José de Matos-Cruz | 16 Maio 2016 |
Edição Kafre | Ano XII – Semanal – Fundado em 2004
PRONTUÁRiO
TRANSFIGURAÇÃO
Um estranho efeito repercutiu o fenómeno de
Manoel de Oliveira, consagrado em todo o Mundo, sobretudo a partir da última
década do século passado: as suas referências pessoais e culturais
converteram-se numa espécie de parâmetro confluente ao próprio cinema
português. Desde finais dos anos ’20, Oliveira ousara um percurso estético,
temático e artístico com a sua carreira, exemplar e excepcional. Assim
sobressaem o rosto e o vulto de um homem complexo, intenso, cuja matriz de
criador se delimita entre a sensibilidade e a veterania, através olhares,
intuições, deixando transparecer uma sublimação ritual de ironia e serenidade.
Virtualizando um repositório actual de angústias, emoções, que é,
simultaneamente, de compromisso e premonitório, Manoel de Oliveira traça,
afinal, os estigmas do seu próprio imaginário - puro e tremendo, inocente ou
monstruoso, poético e solene, insolente ou expiatório, em que o tributo
ancestral acaba por transfigurar, além do testemunho sobre as adversidades, as
marcas cintilantes quanto ao futuro. Eis um artista exposto, na plenitude do
génio e da perplexidade.
CALENDÁRiO
11ABR-30MAI2015 - Em Lisboa, Museu Bordalo Pinheiro apresenta, aos
sábados, Curso de Banda Desenhada por
Penim Loureiro, em dois módulos (1º - técnicas básicas da arte sequencial, como
superar o stress do desenho inicial e
possíveis limitações no argumento; 2º - a estimulação da criatividade através
da linguagem da bd, e como melhorar o estilo pessoal através da prática e troca
de experiências); como artistas convidados, participam Daniel Maia, João
Mascarenhas, André Oliveira, Susana Resende, Rosário Félix e Lígia Sousa, além
de uma aparição especial (como anfitrião do Lisbon
Studio) de Nuno Lourenço Rodrigues. IMAG.534
¨1931-27MAR2015 - Tomas
Tranströmer: Poeta sueco - distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2011
(«as suas imagens, condensadas e translúcidas, dão-nos um renovado acesso à
realidade») - autor de As Minhas
Lembranças Observam-me (1993) - «Conhecer o Mundo foi uma experiência muito
forte». IMAG.379-445-450
¸1908-02ABR2015 - Manoel Cândido
Pinto de Oliveira, aliás Manoel de Oliveira: Cineasta português - «Tudo é
memória, tudo resta na memória. E a memória da vida é a arte, que existe como
representação. Todos somos actores e espectadores - estamos isolados mas, ao
mesmo tempo, em sociedade». IMAG.2-11-23-41-42-48-60-68-72-74-83-134-158-161-164-165-170-175-178-190-199-201-203-205-206-208-214-221-222-224-225-237-241-242-244-248-256-277-283-285-287-293-295-301-335-342-347-350-358-384-394-400-431-432-451-494-501-539-546
¢02-30ABR2015 - Em Grândola, Sala
de Exposições da Biblioteca Municipal apresenta João Cutileiro: Escultura - Desenho - Fotografia. IMAG.68-532
µ08ABR-12MAI2015 - Em Lisboa,
Centro Cultural de Belém/CCB apresenta, no Centro de Reuniões, O Elogio da Luz e da Sombra - A Imagem
Cinematográfica - exposição de fotografia de João Abel Aboim, dedicada aos
directores de fotografia.
O08ABR-12JUL2015 - No Centro
Cultural de Cascais, Câmara Municipal de Cascais expõe, no âmbito das comemorações dos
645 anos do município e dos 650 anos da fundação da vila, Cascais: Memórias de Pedra e Cal (1364-2014).
ANTIQUÁRiO
¨480cC-406aC - Eurípedes: Poeta
grego - «Aprendemos o bem e conhecemo-lo, mas não o praticamos, por doença ou
por lhe preferirmos o prazer… Fala, se tens palavras mais fortes do que o
silêncio. Ou, então, mantem-te calado». IMAG.284
VISTORiA
¨A minha mãe gerou-me infeliz.
Invejo os
mortos, amo-os ardentemente,
aspiro a
morar em suas casas.
Eurípedes
- Alceste
(excerto)
VISTORiA
Bernick - E estamos sós… O meu nome já
não brilha em letras de fogo… todas as luzes das janelas se apagaram…
Lona - Queres que as acendam outra
vez?
