José
de Matos-Cruz | 16 Outubro 2016 | Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em
2004
PRONTUÁRiO
VIRAGENS
Será
o cinema, apenas, «um palpitar de emoções mais intenso que o pulsar dum
coração, a vinte e quatro imagens por segundo»? Admitamos concordar, se quem
assim considera é um autor com o talento e a ironia de Woody Allen. É inegável, pelo menos, que os seus testemunhos
transmitem um olhar subjectivo, fascinante, sobre a existência aparentemente
banal, entre seduções e roturas. Aliás, durante os anos ’90 do século passado,
uma intensa actividade correspondeu, para Allen, a dramáticas mutações tanto
pessoais - a separação afectiva/artística de Mia Farrow (1992), o casamento com
Soon-Yi Previn (1997); como profissionais - um peculiar estilo de produção na
Costa Leste, face às estratégias de Hollywood. Porém, ele persistiria Através da Noite / Sweet and Lowdown
(1999), inabalável e melómano. Em 1994, Don’t
Drink the Water assinalou o regresso de Allen à televisão, como guionista, director
e intérprete. Quatro anos depois, deu voz aos traumas de Antz - Formiga Z (1998 - Eric Darnell, Larry Guterman, Tim Johnson)
- para Steven Spielberg, com quem faria vários filmes a partir de 2001.
Entretanto, a DreamWorks assegurara a distribuição dos Vigaristas de Bairro / Small Time Crooks (2000). E Allen prosseguiria
a romagem pela Europa…
IMAG.44-120-171-190-325-412-516
CALENDÁRiO
µ12SET-11NOV2015
- Em Lisboa, Barbado Gallery apresenta A
Place In the Sun - Beach Photos 1985-2015 - exposição de fotografia de
Martin Parr, presidente da Agência Magnum. IMAG.554
¢20OUT2015-03JAN2016
- Em Lisboa, Fundação EDP expõe, no Museu da Electricidade, Afinidades Electivas. Julião Sarmento
Coleccionador, sendo comissário Delfim Sardo. IMAG.33-341-427-437-524-554
µ07NOV2015-31JAN2016
- Em Évora, Fundação Eugénio de Almeida apresenta, com Património de Évora, Prece Geral de Daniel Blaufuks; início
do projecto Re-Inventar a Memória,
sendo curadora Filipa Oliveira. IMAG.475-546
¢20NOV2015-22FEV2016
- No Centro de Arte Moderna/CAM, em Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian expõe O Círculo Delaunay - sobre as relações
entre Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e Robert Delaunay (1885-1941), sendo
curadora Ana Vasconcelos. IMAG.84-149-154-185-258-279-371-434-476-510-561
TRAJECTÓRiA
No
cinema português, José Leitão de Barros
(1896-1967) é, sem dúvida, uma das personalidades multifacetadas de artista
que, com maior coerência, assistiu durante décadas à ascensão e decadência do
Estado Novo. Para alguns analistas, a sua obra mais significativa encontra-se
em pleno período silencioso, com vários documentários clássicos ao rondar a
década de ’30. Já então, porém, Maria do
Mar (1930) deixava antever uma linha de ficção com singular recorte do real,
tendência que se prolongaria em todos os filmes de fundo - em particular As Pupilas do Senhor Reitor (1935) e Ala-Arriba! (1942) - embora com desigual
eficácia. Curiosamente, encontramos em A Severa
(1931) alguns dos melhores apontamentos desse pendor documental, logo na
abertura, com a caravana dos ciganos e a separação de gado pelos campinos:
Leitão de Barros como que reforça o vigor das imagens, às quais se vai colando
a perturbante insinuação do som, pela primeira vez num filme nacional. Em Bocage (1936), Inês de Castro (1945), Camões
(1946) ou Vendaval Maravilhoso
(1949), que sagram a fascinação pelas reconstituições históricas, de forte
cunho literário, sobressai igualmente o cuidado em caracterizar realisticamente
um quotidiano, apesar das restrições à ambiência arquitectónica, em que os
limites da produção fazem acentuar o artifício dos cenários. Se Malmequer (1918) tinha mais a ver com
esta via, Mal de Espanha (1918) seria
um esboço humorístico do que Leitão de Barros deixou morrer em finais dos anos
’30, com as comédias Maria Papoila
(1937) e Varanda dos Rouxinóis
(1939). O estigma satírico manter-se-ia, apenas, na caracterização de certas
personagens. Uma constante sem hiatos é, todavia, a composição de tipos humanos
(como grandes planos sobre os rostos) que, no geral, constituem uma riquíssima
galeria, de figuras populares ou nobres.
VISTORiA
Rosa
Vespertina
¨Anochece. En la aldea,
un gallo cacarea
mirando el amapol
del Sol.
Vacas y recentales
pacen en los herbales,
y canta una mociña
albina.
El refajo de grana
de la niña aldeana
enciende al cristalino
lino.
En el fondo del prado
el heno agavillado,
entre llovizna y bruma
perfuma.
Por la verde hondonada,
la luz anaranjada
que la tarde deslíe,
ríe.
Y abre sobre la loma
su curva policroma,
el arco que ventura
augura.
Y toda azul, la hora,
tiene el alma que llora
y reza, de una santa
infanta.
Con el rumor de un vuelo
tiembla el azul del cielo,
y un lucero florece.
Anochece.
un gallo cacarea
mirando el amapol
del Sol.
