quinta-feira, novembro 12, 2015

IMAGINÁRiO #583



José de Matos-Cruz | 16 Outubro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

VIRAGENS

Será o cinema, apenas, «um palpitar de emoções mais intenso que o pulsar dum coração, a vinte e quatro imagens por segundo»? Admitamos concordar, se quem assim considera é um autor com o talento e a ironia de Woody Allen. É inegável, pelo menos, que os seus testemunhos transmitem um olhar subjectivo, fascinante, sobre a existência aparentemente banal, entre seduções e roturas. Aliás, durante os anos ’90 do século passado, uma intensa actividade correspondeu, para Allen, a dramáticas mutações tanto pessoais - a separação afectiva/artística de Mia Farrow (1992), o casamento com Soon-Yi Previn (1997); como profissionais - um peculiar estilo de produção na Costa Leste, face às estratégias de Hollywood. Porém, ele persistiria Através da Noite / Sweet and Lowdown (1999), inabalável e melómano. Em 1994, Don’t Drink the Water assinalou o regresso de Allen à televisão, como guionista, director e intérprete. Quatro anos depois, deu voz aos traumas de Antz - Formiga Z (1998 - Eric Darnell, Larry Guterman, Tim Johnson) - para Steven Spielberg, com quem faria vários filmes a partir de 2001. Entretanto, a DreamWorks assegurara a distribuição dos Vigaristas de Bairro / Small Time Crooks (2000). E Allen prosseguiria a romagem pela Europa…
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CALENDÁRiO

µ12SET-11NOV2015 - Em Lisboa, Barbado Gallery apresenta A Place In the Sun - Beach Photos 1985-2015 - exposição de fotografia de Martin Parr, presidente da Agência Magnum. IMAG.554

¢20OUT2015-03JAN2016 - Em Lisboa, Fundação EDP expõe, no Museu da Electricidade, Afinidades Electivas. Julião Sarmento Coleccionador, sendo comissário Delfim Sardo. IMAG.33-341-427-437-524-554

µ07NOV2015-31JAN2016 - Em Évora, Fundação Eugénio de Almeida apresenta, com Património de Évora, Prece Geral de Daniel Blaufuks; início do projecto Re-Inventar a Memória, sendo curadora Filipa Oliveira. IMAG.475-546

¢20NOV2015-22FEV2016 - No Centro de Arte Moderna/CAM, em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian expõe O Círculo Delaunay - sobre as relações entre Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e Robert Delaunay (1885-1941), sendo curadora Ana Vasconcelos. IMAG.84-149-154-185-258-279-371-434-476-510-561

TRAJECTÓRiA 

LEITÃO DE BARROS – O SENHOR CINEMA
No cinema português, José Leitão de Barros (1896-1967) é, sem dúvida, uma das personalidades multifacetadas de artista que, com maior coerência, assistiu durante décadas à ascensão e decadência do Estado Novo. Para alguns analistas, a sua obra mais significativa encontra-se em pleno período silencioso, com vários documentários clássicos ao rondar a década de ’30. Já então, porém, Maria do Mar (1930) deixava antever uma linha de ficção com singular recorte do real, tendência que se prolongaria em todos os filmes de fundo - em particular As Pupilas do Senhor Reitor (1935) e Ala-Arriba! (1942) - embora com desigual eficácia. Curiosamente, encontramos em A Severa (1931) alguns dos melhores apontamentos desse pendor documental, logo na abertura, com a caravana dos ciganos e a separação de gado pelos campinos: Leitão de Barros como que reforça o vigor das imagens, às quais se vai colando a perturbante insinuação do som, pela primeira vez num filme nacional. Em Bocage (1936), Inês de Castro (1945), Camões (1946) ou Vendaval Maravilhoso (1949), que sagram a fascinação pelas reconstituições históricas, de forte cunho literário, sobressai igualmente o cuidado em caracterizar realisticamente um quotidiano, apesar das restrições à ambiência arquitectónica, em que os limites da produção fazem acentuar o artifício dos cenários. Se Malmequer (1918) tinha mais a ver com esta via, Mal de Espanha (1918) seria um esboço humorístico do que Leitão de Barros deixou morrer em finais dos anos ’30, com as comédias Maria Papoila (1937) e Varanda dos Rouxinóis (1939). O estigma satírico manter-se-ia, apenas, na caracterização de certas personagens. Uma constante sem hiatos é, todavia, a composição de tipos humanos (como grandes planos sobre os rostos) que, no geral, constituem uma riquíssima galeria, de figuras populares ou nobres.          


VISTORiA 
 
Rosa Vespertina
¨Anochece. En la aldea,
un gallo cacarea
mirando el amapol
del Sol.

Vacas y recentales
pacen en los herbales,
y canta una mociña
albina.

El refajo de grana
de la niña aldeana
enciende al cristalino
lino.

En el fondo del prado
el heno agavillado,
entre llovizna y bruma
perfuma.