Bernick - Nem pensar nisso… Onde estive
eu? Ficarão espantados quando souberem. Parece que recuperei os sentidos depois
de ter sido envenenado… Sinto que posso ser outra vez novo e forte… Vem cá,
Betty! E tu, meu filho! Vem para aqui, Marta… parece que não vos vi durante
estes anos…
Lona - Acredito… Esta comunidade é
quase toda constituída por solteirões… Vêem-se poucas mulheres…
Bernick - É verdade!… E por essa razão,
está decidido, Lona… não deixarás de estar ao pé da Betty e de mim.
Senhora
Bernick - Não deves
sair daqui, Lona!
Lona - Como seria eu capaz de deixar
pessoas tão novas que estão prontas para começar agora a sua vida? Sou a vossa
mãe adoptiva… Marta, tu e eu somos duas solteironas… O que é que estás a ver?
Marta - O céu está a ficar muito
claro… Do lado do mar… O Palmeira vai
ter boa viagem…
Lona - A bordo haverá pessoas muito
felizes!
Bernick - Ao passo que nós temos à nossa
frente um dia de trabalho… principalmente eu… Enquanto vos tiver junto de mim,
a vós, mulheres fiéis e verdadeiras, sinto-me bem… Nestes últimos dias aprendi
também que são elas os autênticos pilares da comunidade…
Lona - Então aprendeste mal… (Pondo-lhe
as mãos nos ombros.) Ouve, os pilares da comunidade são o espírito de
justiça e de liberdade.
Cai o Pano
Cai o Pano
Henrik Ibsen
- Os Pilares da Comunidade (1877 - excerto)
- Tradução de
Mário Delgado
Fachadas
I
Ao fim do caminho vejo o poder.
Lembra uma cebola
com rostos sobrepostos
que vão caindo uns após outros…
II
Os teatros esvaziam-se. É meia-noite.
Letreiros flamejam nas fachadas.
O mistério das cartas sem resposta
afunda-se por entre a fria cintilação.
Tomas Tranströmer
- Tradução de Luís Costa
- Tradução de Luís Costa
BREVIÁRiO
¨Antígona edita Mandriões No
Vale Fértil de Albert Cossery (1913-2008); tradução de Júlio Henriques. IMAG.205-441
¨Cavalo de Ferro edita Final do Jogo de Julio Cortázar
(1914-1984); tradução de Miguel Mochila. IMAG.205-298-330-454-539-546
¨Deutsche Grammophon edita Anton Bruckner (1824-1896) de Claudio Abbado
(1933-2014). IMAG.104-233-323-404-437-440-481
MEMÓRiA
1451-20MAI1506 - Cristóvão Colombo: -
Navegador e explorador genovês - «Muitos dos homens que já vi têm cicatrizes em
seus corpos, e quando eu fazia sinais para eles para descobrir como isso
aconteceu, eles indicavam que pessoas de outras ilhas vizinhas chegavam a San
Salvador para capturá-los e eles defendiam-se o melhor possível. Acredito que
as pessoas do continente vêm aqui para tomá-los como escravos. Devem servir
como ajudantes bons e qualificados, pois eles repetem muito rapidamente o que
lhes dizemos. Acho que eles podem muito facilmente ser cristãos, porque parece
não terem nenhuma religião. Se for do agrado de nosso Senhor, vou tomar seis
deles de Suas Altezas quando eu partir, para que possam aprender a nossa
língua» (Diário de Bordo - 12OUT1492). IMAG.39-49-78-83-160-181-348-359-381-519
¨ 20MAI1806-1873 - John Stuart Mill: Escritor e pensador, filósofo e economista inglês - «As pessoas de génio, é verdade, são e, provavelmente, sempre serão uma pequena minoria; no entanto, para tê-las, é necessário conservar o solo em que crescem. O génio só pode respirar livremente numa atmosfera de liberdade». IMAG.418
¨1828-23MAI1906 - Henrik Ibsen:
Dramaturgo norueguês - «Viver é lutar contra os demónios do coração e da mente.
Escrever, é pronunciar sobre nós próprios o juízo final» (Carta a Ludwig Passarge). IMAG.83-115-268-451
EXTRAORDINÁRiO
OS HUMANIMAIS
- Folhetim Aperiódico
JORNAL
D’ONTEM, PAPÉIS VELHOS - 3
Termos repetidos. Tempos repartidos.
Hortênsio Jardim, um mero civil em pancas
durante a Campanha Expedicionária que derrotou o régulo Kuamba, após renhidos
combates, tinha diante de si o próprio Comandante Militar de Lourenço Marques,
que o felicitava e lhe pedia a partilha de mais pormenores sobre os desígnios
até Napulo daquela gesta heróica, tão enaltecida pela Gazeta de Moçambique. Claro, ele sabia, sabia mais, não queria
porém saber demais.
– Continua
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