, são geralmente excluídas do professorado nos colégios de alunos do sexo masculino. O ensino é ordinariamente feito por sábios de pouco preço, para os quais os âmbitos da ciência bem como os da sociedade são igualmente cheios das trevas mais augustas e mais impenetráveis. Por via de regra, literato falido, escritor malogrado, crítico inédito, o magister tem a pedanteria das pequenas letras e as severidades da alta magistratura, envoltas num exterior intonso, com maneiras de uma gravidade suspeita e de um exemplo contestável. No entanto como no tocante às maneiras do aluno tudo quanto se exige é que ele seja aprovado no seu exame de civilidade, lá estão para suprir tudo os compêndios do Sr. João Félix, vigoroso freio para que o estudante nunca escarre na cara das pessoas de respeito nem arrote com repreensível estampido quando jantar na alta sociedade. Poupa o trabalho de dar exemplos a comodidade de possuir um livro assim, que permite ao preceptor dizer simplesmente o seguinte a um homem que vai entrar no mundo: «Releia o seu João Félix, e conserve-se sempre de sobreaviso sobre as expectorações e sobre os gases».
Ramalho Ortigão
- As Farpas (1871 - excerto)
MEMÓRiA

¨ 24OUT1836-1915 - José Duarte Ramalho Ortigão: Escritor e jornalista português - «Principiamos por desconhecer a nossa missão na humanidade. A família enfraquece por toda a parte. O hospício dos expostos em Lisboa contava no primeiro dia do corrente mês de Outubro 15099 crianças repudiadas por seus pais. A roda dos expostos joga com outra roda na administração do país – a roda da lotaria. A lotaria sustenta a Misericórdia. O jogo protege a prostituição. A tavolagem adopta o bordel. E a mancebia abjecta da batota e do prostíbulo abençoada pelo Estado e acarinhada pelo país» (As Farpas - 1871). IMAG.19-52-90-91-125-148-199-205-208-242-251-532-554-555

¨ 24OUT1936-2004 - Emanuel Félix Borges da Silva, aliás Emanuel Félix: Poeta e crítico literário, natural dos Açores - «Melhor o vejo operário da palavra como um mister sagrado - seu compromisso sócio-intelectual, apresentando serenamente a voz preclara da Verdade na sua função libertadora. Melhor o vejo ainda peregrino silencioso da Poesia, percorrendo os espaços onde se encontram as palavras disponíveis e componentes do edifício do poema» (Álamo de Oliveira).

ü25OUT1896-1984 - Maurice Bellonte: «Herói legendário da aviação mundial» (Diário de Notícias - 1965), «o último sobrevivente de uma plêiade de homens que souberam viver a vida com intensidade invulgar, enchendo-a de aventuras e incidentes». IMAG.450

¯25OUT1926-2012 - Galina Vishnevskaya: Soprano russa, casada com o maestro e violoncelista Mstilav Rostropovitch, estrela da ópera da União Soviética, e exilada em 1974 - «Foi um exemplo de superação e de génio forte ao melhor modo» (Ygor C.S.). IMAG.445

¢27OUT1866-1942 - António Teixeira Lopes: Escultor português, discípulo de António Soares dos Reis - «Tudo quanto ele modela reveste formas gráceis e esbeltas d’uma euritmia elegantíssima, d’uma expressão sempre pessoal» (António Arroyo - Soares dos Reis e Teixeira Lopes - 1899). IMAG.375

¨ 1872-30OUT1956 - Pio Baroja: Escritor espanhol da Geração de ’98 - «Assim como a desgraça faz discorrer mais, a felicidade rouba todo o desejo de análise; por isso, é duplamente desejável… Quase sempre a vida de sacrifícios pode tornar-se mais agradável do que a de amarguras». IMAG.400

¨ 31OUT1876-1972 - Natalie Barney: Novelista, poeta e dramaturga norte-americana - «A atracção do vazio explica a sedução das mulheres… Não posso dar-me a quem me não sabe prender». IMAG.357

¯31OUT1896-1963 - Pedro de Freitas Branco: Maestro português - fundador da Companhia de Ópera Portuguesa (1927) e da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional (1934), autor de História da Música Popular Em Portugal (1947). IMAG.48-104-187

¨ 31OUT1926-2011 - Henry Reymond Fitzwalter Keating, aliás H.R.F. Keating: Escritor inglês de literatura policial, criador do inspector indiano Ganesh Ghote, do Departamento de Investigação de Mumbai - «Ele sou eu… Tanto um como o outro, nos aborrecemos com o que os outros pensam de nós». IMAG.350
                
ANTIQUÁRiO

28OUT1856 - Portugal inaugura o primeiro troço do caminho-de-ferro, entre Lisboa e o Carregado, viagem na qual participou El Rei D. Pedro V. IMAG.106
        
BREVIÁRiO
 
¨Secretaria Regional da Educação e Cultura dos Açores edita A Obra Completa de Emanuel Félix. IMAG.454

¨Gradiva edita Na Senda de Fernão Mendes - Percursos Portugueses No Mundo de Guilherme d’Oliveira Martins; a partir de Fernão Mendes Pinto (1510-1583). IMAG.17-122-148-426-541


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