Por la verde hondonada,
la luz anaranjada
que la tarde deslíe,
ríe.

Y abre sobre la loma
su curva policroma,
el arco que ventura
augura.

Y toda azul, la hora,
tiene el alma que llora
y reza, de una santa
infanta.

Con el rumor de un vuelo
tiembla el azul del cielo,
y un lucero florece.
Anochece.
Ramón del Valle-Inclán
         
MEMÓRiA

¨ 16OUT1906-1972 - Dino Buzzati: Escritor italiano, autor de O Deserto dos Tártaros (1940) - «Certos livros são perigosos. Perigosos, porque nos retiram do conforto habitual e fazem-nos mergulhar em outras realidades. Cada vez que os lemos, não são os mesmos. Mas também nós não somos os mesmos. Estabelecido tal círculo, estamos presos: passam a fazer parte de nós. Este é um livro assim. Pode-se gostar ou não, mas ninguém o atravessa impunemente» (Umberto Krenak). IMAG. 50-88-92-224-356

¨ 19OUT1936-2002 - Álvaro Guerra: Escritor, jornalista e diplomata português - «No meio da Vila que crescia, o Central, que já se chamara República, ficava na mesma. A bica de saco aguentava bem a ofensiva do café expresso» (Café Central - 1984). IMAG.367

¸ 22OUT1896-1967 - José Júlio Marques Leitão de Barros, aliás Leitão de Barros: Escritor, artista plástico e cineasta português - «O cinema traz-nos, cada noite, a imagem maravilhosa duma terra feliz e diferente - desde os operários que trabalham de luvas, aos automóveis que abrem a porta para cima» (Corvos). IMAG.68-76-78-82-94-95-103-115-130-154-161-164-175-180-221-222-227-232-239-242-245-269-297-307-327-370-395-436-500

¨ 28OUT1866-05JAN1936 - Ramón del Valle-Inclán: Ficcionista, poeta e dramaturgo espanhol, membro do modernismo - «Fuí peregrino sobre la mar, / y en todas partes pecando un poco, / dejé mi vida como un cantar.». IMAG.440
         
ANTIQUÁRiO

O 18OUT1936 - O paquete Luanda parte de Lisboa, levando os primeiros presos políticos para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, tendo chegado à ilha de Santiago em 29OUT, com 152 condenados. IMAG.180-410-516
   
NOTICIÁRiO

Cinzas de Dino Buzzati Lançadas na Montanha

As cinzas do escritor e jornalista italiano Dino Buzzati, autor do famoso romance O Deserto dos Tártaros, vão poder ser lançadas sobre os Dolomitas, respeitando finalmente a sua vontade. O acto simbólico foi tornado possível pela aprovação de uma lei, votada pela região do Veneto, autorizando a dispersão de cinzas funerárias na natureza.
«A nossa família só estava à espera da aprovação da lei para lançar as cinzas em Croda del Lago, nas montanhas de Cortina (Norte de Itália)», disse a viúva, Almerina Antoniazzi, em entrevista ao jornal Il Corriere del Veneto.
As cinzas do escritor, que estão actualmente na Lombardia, serão lançadas durante uma cerimónia cuja data ainda não foi fixada. «O sonho de Dino será finalmente cumprido», disse a viúva.
Dino Buzzati, que era alpinista amador, tinha uma confessada paixão pelo maciço pré-alpino meridional, inscrito desde Junho de 2009 no Património Mundial da UNESCO. O escritor consagrou mesmo à região algumas narrativas, reunidas em Sobre os Dolomitas - escritos de 1932 a 1970.
As montanhas devem o nome a Deodat Gratet de Dolomieu, geólogo francês do século XVIII que deu o nome de Dolomita à rocha de origem marinha que constitui este maciço. Na verdade, os Dolomitas eram, há milhões de anos, um maciço de coral.
Dino Buzzati nasceu a 16 de Outubro de 1906, em Belluno (no Veneto), e morreu de cancro a 28 de Janeiro de 1972, em Milão. É sobretudo conhecido como autor de O Deserto dos Tártaros.
Em português estão traduzidos três dos seus livros: O Deserto dos Tártaros, A Derrocada da Baliverna e Pânico no Scala (os três editados pela Cavalo de Ferro).
Em O Deserto dos Tártaros, romance transposto para o cinema por Valerio Zurlini, em 1976, um jovem oficial, o tenente Giovanni Drogo, aguarda, num forte de fronteira, a chegada do inimigo. Trata-se de uma brilhante metáfora sobre a longa espera, a ambição de glória, a sombra permanente do fracasso e a solidão.
11FEV2010 - Diário de Notícias
            
BREVIÁRiO
 
¨Relógio D’Água edita Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento de Alice Munro; tradução de José Miguel Silva. IMAG.488

¨Glaciar edita Poesia Completa de João Cabral de Melo Neto (1920-1999); organização e prefácio de Antonio Carlos Secchin.

¯Purple Records edita em DVD, Made In Japan (1972) por Deep Purple.  

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