Vacas y recentales
pacen en los herbales,
y canta una mociña
albina.
El refajo de grana
de la niña aldeana
enciende al cristalino
lino.
En el fondo del prado
el heno agavillado,
entre llovizna y bruma
perfuma.
Por la verde hondonada,
la luz anaranjada
que la tarde deslíe,
ríe.
Y abre sobre la loma
su curva policroma,
el arco que ventura
augura.
Y toda azul, la hora,
tiene el alma que llora
y reza, de una santa
infanta.
Con el rumor de un vuelo
tiembla el azul del cielo,
y un lucero florece.
Anochece.
Ramón
del Valle-Inclán
MEMÓRiA
¨
16OUT1906-1972 - Dino Buzzati: Escritor italiano, autor de O Deserto dos Tártaros (1940) - «Certos livros são perigosos.
Perigosos, porque nos retiram do conforto habitual e fazem-nos mergulhar em
outras realidades. Cada vez que os lemos, não são os mesmos. Mas também nós não
somos os mesmos. Estabelecido tal círculo, estamos presos: passam a fazer parte
de nós. Este é um livro assim. Pode-se gostar ou não, mas ninguém o atravessa
impunemente» (Umberto Krenak). IMAG. 50-88-92-224-356
¨
19OUT1936-2002 - Álvaro Guerra: Escritor, jornalista e diplomata português -
«No meio da Vila que crescia, o Central, que já se chamara República, ficava na
mesma. A bica de saco aguentava bem a ofensiva do café expresso» (Café Central - 1984). IMAG.367
¸
22OUT1896-1967 - José Júlio Marques Leitão de Barros, aliás Leitão de Barros:
Escritor, artista plástico e cineasta português - «O cinema traz-nos, cada
noite, a imagem maravilhosa duma terra feliz e diferente - desde os operários
que trabalham de luvas, aos automóveis que abrem a porta para cima» (Corvos). IMAG.68-76-78-82-94-95-103-115-130-154-161-164-175-180-221-222-227-232-239-242-245-269-297-307-327-370-395-436-500
¨
28OUT1866-05JAN1936 - Ramón del Valle-Inclán: Ficcionista, poeta e dramaturgo
espanhol, membro do modernismo - «Fuí peregrino sobre la mar, / y en todas
partes pecando un poco, / dejé mi vida como un cantar.». IMAG.440
ANTIQUÁRiO
O
18OUT1936 - O paquete Luanda parte de Lisboa, levando os primeiros presos
políticos para o Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, tendo
chegado à ilha de Santiago em 29OUT, com 152 condenados. IMAG.180-410-516
NOTICIÁRiO
Cinzas de Dino Buzzati Lançadas na
Montanha
As
cinzas do escritor e jornalista italiano Dino
Buzzati, autor do famoso romance O
Deserto dos Tártaros, vão poder ser lançadas sobre os Dolomitas,
respeitando finalmente a sua vontade. O acto simbólico foi tornado possível
pela aprovação de uma lei, votada pela região do Veneto, autorizando a
dispersão de cinzas funerárias na natureza.
«A
nossa família só estava à espera da aprovação da lei para lançar as cinzas em
Croda del Lago, nas montanhas de Cortina (Norte de Itália)», disse a viúva,
Almerina Antoniazzi, em entrevista ao jornal Il Corriere del Veneto.
As
cinzas do escritor, que estão actualmente na Lombardia, serão lançadas durante
uma cerimónia cuja data ainda não foi fixada. «O sonho de Dino será finalmente
cumprido», disse a viúva.
Dino
Buzzati, que era alpinista amador, tinha uma confessada paixão pelo maciço
pré-alpino meridional, inscrito desde Junho de 2009 no Património Mundial da
UNESCO. O escritor consagrou mesmo à região algumas narrativas, reunidas em Sobre os Dolomitas - escritos de 1932 a 1970.
As
montanhas devem o nome a Deodat Gratet de Dolomieu, geólogo francês do século
XVIII que deu o nome de Dolomita à rocha de origem marinha que constitui este
maciço. Na verdade, os Dolomitas eram, há milhões de anos, um maciço de coral.
Dino
Buzzati nasceu a 16 de Outubro de 1906, em Belluno (no Veneto), e morreu de
cancro a 28 de Janeiro de 1972, em Milão. É sobretudo conhecido como autor de O Deserto dos Tártaros.
Em
português estão traduzidos três dos seus livros: O Deserto dos Tártaros, A
Derrocada da Baliverna e Pânico no Scala
(os três editados pela Cavalo de Ferro).
Em O Deserto dos Tártaros, romance transposto para o cinema por Valerio
Zurlini, em 1976, um jovem oficial, o tenente Giovanni Drogo, aguarda, num
forte de fronteira, a chegada do inimigo. Trata-se de uma brilhante metáfora
sobre a longa espera, a ambição de glória, a sombra permanente do fracasso e a
solidão.
11FEV2010
- Diário de Notícias
BREVIÁRiO
¨Relógio
D’Água edita Ódio, Amizade, Namoro, Amor,
Casamento de Alice Munro; tradução de José Miguel Silva. IMAG.488
¨Glaciar
edita Poesia Completa de João Cabral
de Melo Neto (1920-1999); organização e prefácio de Antonio Carlos Secchin.
¯Purple
Records edita em DVD, Made In Japan (1972)
por Deep Purple.
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